Fique escrita por Vanessa Fontoura


Capítulo 10
Capítulo 10. Babi


Notas iniciais do capítulo

pronta para a nova vida? perguntou.



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– Babi? Esse é o teu nome, Babi?

– não, me chamo Bárbara, mas me chamaram de Babi a vida toda. – eu respondi a mulher com um tom de mau humor na voz. Meu pai e minha mãe estavam do meu lado no tempo todo em que fomos conduzidos por uma funcionária loira até a sala da diretoria. O colégio parecia maior do que no site e milhões de vezes mais bonito, as fotos não fizeram jus ao tom do verde daquela grama. Ai meu Deus já estou virando uma vaqueira, pensando no tom do verde da grama.

Talvez eu esteja sendo um pouco exagerada, sempre fui ligada ao mar e a praia, natureza certo? Assim como essa enorme fazenda.

– esperávamos por vocês. – disse um homem assim que entramos em sua sala. – e tu deves ser a Bárbara?

– Babi. – corrigi. Ele assentiu. Tinha um sotaque muito forte do sul e isso o deixava fofo. O homem tinha cabelos bem louros e um bigode espesso sobre os lábios, usava camisa social, terno e uma gravata borboleta vermelha, só de olhar para ele dava vontade de fazer “oin”.

– podem sentar, vou pedir para que minha secretária traga água, ou um refri? – sugeriu a mim, rejeitei a oferta. Olhei para o lado pensando se ele era assim tão legal com todos os alunos e seus pais, ou meu pai realmente deu muito dinheiro para ele me manter de baixo da sua asa.

Depois de uma conversa angustiante e cheia de perguntas retóricas e monossilábicas ele finalmente disse que eu estava matriculada em um dos melhores internatos do país. Também explicou as regras.

Regra nº 1. Nada de visitar o dormitório dos meninos depois das 6h. Justo, ninguém quer que um caso de gravidez na adolescência aconteça bem de baixo do nariz, não é?

Regra nº 2. Respeitar os horários de acordar e de dormir que são 6h e 22h todos os dias. Adeus assistir desenhos de manhã.

Regra nº 3. Não é permitido sair do campus sem a autorização dos pais. Caso o aluno for maior de idade pode visitar a cidade vizinha desde que volte antes das 7h da noite.

Regra nº 4. A mais injusta. Não é permitido o uso de internet, fora da biblioteca ou sala de informática. Mas eu já sabia dessa. Pelo menos o celular era permitido.

Regra nº 5. Namoros no campus são aceitos, desde que haja prudência dos envolvidos. Dei risadas, é claro, nada de amassos debaixo da escada ou na piscina. Muito menos, visitas íntimas.

Regra nº 6. Toda e qualquer violação de regras, brigas e afins serão punidas com castigos adequados. Nada de infração para mim.

Regra nº 7 Sábados e domingos serão dias livres para atividades extracurriculares. É claro que sim, é o fim de semana.

Regra nº 8. Festas e comemorações são permitidas no grande salão apenas nos fins de semana. Socializar com os novos amigos.

Regra nº 9. A cada três meses teremos uma saída de campo para fins escolares.

Regra nº 10. O terceiro ano poderá fazer projetos para conseguir dinheiro para a formatura.

Havia mais de 60 regras irritantes a qual eu teria de me adaptar. Ele comentou todas elas para mim e meus pais. Embora eu estivesse de péssimo humor e com dores de cabeça e um pouco de ressaca da noite anterior eu ainda assim conseguia me lembrar que estava sofrendo muito por ter sido mandada pra lá.

Depois de o homem ter mostrado quase todo o colégio para mim foi que eu me dei conta de que não sabia o nome dele, espichei o pescoço para olhar o crachá pomposo em seu peito e vi o que o nome era Luiz Carlos A. não sei qual o sobrenome, mas sabendo o nome eu já tinha boas referências.

Ele e meu pai saíram andando na frente conversando sobre negócios e eu minha mãe nos sentamos em um banco debaixo de uma árvore.

– pronta para a nova vida? – perguntou.

– é. – concordei olhando para a grama.

– o que foi, ainda zangada?

– não mãe, não mais. Só to com dor de cabeça. Acho que um pouco de ar puro vai me fazer bem.

Ela respirou fundo e colocou as mãos sobre o colo olhando para o horizonte ( horizonte = mato cerrado que cercava a escola). Fiquei encarando o chão mexendo nos detalhes da minha blusa. Até que ela pegou minha mão. Olhei para ela.

– tenho um presente. – tirou da bolsa um pacote bem embrulhado com uma fita vermelha e me entregou. – espero que isso te anime.

A menos que fosse uma passagem de volta para o Rio de Janeiro ou um pedaço de papel escrito “pegadinha do malandro, nada de internato pra você, nos te amamos filhinha”, nada mais me animaria. Mas peguei o presente e o desembrulhei, era um tipo de livro de couro marrom escuro, na verdade um pouco mais cumprido do que um livro, tinha o tamanho de uma folha de caderno. Estava escrito Ferazzo na capa em relevo, e havia uma espécie de fechadura em formato de gota, passei o dedo ali.

– o que é isso mãe? Era da sua família?

– é um livro de cartas. Está na família por gerações. Minha avó costumava dizer que pertenceu a uma linda jovem que foi separada do seu grande amor. – explicou dando seu olhar de cúmplice. Na hora fiquei envergonhada, pois entendi o que ela quis dizer.

– e não tem uma chave?

– é a segunda parte do presente, mas seu pai quer lhe entregar.

– ah.

Ela sorriu. Sorri de volta e não me contive em lhe dar um abraço. – vou sentir saudades mãe.

– eu também, Babi.

Assim que o diretor largou do pé do meu pai, ele se juntou a mim e minha mãe. Sentou do meu lado e ficou em silêncio por uns 3 segundos (eu ainda estava muito zangada com ele, então fiquei em completo silêncio também).

– então, ainda brava? – perguntou. Olhei para ele pensando se estava tão na cara assim.

– não. – respondi secamente. O que ficou claro que eu ainda estava brava.

– que bom. – disse ele. – já que vai ficar um tempo aqui, acho que sua mãe já deu o presente dela, não é?

– aham.

– pois eu vou te dar o meu.

Ele ergueu um dos lados do blazer e pegou do bolso interno uma caixinha de veludo preto.

Entregou a mim.

Não precisava ser nenhum gênio para adivinhar que era a chave do presente da minha mãe. Era um bracelete, uma pulseira com um pingente de brilhante em forma de gota.

– é diamante. – disse ele.

– uau.

– lindo, não? – perguntou minha mãe.

– sim.

– se você pôr na fechadura, ela abre.

Testei, apenas por curiosidade. Coloquei o pingente na fechadura do caderno e ele se abriu. As suas paáginas eram amareladas e grossas, assim como papel de carta. Havia tantas folhas que acho que as mulheres da família da minha mãe não o usavam muito. Folhei as páginas tentando achar algo, que eu não sei o que era, mas só achei nomes.

O nome de minha mãe, Melissa, estava dentro os muitos ali. – é o seu.

– sim, também o usei, uma única vez, aliás. – disse ela. – e foi com o Enio.

– por essa carta estamos casados até hoje. – complementou meu pai.

Muito romântico da parte deles me dizer isso diante da situação em que eu estava. Fechei a cara instantaneamente.

– quero ver meu quarto e arrumar tudo de uma vez por todas.

– tudo bem, vamos lá. – disse meu pai. 


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