Confissões De Uma Adolescente escrita por Beatriz


Capítulo 10
Tudo estava indo bem. Estava...


Notas iniciais do capítulo

Fiquei muito feliz com o crescimento dos leitores e das reviews. Vou tentar ser cada vez melhor porque confesso que estou a espera de recomendações hahaha!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/302267/chapter/10

Voltamos a nos divertir e eu não tive mais aquela sensação estranha. Enquanto a Babi comprava um algodão doce, peguei meu celular para ver as horas. Dez e meia da noite, nem tinha visto passar. Liguei pro celular da Ju porque ia avisar que no máximo meia-noite eu estaria em casa, mas nada de atender. Como ela tinha me dito que não tinha hora pra chegar em casa, nem me preocupei muito em avisá-la sobre mim. Continuamos indo nos brinquedos, repetimos alguns porque já tínhamos ido em todos, mas ainda sim estava muito divertido. Bárbara era uma boa companhia. Quinze para a meia-noite e eu tive vontade de ir embora. O parque ficaria aberto até uma da manhã mas nós já havíamos aproveitado de tudo dali.

-Babi, acho que já vou indo pra casa. Tá ficando tarde e minha irmã vai pegar no meu pé se eu demorar muito. -Inventei uma desculpa, pois a Ju estava pouco se importando o horário que eu chegara em casa, ela nem estaria lá. Estaria bebendo, fumando e se divertindo com os amigos dela, com certeza.

-Sem problemas, Carol. Quase meia-noite, acho mesmo que já devemos ir. Eu te levo até a sua casa.

-Não precisa, você tem que andar mais para chegar na sua, e a minha é aqui perto. Eu vou sozinha.

-Posso ir? Vou me sentir mais segura em te levar, e depois vai que acontece algo, alguém tenta alguma coisa com você... Vou ficar culpada se algo acontecer.

-Bom, se você insiste, tudo bem.

Fomos andando até minha casa, que não era longe dali, e conversando. Tínhamos várias coisas em comum. Gosto musical era uma delas.

-Aqui é minha casa. -Eu apontei para o jardim da frente e nós rimos. -Obrigada por hoje, foi legal sair com você.

-Eu gostei também, muito. Espero que nós saiamos outras vezes. -Ela sorriu.

-Claro que sim, sempre que der! Mas agora tenho que entrar, sério. -Fui até ela pra dar um beijo na bochecha como despedida porém... A Babi virou o rosto propositalmente e nós nos beijamos.

Foi um beijo longo, doce e suave. Nunca imaginei que beijar uma menina fosse assim, na verdade, nunca me imaginei beijando uma menina. Estava uma confusão dentro de mim, mas não demostrei. Confesso que curti aquilo.

-Boa noite, fica bem. -Ela disse sorrindo e se virando pra ir embora.

-Babi! -Gritei e ela se virou.

-Sim?

-Boa noite. -Fui até ela e lhe dei um selinho.

Ficamos nos olhando por uns instantes e depois entrei pra casa. Olhei da janela da sala até não conseguir mais vê-la.

Subi para o meu quarto, tomei banho, me troquei e mandei um sms pra Ju.

"Juízo garota, e chega antes do almoço!"

Ela não respondeu, eu estava com sono então fui dormir. Ouvi meu celular tocar, mas estava tão bêbada de sono que não dei a mínima. Ouvi ele tocar de novo e de novo. Tocou sem parar, caía na caixa de mensagens e logo em seguida tocava mais uma vez. Aquilo estava me irritando tanto que resolvi atender.

-Alô? -Eu disse apertando qualquer tecla na esperança de conseguir atender, pois eu estava no escuro.

-Caroline?

-Acho que você ligou pro meu número, então eu que atendi. Óbvio. -Eu respondi irritada.

-É a sua mãe, Caroline, mais respeito comigo.

-Mãe? -Sentei rápido na cama e mudei meu tom de voz.

-A Ju tá aqui no hospital, ela sofreu um acidente. -Minha mãe disse fria.

-O que? -Perguntei assustada. -O que aconteceu?

-Eu tenho muito trabalho pra fazer, Caroline. Se quiser venha até o hospital. -Ela disse e desligou em seguida.

Eu estava em pânico, choque, sei lá a palavra para descrever o meu estado. Olhei para o relógio e vi 03:35 da manhã. Levantei da cama correndo, escovei os dentes, joguei uma água fria no meu rosto para que eu pudesse despertar, coloquei a primeira roupa que vi na minha frente e sai de casa. Minha barriga roncava de fome, mas só conseguia pensar na Ju. Chamei um táxi e vinte minutos depois eu estava na frente do hospital. Entrei desesperada, eu podia sentir minhas pernas trêmulas e fui até a recepção perguntar sobre a Juliana. Antes que eu pedisse informações vi meu pai passar por ali e logo o chamei.

-Pai! -Gritei chamando a atenção dele.

-Carol! Veio aqui pela Ju, né?

-Sim, cadê ela? Ela tá bem?

-Vem comigo, vou te levar até a doutora que tá cuidando do caso dela e ela vai te explicar tudo. Hoje tá corrido demais aqui.

Ele me levou e me apresentou para a médica, o nome dela era Regina.

-Então Caroline, sua irmã sofreu um acidente de carro. Estavam todos bêbados, inclusive a motorista. Mas só ela e mais um menino, chamado João, ficaram feridos.

-João é o namorado dela. É grave? Eles vão ficar bem?

-O caso do João não é grave. Já o da Juliana, digamos que sim, é grave. Ela estava no banco do passageiro, e quem estava na frente mais se feriu. No caso ela, mas a motorista só teve alguns arranhões e já foi medicada e foi embora.

Regina me explicou mais sobre o estado da minha irmã e realmente parecia algo grave. Depois ela me levou até o quarto onde minha irmã estava.

-Ela está dormindo sob efeito de remédios, por isso não vai te escutar e nem falar nada. -A doutora avisou. -Vou deixar você sozinha, qualquer coisa me chame.

-Tudo vai dar certo. -Eu sussurrei para ela, mesmo que ela não ouvisse. Uma lágrima escorreu.

Fiquei por mais uns quinze minutos lá quando a Regina entrou no quarto.

-Vou medicá-la mais uma vez, e se não fizer mal ela poderá ir embora amanhã pela parte da tarde.

-E o João? -Eu perguntei.

-Foi medicado e foi embora. Ele disse que queria ficar aqui e queria ver a Juliana, mas a mãe dele não deixou.

-Ah sim...

-Você vai ter que sair da sala. Vou aplicar o outro remédio na veia dela e é melhor que ela fique sozinha. Pode esperar naquelas cadeiras que ficam do lado de fora, seus pais devem vir falar com você.

Fiquei sentada ali por mais algum tempo e nada de nem meu pai nem minha mãe virem falar comigo. Eram quatro da manhã quando vi um movimento estranho no corredor. Vários médicos andando rápido e falando uma voz por cima da outra, eu estava um pouco longe e não conseguia entender. Depois vi todos eles passando por mim e entrando na sala onde minha irmã estava. Tentei chamar a atenção de um deles, mas me ignoraram. A Regina saiu da sala e veio em minha direção.

-O remédio que eu apliquei nela fez um efeito e não foi nada bom. Ela respondeu mal e vamos ter que operá-la as pressas. -Ela avisou nervosa.

-Operar? O que? Como assim? Cadê meus pais? -Eu estava desesperada.

-Eles estão em outra sala de cirurgia, mas sabem sobre o que faremos com a Juliana.

-E essa cirurgia que ela vai fazer corre algum risco?

-Sim. Ela pode não resistir e você sabe... -Regina não quis terminar a frase mas eu havia entendido. Minha irmã corria o risco de morrer.

-Não, não e não! Com a minha irmã não! -Eu gritei indignada.

-Calma, Caroline. Você pode acompanhá-la até a porta da sala de cirurgia.

Helena, a psicóloga do hospital veio conversar comigo antes que a cirurgia fosse começar. Ela me acalmou e tentou me fazer entender que era preciso operar minha irmã. Eu fiquei um pouco menos nervosa, porque se dissesse que tinha ficado calma estaria mentindo. Estava tensa porque ela nunca havia feito uma cirurgia, muito menos desse tipo, que corre risco de vida. Eu estava sozinha naquele hospital, meus pais estavam lá mas estavam trabalhando. Resolvi mandar um sms pro Lucas.

"Se eu te acordei, desculpa. Eu to mais triste do que nunca, não sei o que fazer, não sei pra quem recorrer."

Quinze minutos depois meu celular tocou e era o Lucas, eu sem querer devia ter acordado ele.

-Alô?

-Carol? Carol o que aconteceu? Pelo amor de Deus, Caroline, o que foi? -Ele disse rápido e angustiado do outro lado da linha.

-Eu to no hospi...

-Hospital? Como assim? -O Lucas me interrompeu.

-Minha irmã sofreu um acidente.

Expliquei tudo para o Lucas, desabafei com ele, chorei, ele me apoiou e me ajudou, como sempre. Depois a doutora falou que estava na hora de comçar a cirurgia da minha irmã, então desliguei o celular e fui  com ela até a  porta.

Mesmo sabendo que ela não estava acordada e não podia ouvir nada, eu quis falar com ela.

-Eu vou estar aqui quando tudo isso acabar, e você também. Juliana, eu te amo. -Eu disse chorando e segurando a mão dela.

-Agora precisamos levá-la. -Um dos cirurgiões avisou.

Meus pais estavam lá comigo, mas não podiam entrar na sala de cirurgia. Um tempo depois eles saíram e foram atender outros pacientes, eu fiquei sentada em uma daquelas cadeiras desconfortáveis e rezando para que tudo desse certo. Passaram-se duas horas e nada de ninguém sair daquela sala de cirurgia. Eu estava ficando preocupada mas não queria pensar nada negativo. Fui até a lanchonete do hospital comer alguma coisa antes que eu desmaiasse ali, eu não comia fazia muito tempo. Quatro horas se passaram até que dois médicos saíram da sala.

-Moço! -Eu chamei um deles e eles olharam. -Como está tudo lá?

-Você deve ser a irmã da Juliana, né? Se parecem... -Um deles falou.

-É, sou sim.

-A cirurgia ocorreu bem e ela já já vai voltar para o quarto. Está sob efeito da anestesia e muitos remédios, então acho que ela demora a acordar.

Depois que a Ju voltou para o quarto eu fiquei mais aliviada. Avisei o Lucas sobre o progresso e ele ficou feliz também. Fui até o quarto da Ju para ver como ela estava. O rosto pálido, branco feito papel e a respiração fraca. Ela ia ficar bem. Meus pais disseram que eu precisava ir embora, precisava dormir e que ia ficar tudo certo com a Ju, eu poderia voltar no hospital, porém mais tarde. Foi o que eu fiz. Eu estava realmente muito cansada e mal conseguia ficar com os olhos abertos. Cheguei em casa e me joguei na cama.

Fui acordar as duas da tarde. Chamei por alguém, mas vi que não tinha ninguém em casa. Fiz minha higiene e finalmente percebi que havia saído do meu período menstrual. Ó, glória Deus!!!! Desci, comi uma panqueca que estava na geladeira e liguei pra minha mãe.

-Sim, Carol?

-Oi mãe, como estão as coisas?

-A Ju parece estar bem. Ainda está dormindo, mas está tudo bem, sim.

-Ai que bom. Apareço ai no hospital daqui a pouco.

O tempo passou e eu fui pro hospital. Cheguei lá e tudo parecia estar calmo e não muito movimentado. Mas só parecia. Pedi informações sobre a minha irmã para a mulher da recepção e ela me encaminhou até um médico.

-A Juliana está em coma.

-Como assim? Ela foi operada na madrugada de ontem para hoje e eu falei com a minha mãe, que é médica daqui e ela disse que minha irmã estava bem.

-Mas ela acordou e começou a passar mal, os remédios deram efeito contrário. Ela não está nada bem.

-Eu quero vê-la! -Eu gritei chorando.

-Sinto muito, mas não vai ser possível. Tem médicos na UTI onde ela está e eles estão cuidando dela. Se você quiser, pode ficar aqui fora, mas sem chances de vê-la. Eu realmente sinto muito, não posso fazer nada.

-O estado da paciente Juliana Salles piorou. Ela está tendo convulsões seguidas e está ficando sufocada. Precisamos de ajuda, urgente! -Uma outra mulher chegou e avisou ao médico que conversara comigo.

Escutei aquilo e fiquei sem chão. Sentei porque senti que ia desmaiar e comecei a chorar. Pensei em tudo que nós havíamos passado, minha irmã não podia me deixar agora. Ela era tudo pra mim. Não conseguia parar de chorar. Ali mesmo, sentada em uma das cadeiras, chorando descontroladamente e com uma dor imensa no coração. Era como se eu já soubesse o que estava por vir. Eu não queria pensar naquilo. Não queria pensar na morte, mas ela passou várias vezes pela minha cabeça.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

espero que tenham gostado :)