Fique escrita por Vanessa Fontoura


Capítulo 18
Capítulo 18. Babi


Notas iniciais do capítulo

"Assim que ele ergueu o olhar novamente comecei a pensar em algo para fazer ele se sentir melhor, mas nenhuma frase bonita ou bombástica veio a minha mente. Mais um sinal de que eu aquilo não era como nos filmes, não há uma segunda opção para a segunda opção da mocinha."



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Descobri que estar apaixonada por alguém, nunca é igual aos filmes de romance. Você não encontra o amor de sua vida aos 17 anos como os dramas adolescentes sempre ressaltam, justamente por que aos 17 anos você não tem controle sobre sua vida. Mas eu já tinha 18. E o que contava? Eu continuei presa a minha vida como se nada tivesse mudado. Aos olhos da lei eu havia me tornado adulta, aos olhos dos meus pais, eu ainda era uma criança, uma criança teimosa.  

Descobri sobre o amor, não, descobri sobre amar, o ato de amar, que nunca acontece quando esperamos e nunca acontece quando desejamos. Você simplesmente ama. E há sim inúmeras maneiras de amar alguém. Meu irmão, por exemplo, sinto por ele um amor desesperador daqueles que tenho medo de perder e não poder mais viver sem. Gabriel é tanto quanto amar um irmão. Sinto tanta dor apenas de pensar na inexistência dele.

Alguém certa vez me perguntou se eu o amava, eu o respondi que não sabia como era amar alguém e ele me disse “pense, se eu morrer, você iria sentir minha falta? Você choraria? Ficaria de luto?” “Sim” respondi com certeza. “Então você me ama”.

Agora penso que isso é apenas uma das várias formas de demonstrar amor a alguém.

No momento o amor que eu sentia era doloroso.

Estremeci, o que me fez acordar do transe mental e ver que já era dia. Olhei para a cama do lado e não havia ninguém ali. Olhei para o relógio no criado-mudo e marcava 9h, era sábado e o café só é servido até as 08h30min nesse dia.

Bufei por que estava com fome.

Olhei meu celular, 21 chamadas não atendidas. Sete de Nando e 14 de Gabriel. Dei um longo suspiro e fui para o banho. Fiquei debaixo do chuveiro por uns dez minutos apenas parada pensando em tudo. E então ouvi a porta do quarto bater. Desliguei o chuveiro, me sequei e comecei a me vestir. Coloquei o moletom mais confortável que eu tinha e dei uma arrumada nas olheiras profundas que surgiram do choro da noite anterior.

Abri a porta do banheiro e uma figura loura estava sentada na cama de Elisa com a cabeça baixa e as mãos entrelaçadas uma na outra.

– Leo? – arrisquei. E ele se virou me fitando com seus olhos azuis cheios de... Compaixão.

Andei até ele meio receosa.

– Leo. – seu nome foi quase um sussurro. – o que veio fazer aqui?

Ele apontou para mim. – tu fica bem até de moletom.

Corei. – obrigada. Mas imagino que você não veio aqui para me dizer que fico bem quando estou desarrumada.

Ele se levantou. – é, não. Eu só quis vir ver se tu tava bem, imagino que tu deve ter ficado um pouco abalada com o que eu disse ontem à noite.

Concordei com a cabeça.

– eu imaginei que iria. Escuta, vamos falar normalmente agora como os bons amigos que fomos nesse meio tempo em que brincamos de namorados. – disse ele claramente sendo irônico na parte do brincar de namorados, mas ignorei esse pequeno detalhe.

– tudo bem. Você primeiro.

– olha, Babi, o que eu disse ontem a noite, não foi pelo calor do momento, ou por que eu estava extremamente feliz tendo você ali comigo, foi por que eu realmente sinto. – deu de ombros. – mas eu te entendo. E até admiro, tu é uma boa menina.

– boa? Eu sei que estou fazendo você sofrer. Eu faço todo mundo sofrer. Eu não sou uma boa menina. – eu disse.

– você é. Se fosse qualquer outra, teria dito “eu também” apenas para não me magoar e...

– então! Ela não iria te magoar.

– é, mas ela estaria me iludindo, e eu descobri que sou uma pessoa fácil de mais de iludir. – falou abaixando o olhar.

Leo estava claramente triste, tentava parecer são apenas para não me deixar mais culpada, mas eu sabia que ele havia se machucado com as minhas palavras. Ele estava tentando arrumar uma maneira de me desculpar sem eu ter que pedir desculpas.

O amor é um jogo perigoso.

Assim que ele ergueu o olhar novamente comecei a pensar em algo para fazer ele se sentir melhor, mas nenhuma frase bonita ou bombástica veio a minha mente. Mais um sinal de que eu aquilo não era como nos filmes, não há uma segunda opção para a segunda opção da mocinha.

Na vida real (querendo ou não) alguém sempre sai machucado. E eu preferia que fosse eu. Por mais machucada que eu fosse, eu preferia ser abandonada milhões de vezes a ver aquele olhar no rosto de Leo.

Simplesmente fui a sua direção e o abracei o mais forte que pude por mais tempo que consegui sem desabar em lágrimas. Ele retribuiu o abraço como se eu estivesse fazendo com aquilo o certo. Senti o soluço que veio do fundo da garganta dele, mas não houve choro.

Ele afastou meu corpo me segurando pelos ombros.

– obrigado, Babi.

– pelo que?

– nada e tudo.

Sorri e ele sorriu de volta. Nos despedimos com um beijo no rosto, mas eu não soube se estava tudo bem com o nós entre eu e ele. Fiquei parada perto da cama de Elisa vendo ele sair, mas quando chegou a soleira da porta ele parou e virou para mim. 

– espero que tu seja feliz. – disse ele.

– eu também espero. – falei. – espero que nós dois sejamos. – e dei uma risadinha nervosa no fim da frase.

Ele sorriu com o canto dos lábios. – sabe, eu até fico bem quando penso que a primeira vez que eu falei te amo foi pra ti.

E então ele saiu sem ver minha reação, ou sem querer ver minha reação.

As coisas com o Leo eram fáceis, convenientes e até boas, mas não eram pra mim. Que bom que eu consegui concertar meu erro antes que se tornasse pior.

Cinco minutos depois, Nando me ligou dizendo que mesmo que eu estivesse de cama ele iria me rebocar para Gramado e me dar o meu presente de aniversário.

Não demorou mais do que uma hora para ele e Gabriel aparecerem pela minha porta. Nando estava trazendo um buquê lindo de rosas vermelhas e eu fiquei encantada com ele.

Peguei as rosas na mão e senti o perfume adocicado que vinha delas. Era um perfume forte.

– nossa são lindas, obrigada. – agradeci.

– er, que bom que você gostou, mas não fui eu quem comprou. Um homem da portaria aproveitou que estávamos vindo até aqui para poder entregar a você.

– não foi você? E nem você? – perguntei agora me referindo a Gabriel.

– não. – responderam.

– estranho.

– vê se tem cartão. – sugeriu Gabriel.

Boa ideia. Vasculhei o buquê até que escondido achei um papel na cor marfim, que parecia mais um pedaço de folha de carta. A letra era forte e cursiva e estava um pouco falhada. Comecei a ler.

“Olhe para as estrelas, elas brilham quando você sorri.” apenas essa frase, uma frase linda, mas que não fazia sentido, por que não tinha assinatura nenhuma. Devia ser de Leo, só ele poderia me dar um presente daqueles no meu aniversário, mas se ele tivesse me dado, teria ele mesmo me entregado.

Quem me deu as flores?


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