Fique escrita por Vanessa Fontoura


Capítulo 31
Capítulo 31. Babi


Notas iniciais do capítulo

"As meninas começaram a latir, era uma contra a outra e todas conta Eric. Mesmo que ele tenha usado todas elas, as idiotas ainda ficaram discutindo quem durou mais tempo e quem era a mais bonita."



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O sol estava terrivelmente quente, o carro de Gigi era pequeno e eu tenho pernas compridas, fiquei encolhida no banco da frente tentando entender o porquê do meu pai ter me pedido pra ir até a marina onde os barcos dos ricos ficam ancorados. Ele foi esquisito, enigmático e meio lunático. Ficou me falando que ele não podia partir sem que eu visse que ele estava certo. Ok. As coisas ficaram um pouco confusas quando ele me pediu para chamar o Eric e disse para mim que iria concordar com o nosso casamento, me senti tão feliz que comecei a chorar. Saí correndo para chamar Eric e assim que avisei Gigi me puxou pelo braço para a gente ir para a marina.

Ela não me explicou nada e também não me deixou atender o celular, o arrancou da minha mão e desligou jogando no banco de trás do carro. Estavam todos loucos.

– era o Eric, que droga! Qual é o seu problema? – gritei.

– no momento, é você não cooperando comigo.

– mas que droga, Gisela!

– mas que droga, Bárbara. Só cale a boca, estou fazendo um favor ao seu pai e a você.

– ah, a mim? Não me lembro de ter pedido favor nenhum.

– estamos chegando. Espere e verás.

– hum.

Gigi estacionou o carro dela, um Ônix vermelho, na primeira vaga vazia que viu.

– onde estamos indo exatamente? – perguntei.

– visitar um amigo. – ela falou.

– meu amigo ou seu amigo? Melhor, meu, seu ou amigo do meu pai?

– amigo comum entre eu e seu pai, mas aposto que ele vai se tornar o seu melhor amigo depois de tudo. – ela disse andando rápida pelas passarelas entre as embarcações. Havia cada lancha e iate mais lindo que o outro.

– depois de tudo o quê? – eu estava começando a me sentir uma idiota correndo que nem uma cadelinha atrás dela.

Eu gostava disso quando eu era pequena, mas só por que Gigi era mais velha e mais vivida do que eu. E ela me dava presentes. Eu não me sentia cadelinha nessa época, agora me sinto.

Gigi começou a escalar as escadas do lado do iate que estava prestes a zarpar. Com toda certeza o cara era rico, era o maior iate dali, grande, branco e majestoso com o nome de Belinda em letras douradas. Não havia ninguém no convés e minha prima ficou olhando para todos os lados enquanto eu admirava as almofadas fofas e coloridas por baixo de um toldo branco a esquerda de onde estávamos. O cara surgiu uns três metros acima de nossas cabeças a cabine do comandante. Ele era bonito e Gigi olhou para ele da mesma maneira que eu olho para Eric. De repente me bateu um estalo, aquele era o primo do Eric, sim! Nossa, o que meu pai tem a ver com esse cara? O garoto saiu correndo e sorrindo e de repente apareceu do nada ao nosso lado. Ele olhou para Gigi primeiro e deu um beijo leve nos lábios dela e então me olhou bem nos olhos, me olhou de uma maneira assustadora e fiquei desconfortável.

Não que o cara fosse me agarrar à força, meu pai não iria me mandar direto para um estripador ou sei lá, mas eu senti medo do olhar dele.

E ele foi ridiculamente ridículo comigo.

– Vitor, essa é minha prima, Babi. – disse Gigi segurando a mão dele. Vitor se desvencilhou da mão dela e com um olhar surpreso se aproximou de mim. Gigi o olhou meio assustada e ficou o observando fazer a volta em mim como se fosse um predador prestes a me atacar.

– então você é a famosa Babi que eu tenho ouvido tanto neste ano?

– não sei me diga você, o que tem ouvido tanto a meu respeito? – rebati.

– bastante coisa, não é mesmo Gi?

Ela balançou a cabeça repetidamente.

– er, a Babi não sabe o porquê de estar aqui, Vitor, já é hora de contar pra ela? – falou Gigi

– Enio disse que tínhamos de esperar ele chegar.

– mas se ele chegar vai estragar tudo.

– meu pai vai vir? – arrisquei, embora eu soubesse que não era do meu pai que estavam falando. Além de o homem estar em uma cama de hospital todo quebrado, a maneira como eles falavam ele era estranha.

Gigi e o namorado me ignoraram.

– ok, to indo, seja lá o que vocês têm pra me mostrar, eu não to interessada. – falei dando as costas aos dois.

Alguém segurou meu pulso direito fortemente. Me virei e vi as mãos de Vitor cravadas nele. Estava ardendo e provavelmente iria ficar vermelho e depois, roxo.

– me larga. – pedi.

– não, você vai ficar aqui, não me fez ter tanto trabalho para nada. – disse Vitor.

me larga. – pedi novamente com os dentes serrados.

– não adianta rosnar, só vou te largar quando você decidir ficar. – ele continuou.

– eu mandei você me largar. – falei umas oitavas mais altas do que o normal.

Ele riu. – você não manda em mim. – e seus dedos estavam mais firmes no meu pulso.

– ME LARGA! AGORA! – gritei. – eu não quero ficar.

– mas você vai. – ele disse em um tom bem alto.

– você não manda em mim, também. – eu rebati. Tentei me desvencilhar de seus dedos, mas ele era forte. – está me machucando! – olhei para minha prima que estava olhando meio atônita à cena. – Gigi, quero sair, será que dá pra pedir pro seu namoradinho me largar?

– Vitor...

– ela não pode ir! – ele interrompeu olhando para ela. Então ele me puxou e torceu meu pulso para a direita. – vai ficar.

– ah! Está doendo, seu idiota. – falei me curvando para o lado em que ele torceu meu pulso.

– o que você está fazendo? Solta ela! – disse Eric perto da escada onde nós havíamos acabado de subir, e então ele caminhou correndo até mim e Vitor e sem pestanejar deu um soco no olho do garoto que caiu no chão em cima dos cotovelos e não sabia se chorava ou gritava. Eric me abraçou e perguntou se eu estava bem.

Gigi correu para ajudar Vitor que a empurrou irritado, ele levantou do chão e gritou para alguém que estava na cabine “pode zarpar” e depois sorriu maliciosamente dizendo: bem-vindo a bordo, primo.

Eu fiquei arrepiada e olhei para Eric, totalmente insegura. Eric parecia bem tranquilo exceto pelos seus olhos, a pupila estava dilatada e a cor castanha opaca e sem vida. Diria que ele estava com medo.

– o que você quer da gente? – perguntei.

– perguntei para o Eric, acho que ela já sabe.

Olhei para Eric pedindo respostas, mas Eric ficou encarando o primo com uma cara voraz e desafiadora. Olhei de volta para Vitor e ele sorriu.

– ok. Deixa que eu mesmo explique a você. Eu tenho oito pessoas para te apresentar, acho que você vai gostar de conhecer elas. – ele disse.

– Vitor. – repreendeu Eric.

– você teve a chance de contar pra ela, Eric. Enfim, vou chamar a primeira pessoa. Renata, pode vir.

Olhei para o corredor de onde a menina estava vindo, ela era baixinha uns cinco centímetros a menos do que eu, estava com uma blusa apertada e preta que mostrava o quanto ela era magrela e bermudas rasgadas na barra. Ela tinha um olhar convencido e cabelos encaracolados e castanhos na altura dos ombros.

– espere aqui Renatinha. – disse Vitor, a menina parou onde ele disse e ficou me encarando e olhando para Eric com um olhar sedutor. Olhei para ele que estava gelado do meu lado. Diante do seu olhar de medo peguei sua mão e entrelacei na minha.

– pode entrar a próxima! – disse Vitor. – oi, Thalia.

Thalia era alta de proporções extraordinariamente absurdas. Estava há uns dez centímetros acima de mim e tinha cabelos longuíssimos de um castanho avermelhado lindo. E tinha olhos verdes. Ela era perfeita para ser modelo. Isso se já não era por que caminhou confiante até perto de Renata e também ficou encarando Eric, só que com um olhar prepotente.

A próxima se chamava Gabriela, não era muito alta e nem muito baixa, tinha cabelos cacheados e espessos castanhos muito escuros e olhos pretos muito adocicados. Ela estava nervosa por que caminhou com os braços cruzados e não olhou muito para mim e Eric.

Andressa foi a próxima, essa era bonita, cabelos lisos que iam até o início do cóccix e castanhos iguais aos meus, seu olhos eram azuis e ela me lembrava muito a Megan Fox. Ok, essa tinha cara de vadia, mas não ficou encarando meu namorado como as outras, ela estava ali indiferentemente.

A quinta garota tinha a minha altura, era mais cheinha e tinha cabelos curtos, mas era morena, ela estava de vestido florido e sorria como criança para Eric e para mim. O nome dessa era Helena. Não pude deixar de sorrir de volta e Helena fechou a cara, acho que não era o meu sorriso que ela queria que retribuísse o seu. 

Eu fiquei muito intrigada com a sexta menina, ela era muito bonita, mas tinha um nariz estranho e cabelos castanhos opacos e uma cara fechada, parecia entediada, seu nome era Mariana.

A sétima Vitor apresentou como Sofia, a menina era bonita, uma beleza clássica e miúda. Todos os seus traços eram parecidos com os meus exceto pela altura. Bem mais baixa, ela parecia criança.

Foi quando entrou a oitava que eu me senti estranha. Cecília. Pensei que eu estava me olhando no espelho, fiquei tão chocada com a nossa semelhança. Ela era idêntica a mim. Andava como eu e era tímida. Seus cabelos castanhos e meio ondulados voavam com o vento do mar e ela tinha olhos muito castanhos e gentis que lembravam os olhos da minha mãe (ou seja, os meus) caramba!

– Cecília, doce Cecília. – disse Vitor.

Eric ficou tenso e sua mão suava na minha.

– quem são vocês? – perguntei a elas.

– nós somos você. – disseram em uníssono. Fiquei encarando aquelas meninas com a maior cara de taxo do mundo.

Depois de um tempo dei risada. Mas minha risada estava estranha, eu estava estranha. Me senti estranha.

– o que? – perguntei. – que brincadeira é essa?

– não é brincadeira, Babi, elas são você, não ta vendo a semelhança? – disse Gigi em um tom de desespero.

– estou. Elas lembram muito a mim, principalmente você.... Cecília. – eu disse me dirigindo a garota. Ela parecia triste e encarava Eric com tristeza.

Foi nesse olhar que eu percebi o que estava acontecendo ali.

Larguei a mão de Eric sentindo o sangue subir e olhei bem nos seus olhos castanhos.

– todas elas? – perguntei.

Como que quem se dá conta da burrada que fez Eric começou com a ladainha. – Babi, por favor, não fique brava...

– quando? – perguntei. Não era muito difícil de adivinhar a época que aconteceu.

– vamos conversar a sós, eu não quero falar disso na frente de todo mundo. – ele disse olhando para as garotas de canto do olho, provavelmente ele apenas usou elas e estava se sentindo culpado.

– eu respondo pra você quando foi. – disse uma delas, Thalia, a mais alta.

Olhei para ela que estava com a mão na cintura finíssima.

– comigo foi em 30 de janeiro mais ou menos. – disse ela. – agora eu sei por que ele me escolheu naquele pub, era por que eu sou parecida com você, todas nos somos.

– como você pode ser tão cachorro? – disse Gabriela.

– eu...

– você dormiu comigo e depois simplesmente foi embora e nunca mais me ligou. – disse Sofia.  – isso foi horrível.

– ele fez o mesmo comigo. – disse Renata.

Cerrei os dentes. – quem aqui não dormiu com ele? – perguntei.

Nenhumas delas levantou a mão.

– nossa Eric, como você me ama. – falei.

As meninas começaram a latir, era uma contra a outra e todas conta Eric. Mesmo que ele tenha usado todas elas, as idiotas ainda ficaram discutindo quem durou mais tempo e quem era a mais bonita e enquanto Vitor ria  e eu olhava a cena Eric estava mudo olhando para o chão sem fazer nada, sem se explicar.

Me senti um lixo, como se eu não merecesse sequer um pedido de desculpas. Então eu gritei “Calem a boca” e elas me olharam zangadas, mas ficaram quietas.

– viu? Era isso o que seu pai queria que você soubesse, Babi. O que esse safado fez enquanto você estava longe. – disse Gigi.

– ah cala a boca você também, Gigi. Você não sabe o quão zangada eu to com você. – gritei para ela. – e você Eric, antes de eu te matar quero conversar.

– Babi, eu...

– não aqui. Vitor, onde essas garotas estavam? – perguntei.

– no outro lado, é só seguir esse corredor.

– obrigada e ah! Eu quero voltar pra casa, será que dá? O showsinho acabou.

– Babi? – me chamou uma das meninas, olhei e vi Cecília.

– sim.

– olha, não quero que você se sinta mal por nenhuma de nós, com toda certeza nós também o quisemos e algumas de nós, como você pôde ver, ainda queremos. Mas ele ama você, ele não nos quis, escute o lado dele. Pode parecer ridículo o que eu vou te dizer, mas... Ele é homem.

Tentei sorrir para ela, mas não consegui. – escute Cecília, todas vocês, eu... Me desculpem, de certa forma eu me sinto culpada por vocês terem sofrido por minha causa, mas podem ter certeza que a dor de vocês não é maior do que eu a que eu to sentindo agora. – minha voz embargou no meio da frase. – e Cecília, você pode ser igualzinha a mim, mas não temos o mesmo jeito de pensar.

Ela sorriu e eu dei uma risadinha nervosa.

Enquanto isso Eric estava onde pedi que ele fosse, provavelmente pensando no que ele ia me dizer.


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