Fique escrita por Vanessa Fontoura


Capítulo 34
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

"Confesso que fiquei com um pouquinho de medo, mas não tinha como eu me abalar, não depois de ter desejado aquilo mais do que tudo. Me afastar. Quando eu entrei no avião e olhei para a janela, eu só me sentia me afastando."



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Cartas

Pai,

Estou partindo hoje para a Inglaterra, sim, Inglaterra. Talvez você não me veja por algum tempo e sinceramente acho que é melhor assim. Esta manhã quando decidi que iria escrever a você fiquei meia hora olhando para o papel em branco na minha frente pensando o que eu poderia dizer que pudesse sei lá me fazer te perdoar enquanto eu estivesse escrevendo. A verdade foi que eu não achei palavras curadoras capazes disso. Sim pai, eu não perdoei você, o que você fez comigo foi além do que um pai faria para o bem da filha, foi o que um pai faria em beneficio dele próprio. Eu ainda não sei por que de você nunca ter gostado do Eric. Meu palpite mais forte é que você sempre quis ser como o pai dele, e me ver com o filho deve ter sido terrível. Eu e ele não estamos mais juntos, espero que o senhor tenha atingido o seu objetivo principal que era nos separar. Só que daqui pra frente nunca mais será assim. Eu estou me afastando de tudo o que atravanca a minha vida. Ah sim, e eu não quero estudar medicina, me desculpe. Aliás, eu não me desculpo por não querer ser o que você quer que eu seja. Afinal, eu preciso tomar minhas próprias decisões. Me entenda pai, estou magoada e machucada, mas eu sei que isso vai passar, mas no momento eu só quero que o senhor mude. Você nunca vai conseguir ser feliz fazendo coisas como você fez comigo. Posso dizer que gostei do internato que você me mandou, conheci pessoas maravilhosas lá que me ajudaram bastante, mas pai, minha vida seria outra se eu tivesse ficado no Rio, se eu tivesse simplesmente continuado minha vida. O senhor estragou tudo, e sabe disso. Nando vai se casar pai, ele está indo embora, eu também estou. Não seja uma pessoa ruim ou você vai perder a mamãe também. Por favor, pai, mude. É só o que e u te peço.

Com amor, sua filha.

Eric,

Esses dias eu abri a bíblia que eu ganhei no internato e, por Deus, abriu em I coríntios 13. O versículo que eu li era o seguinte: O amor é paciente, é bondoso; o amor não é invejoso, não é arrogante, não se ensoberbece, não é ambicioso, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda ressentimento pelo mal sofrido, não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Eu não sei exatamente o que você entendeu por essas palavras que você acabou de ler, mas eu entendi que estava na hora de te perdoar e eu me sentiria uma hipócrita se não te perdoasse, já que tantas vezes eu confessei meu amor por você. E não é como se eu ainda não te amasse, na verdade sempre vai ter uma parte de mim que vai amar você. Eu reconheço e espero que você também reconheça que o que você fez foi errado, mas espero realmente que você não me esqueça para sempre, quero ser para você como aquela boa memória que vai fazer você sorrir toda vez que lembrar, ou até mesmo aquela memoria que vá fazer você chorar de saudade, eu não sei. Eu só sei que quero causar sentimentos bons em você e não tristeza e culpa. Veja bem, não quero que se sinta culpado por não termos ficado juntos, na verdade acho que era pra ser assim. Eu não descarto a possibilidade disso acontecer no futuro. Quem sabe? Escute, eu sei que eu errei. Errei por não saber pôr você a frente dos meus sentimentos e não te priorizar inteiramente na minha vida, mas eu pensei que eu estava fazendo isso. Pelo jeito eu errei novamente. Não vou pôr a culpa em mim ou em você, vou pôr a culpa em nós. Já ouviu aquele ditado quando um não quer, dois não brigam? Podemos nos apegar nele, mas também podemos nos apegar nesse versículo que acabou de ler “O amor é paciente... tudo suporta”. Quem sabe o nosso amor não suporte essa minha partida. Estou indo embora para a Inglaterra, Londres bem a verdade. Me inscrevi em uma espécie de vestibular que irá que levar para fazer intercambio lá. Não é maravilhoso? Acabo de me lembrar de que você nasceu em Londres. Quem sabe você não pode me visitar um dia? Estou dando risada agora por que não tenho como te dar meu endereço e telefone para que isso aconteça e Londres é grande. Quer dizer que se um dia nós nos encontrarmos é por que Deus quis assim. Vamos fazer o seguinte, se um dia, por algum descuido do destino ou nosso mesmo, nos esbarrarmos pelas ruas de Londres ou de qualquer outro lugar no mundo, nós iremos saber que pertencemos um ao outro. Certo? Isso se você ainda me quiser até lá. Por que eu sei os meus sentimentos e adivinhe?

Até um futuro encontro, Babi.


 

Como se não fosse ruim o suficiente para mim ir embora e deixar meus amigos e minha família para trás, eles também me levaram no aeroporto. Foi um festival de choros e abraços e beijos. Todos querendo um último pedaço de mim. Acho que no fundo eles sabiam que eu não iria mais voltar ao Brasil para morar. Eu iria seguir em frente e sempre em frente. Eu estava triste, mas não chorei na despedida.

Gabriel ficou incontáveis cinco minutos abraçado em mim sem dizer uma única palavra e minha mãe chorou feito criança por isso. Leo e Elisa também me abraçaram bastante, mas tiveram que ir para o portão de embarque do voo deles para São Paulo.

Eu fiquei sozinha em uma sala de espera até o guia do programa de intercambio chegar, ele disse que nosso voo seria sem escalas. Era um cara de mais ou menos uns 30 anos, careca e alto com um uniforme azul e vermelho escrito “Keep Calm and go to London”. Amei aquela camiseta.

– esse por acaso é algum tipo de uniforme? – perguntei.

– er... Que? Ah a camiseta? Sim, sim, não se preocupe você vai ganhar uma também. Pretty Cool, hein?

Dei risada dele.

Demorou meia hora até que o avião chegasse. E eu pude pensar em tudo aquilo que ficou para trás. Aquela hora minha mãe, meus amigos e todos aqueles que fizeram o meu ano ser tão tumultuado já estavam longe e eu estava iniciando a minha jornada sozinha para um país desconhecido.

Confesso que fiquei com um pouquinho de medo, mas não tinha como eu me abalar, não depois de ter desejado aquilo mais do que tudo. Me afastar. Quando eu entrei no avião e olhei para a janela, eu só me sentia me afastando. E o pensamento em Eric não parava de voltar a mente. Digamos que uma pequena parte de mim desejava que ele tivesse lido a carta e resolvido ir para Londres visitar o irmão e então em um dia frio do inverno de lá, nós nos encontraríamos debaixo de uma chuva de neve e nos beijaríamos felizes por que nos encontramos de novo. Mas a verdade era que havia 0,00001 % de chance de aquilo acontecer.

Por culpa do meu coração bobo e cheio de expectativa eu ainda esperei que acontecesse. Fechei os olhos para pensar com mais clareza. E me lembrei daquele dia na praia quando eu e ele nos beijamos pela primeira vez, nossa como foi estranho de repente do nada eu me sentir tão bem perto de alguém, logo eu que estava acostumada a gostar sozinha dos caras.

Eu sorri sozinha.

– posso me sentar aqui, moça?

Naquele instante eu pensei que eu estava sonhando ou sei lá eu tivesse tão ligada ao garoto que estava começando a ouvir a voz dele novamente. Mas então eu abri meus olhos.

O sorriso foi inevitável. Lá estávamos nós nos encontrando de novo.


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Notas finais do capítulo

Acabouuuuu :( Espero que tenham curtido ;D



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