Se alguém fosse perguntar à Scott McCall como sua preparação para o Natal estava indo, ele certamente diria que “pior impossível”. Apesar de ter apenas dez anos, de ser apenas uma criança e não entender muito do que a vida guardava para si, ver os pais se divorciarem não era algo que ele tiraria da mente rápido. O pai fora embora fazia dois meses, e não havia um dia que não sentisse saudade dos pais. É claro, ter sua mãe era bom, mas ter sua mãe e seu pai era mil vezes melhor.

Devido aos recentes acontecimentos, sua mãe também não se encontrava muito no espírito natalino. Parecia estar trabalhando mais do que normalmente e a casa dos McCall, em pleno Dezembro, ainda não havia sido decorada. Isso não era de muita importância para nenhum dos dois, mas trouxe uma espécie de revolta de Stiles Stilinski, o melhor amigo de Scott.

Eles costumavam voltar da escola juntos; a partir de certo ponto, cada um seguiria seu caminho para sua respectiva casa, mas naquela quarta-feira Stiles se convidou para ir à casa de Scott, que concordou imediatamente. Era comum, que um visitasse a casa do outro.

— Cara, roubaram sua decoração de Natal! — Stiles exclamou boquiaberto quando chegaram à casa de Scott, que ao contrário das outras da redondeza não possuía nenhuma decoração.

— Hm... Mamãe não quis decorar a casa esse ano — Scott disse meio tristonho. Apesar de pequeno, Stiles pareceu entender a situação e não disse mais nada. Apenas entrou na casa como se fosse sua e perguntou se havia comida.

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Naquele dia, Scott fora direto para casa após a escola. Stiles não havia ido, o que era uma raridade. Provavelmente ficara doente ou fizera um belo de um berreiro capaz de convencer seu pai a leva-lo junto para trabalhar. Sua mãe deixara comida na geladeira, e Scott estava distraído comendo em frente a TV enquanto assistia a desenhos animados quando ouviu a campainha tocar.

Ficou imediatamente apreensivo. Mamãe sempre lhe dizia que não devia abrir a porta para ninguém, e ele decidiu fingir que a campainha não havia tocado, desse jeito talvez a pessoa eventualmente fosse embora. Nem mesmo dez segundos depois, o ding-dong foi ouvido novamente, e Scott resolveu pelo menos ver quem era através do olho mágico. Isso não mataria, certo?

Ficou surpreso quando viu Stiles impacientemente parado na frente da porta, pronto para tocar a campainha novamente caso ninguém aparecesse. Scott ficou feliz de ver o amigo ali e abriu a porta rapidamente.

— Oi, Stiles! — ele cumprimentou feliz e eles em seguida fizeram os toques que usavam quando o faziam. Logo após, Scott notou uma caixa de papelão de quase sessenta centímetros de altura aos pés do amigo. — O que é isso? — perguntou curioso.

— São suas decorações de Natal! — Stiles respondeu animado apanhando a caixa do chão, parecendo fazer um grande esforço ao fazê-lo, visto que a caixa era quase metade de sua altura.

— Mas Stiles... — o outro quis argumentar, mas não conseguiu, pois Stiles já havia entrado na sua casa, cantarolando. Scott fechou a porta e o seguiu cabisbaixo. Não queria decorar a casa, sendo que ela não era a mesma que sempre conhecera.

Quando chegara à sala de estar, Stiles já havia espalhado o conteúdo da caixa pelo chão. Diversos modelos de botas de Natal, bolas para pinheirinho, anjos e bonecos de neve em miniatura e de ouropel preenchiam o chão da sala.

Scott estava surpreso. De onde ele tirara aquilo, não tinha a mínima ideia. Era bem possível que tivesse pego uma coisa ou outra de dentro da própria casa.

— Stiles, quanta coisa!

— Bem, agora você vai ter uma decoração de Natal. Vamos, vamos, temos muito trabalho a fazer — Stiles se levantou com um par de botas de tecido e começou a olhar em volta procurando algum lugar para coloca-las. No começo, Scott não quis muito participar das decorações, mas aos poucos foi se rendendo ao espírito natalino. Todas aquelas coisas bonitas precisavam ocupar suas paredes.

Pouco tempo depois, como é comum de crianças, esqueceram a decoração e começaram a brincar com os ouropéis, correndo com eles pela casa e rindo como se aquela fosse a coisa mais divertida do mundo. Derrubaram uma ou duas coisas no chão e quando se cansaram voltaram para a sala e se sentaram num monte de ouropéis que não haviam usado para suas correrias.

Scott parou para olhar o trabalho dos dois. Apesar de não terem pendurado nenhum dos ouropéis, o resto das decorações tinha encontrado seu cantinho na casa. Estava linda. O garoto estava feliz pela primeira vez desde quando seus pais haviam lhe dito naquele horrível jantar que se separariam. E tudo aquilo era graças a Stiles.

— Obrigado, Stiles — Scott agradeceu e deu um abraço no amigo, um abraço que continha toda aquela inocência que apenas as crianças têm. O abraço foi correspondido com entusiasmo.

E foi naquele momento, envolvidos por coloridos ouropéis, que eles sentiram, sem mesmo compreender, que tinham um ao outro.

Que eram melhores amigos para sempre.