Silent Hill - Shadows Of The Past. escrita por Milley


Capítulo 6
CConselhos no café




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Emily acordou assustada com o toque de seu celular, quase caindo do sofá, onde havia cochilado.

- Emily? – sua colega de trabalho perguntou do outro lado da ligação.

- Não estou atrasada, suponho... – Emily falou levantando-se e olhando para o relógio, pensando que havia perdido a hora.

- Duvido que chegue a trabalhar hoje! Você precisa ver o que aconteceu aqui!

- É, eu estou ouvindo uma gritaria. O que está acontecendo?

- Um problemão, mas você precisa ver. Se te contar você não vai acreditar.

- Certo... Conseguiu me deixar curiosa. Já estou indo.

Desligou o telefone e se apressando até seu quarto colocou o casaco de frio da noite anterior por cima da calça jeans e camiseta que usava, arrumou o cabelo despenteado, pegou sua bolsa e voltou para a sala curiosa.

Desceu as escadas rapidamente e em poucos minutos já estava na rua com seu carro. Ao chegar perto da boate percebeu um alvoroço fora do comum para o horário, havia várias pessoas do lado de fora e podia escutar o som de vozes agitadas. Parou o carro um pouco distante e caminhou até o local, cada vez mais assustada com o que via.

A frente do Heaven's Night estava repleta de pessoas estranhas, muitas usando roupas escuras e que gritavam na direção da boate - agora fechada por dois seguranças - as mais diversas coisas. Emily pôde perceber que só poderiam ser pessoas religiosas pelas palavras ditas.

Aproximou-se cautelosa de Lucas, o dono do lugar e que falava com alguém pelo telefone, e a colega que havia ligado para ela, e disse olhando para o grupo logo à frente e para alguns curiosos que se aglomeravam na rua.

- O que está acontecendo aqui?

- Esses malucos apareceram do nada e começaram a gritar aqui na frente. Lucas não faria nada se um dos idiotas não quebrasse um dos vidros com uma pedra. Ele está chamando a polícia. Caótico, não?

- Um pouco...

Emily parou para observar uma mulher loira que parecia mais exaltada do que os demais. Estava descalça e vestia um longo vestido escuro e humilde. Gritava, instigando o resto dos manifestantes.

- PECADORES! VOCÊS TRAZEM A DESORDEM E A PODRIDÃO PARA ESTA CIDADE! QUE NOSSO DEUS VEJA O QUE ESTÃO FAZENDO COM TODAS ESTAS FAMÍLIAS!

- Bizarro – Emily falou levantando uma das sobrancelhas.

– Não parecem de nenhuma igreja que conheço... – Lucas falou desligando o telefone. – Pronto, a polícia vai aparecer daqui a pouco, suas vadias desocupadas! – gritou na direção de um grupo de mulheres.

- É isso que é bizarro. Deve ser o culto... – Emily sussurrou observando a mulher loira de cabelos longos tentar se aproximar, mas sendo impedida por um dos seguranças.

- Não há salvação para o que fazem... – ela falou encarando Emily de forma assustadora.

- O que estou fazendo aqui? – Emily bufou. Pra ela aquele lugar todo podia queimar até o chão que não se importaria. – Pelo menos não vou trabalhar hoje, parece.

- Se a polícia resolver isso, nós não vamos fechar – Lucas falou irritado, ainda encarando a mulher.

- Eu não vou ficar aqui esperando a polícia – Emily falou voltando suas costas para o chefe. Sabia que ele havia reclamado, mas não se importou. Naturalmente, ela não podia ficar ali esperando ser levada até a delegacia junto com todos aqueles malucos.

Ao chegar à porta de seu carro sentiu uma das manifestantes segurar seu braço com força.

- Claudia está certa... Vocês todas não passam de simples prostitutas que sujam nossa sagrada cidade!

- Deus! – Emily reclamou, se soltando da mulher. – Vocês são malucos?

- Você não vai embora! Todos os pecadores devem ter seus nomes anotados! – a mulher balbuciou.

- Vai pro inferno – Emily disse ao entrar no carro e ligando o motor. Era demais para ela todo aquele espetáculo.

- Aonde eu vim parar?- reclamou se distanciando dali o mais rápido que pôde. A gritaria ficava cada vez mais distante.

Religiosos... Esses doentes estavam em todos os lugares.

-x-x-x-

Querendo que aquele dia acabasse logo, deitou-se na cama sem se importar com o horário e muito menos se iria trabalhar e agradeceu por acordar somente com a luminosidade da manhã. Olhou para o relógio do celular, que marcava dez da manhã, e agradeceu por não haver chamadas da boate ou de Lucas.

Havia um sol agradável lá fora e depois de um banho quente decidiu tomar café da manhã do outro lado da cidade. Bem distante de Heaven's Night e de prováveis fofocas. Naturalmente a cidade não era grande o suficiente para que o ocorrido não fosse de conhecimento de grande parte dos habitantes, mas pelo menos seus vizinhos no Vale Sul não poderiam enchê-la com perguntas. Além do mais, não sacrificaria seu modo de vida por uma simples manifestação de fanáticos.

Os prédios antigos de Old Silent Hill deram boas-vindas para Emily assim que chegou pela longa Avenida Bachman. Emily dirigiu distraidamente até a um pequeno café aconchegante que estava sempre deserto, o que no momento era o que mais procurava. Parou seu carro na esquina da Rua Midwich com a Matheson e caminhou até o café, perto do beco entre ambas. Desceu as escadas que levavam até a porta do antiquado lugar e agradeceu por encontrá-lo vazio como de costume. Sentou numa mesinha distante e esperou que o dono do lugar aparecesse para pedir seu café da manhã. Assim que o velho dono desapareceu observou atentamente o local e percebeu sentado não muito longe de si a figura sisuda do padre Vincent. Ela suspirou profundamente e mais curiosa do que o costume se levantou e parando em sua frente, disse:

- Posso me sentar aqui?

Ele parou sua leitura e erguendo uma das sobrancelhas, talvez intrigado com o pedido, deixou que a jovem se sentasse.

- Pedindo conselho? – ele perguntou astutamente para Emily assim que ela se sentou.

- Estou confusa, Vincent. Talvez queira me clarear algo.

- Diga-me.

- Foram seus fiéis que vandalizaram o Heaven's Night ontem, não é mesmo?

Ele a olhou cuidadosamente e disse:

- Infelizmente sim. Mas não por minhas ordens. Irmã Claudia se sente ameaçada por presenças diferentes do pregado pelo culto. Ela reuniu uma pequena fração de nossos membros.

- Eu pensei que fosse.

- Tudo já foi resolvido. Peço perdão pelo mal ocorrido.

- Por quê? Por que se importa tanto com isso? Supostamente você deveria ficar do lado deles.

- Eu não tenho o mesmo ponto de vista deles. Não ligue para aquela manifestação! – Vincent disse tratando o evento de forma indiferente.

Houve um momento de silêncio quando o dono do local voltou trazendo o café da manhã de Emily. Somente depois que viu o homem se afastar, ela recomeçou:

- Eu imagino o que essas pessoas falariam se vissem seu líder falando com alguém como eu.

- Quem disse que sou o líder?

- Você se parece com um. E, além do mais, aparenta ser mais inteligente que eles.

- Você está certa. Eu sou o líder. Mas está errada sobre as pessoas do culto. Nada me impede de falar com pessoas de fora e a maioria não veria problemas nisso.

- Mas parece que você não tem muito controle sobre eles... Afinal de contas, se tivesse eles não teriam causado toda aquela confusão na frente da boate.

- Como eu disse antes. Eles são uma pequena fração. Nada preocupante. Mas não sei por que você se preocuparia com estes detalhes...

- Eu não ligo. Eu também não vim aqui somente para isso.

- Para que então?

- Esta cidade é estranha.

- Por que diz isso?

- Eu não sei. Parece que ela está acabando comigo aos poucos. Não sei explicar e nem sei por que estou falando isso com você. Eu não gosto de padres e da ultima vez que te vi, me lembro que não foi muito agradável. Mas você me disse que estava repleta de duvidas e que esta cidade atrai almas desesperadas, ou algo do gênero.

- Eu me lembro do que eu disse. E também me lembro que você saiu transtornada daquele café.

- Exato. Eu quero sair daqui, mas não consigo. Não queria conversar com você, mas aqui estou eu. Parece que não posso mais controlar minhas ações.

- Essa cidade chama as pessoas. Não estou mentindo. Você precisa de ajuda, não é?

- Não de você.

- Então por que veio até mim?

- Eu não sei. Pra falar a verdade já comecei a me arrepender de ter feito isso. Sabe qual é minha vontade? Pegar minhas malas e desaparecer daqui.

Emily riu tristemente.

- Mas eu não consigo...

- Talvez porque sabe que não encontrará ajuda em outro lugar.

- Eu não vou para o culto se é isso que quer pedir. Não há lugar para mim lá.

- Sempre há lugar...

- Corte a conversa fiada – Emily o interrompeu. – Isso não vai funcionar comigo. A minha vida toda eu convivi com pessoas iguais você.

- Iguais a mim?

- Esqueça. Como eu mesma disse: não sei por que vim falar com você...

Emily se levantou e sem esperar qualquer palavra de Vincent saiu de sua frente. Jogou algumas notas para o dono do lugar e sem esperar o troco saiu do café.

Emily se sentia tão confusa e sem saber o que fazer. Não mentia quando disse que queria sair daquela cidade, mas havia algo que a impedia. Parecia que a cada dia que passava ficava mais presa àquele local e as lembranças de seu passado.


CAPÍTULO VII – FUGINDO DO PASSADO

Emily subiu lentamente os degraus e ao pegar as chaves de seu apartamento, já parada na porta de saída da escada, notou Joseph sentado nos degraus que levavam para o segundo andar. Ele parecera não ter notado Emily ali perto e continuou com as mãos no rosto. Ela se aproximou cautelosa e disse calmamente se ajoelhando em sua frente:

- Joseph... Aconteceu alguma coisa?

- Emily. De onde você surgiu?

- Da escada... – Emily falou começando a se assustar com o estado do amigo. Ele estava com olheiras fundas, o cabelo estava bagunçado e havia um corte profundo em sua sobrancelha.

- Onde você esteve? Eu fui até sua casa ontem, depois que você falou comigo.

- Eu falei com você ontem?

- Sim. Sobre Sophie – Emily falou lentamente.

- Sophie... Minha Sophie. Eu me lembrei agora. É que eu perdi a noção de tempo.

- Você está usando drogas? Você realmente parece estar mal. Vamos, eu vou te levar para o hospital.

- Não! – Joseph falou irritado. – Não lá!

- Certo, sem problemas... Então eu te levo até seu apartamento. Você precisa de um banho e descanso.

- Talvez...

- Você conseguiu falar com Sophie?

- Sim. Consegui ontem e hoje também foi a ultima vez que falei com ela.

- Como assim?

- Eu nunca tive chance de falar como eu acho você bonita. Eu gosto de seus olhos... São de um azul tão diferente.

Emily ergueu as sobrancelhas e disse preocupada:

- Joseph, você precisa descansar. Depois vamos trazer Sophie de volta.

- Ela não vai voltar, Emily – falou com lágrimas nos olhos.

- Claro que ela vai... Não diga isso, Joseph.

Vendo o estado do amigo, ela falou séria:

- O que aconteceu com Sophie?

- Eu queria ficar sozinho, Emily – respondeu secamente.

Ela pensou em continuar em sua argumentação, mas preocupada com o amigo, preferiu não discutir. Não com Joseph naquele estado. Emily estava inquieta com as palavras de que ele nunca mais veria Sophie, e mesmo contra sua vontade, pensou em coisas terríveis que poderiam ter ocorrido com a pequena. Mesmo com todos estes pensamentos, Emily decidiu dar tempo ao homem.

- Certo. Eu não vou desistir de você agora. Não se esqueça disso – falou séria colocando as mãos no rosto de Joseph, tentando o despertar do transe.

- Só me deixe aqui... Eu estou bem.

Emily ameaçou se levantar, mas foi impedida por Joseph que segurou seu braço.

- Antes de ir – falou em um tom baixo indo na direção de Emily, e lhe dando um beijo suave soltou seu braço. – Obrigado, Emily...

Para ela aquela cena soava como uma despedida, principalmente ao perceber que o homem tinha seus olhos repletos de lágrimas. Mas Emily meramente se levantou e caminhou lentamente para seu apartamento.

-x-x-x-

Emily voltou para a escada mais tarde, mas Joseph não se encontrava mais lá. Foi até seu apartamento, mas ninguém atendeu. Não vinha nenhum tipo de barulho por detrás de sua porta. Com todas suas idéias esgotadas, decidiu deixar este assunto para o outro dia. Já havia problemas demais em sua vida e mesmo assim pareciam que eles teimavam em surgir cada vez maiores.

Depois de tantos acontecimentos, mal sentiu quando despertou do sofá com o toque de seu celular. Já anoitecera e isso significava que daquela noite não poderia fugir do Heaven's Night.

Fazia uma noite fria e começara a cair uma chuva fina quando Emily chegou à porta da boate. Cumprimentou o segurança e entediada seguiu até o vestuário, rezando para não encontrar Luca ou mesmo Maria, o que seria difícil naquele ambiente.

- Por que demorou tanto?

Emily bufou ao escutar a voz do chefe atrás de si. Mal havia pisado no vestuário e Luca já aparecera.

- Hoje não, Luca. Não estou nos melhores dias da minha vida hoje.

- Está doente?

- Não.

- Ótimo. Então não há problema algum.

Emily entrou no vestuário com a esperança que ele a esperasse do lado de fora, mesmo sabendo que ele não o faria.

- Se arrume logo – falou passando entre algumas garotas seminuas.

- Por que a pressa? – perguntou enquanto guardava sua bolsa no armário.

- Por que você é minha garota de ouro.

- Obrigado – falou sarcasticamente tirando o casaco.

- Parece que você adivinhou – encarou Emily enquanto ela arrumava o espartilho de tecido multicolorido. Trajava luvas de borracha de um tom dourado que combinavam com a meia-calça bege três quartos que era amarrada por uma cinta-liga preta.

- Adivinhei o que? – Emily perguntou arrumando o cabelo com pressa.

- O que o cliente queria apontou a roupa da jovem. - Era isso que eu estava falando antes. Dança privativa e muito dinheiro...

- Sério? Que sorte a minha.

- Ele pediu uma garota igual você. Imagina o sorriso de satisfação quando disse que tudo o que ele precisava estava aqui. Entendeu por que a pressa, agora?

- Faz tempo que ele está aqui? – perguntou já caminhando para fora do vestuário.

- Não... Do jeito que ele descreveu a garota que queria com certeza alguém já deve ter falado de você.

- Claro... – parou na frente da porta que entraria arrumando a liga.

- Espero que o anime o suficiente – Luca falou passando a mão na coxa de Emily antes de sair.

Ela fingiu não se importar e assim que viu o chefe desaparecer abriu a porta da sala. A luz fraca não permitiu que ela visse claramente o homem sentado do outro lado. Mas assim que fechou a porta o ouviu dizer:

- A pessoa que eu procurava.

- Bom ouvir isso, estranho.

- Se aproxime lentamente de mim, garota.

Ela caminhou até o homem, ainda sem conseguir ver completamente sua face, apesar de perceber que ele possuía cabelos escuros e usava terno.

- Agora você vai fazer exatamente o que pedir...

- É exatamente para isso que estou aqui.

- Sente-se do meu lado.

Emily se sentou e ao olhar o estranho, agora perto o suficiente para ser reconhecido disse sem esconder seu medo:

- Você...

- Não tente fazer nenhum movimento. Eu sei que eles não gravam nada aqui dentro, mas também sei que se você gritar um segurança vai aparecer aqui a qualquer momento, não é mesmo?

Ele a puxou em sua direção pelos cabelos e continuou:

- Feliz em me ver, Jillian?

Não podia ser possível. Eles haviam a descoberto. Não depois de tudo que passara para fugir; agora ela reencontrara seu passado.

- Steve, como você me achou aqui? – perguntou tentando se controlar.

- Foi difícil, meu amor. Primeiro eu pensei que tivesse morrido e isso me deixou extremamente irritado! Pense bem: se alguém tinha permissão para te matar, essa pessoa seria eu! Imagine como eu fiquei ao pensar que alguém poderia ter roubado meu brilho? Depois eu soube que não... Você estava viva! Afinal de contas, nós dois sabemos como você é esperta! Eu duvidava que estivesse realmente morta. Alguém com seu talento não morreria depois de tudo que fez. Roubar todo aquele dinheiro... – apertou seu pescoço. – Para depois morrer? Não, não você.

- Eu pensei que perderia você para sempre! Talvez já estivesse na Colômbia com todo dinheiro! Mas não! Você estava bem debaixo do meu nariz! Foi esperta em escolher uma cidadezinha de merda que nem essa... Eu imagino como deve ter sido para você vir morar aqui, depois de tantos anos em Chicago, Miami, Los Angeles... Onde mais você passou?

- Se quer me matar, por que não corta logo o papo furado?

- Depois de tanto tempo longe de você? Acha mesmo que vou desperdiçar essa oportunidade? Não... Nós vamos lembrar os velhos tempos, Jillian...

Ele se levantou e a trouxe junto pelo braço.

- Nós vamos sair juntinhos... E qualquer coisa que você fizer eu te mato, certo? – a ameaçou mostrando uma pistola em uma das mãos.


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