Fique escrita por Vanessa Fontoura


Capítulo 24
Capítulo 24. Babi


Notas iniciais do capítulo

Ele estufou o peito orgulhoso."Minha garota preferida no mundo é você, maninha. Nunca se esqueça disso."
Pisquei duas vezes para limpar os olhos e fui ao encontro dele para abraçá-lo.
"Mesmo que eu não seja o seu garoto preferido." Continuou sorrindo.



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Senti que Eric estava amedrontado e eu também estava, talvez mais do que ele. Nando entrou no quarto com uma sacola de compras e então levou um pequeno susto ao nos ver.

– uau. – ele disse. – oi.

– Nando. – eu falei aliviada.

– oi. – cumprimentou Eric meio receoso.

– nossa, então, você saiu para jantar e encontrou um namorado perdido? – falou brincalhão, mas não dei risada e ele ergueu os ombros, uma ruga de preocupação surgiu na sua testa.

– está tudo bem com vocês dois?

– precisamos de ajuda. – eu disse sendo rápida, queria que o assunto acabasse logo.

– tudo bem, no que eu posso ajudar?

Eric tomou a frente do assunto e falou confiante. – queremos nos casar.

Nando engasgou com a saliva e deu umas tossidinhas estratégicas para pensar. E então nos olhou espantado.

– que? Vocês estão loucos? Quantos anos você tem? Não podem se casar legalmente. Que loucura é essa? Nosso pai iria ficar furioso. – ele murmurou, mais consigo mesmo do que comigo.

– temos idade suficiente, você mesmo que me disse isso mais cedo. Além disso, eu não preciso da aprovação dele para ser feliz.

– e você acha que vai ser feliz se casando aos 18 anos? – ele perguntou rindo ironicamente. Senti que ele não estava bem falando de mim quando disse aquilo. Nando é alguns anos mais velho do que eu, está na casa dos vinte e pouquinhos e talvez ele se sinta incomodado por que não pediu Raquel em casamento ainda depois de tantos anos de namoro com a cantora. Encolhi os ombros tentando parecer inocente e frágil.

– eu acho que seremos. – eu disse.

– você é louca.

– e eu vou fazer, mesmo que você não me ajude. Eu sei que só vou ser feliz se eu tiver certeza que ninguém vai nos separar.

– Babi, como você tem certeza de que alguém vai separar vocês? – perguntou Nando frustrado.

O olhei incrédula e já sentindo a raiva brotando. – er, bom. Me diga você. Afinal, você também é filho do mesmo homem que eu, ou por acaso eu sou adotada?

Ele riu de nervoso. – não, é claro que não. Ah Babi, eu só não quero que você faça nada sem pensar direito. Você – ele olhou para Eric, calado ao meu lado. – vocês, podem estar cometendo o maior erro de suas vidas. Esperem!

– e se não houver tempo para esperar? – eu pergunto.

Ele me olha fundo nos olhos e solta um suspiro baixo de rendição. – se é isso o que querem. Acho que eu vou me sentir culpado se não ajudar a vocês.

Senti um alivio no peito e expirei devagar soltando a mão de Eric e indo até meu irmão mais velho para dar um abraço nele. Nando ficou um pouco receoso, mas me abraçou também, no fundo eu sou uma garota mimada, por que incrivelmente todos fazem o que eu peço.

Então eras isso, eu e Eric conseguimos um aliado a nossa causa, um aliado forte. Agora estávamos finalmente evoluindo na relação, triste que tivéssemos que fazer tanto para ficarmos juntos.

Naquela noite eu dormi bem, lembro-me de ter ficado acordada pensando nas possibilidades de uma vida nova, uma vida de casada, as coisas iriam mudar, eu sei, mas eu estava preparada, eu estava? Bebi um gole de água e deitei minha cabeça (que estava pesada e dolorida de tanto pensar) no travesseiro fofo da minha cama, Gabriel dormia tranquilo na cama ao lado. Fechei os olhos e respirei tranquilamente. Eric havia voltado para a casa dos avós para contar a novidade e não assustá-los por que ele passou o dia inteiro fora de casa. Adormeci assim que parei de pensar em Eric.

Tive um sonho cheio de sombras, escuridão, cinzas, fogo, um fogo vivo e vermelho bruxelava e eu estava me arrastado até esse fogo, sentindo minha pele queimando cada vez que eu chegava mais perto... E mais perto... E mais perto, até que parou. Tudo o que eu vi foi o branco. Acordei me sentindo estranha, foi um sonho meio pesado, meio angustiante. Esfreguei os olhos e olhei para o relógio do meu celular que marcava 3:30 da manhã. Deite minha cabeça no travesseiro outra vez, mas estava quente e meio suado, virei o travesseiro, colocando a parte quente para baixo e desfrutei do gelado que se chocou conta minha pele quente. Adormeci novamente, um sono sem sonhos.

– Babi. – disse uma voz.

Semisserrei os olhos.

– Babi. – continuou a voz. – acorda, precisamos voltar para o seu colégio.

Ciente de que fiz uma careta abri os olhos para ver Nando sentado na minha cama.

– que horas são, irmãozinho? – perguntei.

– 11h. Você dormiu pra caramba. Gabriel foi pagar a conta e nós vamos almoçar na estrada.

– mas o internato não fica muito longe.

– eu sei, mas bom, pensei que você ainda iria querer o seu presente.

Me senti mais alerta. – quero. Você só fala nele desde que chegou.

Ele riu. – por isso, Babi. Tome um banho, eu vou estar te esperando com Gabriel lá em baixo.

Concordei.

– Nando?

– hum?

– Eric me ligou?

Ele assentiu. – depois falamos sobre isso, sério, vai tomar banho.

– nossa estou tão fedida assim? – pergunto fazendo beicinho.

– meu Deus garota. Você é muito irritante. Vai logo.

Dei risada e fui para o banheiro. Me debrucei sobre a pia de marfim e lavei meu rosto, tirando os restos de sono dos cantos dos meus olhos. Eu estava estranhamente bem naquela manhã, os olhos vivos e brilhantes, estavam quase verdes, quase. Pena que não nasci de olhos claros.

Tomei um banho rápido e reconfortante, me vesti de algo quente por que já estava começando a ficar realmente frio no Sul, peguei minhas coisas e fui ao encontro dos meus irmãos (o de sangue e o de mãe diferente) quando eu estava no elevador recebi uma ligação. Eric.

– será que tem uma senhora Johnson em treinamento por aí?

Sorri.

– não sei, acho que falta um anel ainda.

Ele ficou em silêncio por um momento. – isso pode ser providenciado bem rápido.

Sorri mais ainda – bom saber senhor mega-sena.

Eric riu do outro lado da linha. – onde você está?

– chegando ao saguão do hotel. – respondi. – e você?

– é só você dar uma olhada para trás. – e ele desliga.

Me virei lentamente colocando meu celular no bolso do casaco e olhei para a direção do cara lindo,alto de cabelos escuros parado com a mão encostada em uma parede. Os olhos castanhos incendiando e um sorriso torto maravilhoso, ele começou a caminhar em minha direção, provavelmente por que viu que eu estava cravada no piso frio do saguão apenas babando a visão do meu futuro marido.

Quando Eric se aproximou de mim, ele me deu um beijo rápido na testa e envolveu meus ombros.

– bom dia. – ele falou entre meus cabelos.

– bom dia. – sussurrei, quase tonta de tanta felicidade. Se ia ser assim pra sempre então eu aceitaria de bom grado. Entrelaçamos nossos dedos e fomos até a recepção. Gabriel e Nando estavam conversando com a recepcionista fechando a conta do quarto e nos aproximamos.

– sempre grudados... – disse Nando.

Sorri envergonhada.

– você vai passar o dia com a gente? – perguntou Gabriel a Eric.

Eric concordou com a cabeça.

– mas e a surpresa? – perguntei.

– ele pode ver a surpresa. – disse Nando pouco a vontade. Assenti. Menos mal.

Fiquei bravíssima com meu irmão quando ele disse que eu não ia poder ir de moto com Eric e sim dentro do carro, fui emburrada a viagem toda até sei lá onde, olhando para trás pelo vidro escuro Eric nos seguindo com a Yamaha vermelha.

– se os planos de vocês derem certo, vocês vão ficar a vida todo juntos, desgruda Bárbara. – disse Fernando ficando irritado, mas eu também estava.

Bufei. Idiota.

– descobrimos uma nova doença chamada Ericfobia. – disse Gabriel. Mostrei a língua pra ele e olhei para a paisagem na estrada. O que me fez pensar se outras também provaram dessa doença. Será que assim como eu, Eric havia tentado consolo com outra pessoa nestes seis meses?

Muito pouco provável, ele pareceu ter me procurado muito, ter sofrido muito. Acho que ele não teria nem sequer cogitado ficar com outras garotas que não fossem eu.

Leo. Me mexi desconfortável no banco. Até dois dias atrás eu estava com Leo deitada na grama feliz e quase completa. Ele quase preencheu todo o espaço que Eric havia deixado vazio no meu peito. Mas não foi o suficiente. E ele disse que me amava. Corei com o pensamento me sentindo culpada. Olhei para Eric na moto com o capacete e os óculos escuros e encolhi os ombros, eu precisava contar a ele sobre Leo.


Nando estava voltando para Porto Alegre, isso eu tinha certeza depois de ler a placa, eu só não sabia o porquê.

– por que estamos indo pra capital?

– surpresa. – Nando cantarolou.

– ah claro, pensei que fossemos almoçar, estou com fome. – resmungo.

Ele ri. – fica calma, nós vamos.

Percorremos o que foi uma eternidade para mim até chegarmos a Free Way e finalmente em Porto Alegre. Nando levou o carro até o porto do rio Guaíba, ou o antigo porto e estacionou ali. Fiquei olhando para os grandes armazéns de pedra amarela e pensando que diabos estávamos fazendo ali.

Nós descemos do carro e esperamos até que Eric achasse uma vaga para motos.

– ok, que legal, mas o que estamos fazendo aqui? – perguntei.

– pare de falar, garota, você fala de mais. – disse Nando.

Estou brava com você, seu idiota.

Eric riu, acho que ele captou meu olhar, me deu um beijo rápido quando chegou perto de mim e entrelaçou nossos dedos.

– você sabe o que ele está aprontando? – sussurrei.

– surpresa. – ele disse divertido. Revirei os olhos e bufei.

– vamos. – disse Nando, indo na frente.

Caminhamos rapidamente até a beira do rio e esperamos o que foi uma eternidade até que finalmente uma lancha branca estacionou perto. Um homem de cabelos pretos desceu, nos cumprimentou e foi embora deixando meu irmão no comando. Nando disse que iríamos de lancha até a surpresa.

Subimos na lancha e ficamos conversando besteiras por uns 15 minutos até que lá estava ele o iate. Nando parou a lancha há uns 30 metros e ficou olhando para mim.

Pisquei duas vezes quando olhei para a proa branca e me deparei com Babi escrito em letras desenhadas, mas visíveis à distância.

Nando estava trabalhando em um projeto com alguns colegas de faculdade, um iate adaptado que usasse combustível a base de produtos sustentáveis, algo que não prejudicasse o meio-ambiente enquanto andasse sobre as águas. Ele disse que os colegas haviam lhe dado a oportunidade de escolher o nome pro iate (já que ele foi o idealizador do projeto­). Nossa! Faz tempos que ele anda com colapso mental de qual nome dar ao dito cujo. Ele pensou que Melissa seria o ideal, já que é o nome da nossa mãe, mas achou que Raquel fosse ficar um pouco enciumada com isso. Nem em um milhão de anos eu pensei que eu seria uma das opções. Isso é uma prova de amor em tanto.

Minha boca formou um O de surpresa e de repente eu senti as lágrimas.

– você deu meu nome a ela. – falei.

Ele estufou o peito orgulhoso. – minha garota preferida no mundo é você, maninha. Nunca se esqueça disso.

Pisquei duas vezes para limpar os olhos e fui ao encontro dele para abraçá-lo.

– mesmo que eu não seja o seu garoto preferido. – continuou sorrindo.

– você é! – eu falei convicta.

– epa! – protestaram Gabriel e Eric.

Olhei para eles rindo.

– você é minha garota preferida também. – disse Gabriel.

– eu preciso mesmo dizer que você é minha garota preferida também, Babi? – Eric falou sorrindo.

– ai meu Deus gente, quanto favoritismo! Vocês são meus meninos favoritos! – levantei as mãos pro céu. – vocês três são as melhores pessoas do mundo!

Eles se aproximaram e me esmagaram em um abraço apertado que acabou em risadas minutos depois.


Subimos a bordo do Babi e almoçamos no convés, sentados em almofadas grandes e coloridas. Rimos a beça e comemos feito condenados. Nando me contou que a embarcação fez sua primeira viagem da costa do Rio até Porto Alegre especialmente para a minha surpresa. Ela precisava ser testada e foi um sucesso. Fiquei feliz por ele estar tão feliz.

– então Nando, engenharia mecânica é legal? – perguntou Eric.

– eu sou apaixonado! Olha só essa belezinha que nós projetamos, da pra sentir mais orgulho?

Eric riu, mas seu sorriso broxou.

– eu quero mudar meu curso, já estou cansado de tanta burocracia do meu.

– o que você faz?

– relações internacionais.

– e você Babi, é medicina mesmo? – perguntou Gabriel

Olhei para ele sem saber o que responder. Era medicina? Eu queria mesmo me tornar médica? Não, eu não queria. Esse era o sonho do meu pai e eu não estava bem feliz com ele para ser a filhinha boa que faz o que eu papai sonha.

– não. Definitivamente não é medicina. – respondi seca.

Ele se contraiu, mas não falou nada.

Lembrei que eu ainda estava na escola, e no outro dia seria colégio interno novamente tendo que enfrentar Leo e seu amor platônico por mim, a qual eu colaborei bastante que acontecesse. Me senti com uma pitada de culpa.

Eric precisava saber dessa minha aventura amorosa, urgentemente.

Assim que acabamos o almoço peguei a mão de Eric para um passeio pelo iate. Fomos até a ponta onde o sol estava a pico no céu e nos sentamos. Ele pegou meu rosto com as duas mãos e me beijou docemente nos lábios e depois do beijo deu um sorriso de “você é minha preferida”.

– Eric, precisamos conversar.



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