Fique escrita por Vanessa Fontoura


Capítulo 26
Capítulo 26. Babi


Notas iniciais do capítulo

"Talvez ou soubesse o que dizer, mas não me veio nada na cabeça a não ser o tempo que ele (Leo) me consolou por que eu estava sozinha. E eu não podia tratá-lo como nada, quando ele me ajudou a superar toda aquela coisa com meu pai. Está certo, ele não me fez esquecer o Eric, mas ele passou uns bons meses ao meu lado, apenas passando as mãos nos meus cabelos enquanto eu chorava por outro."



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O dia foi perfeito, meu irmão, meu melhor amigo e meu noivo! Que isso, que mudança de rumo. Quando cheguei ao colégio, pouco antes das 17h, fiquei até com medo por eu estar tão feliz. Meus olhos brilhavam no reflexo do espelho. Lembrando que eu tive de me despedir das três pessoas mais importantes da minha vida há alguns minutos atrás, já me deixou triste, mas enfim, eu tinha de voltar pra escola.

Graças a Deus não encontrei o Leo no caminho, a conversa com Eric havia sido o suficientemente estranha, mas eu estava bem por ter contado. E ele também havia tido um caso, mas não me contou quem, também, eu não perguntei a ele, fiquei tão atordoada com a sua reação de quando ele soubesse que eu namorei e a única preocupação dele foi se eu havia transado com o garoto. É claro que não! Como eu faria isso? Eu não teria coragem de fazer, não depois de ter conhecido Eric.

Tomei o banho dos justos e fui me deitar às 18h30min, eu estava cansada e sem fome, recompensaria meu estômago no café da manhã. Elisa não estava no quarto até a hora que eu fui me deitar, queria ter a visto, pelo menos para sondar e saber se Leo não havia ficado muito triste com o término do nosso namoro.

Suspirei.

Eu estava me importando de mais com os sentimentos dele.

Adormeci e sonhei a noite toda com Eric, imaginando coisas fofas acontecendo entre nós, na verdade sonhei que estávamos em um grande campo verde, deitados sobre a grama de mãos dadas e conversando sobre nosso futuro, não pude deixar de notar as alianças em nossos dedos e percebi que estava acorda e sorrindo, já era de manhã.

Quando olhei para o lado, Elisa estava dormindo, um emaranhado de cabelos louros escuros e cobertas, sorri.

Levantei devagar e fui até o banheiro.

Liguei o chuveiro no quente e esperei a água descer rápida pelo meu corpo e cabelos, relaxante. Passei um pouco de shampoo e condicionador e ensaboei o corpo, e então me enxaguei, alguns pássaros cantavam na janela do banheiro. Acho que eram sabiás.

Escovei os dentes, sequei meus cabelos e me enrolei no robe, saí do banheiro e Elisa ainda estava dormindo.

Peguei o uniforme no armário e me vesti, Elisa acordou e me olhou.

– que horas são?

– seis e meia. – respondi.

– argh! Tem aula! Que saco! – esbravejou e depois ergue o olhar pra mim. – então, o fim de semana foi bom?

Não soube se ela estava realmente interessada ou não, mas enfim, resolvi responder.

– sim, foi perfeito. – abaixei o olhar. – quase, me sinto um pouco estranha.

Admiti, ela me olhou cautelosa e arrumou os cabelos.

– desculpe Elisa, pelo Leo, eu sei que você ficou um pouco brava comigo.

– fiquei, mas ele conversou comigo e eu vi que eu não tinha nada a ver com o lance de vocês.

– ah.

– é. Bom, eu e o Leo ficamos bem próximos quando vocês começaram a namorar, eu estava curtindo isso. Mas não quero perder sua amizade. – ela deu de ombros. – agora, senhorita, pode começar a me contar como foi seu fim de semana, pela sua carinha, você viu estrelas.

Abaixei os ombros aliviada, pelo menos Elisa não estava mais brava comigo, agora era só averiguar se Leo estava bem, me sentei na minha cama e comecei a fofocar meu fim de semana perfeito para ela.

– o que? Guria, não sei se eu fico com raiva de ti por ser tão sortuda ou abismada com isso. Como assim vocês simplesmente se reencontraram e agora tu ta noiva dele?

Fiquei com um pouco de vergonha dela, mas continuei.

Ela torceu o canto dos lábios e suspirou. – eu era completamente a favor desse teu romance com o garoto do Rio, tu sabe, mas...

– você é suspeita pra falar. – alertei a cortando.

– eu sei, eu só comecei a gostar da ideia de tu ser minha cunhada. – ela disse meio encabulada.

Sorri. Eu gostava dessa ideia também, na verdade uma das vantagens era que eu estava totalmente de bem com a família do meu ‘namorado’ quando eu estava com o Leo e enfim a família é tudo. Com Eric o negocio é mais difícil, o pai dele definitivamente não gosta de mim e meu pai definitivamente não gosta dele, daí fica difícil...

Levantei da cama e peguei a blusa do uniforme e me vesti enquanto Elisa tagarelava. Coloquei uma calça jeans preta e um casaco de lã mais grossinho que minha mãe comprou pra mim quando fizemos comprar no início do ano, era um dos poucos que havia na loja por que era verão e então não tenho muitas roupas de inverno.

De repente senti saudade de casa, do ano em que passou. Nós éramos felizes, eu estava na escola há anos e tinha amigos e tinha Gabriel sempre disponível pra mim e tinha Nando sempre ao meu lado e tinha ele, meu pai, sempre, sempre, repito, sempre me apoiando.

Mesmo depois de tudo, o que mais me corta é saber que eu não tenho mais o apoio do meu pai. Aquele que sempre havia sido o meu exemplo de superação. Não é que eu não o ame mais, eu o amo sim, só que estou magoada de mais para me lembrar de como é o sentimento. Quando penso nos dias felizes, lembro do quão infeliz eu fui no início do ano e aí tudo fica turvo e dolorido dentro de mim.

Quando lembro disso não tenho vontade de ser legal com mais ninguém, apenas ficar quieta no meu canto, só que, o destino deu um jeito de me unir ao Eric. E apenas isso já é motivo suficiente para eu sorrir para qualquer estranho na rua.


Eu estava no meu lugar habitual na aula quando Leo se sentou na carteira de trás e me cutucou no ombro. Me virei para ele cautelosa.

– e então, como foi o fim de semana? – ele perguntou meio receoso também.

– er... Legal. – respondi.

– hum. – ele concordou freneticamente com a cabeça. Ele parecia ansioso. Ficamos em silencio por alguns instantes. – é que, enfim, tu terminou comigo antes de eu te dar teu presente de aniversário.

– ah Leo, não precisa! Serio, eu não queria que você tivesse se incomodado com isso. A festa já tinha sido um presente maravilhoso. – comecei na defensiva. Eu não queria uma lembrança de como eu fui idiota com ele.

Ele ergueu as mãos no ar como que para eu parar de falar. Parei.

– eu comprei já faz tempo, mas ela chegou ontem, queria mesmo dar pra ti, e queria que fosse no lugar onde tudo começou.

– o estábulo. – falei.

– sim, lá mesmo. – ele disse nervoso.

Concordei com a cabeça.

– a que horas?

– depois do almoço. Se tu não tiver ocupada.

– não, não estou.

– então nos vemos depois do almoço.


Eu estava segurando um colar em formato de chama de fogo onde a frase “eu nunca mais vou soltar sua mão” estava escrita no verso. Engoli em seco. Sentindo uma súbita necessidade de abrir um buraco no chão e me enterrar.

– não precisava. – eu disse engasgada.

– precisava sim. De qualquer maneira eu já tinha pagado o presente e então não ia fazer muita diferença ele ficar comigo ou contigo. – falou Leo com desdém, desdém que eu sei que ele não estava sentindo, ele me pareceu profundamente magoado quando me entregou a caixinha comprida de veludo azul-marinho.

– ah Leo... – comecei a falar, mas engasguei, eu não tinha palavras suficientes para expressar o que eu estava sentindo. Eu estava magoada comigo por ter deixado as coisas irem até aquele ponto.

– que? – ele perguntou levantando o olhar.

Não respondi.

– o que tu tem pra me dizer? Babi, o que tu tem pra me dizer?

– sinto muito. – falei.

– pelo que?

– por não saber o que dizer.

– bom, tu sabe o que dizer, só não tem coragem de admitir. – falou chutando uma pedra e enfiando as mãos no bolso.

Talvez ou soubesse o que dizer, mas não me veio nada na cabeça a não ser o tempo que ele me consolou por que eu estava sozinha. E eu não podia tratá-lo como nada, quando ele me ajudou a superar toda aquela coisa com meu pai. Está certo, ele não me fez esquecer o Eric, mas ele passou uns bons meses ao meu lado, apenas passando as mãos nos meus cabelos enquanto eu chorava por outro.

Me senti uma hipócrita das grandes.

Ele deu as costas de cabeça baixa quando viu o que o assunto estava por encerrado e eu o deixei ir. De repente toda aquela dor que eu sentia quando perdi Eric voltou, só que por outro motivo, voltou pelo Leo. Algo estava terrivelmente errado ali.


Um mês se passou desde que eu reencontrei Eric, nesse meio tempo, passei os fins de semana ou em um hotel com meu irmão ou na casa dos avós de Eric, os conheci finalmente, são pessoas adoráveis, a avó de Eric se chama Amélia e é tão doce quanto o nome sugere. No fim de semana que me hospedei em sua casa, ela preparou todas as minhas refeições preferidas, cereal com castanhas e iogurte no café da manhã, lasanha de frango no almoço e torta de chocolate no café da tarde. Com a certeza de que engordei uns três quilos depois de que saí de lá, voltei para mais uma semana incrivelmente chata no internato. Nesse um mês Leo tem andado estranho, não me olha nos olhos, não conversa com os amigos e Elisa está começando a ficar preocupada. Também estou. Mostrei para Eric o colar com a chama bruxelante e os dizeres atrás por que não queria aquilo como segredo entre nós. Claramente ele ficou incomodado, mas não sei dizer se foi com o colar, ele pareceu não se importar com o objeto, nem me pediu para não usá-lo. Não vou usar, mas só por que não quero que o Leo ache que ainda tem alguma chance comigo.

Se tratando do casamento, não mencionamos o assunto por uns tempos, estamos curtindo o nosso noivado, ah, ele me deu um anel.

Em uma noite no hotel, ele e eu fomos jantar e então ele me entregou a caixinha com o anel de noivado. É um diamante branco, solitário, não muito grande e mais dois um pouco menores dos lados, fico olhando pra ele toda vez que paro para pensar em Eric.

É um sonho, só pode ser um sonho o que eu estou vivendo. O terrível é que acho que estou prestes a acordar desse sonho.



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