This Is War escrita por Alface


Capítulo 2
Ouço vozes estranhas.




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São 5 da manhã. Estou deitada olhando pro teto do quarto. Tive um pesadelo horrível em que um dragão me comia, e agora não consigo mais dormir. Estou pensando em Jake. Ontem, um pouco mais cedo ele estava sentado no banco da praça conversando sozinho. Qualquer um que passasse por ali teria a mesma impressão que eu: ele era maluco. Jake não é normal, ele é estranho. Ele não sabe de onde é, não sabe nada sobre seus pais, e tudo o que considera como "família" é um tio bêbado que não deve saber nem sua idade. Ele parece ser desastrado, com seu jeans velho e seus tênis esfarrapados. Seu cabelo todo bagunçado cor de neve... O sorriso dele é muito branco, tudo nele é muito branco. Ele ficava observando as demais pessoas na sala, com um olhar desconfiado, como se estivesse pronto pra matar qualquer um, a qualquer momento. Olhei pela janela na esperança de vê-lo sentado na praça, mas tudo o que vi foram dois cachorros em um de seus momentos de prazer. 

Algum tempo depois amanheceu. Sempre a mesma coisa. Eu e Naiara correndo para ir para escola, meu pai falando sobre negócios e minha mãe pedindo dinheiro pro salão de beleza, ou pras compras. Estava chovendo, e você mal conseguia ver algo pela janela, por causa da neblina. Peguei meu moletom e sai de casa, com as mãos nos bolsos, fones no ouvido e mochila nas costas. Naiara, minha irmã iria passar na casa do Samuel para irem juntos pra aula. Desconfio que ela sente algo por ele. Dobrei a esquina e bati de cara com um garoto que estava correndo, cai no chão.

- DROGA, OLHA POR ONDE AND... Jake? 

- Oh, meu Deus! Mil perdões Ane, você está bem? Desculpe eu não tinha te visto. - Ele segurou meu braço e me ajudou a levantar. Olhei para ele e comecei a rir. - O que foi? - ele me olhava assustado.

- Aqui... sua bochecha... - passei o dedo em sua bochecha para limpar a lama que tinha-a sujado quando Jake caiu. Sua pele era macia e fria.

- Obrigado - disse ele me encarando, seus olhos se focavam nos meus como se ele estivesse esperando que eu falasse algo. - Bem hãn... onde está o Samu... Sam...

- Samuel?!

- Sim. Isso. Vocês não vão pra aula juntos? 

- Sim, nós vamo sim... Ou íamos. Ele agora prefere ir com minha irmã.

- Ciúmes?

- Não tenho ciúmes deles, Samuel é meu amigo - disse dando uma risada - E então? como vai seu tio? 

- Ele não apareceu em casa ontem, deixou um bilhete. Acho que queria dizer "não me espere para o jantar" porque tudo o que entendi foi "no me esperar pru jantare". 

- Nossa. 

- É... Eu tenho que ir na secretaria resolver uma coisas, você sabe. Te vejo na sala? - Já tinhamos chegado na escola, eu nem havia percebido.

- Vê sim - ele saiu correndo e escorregou na curva do primeiro corredor toda molhada pela chuva. Eu comecei a rir, ele me olhou e também riu, fazendo um sinal negativo com a cabeça.

- Olha só, toda amiguinha do novato! Me avise o dia do casamento, Aninha! - Era Frank quem gritava do outro lado do corredor. Um gordão do 2° ano amigo de Samuel. Eles geralmente faziam bagunça juntos.

- Vai pro inferno Frank! - gritei de volta. Ele me olhou e junto com sua turminha começou a rir e cantar "Banana e Branquelo, Banana e Branquelo". Sai andando pelo corredor até chegar em frente minha sala. Tirou o celular do boldo, todo molhado. 

Os horários foram-se passando. Matemática, Português e Educação Física. A Educação Física daqui se resume em: a professora McClan nos ameaçando dizendo que se não ficarmos quietos faremos prova de educação física, os garotos zoando a se mesmos com apelidos, a meninas vendo revistas e eu, que ficava no meu canto, sem falar com ninguém. Não sei como a srta. McClan me da "Muito Bom", já que não fçao porcaria nenhuma.

O sinal bateu. Intervalo, finalmente. Desci até a cantina e comprei uma esfirra, fui pro pátio. Quando terminei de comer e ia pegar meu celular, vi uma rodinha um pouco a frente dos amigos de Samuel. Tinha uma garota da 8° série com eles, eles estavam tentando roubar o dinheiro lanche. A garota pedir "por favor, não. Meus pais não tem muito dinheiro é tudo o que tenho, por favor, não". Então Samuel pegou a garota pelo braço e berrou "O DINHEIRO, AGORA". Fui até lá.

- Samuel.

- Ah, oi Ane! Já lanchou? - dizia ele, que continuava a apertar o braço da garota.

- Solta ela cara. - disse

- Vamos lá Ane! é só uma garota e o dinheiro do lanche. O dinheiro que por acaso ela ainda não nos deu. - Ele sacudia ela, e a garota estava começando a chorar.

- Cara, larga ela. - Eu estava começando a ter raiva de Samuel. Ele havia mudado, muito. Antigamente era carinhoso e inofensivo, agora estava batendo em garota por míseros 8 reais.

- ME DA A DROGA DO DINHEIRO! - Samuel gritou, ele começou a sacudir a garota pelo braço.

- Larga ela Samuel, larga! - fui até ele e peguei o braço dele, comecei a mexer seu braço pra ele soltar. Nesse momento tudo tava uma confusão, a garota chorava, eu gritava "SOLTA SAMUEL, SOLTA" e ele tentava segurar minha mão com o braço livre. Ele me soltou, e soltou a garota. Ela caiu no chão meio tonta. O sr. Panetone, diretor do colégio estava vindo. Na verdade ele não chama Panetone, mas ele é meio gordinho e usa ternos com botões coloridos que parecem frutinhas cristalizadas, e  ninguém sabe o nome dele de verdade então... é Panetone.

- Está tudo bem aqui? - Ele perguntou. 

- Está? - olhei pra Samuel

- Está sim. Bora galera - ele olhou pros 5 amigos gigantes dele. Os 6 foram embora, e Samuel me olhava ruim. Provavelmente querendo dizer: "Isso vai ter volta". O sr. Panetone voltou pra sala dos professores.

- Você está bem? - olhei pra garota caida no chão

- Estou sim. Meu braço está doendo um pouco, só isso. - Ajudei ela a levantar.

- Não liga pro Samuel, ele é maluco. Ele tr machucou? Tem certeza que está bem? - ela parecia meio tonta.

- Tenho sim. Só preciso de um pouco de água. Obrigada. Estou guardando esse dinheiro pro presente de aniversário da minha mãe, sorte que eles não levaram. - disse ela limpando sua calça preta.

- Ok. Tome um pouco de água, e se quer um conselho, não traga mais esse dinheiro pra escola. Se ele é tão importante assim...

- Vou fazer isso. Posso saber seu nome?

- É Ana Bana... Ane. - disse dando um sorriso.

- Prazer Ane. Sou Sofia. - ela disse e saiu correndo até o bebedouro.

Sai andando pelo pátio, e quando passei pela primeira árvore quase infartei de susto.

- Oi - era o Jake, ele estava lá em cima da árvore, onde era impossível ve-lo.

- AAAAAAAAAAA. Ficou louco menino? Quer me matar? - ele começou a rir

- Nem brincando. - Jake colocou as mãos nos bolsos, como sempre fazia, e começamoa a andar. - Sabe, achei muito legal o que você fez pela garotinha. Serinho.

- É... o Samuel ta estranho.

- Eu percebi. - ele coçou o queixo e percebi um anel prata em seu dedão da mão direita.

- Bonito anel...

- Ah, isso, ah. - ele olhou pro anel e colocou sua mão no bolso rapidamente - foi um presente de família.

- Seus pais?

- Pode-se dizer que sim.

Ficamos conversando sobre os deveres até o sino bater de novo. Entramos pra sala e ouvimos 2 aulas chatas de português e literatura. Quando a aula acabou, Jake saiu apressado. Fui atrás dele, sem que ele me percebesse. Entramos em um beco, e ele abriu uma porta. Fiquei atrás da esquina um pouco adiante, para não ser vista.

- Você a encontrou? - disse uma voz grossa e rouca.

- Talvez. Acho que é ela. Talvez ela seja a humana certa. - eu reconheci a voz. Era a voz de Jake. Mas  "a humana certa"? o que ele queria dizer com isso?

- Como sabe? 

- Ela é diferente. Não é como os outros, arrogantes. Vejo bondade nela. - disse Jake

- Seja rápido. Os tempos estão mudando. - falou a voz rouca

- Sim, meu Senhor. - ouvi a voz de Jake. 

Por um minuto tufo ficou em silêncio, então olhei pro beco. Estava vazio. Jake desaparecera. 

Fui correndo pra casa, entrei pro meu quarto e fiquei ali, pensando no que ouvira. O que Jake queria dizer... a humana certa. Ela falou como se não fosse humano. Depois disso desconsiderei tudo o que havia pensado. Claro, Jake não era humano, que besteira. Deitei em minha cama e dormi.


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