Eram 4 da manhã. Um garoto alto, magro, de cabelos cinzas compridos e vestido com um terno branco andava por um beco. Ele parou em frente à uma porta, e a abriu. Uma luz branca emergiu da porta. O garoto se aproximou.

- Chegou a hora, Jake. - disse uma voz rouca e grossa.

- Mas Senhor... não acha um pouco cedo? Eles estão longe. A guerra não deveria ser daqui há muito tempo, ainda? - disso o garoto de branco, que parecia se chamar Jake. Sua voz era doce e suave, daquelas que você ouve e seu coração se acalma.

- Você sabia que essa hora chegaria, Jake. - disse a voz rouca

- Os humanos. Eles... eles devem participar? - Jake falava devagar, gaguejava um pouco, como se estivesse com medo.

- Eles tem o papel principal nisso tudo, meu caro amigo. - depois disso a porta se fechou em uma batida, a luz sumiu. Jake continuou dando alguns passos à frente do beco, até virar a esquina e desaparecer.

...

- ACORDAAAAAAAAAAAAAAAAAAA - Gritou minha irmã em meu ouvido. Eram 6:15 da manhã, hora que levantávamos para ir para a escola. Hoje é o primeiro dia dia aula, que saco. - ACORDA LOGO ANE, VAMOS NOS ATRASAR! - eu não queria levantar, não queria voltar para aquele inferno de escola, com aquelas pessoas ridículas e professoras idiotas. Então, minha irmã abriu as cortinas, tirou meu cobertor e puxou minhas pernas. Me agarrei na cabiceira da cama.

- NÃAAAAAAAAO - berrei

Ela saiu do quarto e foi pro banheiro, me levantei quase caindo da cama, como se fosse um zumbi. Peguei meu uniforme, e comecei a bater na porta do banheiro.

- Anda logo, Naiara! Que droga! 

Acho que ainda não me apresentei. Bem, vamos lá. Sou Ane, tenho 15 anos. Tenho uma irmã chamada Naiara, de 13 (idiota). Meus pais são Lucy e Marcos. Eu estudo em um colégio ridículo, e a única coisa que me salva é meu melhor amigo, Samuel. Ele é como um irmão pra mim.

Depois que troquei de roupa desci e tomei meu café, esfirras, tapioca e suco de uva, meus preferidos. Peguei minha mochila, meu celular e meu fone. Eu e minha irmã saímos de casa. Fomos caminhando calmamente, ela estava falando algo comigo, mas minha playlist do AC/DC com certeza era melhor. Quando viramos a direita para a Avenida, encontrei Samuel. Ele antigamente usava óculos, e era meio... retardado. Nessa férias ele tinha prometido que iria mudar. Foi pra academia, está usando lentes e a voz dele engrossou bastante. 

- Oi, Ana banana! - disse ele com um sorriso no rosto. Nos conhecemos no pré, quando eu tinha apenas 4 anos. "Acidentalmente" em uma das atividades de artes joguei tinta azul na cara dele, e então começamos uma guerrinha. Desde então, somos melhores amigos. - Oi, Nay!

- Iai Samuca! - minha irmã era parecida com o Samuel, mas eu detestava quando os dois se juntavam. Principalmente sair na rua com eles. Se um dia você me ver na rua com eles, não conheço, nunca vi nem ouvi falar.

Chegamos à escola. Aquilo estava pior. Criancinha recém-chegadas da 7° série correndo pelo patio principal, professores se fazendo de bonzinhos, gente do 3° ano se achando bonito. Eu e samuel estávamos no 1° ano, o que significa que estávamos no meio de tudo. Ninguém nos perceberia, ninguém nos encheria o saco, exatamente como gostávamos.

O sinal tocou, e entramos para a sala. Minha primeira aula era de matemática (uhul, que bosta). O professor, sr. Finnigan era alto, loiro e usava óculos. Ele era legal. De repente um aluno novo entrou na sala. Estava atrasado, e parecia muito cansado, sua respiração estava rápida. 

- Des-desculpe senhor. Perdi a hora. - disse ele. O garoto tinha cabelos cinza, pele branca. Usava uma calça ridícula jeans azul, e seu tênis estava todo sujo e rasgado. 

- Ah, sim, claro. Seu nome? - perguntou o sr. Finnigan

- Jake. Jake Phillip. - a classe toda riu. Jake Phillip? que tipo de sobrenome é esse?

- Ótimo Jake. Hm, hm. Parece que não temos uma carteira sobrando... Sente-se com Ane até acharmos um lugar pra você. - O garoto olhou pra mim. seus olhos eram azusi, mas não azul bebê. Eles eram mais escuros. Jake "Phillip" se sentou ao meu lado e deu um sorriso. Virei o rosto e voltei a olhar para o quadro.

Depois dos 3 primeiros horários, finalmente o intervalo tinha chegado. Os novos alunos da 8° série corriam pela escola gritando. Rezei para que minha irmã não estivesse fazendo o mesmo, e graças à Deus ela não estava. Se sentou com suas amigas, Ana Luiza e Marina em um canto do corredor, e estava mexendo no celular. Até parecia uma boa menina. Samue se sentou ao meu lado.

- E então? O que achou do branquelo?

- Branquelo?

- Sim, o novo aluno. Estamos chamando ele de branquelo. - Vale constar, Samuel é do grupo dos populares quando não está comigo. Ele é daqueles que joga futebol, conhece todos da escola e vive apelidando e enchendo o saco dos outros. Ele era um doce de pessoa.

- Não sei, não falei com ele. - era verdade. Ignorei o garoto a aula inteira, e ele sempre tentava puxar assunto. O máximo que fiz foi pegar algumas respostas dos exercícios de física, sem que ele percebesse.

- Ele estava de olho em você - disse Samuel dando uma mordida em seu hambúrguer.

- É, tanto faz. Não ligo. 

- HEEEEY, CABEÇA DE GLOBOOOO - "Cabeça de Globo" era um garoto cabeçudo da sala 9. Ninguém sabia o nome dele desde Samuel colocou esse apelido. Todo mundo chamava ele de cabeção, bola de basquete ou cabeça de globo.

- Olha, se um dia você me colocar um apelido tão ridículo quanto esses, eu juro que arranco sua língua. 

- Não faça isso, Ana banana - nós dois rimos.

O sinal tocou, era hora de voltar para casa. Meus dois últimos horários foram um desastre. Finalmente dei atenção ao Jake. Ele me perguntava se nasci aqui nos Estados Unidos mesmo, minha cor preferida, essas coisas. Perguntei a ele. Ele disse que não nasceu aqui, e não sabe de onde veio também. Perguntei sobre seus pais, ele disse que não tinha. Tinha apenas um tio, que as vezes aparecia em casa bêbado, ou aparecia com a polícia por arranjar encrenca na rua.

Fui pra casa com minha irmã e Samuel. Mal tinha conversando com ele, precisávamos nos falar, mas estava com peeguiça demais para tal. Entrei em casa, fui assistir TV e peguei no sono. Acordei com minha irmã ouvindo músicas da Demi Lovato no último volume. Eram umas 3 da tarde, quando olhei pra janela da sala. Por ela dava pra ver apraça, que fica em frente aqui de casa. Vi um garoto, sentado no banco e rindo sozinho. Era Jake.

- Maluco. - falei. Fui para meu quarto fazer a lição de biologia, e o garoto continuava lá, rindo sozinho.