Reverso - se Eu Fosse Você - Pós Luanova escrita por Moona


Capítulo 3
Capítulo 3 - O acordar




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Capitulo 3 – O Acordar

 

A primeira coisa que notei de verdade em Edward foram seus olhos intensos e cheios de vida, que se cravaram em minha memória como um metal em brasa na pele nua. Senti um frio percorrer minha barriga... Não sei se foi o medo ou a emoção do momento, mas eu digo de certeza que eu jamais esqueceria aquela expressão confusa e... Humana de Edward. Então ele era assim quando era vivo? Continuava bonito, apesar da pele não estar tão alvo quanto antes e nem as expressões tão duras.

      - Bella. – Murmurou ele em choque. – Tem algo batendo dentro de mim!

 Ele pôs a mão no peito morno enquanto pressionava a pele. Caminhei lentamente até ele e, sem explicações, pus a cabeça em seu peito. Pude sentir o ruído de sua respiração se misturar com o ritmo lento de batidas como uma canção... Ele depositou a mão sobre minha cabeça e seus batimentos ficaram mais intensos.

      - Você está tão fria! O que há de errado?

 Edward me segurou pelos braços, afastando-me abruptamente para olhar meu rosto. Não soube exatamente definir o que se passava na mente dele, mas algo demonstrava surpresa e uma pontada de frustração. Ele deslizou o dedo calmamente por minha bochecha... Acho que ele sabia o que havia acontecido. Eu não deveria questionar essa situação, sabe? Virar vampiro da noite para o dia não era tão louco quanto existir vampiros! Ou era?

      - Não é possível... – Disse ele quase sem voz.

 Pus a mão sobre o meu peito e não pude sentir ou ouvir nada. Um vazio intenso se apoderou de minha alma, devorando a minha momentânea alegria e hipnose por ver Edward tão... Diferente. Procurei por qualquer pedaço de vida que existisse dentro de mim e não encontrei nada. Tudo parecia morto... Eu estava morta, não estava? Até aonde eu sei vampiros estão vivos. Até que não era tão ruim assim, mas... Como eu conseguiria viver com aquela sensação constante de morte se apossando de mim?

      - Isso não está acontecendo! – Ele se afastou de mim. Vi culpa em seus olhos. – Meu Deus... Bella, você... Você...

 Edward emudeceu. Não precisei pensar muito para saber que ele começava a se culpar por aquilo.

      - Acalme-se, Edward! Nós vamos falar com Alice e ela vai nos ajudar! Você vai poder voltar a ser um vampiro logo! – Exclamei em pânico. Olhar para Edward daquela forma me doía até a alma, isso se eu tivesse uma. – Eu não sei o que aconteceu, mas vamos descobrir!

 O Ex-vampiro recuou alarmado e tropeçou no pé de minha cama. Novamente eu pude pressentir o que acontecia muito antes de acontecer. Então sem que eu mesma percebesse, meu corpo se moveu tão veloz quanto o olho normal veria. Segurei Edward em plena queda, mantendo-o suspenso no ar com um braço. Não sei de onde veio aquela forma, mas eu a sentia dentro de mim. Era intensa e branda... Algo sobrenatural! Jamais senti aquilo na minha vida.

 Edward me encarou pasmo. Em sua etérea vida de vampiro ele nunca cairia de uma forma tão banal como aquela, muito menos seria salvo por uma “vampira” que mal sabia para que serviam os dentes pontiagudos. Seus olhos verdes eram as janelas para a alma que eu nunca tinha visto. Antes eu apenas podia definir quando ele estava bem ou quando estava mau humorado, porém agora eu conseguia enxergar perfeitamente suas emoções. Tão claras quando uma água límpida! O que vi nele foi frustração e angústia. Ele se desvencilhou de meus braços constrangido e inflou o peito, tentando recuperar a pose de durão. Achei graça naquilo, mas preferi não rir.

      - Eu transformei você em um demônio! – Murmurou ele baixando a cabeça.

 Edward começou a andar de um lado para o outro em meu quarto.

      - Você não fez nada, Edward! Nós nem sabemos o que aconteceu!

 Ele me olhou com culpa.

      - Espere... Porque está me olhando dessa forma?

 Num salto, não tão rápido quanto ele costumava fazer, ele segurou minhas mãos e me encarou.

      - Eu tenho que resolver isso, Bella.

      - Ed... Espere, resolver o que? Como? – Me vi confusa. Não entendi uma única palavra do que ele dizia. – O que está acontecendo?

     - Não era verdade, Bella! Eu sabia que minha presença seria uma ameaça para você... Mas... – Ele baixou o olhar para as nossas mãos de temperaturas tão distintas. – Eu tenho que concertar isso.

 Definitivamente eu não entendi o que se passava com ele. Me desconcentrei um instante do que acontecia, porque ouvi de longe os ruídos dos pneus da viatura de Charlie esmagar o asfalto, e quase soltei um grito.

      - Edward, não! – Exclamei e tentei impedir, inutilmente é claro.

 Edward saltou sobre o parapeito da janela, olhou para baixo e depois para mim. Naquele instante pude perceber que ele ainda não tinha notado o que acontecia com ele, e sim comigo. Sua maior preocupação era com minha integridade e não com as diferenças que seu organismo havia sofrido. Afinal, depois de todos os anos de vida dele no corpo de um vampiro, não era para menos que ele não pensasse duas vezes antes de agir. Quando cheguei na janela, ele já tinha saltado. O vi cair em câmera lenta sem nenhuma elegância.

 Edward engoliu a seco segundos antes de saltar. Ele sabia que não estava nos padrões de normalidade, mas isso não importava. O que tinha acontecido com Bella precisava ser resolvido. Alice deveria lhe ajudar a salvar sua amada da desgraça eterna... Os olhos dela estavam diferentes. Eram castanhos, como de costume, mas estavam... Apagados. Já sua beleza... Ele nunca esperava que pudesse ver Bella mais bonita do que seus olhos já viam, mas assim que acordara e a vira não teve palavras para descrever a graciosidade de seus movimentos. Se antes ela já lhe enlouquecia, agora era estonteante e sem descrições. Ah! E o cheiro. O cheiro não estava mais presente no ar, ao invés disso um embrulho no estômago e as batidas estranhas dentro de sua caixa torácica o faziam perceber o quanto ela era importante em sua vida. Foi pensando na salvação dela que não pensou duas vezes antes de saltar da janela e cair uma queda de três metros. Logo que saltou ele pode perceber que o corpo não obedecia e ao invés de flutuar no ar como uma pluma, acabava indo a direção ao chão como um saco de batatas.

 Eu não sei como eu cheguei lá em baixo tão rápido, aliás, foi o ato mais idiota da minha vida! Eu saltei pela janela também e sem pensar duas vezes, é claro, como Edward. Eu tapei meus olhos e comecei a gritar assim que não senti mais o chão aos meus pés, mas a sutileza que o ar acertou meu rosto e carregou o meu corpo em direção ao chão me obrigaram a reabrir os olhos. Pousei sobre a grama como se eu não pesasse mais do que uma pluma... Foi uma sensação incrível! E no exato segundo seguinte a viatura de Charlie estacionava em frente de casa. Por muito pouco ele não viu... Eu não arranjaria explicações suficientemente boas para explicar como eu saltei da janela tão graciosamente e não quebrei nenhum osso!

 Lembrei de Edward, abaixando-me para socorrê-lo. Ele estava caído de costas no chão, a cara se contorcia em mais expressões de dor quanto eu, em toda a minha vida de azarada, consegui fazer. Ou vampiros não sentiam dor ou eram bons demais para disfarçar.

      - Edward! Você está bem? – Perguntei ofegante, confusa, preocupada, etc... Não sei descrever bem o que eu sentia naquele instante.

 Edward não era mais um vampiro, uma queda daquelas poderia matá-lo.

      - Argh.... – Grunhiu ele se contorcendo no chão. – Eu... Estou bem.

 Fiquei aliviada e respirei fundo.

      - Tem certeza? – Perguntei preocupara enquanto vasculhava seu corpo atrás de algum ferimento.

      - Sim, sim... – Gemeu ele abrindo os olhos verdes encantadores. Ah...

      - Bella? – Perguntou a voz de Charlie vindo da varanda.

      - É Charlie! – Murmurei preocupada. – Ai Meu Deus! Ele veio almoçar!

 Edward fez um esforço tremendo para sentar, estalando os ossos das costas e dos braços. Ajudei-o a levantar puxando por seu braço.

      - Preste mais atenção, você não é mais...

      - Bella o que você está... Edward? – A cara gorducha e reluzindo a cansaço de Charlie surgia na varanda. – O que está acontecendo?

 Edward me olhou de soslaio. Eu diria que ele queria rir ou não... Não soube entender seu sentimento. Eu abri a boca, mas não falei. Pense rápido... Pense rápido. Como eu ia explicar que eu e Edward havíamos mudado de raça? E que ele e eu tínhamos pulado da janela de meu quarto e caído mais de três metros?

      - Edward veio almoçar conosco! – Disse tentando esconder a frustração em minha voz. – Não é incrível?

 Charlie franziu a testa desconfiado.

      - Desde quando ele come em nossa casa?

 Edward fechou a cara. Ah... Como ele ficava bonito tão humanizado!

      - Ah, é que... Aconteceu um problema com minha caminhonete enquanto eu estava no supermercado! Então pedi que ele viesse me buscar e então, em troca do favor, o convidei para almoçar.

      - Ah, Billy me falou. – Disse Charlie mais para si mesmo do que para nós. – Ele disse que Jacob chegou com a sua caminhonete hoje de manhã.

 “Ah, santo Jacob! Você foi meu salvador.” Pensei agradecida. Charlie deu mais uma olhadela para nós, ou melhor, para Edward, e se afastou. Pensei que o pior tinha passado, mas ao olhar para Edward mudei de idéia...

      - Como assim Jacob? O que você estava fazendo com aqueles cães fedorentos?

      - Eles não são cães fedorentos! – Retruquei pondo as mãos na cintura. – Eu tive que ir ao supermercado pela manhã.

      - O que nós falamos sobre saídas? – Questionou Edward ironicamente. – Eu já disse que não queria você por perto deles!

      - Eu sou o seu brinquedinho agora, Edward? – Perguntei enfurecida. Como ele ousava a impor ordens sobre mim? – Eu fui ao supermercado e não encontrar Jacob, só que acabei o vendo por lá.

      - E? – Ele cruzou os braços com uma expressão traída.

      - Ah, qual é Edward! Nós conversamos um pouco e depois nos despedimos... – Minha voz falhou. – E eu entrei no carro, só que daí eu arranquei o volante e meu pé afundou na lataria...

      - Seu pé o que?!

      - Afundou no metal! – Exclamei alto e lembrei que deveria me controlar. – Essa força de vampiro é muito... Forte! E eu acabei desmaiando e ele me trouxe para casa.

      - VOCÊ DESMAIOU E ELE TE TROUXE PARA A CASA?

 Enfiei o dedo indicador nos lábios dele.

      - Pare de gritar! Quer que Charlie descubra algo?

 Edward bufou.

      - Depois nós resolveremos isso! Primeiro eu vou procurar Alice...

 - Não, pode esquecer. Primeiro você vai entrar e comer ou Charlie vai desconfiar. – Disse em tom de ordem e dei-lhe as costas.

      - Comer? Ei, espere!

 Edward tentou pegar meu braço, mas quando ele viu eu já estava parada na varanda. Ah... Como eu estava começando a gostar daquilo. Vi uma pontada de traição no olhar dele e me virei. Bem... Eu acho que deveria tê-lo deixado partir.

 Quando entrei em casa montei a mesa rapidamente enquanto Charlie tomava banho. Edward apareceu instantes depois e sentou no sofá da sala, ligando a televisão para ficar trocando pacientemente de canais. Duvido que ele tenha prestado atenção em algo... Sentei ao seu lado durante a espera pelo meu pai. Não nos falamos e muito menos nos tocamos. Acho que Edward preferia ficar emburrado por causa de Jacob ao invés de se preocupar com o que acontecia conosco. Quando pensei em falar, Charlie surgia na cozinha.

      - Hm, esse cheiro está bom. – Comentou ele sentando-se a mesa.

 Levantei e gesticulei para que Edward viesse comigo. Meu Deus... Como eu queria ter acordado humana! O cheiro da lasanha recém aquecida infestou o ar e me deu... Nojo. Eu juro que se não tivesse pensado em Edward e seus belos olhos verdes naquele instante eu teria vomitado! A comida humana nunca me pareceu tão... Absurda. Olhar para o pedaço suculento e fatiado de lasanha ao molho vermelho me enojava muito. Servi Charlie e depois Edward.

 Charlie deu uma garfada na lasanha e enfiou na boca.

      - Isso está uma delícia.

      - Aposto que sim... – Murmurei pinçando a lasanha com o garfo. Olhei discretamente para Edward.

 Ele olhava hipnotizado para a comida. Suas mãos estavam sobre o colo e seu corpo mantinha-se rígido.

      - E então, Edward, como estão seus pais?

 O vampiro, ou melhor, ex-vampiro olhou para Charlie pensativo.

      - Esme e Carlisle estão muito bem. – Respondeu em um tom educado.

 Pelo menos ele ainda sabia fingir bem, pensei. Respirei fundo e continuei mexendo com o garfo na comida. Aquela situação estava tão cômoda! E, meu Deus, como aquela comida me enojava. O cheiro que antes me faria comer uma tigela inteira me dava vontade de atirar a lasanha no fogo.

      - Não vai comer, Edward? – Perguntou Charlie já na quinta garfada.

      - Eu não estou com fome.

 Mal ele terminou de falar e o motivo pela rigidez de Edward ficou perceptiva: Um ruído alto de sua barriga roncando inundou a cozinha. Então era isso! Edward estava com fome. Tive a impressão de que ele corou.

      - Não mesmo? – Indagou Charlie com um sorriso irônico.

 Edward não respondeu. Fiquei preocupada... E se Edward não quisesse comer a comida humana? Afinal, tanto tempo só bebendo sangue era preocupante!

      - Edward, coma só um pouco!

     - Você também não está comendo nada, Bella. – Analisou Charlie baixando o garfo que levava até a boca. – O que há de errado com vocês? O que estão aprontando?

 Congelei. Se antes eu estava pálida, agora eu estava branca! Literalmente branca.

      - Vocês parecem tão... diferentes. Você está tão pálida, Bella.

      - É que... Eu estou com uma dor de cabeça desde de manhã! – grunhi passando a mão nos cabelos. – Não se preocupe! Daqui a pouco passa.

 Chutei o calcanhar de Edward por baixo da mesa. Ele m olhou de soslaio com a expressão fechada e pegou o garfo, enchendo-o de lasanha e levando lentamente até a boca.

 Edward não lembrava da última vez que tinha colocado um alimento na boca, mas lembrou-se perfeitamente da primeira vez que comeu após virar vampiro. A sensação era horrível e avassaladora, sem contar nojento até o último sentido. Ele olhou inexpressivo para a comida, levando o garfo lentamente até a boca. Charlie manteve a marcação serrada para Edward, já que nunca o vira comer na vida.

 “Vamos lá!” Pensei aflita. “Coma, Edward! Coma!”

 Pensei que ele não fosse conseguir, mas ele comeu. Enfiou o garfo na boca e mastigou a lasanha demoradamente. Ao contrário do que eu pensava, Edward não fez cara de nojo. Na realidade, Edward achou o gosto muito bom. Enquanto mastigava, uma expressão de prazer tomou conta de seu rosto. Era quase como beber sangue, quase... Só que estava bom demais para ser verdade, não é? Engolir sangue não era a mesa coisa que engolir comida. Principalmente quando se perdia a prática de comer... O vampiro engasgou e começou a tossir.

 “Isso era tudo o que eu não precisava! Um Edward engasgando...”

 Levantei com um impulso... E me arrependi. Virei vampira, porém o azar continuava me seguindo. Vi pedaços de lasanha saltando para todos os lados, a mesa indo para trás com Charlie junto e pratos espatifando no chão. Meu pai caiu de costas, ainda sentado, com as pernas para cima e a mesa por cima. Acho que apliquei força demais... Ajudei Edward dando batidinhas em suas costas, mordiscando o lábio e rezando internamente para que meu pai não percebesse o que tinha acabado de acontecer.

      - Respira, Edward! – Pedi pacientemente.

 Edward cuspiu o pedaço de lasanha que não conseguiu engolir, limpando a boca com a manga do casaco que usava.

      - Já chega! – Exclamou ele olhando para mim. – Vou procurar Alice!

 O vi dando as costas e sair pela porta da frente. Eu ia dizer “Não esqueça de que é humano”, porém minhas preocupações se voltaram para Charlie. Quando virei e encarei seu rosto vermelho de incredulidade, fui logo ajudando-o a se livrar do peso da mesa.

      - Você está bem, papai?

 Ele não respondeu. Estava em choque, é claro, e com um pedaço de lasanha tapando metade de seu rosto. E agora, meu Deus, o que eu faço? Eu queria ser vampira, mas com Edward junto! Isso estava sendo mais difícil do que eu pensava.

 

Próximo capitulo: Lobo x Morcego.

 

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Notas finais do capítulo

Poor Edward. XD