Fique escrita por Vanessa Fontoura


Capítulo 9
Capítulo 9. Eric


Notas iniciais do capítulo

"Por um instante pareceu um pouco egoísta pensar em fugir com ela. Afinal há uma semana eles nem se conheciam, e ainda não se conhecem bem, tudo o que sentem pelo outro é uma vontade absurda de estar sempre juntos."



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Josh ligou para Eric assim que sua esposa confirmou que o bebê era uma linda menina. Caramba! Eric havia até se esquecido que o irmão ligara uns dias atrás para dar a grande notícia. Depois de dar os parabéns aos mais novos pais, ele sentiu algo estranho no peito, uma espécie de dor que pensou que fosse física, mas era apenas ciúmes. E quem não teria? Josh era casado, rico e agora tinha uma família completa. E ele, o que tinha? Apenas um pouco de saudade de alguém que foi morar – contra a própria vontade – a quilômetros de distancia dele. O pior para Eric não era a quantidade de números que os separavam, era a distância entre seus corações. Provavelmente Babi já tinha o superado. Ela não é o tipo de menina que fica com vários em uma noite, mas não é do tipo que sofre por amor, isso a frieza dela demonstrou naquela manhã em que se viram pela última vez.

Babi havia partido há uma semana, mas mesmo assim ele relembrava das últimas palavras dela. Aparentemente o plano de não a deixar escapar havia falhado em prática, mas ela estava com ele, dentro dele. Eric se surpreendeu pelo número de vezes que viu o seu olhar vagar pelos cantos e lembrar as poucas vezes em que estiveram juntos. Se seus amigos soubessem o quanto ele havia chorado ririam da cara dele. Principalmente por que não houve nada mais físico como sexo e foram apenas um ou dois beijos. Quem se apaixona com apenas dois beijos? Ele se apaixonou por tudo. Todos os detalhes do seu cabelo castanho e meio ondulado e dos olhos cor de mel que ela carregava de rímel, mas mesmo assim a deixava com um olhar tão doce. Se pegou pensando nela mais uma vez e descobriu que estar apaixonado te faz ficar estupidamente bobo e poético.

Quando acordou no sábado queria ligar para ela e contar o sonho que tivera. Ambos em Paris. Pegou o celular e ficou olhando para seu nome na agenda, então ele abaixou o olhar e jogou o aparelho debaixo das cobertas. Não teve coragem.

Nove horas da manhã e o sol já brilhando forte na janela e nenhuma vontade de sair para correr naquela manhã. Ele não quis ligar para os amigos para ver se haveria algum jogo de vôlei ou uma maratona na academia, simplesmente ficou deitado na cama vendo desenhos animados no Disney Chanel. Onze horas ele levantou, tomou um banho longo de chuveiro e foi até a cozinha checar algum número de tele-entrega de comida, por que não havia empregados na casa e o seu pai vai ao clube todos os sábados.  O interfone tocou, o porteiro estava na tela grande da cozinha. Eric continha o riso toda vez que via o porteiro pelas câmeras. Era um homem velho usando óculos grossos e redondinhos e gritava sempre para a câmera como se não soubesse se a outra pessoa estava ouvindo.

– oh! Eric, está em casa está manhã. – disse o porteiro. – como vai?

– vou bem, seu Miguel, e o senhor? – disse Eric formal.

– muito bem, obrigada. Na verdade tem um amigo do senhor aqui, ele se chama Gabriel.

– Gabriel? Não me lembro de nenhum amigo meu chamado Gabriel, pelo menos não próximo, pode mostrar a câmera dele pra mim.

A câmera mudou para um cara alto e louro, aparentemente com calor e inquieto, olhava para todos os lados como se estivesse com medo de que alguém o visse ali. Eric não sabia que Gabriel era amigo de Babi, mas soube nos próximos cinco segundos quando o porteiro disse: – esse moço disse que é amigo de uma tal de Babi.

– que? Pode mandar ele entrar, seu Miguel. – falou Eric com pressa.

– não quer que o revistemos?

– não, não tem problema.

– muito bem. Desligando câmera.

Eric esperou que a campainha tocasse e esperou impaciente, quando ela tocou foi correndo até a porta, cheio de esperanças. Ele mal esperava para ouvir o que o garoto loiro tinha a dizer.

Abriu a porta.

– er... Oi! – disse Gabriel.

– oi... Gabriel, não é? – perguntou, o garoto concordou com a cabeça, ainda parecia desconfortável. – pode entrar, deve ta calor aí fora.

Gabriel entrou e ficou esperando o próximo comando de Eric para fazer alguma coisa, deu uma boa olhada na casa e pensou que esse cara era esnobe de mais para Babi estar tão apaixonada. Então Eric ficou o encarando, esperando que Gabriel falasse o que veio falar ou então desse um soco na cara dele. Qualquer coisa dentro do normal.

– então... Você quer um copo de água? Refrigerante? Tenho bebida alcoólica se estiver servido.

– água. – disse Gabriel, pensou que no tempo em que Eric fosse à cozinha ele poderia começar a pensar no que ele ia falar. Não que ele já não tivesse pensando em cada mínima palavra enquanto andava pelas ruas incrivelmente arborizadas e chiques do bairro de Eric. Era diferente do bairro em que ele e Babi moraram a vida inteira.

Eric voltou da cozinha com o copo de água e entregou para Gabriel que tomou em um gole voraz de sede. Ficou o encarando enquanto bebia, queria que ele falasse logo o porquê de ele ter feito essa visita surpresa, mas achou que Eric estava nervoso de mais para falar daquilo naquele momento, mesmo assim a curiosidade falou mais alto e ele perguntou: – algo aconteceu com a Babi?

Ao ouvir a palavra Babi, Gabriel pareceu ter um alerta de que era a hora de começar a falar.

– ta bom, foi mal, eu não queria vir assim há essa hora te incomodar, cara. É que não da mais pra aguentar isso, não.

– tudo bem, mas aguentar o que?

– Babi me contou da história de vocês. Eu pensei que fosse apenas uma coisa passageira. Eu bem queria que fosse, mas ela passou a semana toda me mandando SMS dizendo o quanto estava mal por ter que se mudar, e eu fiquei com ciúmes. Sempre tive uma queda por ela.

Eric ergueu as sobrancelhas, surpreso.

– mas tudo bem, eu já superei isso. É estranho falar isso, mas ela nunca ficou mais de dois dias sofrendo por um amor. A Babi é meio fria quando se trata de sentimentos.

Anos gostando de caras que não gostavam dela. Pensou Gabriel.

– nossa, cara...

– pode parecer pressão, mas ontem a noite ela me ligou bêbada de um bar chorando dizendo o quanto ela foi estúpida por não ter largado tudo e fugido com você. Você realmente ofereceu isso a ela? – perguntou.

– só na minha mente. Não falei isso pra ela em voz alta. – respondeu Eric.

– sou o melhor amigo dela, eu não deveria estar aqui. Não conta pra ela que eu te falei isso. – Eric notou que Gabriel estava cheio de conflitos internos e muito zangado com ele mesmo por estar ali. No fundo Eric sabia que Gabriel amava Babi tanto quando ele. E o fato dela ter ligado para Gabriel bêbada o deixou com ciúmes, ele tinha certeza de que se ela tivesse ligado para ele no meio da noite e não para Gabriel, teria pegado sua moto e passado a noite viajando até onde quer que ela estivesse, roubava ela das garras dos pais e fugia para casar com ela, para que ninguém os incomodasse depois. Talvez Babi soubesse disso e por isso não o fez.

Por um instante pareceu um pouco egoísta pensar em fugir com ela. Afinal há uma semana eles nem se conheciam, e ainda não se conhecem bem, tudo o que sentem pelo outro é uma vontade absurda de estar sempre juntos.

Gabriel interrompeu os devaneios de Eric e continuou falando.

– escuta. Ela gosta de você, pra caramba! Mas não é do tipo que fica muito tempo chorando uma perda. É só um aviso cara, se você a quer, se faça presente.

Gabriel saiu pela porta depois de uma despedida envergonhada e Eric nem notou o som do seu ‘tchau’ sair pela boca, ficou apenas pensando no que fazer e Jesus! Ele não fazia ideia do que ia fazer. 


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