Fique escrita por Vanessa Fontoura


Capítulo 19
Capítulo 19. Eric


Notas iniciais do capítulo

"Eric havia esquecido totalmente que pediu para que uma floricultura entregasse um presente a Babi no dia anterior. Ele poderia procurar o endereço na internet, mas não sabia o nome da escola."



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– ah vó, obrigado por me deixar ficar aqui esse final de semana. – disse Eric. Sua adorável avó estava sentada frente a ele na mesa, a pele enrugada, as feições tristes, mas sorria para ele.

Fazia mais de ano que Eric não visitava os avós, desde que sua mãe havia morrido. E convenientemente naquele fim de semana horrível, ele foi para o Rio Grande do Sul esfriar a cabeça.

– como se sente?

Ele suspirou.

– não sinto.

– pode ir descansar se quiser. Daqui a pouco seu avô chega da mercearia, ele só foi buscar algumas coisas que pedi para o almoço. Que bom que você está aqui, Eric.

Ela passou a mão nos cabelos castanhos de Eric e sorriu. Ele sorriu de volta e então subiu as escadas até o segundo andar para o quarto de hospedes que por tanto tempo ele havia dormido com sua mãe.

Eric deixou a mochila no canto perto da janela e ficou observando a vista. Lembrou que ali naquela mesma posição ele e a mãe haviam tido sua última conversa antes do acidente de carro que a matou.

Ele suspirou. E com os olhos fechados começou a falar em voz alta.

– sinto falta dela, mãe – disse ao vento. Ficou esperando uma resposta, mas sabia que não viria. – se você estivesse viva, teria gostado dela.

– de quem sua mãe teria gostado, meu filho?

Reconheceu a voz de seu avô, o velho estava parado na porta, meio curvado, mas ainda com os mesmos olhos de sabedoria.

– não é ninguém, vô, coisa minha.

– se quiser conversar, é só chamar.

– na verdade, você sabe onde fica esse lugar? – Eric tirou do bolso uma foto de um catálogo de revista com um grande colégio na frente, era uma visão aérea, então seu avô não reconheceu. Eric sentiu-se um pouco triste. Parte dos motivos de ele ter ido viajar, era por que ele queria ver se ela estava bem.

No último mês que passou no Rio se sentiu verdadeiramente em um inferno. Estava cansado da vida fácil que levava com o pai então comprou um apartamento perto da faculdade, ele e o primo começaram a dividir as parcelas, mas de tanto sair para baladas e de levar meninas a jantares ficou quebrado e teve que voltar com o rabinho entre as pernas para a casa do pai. É claro que o Sr. Johnson não teve piedade do filho, o fez prometer que nunca mais ia sair com o primo-má-influência, e ele obedeceu por que estava cansado de viver da maneira que vivia com o primo.

Eric namorou oito meninas. Quando estava na cama com a última e ela jogou os cabelos castanhos e lisos para trás foi que ele percebeu o motivo dele sentir tanta atração por meninas de cabelos como o dela. Eram todas parecidas com Babi. E ele só estava tentando suprir a falta que sentia dela. Eric se viu em um dilema terrível e então decidiu largar tudo e vir pro Rio Grande do Sul tentar encontrar com ela, só que ele não fazia ideia de onde ela estava.

Deitou-se na cama e dormiu até mais ou menos meio dia.

Eric havia esquecido totalmente que pediu para que uma floricultura entregasse um presente a Babi no dia anterior. Ele poderia procurar o endereço na internet, mas não sabia o nome da escola.

Tudo conspirava a favor.

Assim que ele terminou de almoçar, pegou a moto que ele havia alugado no aeroporto e saiu a procura da floricultura. Precisava encontrar Babi de qualquer jeito.

A floricultura que ele havia pedido para entregar o buquê de rosas era em Gramado, uma cidade um pouco longe da que os avós moravam, mas a viajem até lá não durou nem uma hora, a estrada era perigosa, cheia de subidas e curvas, mas Eric chegou bem, é claro.

As ruas eram bonitas, parecia uma cidade cenográfica e havia lojas de chocolate por toda parte. Estava frio, mais frio do que de costume, ficou feliz por ter posto a jaqueta de couro para não pegar o vento da estrada.

Andou até a rua principal e ficou procurando pelas lojas a tal Flores & Arranjos. Passou a tarde toda envolvido com aquilo tudo. Perguntou a algumas pessoas se elas sabiam onde ficava aquela floricultura, mas ninguém sabia então ele desistiu, se sentou em uma fonte no meio da cidade e ficou  ali com a cabeça entre as mãos, apenas mais triste do que quando havia chegado.

Estava de cabeça baixa quando ouviu uma voz tão linda e doce que pensou que fosse Babi, ele não se atreveu a erguer a cabeça por que podia ser apenas coisa da sua mente confusa. Podia finamente estar ficando louco de vez.

Mas a voz estava ficando cadê vez mais forte e parecia estar vindo à direção dele. Ergueu a cabeça alguns centímetros, apenas para olhar de canto de olho se era ela mesmo. Eric se viu obrigado e olhar diretamente na direção da garota de casaco comprido e meias pretas para ver se era mesmo Babi, mas os cabelos eram de um castanho diferente do dela e a garota estava de mãos dadas com um menino baixinho de mais ou menos 5 anos que poderia ser um irmão mais novo. Foi quando um homem mais velho chegou a beijando nos lábios e ele viu que eles eram uma família, uma família estranha, mas uma família.

Levantou á passos largos, indo para o caminho em que havia largado a moto, a cabeça explodindo de dor, e o peito apertado. Não achou a floricultura, não sabia o endereço do colégio, havia viajado em vão. Uma mulher mais velha o chamou enquanto ele passava por sua loja.

– Eric? – disse ela. – Eric, és tu mesmo?

Ele parou e olhou para a mulher que sorria abismada. Tinha cabelos louros muito claros, quase brancos e o rosto era enrugado, mas não aparentava mais do que 60 anos. Teve certeza de que nunca havia visto aquela senhora antes, mas ela de algum modo não era de todo estranha.

– sim, sou eu, e a senhora?

– não se lembra de mim? – ela perguntou cheia de esperança nos olhos.

– desculpa, não. – falou.

– ah, não te culpo, os anos não fizeram tão bem a mim quanto fizeram a ti. Se tornou um rapaz muito bonito. – falou a mulher, Eric sorriu para ela que continuou: – meu nome é Alexandra, eu fui madrinha de sua mãe.

– ah!

– sinto muito por ela.

– eu também sinto.

– então, Eric, o que fazes aqui em Gramado? Soube que tinhas ido para o Rio de Janeiro com seu pai. – ela perguntou, tinha um sotaque tão formal que ele pensou que talvez quando mais nova ela tivesse sido professora de português.

– e fui, mas hoje vim visitar meus avós e também estou à procura de uma floricultura que segundo o site ficava aqui em gramado.

– ah, podes me dizer qual o nome, quem sabe eu possa te ajudar. – sugeriu ela.

– Flores & Arranjos.

– eu não me lembro dessa floricultura, se bem que... É claro! É o Seu Manuel.

– quem é esse homem? – perguntou Eric sentindo uma pontinha de esperança no peito.

– um homem solitário que vive em um morro não muito longe daqui, ele vende essas flores desde muito antes de tu nasceres, as cultiva no morro. É um lugar lindo, mágico! Muitos casais passam por lá, faz parte da rota romântica.

– ah meu Deus! Muito obrigada por isso. – agradeceu Eric. – é fácil de chegar? Pode me dar as coordenadas?

– claro que sim.

Eric esperou feliz, pela primeira vez em seis meses se sentiu feliz. 


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