Desculpe-me escrita por Thuomas


Capítulo 1
Capítulo 1 - A verdade...




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Todos podem saber a verdade, mas nenhum reconhece seus sentimentos, apenas eu.

- Daniel espere! – eu corria em sua direção tentando pará-lo. – Eu ainda te amo! Sempre te amarei!

**

Todos da escola dele sabiam da sua sexualidade, zombavam, chutavam, agrediam, tudo por minha culpa, tudo por causa do meu desejo idiota. Meu desejo infantil acabou com tudo. Tudo o que eu queria era um beijo verdadeiro e o que eu ganhei foi um verdadeiro pesadelo. Eu não, Daniel ganhou. Eu continuei com minha vida mesquinha de um mimado riquinho, enquanto quem eu amava sofria, sofria em silêncio, porque seus pais não sabiam a verdade, nunca saberiam.

Eu fui um estúpido em abandoná-lo na hora em que mais precisava, eu era mais velho, mais experiente, deveria protegê-lo, mas eu fechei os olhos e ignorei tudo como se não fosse mais um problema meu. Eu o observava voltando para casa, éramos vizinhos, sempre voltava de cabeça baixa e com algumas marcas avermelhadas no rosto. Ele era feliz quando estava comigo, sempre via seu sorriso como de uma criança e agora, essa expressão de quem não tinha mais sentimentos, de quem... Não era mais amado.

Meus pais, como o dele, também não sabiam da minha escolha, eu estava na idade em que começa a tomar suas decisões e eu tomei a minha, eu era gay, talvez bissexual, mas no momento, gostava de homens. Nas horas vagas era um modelo, mais de quinhentas fotos por dia, troca de roupas, retoque na maquiagem – sim, eu usava algum tipo de pó no rosto – olhar diretamente para câmera, eu era muito cheio de si, tudo girava em torno de mim, sorrisos, presentes, pessoas interessadas... Não posso negar, eu gostava de ser o centro das atenções... Mas sem perceber, outra pessoa era o centro das atenções.

Daniel, a pessoa que me reconheceu não por uma foto e sim por quem eu realmente era, viu que eu apenas sorria para as fotos e pessoas, mas, que no meu interior, eu estava me sentindo solitário, mesmo enquanto estava cercado de pessoas. Ele me apoiou, me seguiu, me mostrou a ser feliz da maneira que eu mais queria, sendo eu mesmo.

Sabia que éramos apenas amigos, mas eu sentia algo por ele, algo quente, ardente e ao mesmo tempo, carinhosa, talvez ele também, via em seu olhar e seu sorriso, talvez ele desejasse algo a mais, uma relação, alguém que o amasse, como eu também queria.

Escondido, em segredo, às escuras, o nosso namoro nasceu, cresceu e viveu. Tínhamos nossos lugares para ficarmos juntos, não precisávamos de mais nada, mas eu fui ingênuo e levei-o comigo. Eu estava no último ano do colégio, nos meus dezenove anos e ele, no primeiro com seus quinze anos, não era uma enorme diferente, ainda bem, porém ele ainda era uma “criança”, minha criança, e eu não cuidei como deveria.

Eu o tinha transformado, mudei sua visão de mundo. Ele me aceitava cada vez mais e mais, estávamos indo para outro nível, muito rápido. Estava ciente disso e continuei.

Estávamos em casa, minha casa, sozinhos, meus pais haviam saído e eu o chamei, queria aproveitar, o transformar em meu, nossos nomes juntos “Thomas e Daniel”, seria assim para sempre. Nós na cama, eu estava em cima dele, retirando toda a sua roupa, lentamente, uma por uma, fazendo igual em mim. Ele estava gostando, estava todo vermelho.

- Meu menino tímido, não tenha medo de mim... – dizia sedutoramente, envergonhando-o mais.

- E-eu nã-não tenho me-medo de você...

Ele poderia dizer o que quiser, eu sabia que estava nervoso, sua primeira vez... Seria comigo. Ele me escolheu e eu o escolhi. Ele estava sendo forte, sabia como que seria e escolheu continuar. Tudo estava acontecendo normalmente, a preparação, o momento, o clímax, mas algo acabou com o nosso paraíso, alguém na porta, meus pais na porta, nos olhando.

Meus pais o enxotaram, brigaram comigo, mas felizmente, não disseram nada aos pais de Daniel, porém, eu não poderia mais vê-lo. Nossos momentos juntos, amassos, a troca de olhares... Tudo havia sumido, ele havia sumido.

Um dia, a caminho da escola, eu o vi, meu coração o sentiu, corri em sua direção, ele sorriu ao me ver, eu tentei me desculpar, mas ele não se importava, estava bem, muito bem, apenas com saudades. Ainda bem que ele não me odiava. Era tão bom vê-lo novamente. Eu tinha saudades de seus lábios com os meus, seu corpo colado ao meu, seu sorriso apenas para mim e suas palavras carinhosas – que não se pareciam nada com de uma criança -.

Conseguimos nos encontrar mais vezes, escondido, à noite e poucas vezes de tarde, ele era maravilhoso para mim, ele me deu um presente, um gato - ele sabia o quanto eu adorava gato – ele era preto e com a barriga toda branca, eu disse que parecia um mordomo, arrumado em seu terno, demos nome de Alfred – ideia totalmente dele, que era perfeita -.

Quando nos encontramos de novo, pedi um beijo, um inocente beijo, sem me importar com o lugar onde estávamos, em frente à escola dele. Percebi que ele ficou receoso, porém ele nunca recusava nada, nadinha do que eu pedisse. Aproximei-me segurando sua nuca e puxando para mim, nossas línguas se encontraram, dançando no mesmo ritmo. Porém, quando nos separamos o pior aconteceu. Um grupo de garotos estava vendo.

Tudo o que fiz depois disso foi afastar-me, não me esforcei para encontrá-lo novamente. O magoei. A criança que havia dentro dele foi embora. Embora com meu ser.

Eu havia me mudado, pois meus pais não aceitaram minha sexualidade, fui para o centro, onde arrumei um emprego melhor do que ser modelo, terminei meus estudos e agora vivia bem. Minha vida era boa, enquanto a de alguém era horrível, sabia que ele não estaria bem, aguentar mais dois anos daquela maneira era impossível. Porém, ele não aguentaria por muito tempo...

Um dia recebi a ligação de minha mãe – ela nunca me ligava -, sua voz sem emoção e vida, me contando a pior das notícias que poderia ter. Daniel não estava mais conosco.

Eu... O abandonei, depois de dar tanto carinho. Abandonei quando ele mais precisava. Sozinho, passando por um momento difícil, sem apoio de ninguém. Ele não aguentou... E se matou... Tudo... Por minha culpa... Tudo, porque eu não ajudei a pessoa que mais me ajudou quando precisava.


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Notas finais do capítulo

Personagens reais, história real... - Nomes fictícios -