Light And Darkness escrita por Hachi


Capítulo 7
Just After U


Notas iniciais do capítulo

Saudades!



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Aria mode.

O coração batia tão forte que ela mal conseguia distinguir medo de ansiedade. Estivera com tantas pessoas desconhecidas ao longo do tempo, mas estava crescendo algo em si – algo que, na maioria das vezes esteve muito longe: a desconfiança.

Neve caía. Tão fraca e inocente.

— Está tudo bem. Não há mais ninguém por aqui.

Aqueles ossos seguraram suas mãos e a levantaram num gesto leve e impulsivo. Puxou-a, limpando de sua roupa os flocos que invadiam a cor da mesma. Aos poucos, aquela desconfiança foi passando e os olhos foram se abrindo. Um arrepio tomou conta dos braços e ao segurá-los sentiu algo macio. Luvas.

— O quê...? Olhou-as. Um vinho escuro. Tampavam a palma da mão, mas os dedos ficavam para fora. No pulso, os “pelinhos brancos” seguravam-no bem. Uma saia igualmente escura, uma blusa, um chalé tomavam conta do corpo. Uma bota de plataforma. Como o chão não estava com neve macia, não existia problema.

Vislumbrou o lugar. Encantada. Atraída por ele.

Yuletide Hill.

Dos dois lados do espaço, o amontoado de neve denunciava que alguém, de algum tempo vinha para limpar o caminho que fazia algumas ondulações ao longe. O céu era imenso e limpo, incrustado com diamantes amarelos (não existia melhor definição para as estrelas).

O cabelo caía nas costas, ondulado e brilhoso. Ao perceber o pouco charme que tomava conta de si, sorriu, sentindo-se bem, uma das poucas vezes na vida.

— É lindo, não é? Não vimos nada ainda. Esse lugar é cheio de maravilhas.

E seguiu em frente, como se tivesse esquecendo-se de sua companhia. Passadas longas, uma canção qualquer alegre que aquecesse seu coração em falta.

De alguma forma, aquela alegria contagiava o corpo de tal forma a fazê-la querer dançar e compartilhar os bons sentimentos. Nunca estivera tão eufórica na vida – mesmo que não demonstrasse isso. Queria sorrir, mas igualmente voltar correndo para os braços de Dan. Por anos, ele tivera sido sua única família e provavelmente sempre seria. Mas sempre que esse pensamento lhe atormentava, ela conseguia sentir o repúdio sobre as ações dele crescer, uma negação aparente, uma vontade nada agradável de socar-lhe a cara até que ele finalmente começasse a entender como ela agia – e sempre agiria. Argh. Era tudo um enorme furacão onde ela era apenas mais uma vítima de sua destruição. Seria uma pena, pensou, que nunca conseguissem se entender por completo. Caso isso viesse a virar uma pegadinha do futuro (senão do presente), eles estariam ferrados. E durante anos esse pensamento a assombrava, e suas preces tinham sido ouvidas até então. Não é necessário mudar agora! Ela gritava para si mesma. Só até eu colocar as nossas vidas no lugar!

As pegadas que Jack havia deixado indicavam gentilmente que a trilha estava certa e que não demoraria muito a chegar ao centro iluminado ao longe. Os saltos davam estabilidade nos passos, e mesmo que um medo mínimo surgisse de pisar e ficar presa no chão, isso tinha uma consequência. Um riso tímido, divertido; sorria e olhava os cantos como se não quisessem que a vissem assim: feliz. E nem sabia o motivo de tamanha agitação. Natal lhe trazia pouquíssimas memórias, nenhuma nítida o bastante para poder comparar ou recordar detalhes. Sentiu falta deles.

Aos poucos, sem pressa, um cheiro doce foi apertando o nariz, um calor foi abraçando-lhe o corpo, apertando-a a puxando-a pelas mãos, como se aquele fosse seu paraíso pessoal, destinada a entrar e nunca mais sair.

Chegando até antes da entrada que anunciava “Candy Cane Lane”, Aria viu a silhueta magricela de Jack sentado no carrossel, de pernas cruzadas, pacientemente esperando por sua chegada.

Os pilares da entrada pareciam enormes doces. E não só os pilares como também os postes que iluminavam o lugar todo. Árvores de natal estavam espalhadas por todos os cantos, brilhando com sua própria beleza. As casas quase invisíveis por estarem todas juntinhas cheiravam a chocolate. Pelas janelas era possível enxergar luzes ligadas, e apesar de serem pequenas (assim como as portas também), Aria desejou se agachar para entrar numa delas. Algumas risadinhas eram audíveis e silhuetas passavam ali pertinho, exatamente como no passado. Sentia-se aconchegada e assustada ao mesmo tempo; parecia tudo tão... Nostálgico. E comestível! Isso, claro, sem contar na casa atrás do carrossel ao centro. Devia ter uns dez metros de altura, apesar de não parecer muito apetitosa. Os tijolos vermelhos davam um ar de “antiga”. A porta decorada com um laço parecia ser tão delicada e tinha também uma “garagem” com um trenó. De uma hora para outra, sentiu que seus dezessete anos tinham se esvaído. Sentiu que a criança adormecida tinha voltado por completo e que não existia ninguém ali além dela, mesmo que o sorriso divertido continuasse sendo mostrado aos poucos.

— Magnífico... Sussurrou para si mesma, desacreditando que tal lugar pudesse mesmo existir. — O que há lá?

Perguntou sobre o caminho atrás da casa. Sua resposta fora um singelo movimento de cabeça de Jack, que pareceu não querer acompanhá-la. Pouco suspeito, mas não perderia a chance de dar uma olhada em cada mínimo lugar.

Tomou caminho. Correu até pouco antes de ver a parte de trás da casa. E o lugarzinho escondido parecia ser o melhor de todos. Havia um enorme lago congelado do lado direito que suportava uma árvore de natal gigantesca. Ela brilhava mais do que qualquer outra. Do lado esquerdo, algumas casas se desdobravam, grandes paredões. Lá na frente, outros grandes doces seguravam sinos e lhes dava as boas vindas indiretas para uma área limpa, um grande círculo vazio. A garota correu até o centro e inspirou fundo, o ar limpo revigorando a alma. Ao redor desse círculo, barrancos de neve e lá em cima outras casas acesas e ativas. Sem que ela percebesse, começou a nevar de novo, mas já estava se jogando nos barrancos macios para perceber, fazendo bonecos de neve e sentindo arrepios percorrerem o corpo. A pele já estava começando a ficar úmida.

Uns cinco minutos se passaram; sete, dez. Podia dormir ali sem problemas, só acordaria resfriada mais tarde.

Existia alguma coisa nas estrelas que ela fitava com tanta curiosidade. Algum feitiço, alguma lembrança, ALGUMA COISA que a fazia ficar estranha. Queria muito lembrar, queria muito que tudo ficasse claro o suficiente para que as dúvidas se dissipassem da mente, mas nada aconteceu. Ela se esforçou, se esforçou, mas nada continuou acontecendo.

— Ei, ———, o que está fazendo?!

Levantou o corpo.

Era uma voz feminina me chamando?

Uma silhueta ao fundo, cabelo azul, curto. Sorria.

Ez?

— Estamos atrasadas, sabia?! Você sempre se atrasa! Oh, não me diga que esqueceu!

Esqueci... o quê?

— Oh, então você esqueceu mesmo!

Ez...

Essa mexida no cabelo, personalidade autoritária... Eu posso vê-la...!

— Isso não é desculpa! Levante-se, estão esperando por nós.

Estão?... Quem está? Ez, eu...

— Sem mimimis agora! Vamos logo!

Levantou-se, apressada, sem esperanças no que seus olhos estavam encarando. Ez estava ali, diante de si, chamando-a. Correu em sua direção, as lágrimas mal formadas descendo pelo rosto. Isso sim era felicidade. A outra esticara a mão. Aria fez o mesmo, louca para segurá-la e abraçá-la, chorar o quanto sentira sua falta. Mas assim que alcançou-a, assim que conseguiu segurar sua mão, ela desapareceu, obrigando-a parar bruscamente. O cabelo foi para frente com o impacto. Ez estava ali, tinha certeza disso. Uma sonolência tomou conta de si, e o corpo caiu para trás como num vazio constante e infinito.

EZ!

Um grito estridente, a força do corpo para frente, um susto. O rosto suava frio, as bochechas molhadas pelas lágrimas, a respiração forçada. Um sonho? Um pesadelo, com certeza. Mas por que com ela e por que agora? Passou a mão pelo rosto, observou os lados e botou-se a chorar baixinho por alguns segundos. Foi aí que Jack apareceu na virada da trilha e começar a acenar. Teria demorado demais? Esperava que não, mas não podia dizer por igual. Mal lembrava-se da última vez de ter visto um relógio na vida.

— Já vou! – Gritou, acenando de volta. — Já vou...

Sem querer atrasar ainda mais os planos de seu novo companheiro, limpou os olhos, arrumou o cabelo, mas a respiração não voltara ao normal por completo e ela sentia frio como nunca sentira antes. Já em pé, limpou a roupa da neve e andou até Jack, que deu-lhe as costas, guiando-a para frente do grande casarão.

— Ele está aí. Papai Cruel, lembra-se? Ele vai nos receber.

Passando o dorso pelo rosto, Aria deu outra olhada na casa, sendo obrigada a levantar o pescoço.

— Espero que ele tenha doces. – Brincou, mantendo certa distância da porta, ao contrário de Jack, que bateu três vezes e já foi abrindo – por uma sorte sem igual, sim, estava aberta. Não era à toa que fazia amizades rápido.

Depois de mais ou menos dois minutos, ele saiu da casa, deixando a porta aberta.

— Não encontrei ninguém. Vou dar uma olhada pelos arredores, você tem que conhecê-lo!

Aria assentiu, afirmando que daria uma olhada no interior da casa por curiosidade.

Preocupada em não fazer muito barulho, ela entrou na pontinha dos pés, e realmente não sabia como Jack não o encontrara. Ele era enorme, e parecia estar vindo direto da cozinha. De primeira, assustou-se com a não-convidada, mas sua expressão logo se amaciou, ao contrário da garota, que manteu o corpo rígido, com medo de ter feito algo errado.

— Aria! Que surpresa agradável tê-la aqui. Mas você tem que saber bater antes. Isso vai pra sua lista.

— Lista?

— Feche a porta, por favor! O frio de lá de fora vai esfriar nosso chocolate.

Só então ela percebeu que ele segurava duas canecas. Andou, portanto, até o lado de fora, bateu as botas, tirou-as e colocou-as juntas e organizadas logo ao lado da porta, que tratou de fechar assim que se sentiu pronta. Voltou para onde estavam, e pegou-o sentando-se numa enorme poltrona. Colocara os dois chocolates na mesa que ficava ao centro da sala e pegara uma enorme folha de papel. Como “Aria” não era difícil de achar (e visivelmente estava no começo da lista), Papai Noel começou a balançar a cabeça positivamente, fazendo alguns rabiscos com sua caneta de pena. A garota não entendeu nada, mas teve a liberdade de sentar numa outra poltrona. Era tudo muito bem decorado, cheio de presentes e cores vivas. Era uma característica as coisas girarem também? Sentiu-se fraca, sonolenta novamente, mas espantou pouco desse mal-estar com a força da mente. As mãos juntaram-se numa das canecas e levou-a a boca. O calor do chocolate percorreu a barriga e a fizera mexer os pés.

— Você foi uma ótima garota esse ano. Só não pode brigar tanto assim com seus amigos. Eles ficam magoados. Foi o que eu senti vindo de Dan.

Então era assim que Papai Noel sabia das coisas? Sentindo? Ele devia sentir muita coisa durante o ano.

A brincadeira, entretanto, não fora suficiente para lhe fazer se sentir melhor. Espirrou baixinho, devolvendo a caneca na mesa.

A campainha tocou. “Deve ser Jack.” — Eu atendo.

O grande homem agradeceu.

O corpo latejava. Já não tinha tanta energia como antes. Mas não existia motivo para estar assim.

Quando pegou na maçaneta e abriu a porta, a visão ficou turva e ela sentiu uma grande dor de cabeça. Rápido feito uma nevasca, Aria apagou, e a porta se fechou sozinha.


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