Silent Hill - Shadows Of The Past. escrita por Milley


Capítulo 3
Apenas pessoas estranhas...




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Havia se passado uma semana desde a repentina aparição de James na boate Heaven's Night, e aparentemente o homem parecia estar mantendo sua palavra. Sempre que passava na frente do hospital Brookhaven, lembrava-se do encontro entre os dois. Depois daquela conversa na escada da boate, Emily via-se pensando o que poderia ter acontecido com ele...

Foi aquele pensamento que passava pela sua mente quando ouviu o som de batidas na porta de seu apartamento. Emily estava lendo um livro no sofá e somente depois da segunda batida é que decidiu se levantar. Caminhou entediada até a porta.

- Quem é? – perguntou cansada.

- Seu vizinho. Joseph Barkin, lembra-se?

Emily revirou os olhos antes de abrir a porta.

O sujeito segurava um papel na mão e estava apoiado numa bicicleta. Ao lado dele uma menininha aparentando oito anos olhava para o chão com olhar triste.

- Olá – apesar do sorriso no rosto, não parecia tão animado quanto da vez que a conheceu. – Colocaram sua correspondência por engano na minha caixa.

- Oh... Esses carteiros! – Emily reclamou pegando a carta da mão de Joseph. Era de Rachel. – É sua filha? – perguntou logo em seguida olhando para a garotinha.

- Sim... é – respondeu rapidamente segurando a garotinha pela braço carinhosamente. – A pequena Sophie.

- Muito bonita – Emily sorriu.

A garotinha a olhou rapidamente antes de voltar sua atenção para a bicicleta.

- Bem... De qualquer modo. Desculpe te incomodar! Nós já vamos indo. Até mais!

Joseph se despediu rapidamente seguindo pelo corredor com a pequena Sophie. Emily logo em seguida fechou a porta de seu apartamento interessada na carta da amiga.

Emily sorriu ao lê-la. Parecia que a amiga estava feliz em Ashfield e a convidava para passar um tempo em seu recém reformado apartamento. Falava do novo namorado – frisando que talvez ela não o conheceria – e a cidade como um todo. Emily terminou de ler a carta pensando que talvez não fizesse mal a ela se afastar de Silent Hill por um tempo... Seria interessante fingir ter uma vida normal em Ashfield, sorriu animada jogando a carta na mesa da sala.

Pensando em fazer uma surpresa à amiga, decidiu comprar um presente que a agradaria. Nada melhor do que um passeio na área central de Silent Hill.

-x-x-x-

Era época de temporada em Silent Hill, o verão trazia muito turistas para a cidade conhecida pela paz e lindos cenários naturais. O hotel Lake View recebia grande número de viajantes interessados em fugir do estresse do dia-a-dia. Emily ainda achava curioso ver o número de habitantes da cidade praticamente dobrar. Na região central as ruas ficavam repletas de interessados em levar para casa alguma lembrança da agradável cidade.

- Onde vou achar algo diferente? – pensou em voz alta.

Rachel gostava de pinturas, quadros retratando cenários selvagens. Como havia reformado o apartamento achou que seria interessante ganhar um quadro de Silent Hill para lembrar-se dos velhos tempos.

A loja de antiguidades Green Lion era um lugar de ar conservador e que provavelmente teria algo raro e antigo que representasse o passado cheio de mistérios daquela cidade.

Emily desceu as escadas que levavam à porta antiga e velha da loja e abriu a porta que tocou um sino ao entrar. O pequeno interior da loja cheirava mofo e poeira e Emily começou a se arrepender de ter perdido seu tempo entrando ali, ao ver a quantidade de quinquilharia jogada num canto da loja, como se o dono realmente não se preocupasse em vendê-las. A loja parecia deserta, apesar de haver um armário bloqueando sua visão; além do ambiente ser iluminado apenas por dois abajures em cada canto da sala.

- Tem alguém aqui? – perguntou entrando mais. Forçou a vista para poder enxergar até o final da parede oposta, mas era difícil.

Um senhor idoso, mas forte para a idade, saiu de trás do armário segurando um livro e com olhar irritado encarou Emily.

- Algum problema? – perguntou secamente.

Emily cruzou os braços, indignada com a estupidez do idoso.

- Na verdade, ainda não. Mas estou vendo que vamos ter um logo. Aparentemente é uma loja de antiguidades, certo? Eu entrei para comprar...

- A loja está temporariamente fechada para vendas – o homem disse a interrompendo bruscamente.

Emily riu sarcasticamente:

- Eu ainda me surpreendo com o pessoal dessa cidade. Cada louco que eu encontro – ela se aproximou do idoso e sem se intimidar com o olhar do estranho. – Certo, vovô, da próxima vez tente avisar que a loja está fechada.

- Está fechada apenas para pessoas como você.

- Oh, entendi. Como eu... – continuou com o tom sarcástico – Maldito velho... – falou o encarando antes de caminhar novamente para a rua. Já na porta, pôde ouvir o idoso sussurrar alguma coisa; Emily só não sabia se havia mais alguém na loja ou se havia dito aquilo para ela.

Subiu os degraus e ao alcançar seu carro percebeu que havia alguém a observando logo atrás de si. Já com a porta aberta, olhou para trás e percebeu a figura de um homem, trajava roupas formais em tons de marrons, e apesar de ser jovem, aparentava seriedade. A roupa como também óculos ajudavam em construir essa imagem. Emily o olhou desafiadoramente antes de entrar no carro. Supostamente, aquele homem deveria ser a pessoa com quem o velho conversava.

Mal havia chegado ao Vale Sul, foi recebida por uma chuva fortíssima que ameaçava cair desde o momento que saíra de casa.

- Era só o que me faltava... – reclamou irritada, pois enxergava pouco da rua logo à sua frente.

Já irritada com o ocorrido na loja de antiguidades, Emily chegou a seu apartamento exacerbada, toda sua vontade em viajar parecia ter dissipado com a chuva. A única coisa que poderia animá-la era sumir daquele fim de mundo, algo que não podia fazer tão rapidamente. Só de se lembrar da forma como os moradores da cidade tratavam alguém como ela já sentia o sangue subir. Sentou-se no sofá e bufou; logo se resignando a voltar ao emprego no Heavens' Night. Não sabia ao certo por quanto tempo agüentaria fingir ser algo que não era, especialmente quando a cidade parecia influenciá-la tanto, mas esperava que fosse forte o suficiente para ficar longe de dores de cabeça. Especialmente com a polícia...

-x-x-x-

Depois de quatro dias de chuva intensa, o sol surgiu timidamente em Silent Hill, mas a cidade estava fria e uma densa neblina cobria as ruas. O relógio marcava duas horas da tarde quando Emily, ainda cansada da noite anterior, desceu em direção ao Cafe Mist, no quarteirão de cima de sua casa. Naquela tarde, havia pensado em caminhar pelo parque Rosewater, mas duvidava que agora pudesse enxergar alguma coisa na região do lago Toluca.

Sua chegada no café foi anunciada pelo sino na porta. A agradável dona do lugar era ajudada pelo seu filho mais velho que sorriu ao ver a freguesa entrando. Naquele horário havia poucas pessoas, a maioria sentada no balcão; Emily dirigiu-se ao fundo do café, mais calmo e longe o suficiente de qualquer pessoa que pudesse iniciar um diálogo, se sentando perto de uma pessoa que lia atentamente um livro.

Já quase terminara de comer seu pedido quando a pessoa sentada ao seu lado disse em um tom arrogante:

- Encontrou o que procurava? – ao dizer isto retirou o livro da frente revelando ser a mesma pessoa que Emily encontrara na saída da loja de antiguidade, com a roupa formal, o ar esnobe e o jeito intelectual.

A jovem parou de comer instantaneamente e sem esconder a irritação disse de forma irônica:

- Estou procurando sugestões.

O homem pareceu não ser afetado pelo tom de Emily e disse ainda sorrindo:

- Desculpe o incidente na loja de antiguidades. Meu fiel parece não saber tratar as pessoas diferentes de nossa igreja.

- Igreja? – Emily perguntou incrédula.

- Padre Vincent. Prazer em conhecê-la.

- Você não se parece com um padre – respondeu secamente.

- Não da sua igreja, naturalmente.

- Oh... Eu não sigo nenhuma igreja, padre. De qualquer forma, já me acostumei com esse tipo de tratamento entre os conservadores da cidade. Sem ofensa com a "sua igreja" – Emily deu ênfase nas duas últimas palavras ainda sem acreditar muito na conversa do sujeito.

- Nunca é tarde para pedir perdão. Senti na obrigação em fazer isso. Não podemos humilhar aqueles que decidem seguir outro caminho, mesmo que as vias sejam tortuosas.

- Certo... Padre...

- Chame-me de Vincent - apressou a dizer sacudindo as mãos. – Mas qual seria seu nome?

- Emily Sibley – falou secamente. - Vincent, estou aqui pensando, por que não fez isso enquanto estava parado lá fora? – perguntou astutamente.

- Senti que não era meu destino. Sim, eu sei que você não acredita neste tipo de coisa, senhorita, mas entendo os seus demônios interiores e a busca sufocante por ajuda que a persegue.

Emily fitou o estranho padre por alguns segundos pensando se aquilo não era algum tipo de brincadeira de mau gosto, mas ao perceber que o tom usado pelo homem era de seriedade, disse:

- Obrigado pelo conselho. Vou pensar sobre... – falou pegando sua bolsa rapidamente e se levantando. Vincent segurou seu braço e disse:

- Você está repleta de dúvidas. Não é mesmo, Emily? Saiba que esta cidade atrai almas desesperadas por socorro e com você não deve ter sido diferente.

Emily soltou-se irritada virando na direção da saída. O que estava se passando naquele lugar e com aquelas pessoas? Qualquer um está repleto de dúvidas, Emily pensou, por que bem ela supostamente estaria à procura de ajuda? Não, ela não procurava ajuda. Procurava um meio de sair daquela vidinha; coisa que um padre nunca poderia ajudá-la.

A dona do Café Mist a olhou curiosa enquanto recebia o dinheiro de uma Emily apressada.

"Como ele poderia saber...?" Não... Ele não sabia. Era apenas um golpe barato para levar fieis para alguma igreja que ela não sabia existir. Era impossível uma pessoa como ele conhecer sua vida anterior e o quanto fugiu para chegar até ali.

Enquanto caminhava de volta na direção de sua casa, tratava de esquecer o ocorrido... Afinal de contas, o padre como o velho conservador eram somente fatos irrelevantes que aconteceram em sua vida, naquela última semana.


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