“Durante toda a minha vida procurei algo. Algo que nunca chega, nunca leva a nada. Nada me satisfaz, mas estou chegando perto.”

All My Life – Foo Fighters

– Elena. Você está atrasada. – falou a professora Andréa, assim que eu entrei na sala de aula no dia seguinte. Metade dos alunos me olhou, e eu joguei meus cabelos em frente ao meu rosto para não ter que encara-los de volta.

– Desculpa, professora. Estava ocupada com algumas coisas, e...

– Ok, Elena. Não precisa se explicar. Sente-se e tente acompanhar a aula. – ela me lançou um olhar de pena, e eu soube exatamente que a história de Jeremy já deveria ter chegado aos seus ouvidos. E talvez aos da cidade inteira.

Ergui a cabeça, percorrendo com os olhos os lugares vagos da sala. Bonnie e Caroline sentavam-se juntas numa mesa do outro lado e acenaram assim que me viram, a única mesa vazia ficava o mais distante possível das minhas únicas amigas. E algo dentro de mim murchou ao ver quem seria meu parceiro de aula.

Stefan.

Ele parecia mais pálido do que o normal, e embora continuasse sentado com sua habitual postura misteriosa, havia algo nele que não parecia certo. Usava uma camisa preta de gola em V que ressaltava seus músculos do peito e não parava de remexer em um grande e feio anel em seu dedo esquerdo. Stefan só ergueu a cabeça quando eu puxei a cadeira ao seu lado, e sua testa se enrugou de desagrado.

– Eu também não gosto disso. – falei baixinho, sabendo que ele conseguiria escutar perfeitamente. – Mas vamos tentar sobreviver pelas próximas horas.

– Aparentemente você faz isso se tornar impossível. – sua voz soou sarcástica demais para mim aguentar, e embora minha vontade fosse levantar dali e sair depressa da sala, eu sabia que não podia desperdiçar mais nenhuma aula. – Mas ok, eu vou tentar.

Respirei fundo, imaginando como aquela conversa iria terminar. E de repente eu não me sentia com medo dele, isso que eu sentia era mais parecido com raiva. Estresse, cansaço.

– O que você está fazendo aqui? – perguntei, aumentando mais do que deveria o meu tom de voz. – Você é um... Bem. Não entendo essa loucura direito, mas o último lugar que alguém da sua espécie deveria estar é numa escola. Você pode levantar e sair daqui a qualquer momento. Não precisa ficar aturando uma adolescente cheia de problemas como eu.

Stefan demorou alguns minutos para responder, e foi nesse momento que a professora começou a falar sobre alguma coisa da Segunda Guerra, já que eu não conseguia prestar atenção na aula. Não tirava meus olhos de cima dele, fitando cada detalhe em seu rosto perfeito. Ele estava sem os óculos essa manhã, e seus olhos pareciam estranhamente tristes.

– Você não sabe nada sobre mim. Eu só queria ter uma vida normal, mas aparentemente você não vai deixar.

– Ok. Eu não vou mais te perturbar, e acredite, eu não estaria sentada aqui do seu lado se tivesse escolha.

– Não estou incomodado com você sentada do meu lado, Elena. Mas aparentemente alguma coisa em mim deixa você desconcertada. – e nesse momento ele sorriu, e aquilo me deixou mais assombrada ainda. Stefan estava realmente sorrindo, de uma forma tímida e breve, o que me encantou mais do que eu admitiria para ele.

– Você deve estar acostumado com muitas mulheres caindo aos seus pés. Mas eu não sou como todas elas. – forcei a parecer irritada com ele, mas alguma coisa em meu rosto não pareceu muito convincente.

– Elena, você sempre foi uma péssima mentirosa. – seu rosto se aproximou de mim, levantando uma das sobrancelhas de um jeito zombeteiro.

– Você não sabe nada sobre mim.

– ELENA! – a voz da professora rompeu meu estado de transe, e eu desviei os olhos de Stefan na direção dela. – Acho que você já sabe tudo sobre a minha matéria, e talvez seja idiota deixá-la em sala de aula. A senhorita poderia ir até a diretoria, aposto como será mais proveitoso.

Um silêncio quase sepulcral pareceu descer e dominar todos na sala. Eu não sabia o que fazer, e algo nos olhos da professora me disseram que nenhum pedido de desculpas iria fazê-la voltar atrás com sua decisão. Suspirei derrotada, enquanto guardava meus livros na mochila e levantava da cadeira. Stefan permaneceu imóvel e calado enquanto me via sair da sala.

– Desculpa, professora. – consegui dizer, antes de me virar e sair porta a fora.

Ótimo, minha vida está indo por água abaixo ultimamente. Pensei, descendo as escadas à caminho da porta de saída. Dane-se a diretoria, alguns dias de suspensão talvez me fizessem bem.

– Você consegue ser mais surpreendente cada dia que passa. – falou a voz que eu reconheceria até de olhos fechados. Parei, olhando para trás e vendo Stefan caminhando depressa para me alcançar. – Elena Gilbert deve receber sua primeira suspensão. Isso é um acontecimento raro.

– Eu não quero você me seguindo. Deveria ter continuado na aula.

Ele jogou a mochila para o outro ombro, enquanto ajeitava os costumeiros óculos escuros. Atrás dele havia um grupinho de meninas cochichando e lançando sorrisos bobos.

– Pensei que você mesma houvesse dito que eu não precisava ficar em uma escola.

Joguei meus cabelos para trás, estufando o peito para mostrar algum tom de autoridade.

– Faça o que bem quiser. Mas eu não quero vê-lo nunca mais.

Novamente ele sorriu daquele jeito tão característico, como se não acontecesse mais nada no mundo e qualquer coisa em mim o fizesse rir. E apontou o dedo indicador na direção do meu peito.

– Consigo escutar seu coração. E você mentiu quando disse que não queria me ver mais.

– OLHE AQUI! – exclamei, soando irritada pela primeira vez naquela manhã. – Eu não quero mais...

De repente uma mulher alta e bonita, que eu nunca havia visto antes, pareceu se materializar ao meu lado. Ela usava um curto vestido arroxeado e tinha os cabelos cortados na altura do ombro.

– Ora, ora. Que prazer é finalmente conhecê-la, Elena. – disse, passando os dedos longos e finos pelos meus cabelos e pondo um dos braços em volta do pescoço de Stefan. Ele, surpreendentemente, não protestou.

– Eve, o que você está fazendo aqui? – ele perguntou, claramente surpreso com a presença da mulher ali.

– Vim visitar sua escola, Stef. O que mais eu poderia fazer?

Tossi, engolindo meu próprio assombro e lançando um sorriso amarelo na direção da recém-chegada. Juntando todas as minhas forças, perguntei quem ela era.

- Sou Eve, querida. A namorada do Stefan.