Capítulo 26 - Happy End

 Bianca (ou a versão feminina do Diego da primeira linha do tempo, mas para evitar confusões, vamos chamá-la de Bianca) não estava mesmo brincando e estava disposta a tirar a vida de Diego para evitar problemas no futuro. Porém, enquanto se aproximava do rapaz, Vanessa a segurou pelo braço.

- Solta - reclamou Bianca - É necessário!

- Acha mesmo que tudo vai mudar quando matá-lo? - perguntou a amiga.

- É a forma mais garantida - respondeu Bianca, deixando transparecer em sua expressão de que era a única maneira de evitar as desgraças - Depois disso...eu também irei me matar!

- Como? - espantou-se Ciro.

- Não é óbvio? - continuou Bianca - Eu tenho os mesmos genes de Diego. Se eu continuar viva, o que irá impedir que eu me torne uma cientista louca também? 

 Bianca começou a derramar algumas lágrimas. Mesmo assim, Vanessa continuava segurando o braço da moça.

- Eu, Diego, enfim...nós dois somos os responsáveis por tantos futuros terríveis! Nossa morte é o único jeito de impedir tudo isso e.. - mas um tapa de Vanessa na cara dela interrompe sua fala.

- Sua idiota! - exclamou ela - Acha mesmo que a morte é a solução para os problemas?

- Mas...se não fizermos isso... - Bianca pareceu surpresa (principalmente por não ter conseguido escapar do tapa).

- Sempre pessimista...agora eu tenho certeza de que você é clone do Diego mesmo! - retrucou Vanessa - O mundo sempre terá problemas, independente de vocês existirem ou não.

- Mas como poderemos garantir que... - Bianca parou - ...eu...eu não sei de mais nada.

- Bianca.. - balbuciou Diego - ...err...eu admito...que boa parte do que aconteceu foi culpa minha.

- Você também vai começar, é? - reclamou Vanessa.

- Mas concordo com a Vanessa - continuou o garoto - Acho que podemos pensar em uma forma de mudar o futuro sem causar a morte de ninguém.

- E como pretende fazer isso? - perguntou Bianca - Como pode garantir que não vai enlouquecer? Mesmo que se esterilize para não ter filhos, você e eu podemos enlouquecer a qualquer hora.

"Ela já não está louca?", pensou Vanessa.

- É verdade - comentou Ciro, com as mãos no queixo - Mesmo que evitemos os futuros do filho paradoxal e do filho cientista louco...sempre existe a possibilidade do próprio Diego se tornar um cientista louco.

- O que será que causou essa instabilidade tão grande na sua insanidade, meu filho? - perguntou Alberto.

- Eu não sei - Diego e Bianca responderam ao mesmo tempo. Como os dois eram a mesma pessoa, não se sabia a quem Alberto estava se referindo.

- Err...tá...estou falando com os dois - disse Alberto - O que será que facilita tanto a loucura de vocês?

- Frustração? - sugeriu Vanessa - Por não ter quem ele quer...parece a resposta mais plausível.

- Qual é? Não sou tão infantil assim! - retrucou Diego.

- Mas é uma possibilidade - disse Bianca - E você sente uma atração natural por mim simplesmente por eu ser você. Ser rejeitado por mim seria como ser rejeitado por si mesmo. É instintivo. Está nos nossos genes!

- Isso antes de saber quem você era de verdade - reclamou Diego - Agora não sinto a menor vontade de ficar com você!

- E eu menos! - retrucou Bianca.

- Tá, tá..parem de brigar - interveio Vanessa - Precisamos descobrir um jeito de resolver essa situação! Será que...não tem nada que podemos mudar nessa história toda?

- Algo que...podemos mudar - repetiu Alberto - Esperem! Talvez...talvez tenha.

- O quê?! - perguntaram Diego e Bianca.

- Também não é certeza que funcione - continuou o cientista - Mas...é uma possibilidade. Talvez seja justamente isso que precisemos para alterar o futuro.

- O que é, pai? Fala logo! - insistiu Diego.

- Para isso...vou precisar trabalhar duro para melhorar o Mind Clock - falou o cientista. 

 Sim, havia uma solução. Uma solução simples que, ao contrário da solução que Bianca achava ser a única, não envolvia morte, tampouco sofrimento. Uma solução que acabou salvando o futuro, gerando felicidade e paz para todos os envolvidos naquela confusão. Os resultados poderiam ser vislumbrados anos depois no futuro.

- Mamãe! Mamãe! - gritava um garotinho de uns seis anos, correndo pela sala e entrando na cozinha - Olha só, o papai me ensinou a montar um rádio.

- Ah, que bonito, Isaac! - elogiou Vanessa, se abaixando para ver o que seu filho tinha para mostrar - Hehe. Seu pai é mesmo bom com essas coisas.

- Será que ele vai virar um inventor? Hehe! - riu Diego, que chegava na porta da cozinha vestindo seu avental de cientista.

- Papai! - Isaac correu para abraçá-lo. Diego parecia feliz, assim como Vanessa.

- Não vai tirar esse avental? Logo, logo, eles estão chegando para almoçar! - avisou Vanessa.

- Ah, sim. Uso tanto isso que até esqueço - comentou o agora cientista Diego.

- Antes você ser um cientista distraído, do que um cientista louco - comentou Vanessa.

- Nem brinca com isso - riu Diego.

 Alguns minutos depois, a campainha tocou. Isaac correu para abrir a porta do apartamento.

- Ah, vovô! - exclamou ele, assim que viu Alberto.

- E aí, campeão? - disse Alberto, feliz em ver seu neto - Há quanto tempo!

- O senhor veio aqui na semana retrasada - retrucou Isaac.

- Mas para mim já é muito tempo longe do meu netão! Hehe! - falou Alberto, pegando Isaac no colo. Juntamente com Alberto, havia uma outra pessoa logo atrás. Parecia uma mulher.

- Oi, pai. Entra aí - falou Diego, logo depois olhando para a porta e observando a outra pessoa - Mãe...fique à vontade.

- Com licença - disse a mãe de Diego, com um belo sorriso no rosto. Era ela. Estava ali, viva e, principalmente, feliz.

 Para entender esse futuro, precisamos entender o que Alberto fez, ou melhor, o que ele mandou Diego fazer. Vamos voltar naquela fatídica tarde, onde Bianca revelou todos os problemas do tempo e quando Alberto descobriu uma solução.

- No que está pensando, pai? - perguntou Diego naquela noite, depois de Alberto prometer a todos que conseguiu uma solução e que iria avisá-los quando estivesse pronta.

- Você vai mudar todo o futuro, Diego - falou Alberto - Talvez só você possa fazer isso.

- Eu? Mas pela história da Bianca eu sou o responsável por todas as desgraças do futuro, lembra? 

- Mas talvez possamos mudar a história colocando um personagem a mais.

- Como assim?

- Talvez se você tiver mais alguém com você...nada disso aconteça.

- Do que está falando?

- Diego...você se lembra do que eu não consegui fazer na minha linha do tempo?

- Você fala da...da mamãe?

- Exatamente - confirmou Alberto, interrompendo seus cálculos para secar uma lágrima - Acho que...você pode fazer o que eu não consegui, mas vai ser arriscado. Estou melhorando o Mind Clock para que você consiga voltar para um passado ainda mais distante. Posso fazer isso em tempo record se a Bianca me mostrar algumas equações que ainda não tenho.

- Está querendo me fazer voltar ao passado onde minha mãe morreu? - perguntou Diego - Pai! Eu ainda era um bebê! Eu...eu não vou suportar a carga de memória do Mind Clock! A dor de cabeça poderá me matar!

- Talvez sim...talvez não...vai depender da sua força de vontade e da vontade do universo...mas não posso te forçar a fazer isso. Você quer ter uma chance de salvar o futuro de você mesmo?

 Diego mordeu os lábios, nervoso. Ele poderia continuar naquela linha de tempo, correndo o risco de virar um cientista louco, mas entendeu a proposta de seu pai. Se ele conseguisse mudar a história, de modo que sua mãe continuasse viva...talvez sua personalidade seria mais feliz e sua loucura não desabrochasse. Dessa forma, mesmo que tivesse um filho genial, a infância feliz dele teria grandes chances de impedir que se tornasse um cientista louco também. No entanto, o risco era grande. Ele poderia suportar a carga do Mind Clock com tão pouca idade? Era perigoso, mas Diego acabou aceitando.

- Tudo bem - disse ele - Eu vou arriscar...se não der certo...basta o senhor voltar no tempo, não é?

- Acho que não - balbuciou Alberto - Um futuro sem a sua mãe...e sem você também...acho que não aguentaria viver em um mundo assim.

- Pai - Diego deixou as lágrimas saírem e deu um forte abraço em Alberto - Eu...eu vou conseguir. Eu prometo.Vou...criar um futuro feliz...para todos nós!

- Espero que sim...vamos torcer para que o universo escreva um final feliz para nós dois - falou o cientista, abraçando seu filho com força também.

 A ideia era mandar Diego para o tempo onde Alberto iria cumprir sua missão de entregar a vacina anti-Diego para Bianca e um pouco antes da mãe de Diego cometer suicídio. Um mês depois da conversa, Diego estava diante do Mind Clock melhorado de seu pai, reunido ainda com Vanessa, Ciro e Bianca.

- Talvez...isso funcione mesmo - balbuciou Bianca.

- Tudo só depende de Diego - falou Alberto - Está pronto, filho?

 Dessa vez o Mind Clock não estava em um celular, mas em um computador mais potente (afinal, Diego retornaria anos para o passado). O rapaz respirou fundo e concordou.

- Pode rodar! - disse ele.

- Vamos lá! - falou Alberto, ativando o programa do Mind Clock e iniciando a operação. Agora, restaria saber se Diego aguentaria a dor ou não.

  As memórias dele voam para o passado. Anos e anos atrás. Na época onde Diego era apenas um garotinho e no exato instante onde Alberto acabara de sair de casa. Diego estava em seu berço, quando recebeu toda a memória do futuro. Desnecessário dizer o grau da dor de cabeça que ele sofreria.

- Buaaaaaaah!!! - ele chorou, assim que recebeu tudo aquilo.

"Cara...dói demais...nesse corpo de criança, a carga é mesmo muito forte", pensou ele.

 Naquele mesmo instante, quando sua mãe estava prestes a tomar o veneno que a tiraria do mundo, ela ouve o choro de Diego. Ela vai para o quarto da criança na mesma hora.

- Meu filho...o que houve? - perguntou ela.

 Diego não parava de chorar de dor. Susana, a mãe de Diego, o pegou no colo e tentou acalmá-lo.

- Será que é febre? Ou alguma dor? - ela não sabia. Mas o colo de sua mãe, de certa forma, deu mais forças para a pobre criança que, após alguns instantes, pareceu ter se acalmado - Ora, ora...o que foi? Passou...passou..não sei o que era, mas...já pode ficar mais tranquilo agora.

 Susana deixou Diego no berço e estava prestes a sair.

- Eu...eu não mereço ser sua mãe - disse ela - Desculpe, por ser tão ruim...Diego..

- Ma...mãe - balbuciou Diego.

- Hã? - Susana voltou para trás. Diego já sabia falar alguma coisa naquela idade, mas mesmo com todas as memórias do futuro, ele não podia expressar sua fala com tanta clareza.

- Ma...mãe...fica.. - disse ele - Eu...eu te amo...não vá embora...

 Susana ficou sem palavras diante daquilo. Talvez ela tenha pensado ter ouvido mais do que parecia. Talvez ela realmente tenha acreditado que Diego disse aquelas palavras. Talvez tenha achado se tratar da mensagem de algum anjo. Seja como for, Susana não conseguiu segurar suas lágrimas e pegou seu filho no colo mais uma vez.

- Não vou...a lugar nenhum, filho. Eu estarei sempre aqui...do seu lado, viu? - Susana o beijou e se deixou chorar com seu bebê no colo. Parece que...a missão de Diego foi um sucesso. Quando Alberto chegou em casa naquele dia, lembrando que na sua linha de tempo anterior Susana havia morrido atropelada, ficou mais do que feliz ao ver sua esposa bem, em casa, mais saudável do que nunca.

- A-Amor... - balbuciou Alberto.

- Oi, querido - disse Susana com um belo sorriso - Hoje fiz purê de batata.

 E esse foi o futuro feliz que Diego conseguiu realizar. Anos depois, Diego e Vanessa ficaram juntos e tiveram seu primeiro filho, Isaac. Mas ao contrário do futuro que Bianca viveu, Isaac estava longe de se tornar um cientista louco. Aliás, o que aconteceu com Bianca e Ciro?

- Amor...estou indo - disse Ciro, em uma casa bem distante de onde Diego e Vanessa moravam.

- Bom trabalho, amor - falou Bianca, claramente desmemoriada de tudo o que aconteceu. Parece que a vacina criada pela Bianca da outra linha de tempo também era esterilizante. Bianca e Ciro não podiam ter filhos. Mesmo assim, estavam felizes e contentes em suas próprias vidas, mesmo Bianca não tendo ideia de sua verdadeira origem. Na verdade, Diego e Vanessa mudaram de escola no colegial, impedindo que Bianca sequer soubesse que eles ficariam juntos. 

 Voltando para a família de Diego e Vanessa, todos pareciam mais do que felizes. Isso até Vanessa reagir de uma forma um pouco estranha depois do almoço.

- Ai...nossa, embrulhou meu estômago de repente - disse ela.

- Hã? Que estranho...você não estava bem até agora? - estranhou Diego.

- Na verdade eu já não tava muito bem desde manhã...isso é estranho, não lembro de ter comido nada que me fez mal...

- Ah, entendi - Susana riu ao ouvir aquilo - Ei, Isaac, acho que teremos um novo morador na sua casa, heim?

- Fala...sério - gaguejou Diego - Quer dizer que a Vanessa...?

- Peraí...pelas minhas contas...e da última vez que a gente... - Vanessa começou a repassar as informações até se dar conta de que podia ser verdade - Caraca, é bem possível mesmo! 

- É...tu tá grávida, norinha - falou Alberto.

- Eu vou ganhar um irmãozinho! Que legal! - comemorou Isaac.

- Ai, ai, ai...vou ter que acelerar os livros de ficção científica que estou escrevendo - disse ela - Mas agora...preciso ir ao banheiro..

 Vanessa saiu correndo com a mão na boca. É um efeito comum da gravidez. Parece que a vida de Diego não podia estar mais tranquila.

- Ei, Diego - chamou Alberto - Isso não pode dar problema, não?

- Relaxe - falou o filho - Com uma família como a nossa...não tem mais espaço para loucura nenhuma.

 Todos riram. A história foi mudada radicalmente com a morte da mãe de Diego evitada. Amor e carinho possuem mesmo um poder capaz de mudar o futuro, não? E assim, Diego e sua família viveram felizes por todo o resto daquela linha de tempo.

END