Fique escrita por Vanessa Fontoura


Capítulo 1
Capítulo 1. Babi


Notas iniciais do capítulo

"Ergui a taça de champanhe no ar e saudei o novo ano e as novas perspectivas para minha vida. Agradeci a Deus por mais um ano de vida e pedi muita proteção. Quem sabe o que aconteceria?"



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“O que Deus une, homem nenhum é capaz de separar”.

Olhei para a rua e nunca tinha visto tantas pessoas na praia, quero dizer, nunca fiquei olhando Copacabana pela janela, até por que eu não moro nesse bairro do Rio de Janeiro, mas realmente o show da virada era magnífico visto pelo prédio da minha tia ricaça. Eu estava, pela primeira vez em muitos anos novos, bebendo champanhe com Gigi, minha prima “prafrentex” como diz minha mãe, ela estava com um piercing novo na gengiva. Só de olhar me dava arrepios. Gigi falava da sua recente viagem pela Ásia, onde ela disse conhecer o amor de sua vida, em um bar na Índia. Ela não entrou em detalhes, mas pelo jeito meus tios iriam desaprovar com todas as suas forças aquele união. Bebi um golão do liquido na minha taça para ouvir alguns detalhes sórdidos da sua aventura e continuei curtindo alguma banda desconhecida que estava fazendo os intervalos das outras mais populares.

Estava até, tudo tranquilo para um jantar em família, ninguém havia bebido além da conta e estavam todos rindo. Coloquei meus olhos em uma cena peculiar que estava ocorrendo perto da lareira apagada, Junior aos beijos com uma completa desconhecida. Completamente chocada, cutuquei Gigi para que ela fizesse o alarme, Junior é o irmão mais novo dela, que até então nos pensávamos que fosse gay.

Na mesma hora, Gigi abriu sua boca cheia de piercing e começou a chamar o povo pra ver a cena, dei muitas gargalhadas com a cara de chocados de todos, principalmente do tio Jorge e da tia Anita, pais deles. Coitados, uma filha tão liberal e um filho tão acanhado. Posso dizer que são completamente diferentes de mim e de Nando, meu irmão mais velho. Ele é tão normal que as vezes até chega a ser chato. Está na faculdade federal e todos temos o maior orgulho dele, namora com a Raquel, que é uma querida e tem uma banda. A banda dela se chama Stuck on the puzzle. Que em português significa Preso no quebra-cabeça. Um nome um tanto estranho, mas faz sucesso nos bares onde tocam, eles têm até mesmo um fã-clube, a qual eu sou integrante. Meus pais não tem o que reclamar de nós, sem falar que estou entrando no ultimo ano do ensino médio sem nunca ter ficado em recuperação e estou a caminho do vestibular, ah doce vestibular. Há anos que tenho sido atormentada por todos da minha família a ser a futura doutora Bárbara Ferazzo Marconi, pois eu carrego dois nomes de peso que me abrirão portas na profissão. Só que apensar de eu sorrir toda vez que me chamam de doutora, eu não quero ser uma cirurgia de renome mundial, por favor, eu tremeria só de ver um corpo aberto na minha frente, Deus me livre! Mas eu e meu pai fizemos um grande acordo, se eu passasse na faculdade, ele me daria uma viajem para o país que eu quisesse. Claro, se eu ganhasse uns parabéns já estava de bom tamanho, por que a única coisa que eu quero é fazer ele feliz. Ele é minha fortaleza, meu exemplo de superação, e embora eu não demonstre muito isso desde meus oito, nove anos, eu o amo muito! Lembro como se fosse hoje de ver as lágrimas dele na minha festa de 15 anos, naquele momento em que o vídeo da perspectiva passa. É, claro, eu também quero muito que minha mãe se orgulhe de mim. Assim como meu pai, ela é outro grande exemplo que eu vou carregar pro resto da vida. E a quem, eu creio, irei obedecer até que a morte nos separe. Que demore muito pra isso acontecer.

Dez! Nove! Oito! Quando dei por mim, ano novo.

Ergui a taça de champanhe no ar e saudei o novo ano e as novas perspectivas para minha vida. Agradeci a Deus por mais um ano de vida e pedi muita proteção. Quem sabe o que aconteceria?

~*~

Eu nunca havia acordado com ressaca, mas aparentemente não sou tão forte para bebidas quanto pensei. Nossa, tantos coquetéis em aniversários de 15 anos que eu pensei que meu fígado já estivesse acostumado com álcool, aparentemente não. Eu sentia que meu estômago estava querendo sair correndo de mim de tanta agitação dentro dele, e minha cabeça gritava por uma aspirina. Sentei na cama e pus a mão na testa sentindo o tudo girar.

1° - não beber.  Estava em primeiro lugar na minha lista do que não fazer no decorrer do ano.

No mais, aquela manhã de feriado estava mais do que boa, deitada na cama até a hora do almoço, sonhando e acordando o tempo todo e tendo enjoos de vez em quando. Mas a tarde com o sol a pico, minha mãe disse que Gabriel havia me ligado e dito que o pessoal estava todo na praia. Tomei um banho bem geladinho, vesti meu biquíni por baixo da bermuda e da regata, passei um bloqueador solar pra não ficar mais vermelha do que eu já fico no sol e fui pra praia, procurar meu pessoal. Acho, não, tenho certeza, de que fiquei meia hora andando no sol escaldante das 14 horas procurando por um garoto loiro e alto, talvez uma morena baixinha, o indescritível João Pedro e acho que outro louro, mas esse baixo e superbronzeado de tanto surfar.

Avistei Gabriel jogando futevôlei com uma galera desconhecida na beira da praia, típico dele se misturar com pessoas desconhecidas na praia e aumentar drasticamente os seus contatos no Facebook e a sua lista de garotas do dia.

Levei uma bolada. Muito bem, Babi, meus parabéns! Cinco minutos ali e já pagando um micão caindo no chão feito jaca. A sorte é que os caras do futevôlei eram todos feios. Gabriel veio correndo na minha direção não sabendo se ria da minha cara ou se desculpava.  Fiz a cara mais zangada que pude, mas eu não consigo ficar zangada com ele, Gabe, é simplesmente meu melhor amigo desde que eu entrei na escola e só ele me entende melhor que eu mesma. Até meus pais gostam dele, ele seria um genro perfeito se eu não tivesse certo nojo de beijá-lo. Isso agora, por que na época em que eu era apaixonada por ele eu o beijei e muito, mas não deu certo, nunca dá. Gabriel é minha versão masculina e não dá pra namorar uma versão masculina sua.

– feliz ano novo pra você também. – ironizei enquanto eu me levantava.

Ele me ajudou. – desculpe, você parecia uma jaca! – e começou a rir de novo. O que eu falei sobre versão masculina? Até pensamos igual.

 – sem comentários. Cadê o pessoal? – perguntei.

– ah sim, Babi, quero que você conheça meu pessoal. – ele disse apontando para os caras feios do futevôlei. Assenti com a cabeça. – entrei para a equipe, daqui a uma semana já tenho meu primeiro jogo de verdade.

O olhei meio risonha.

– não me olha assim, é divertido. Quer jogar uma partida? – perguntou.

Caí na gargalhada sem a menor vergonha dos outros garotos. Todo ano é a mesma coisa com Gabriel, ele é tão indeciso que entra em equipes de tudo quanto é esporte pra ver se acha uma vocação em alguma dela. Mas a novidade é que ele nunca disputou um torneio, parece divertido.

– não, prefiro ficar sentada aqui vendo vocês. – falei.

Tirei a bermuda e a regata e coloquei minha saída de praia para ficar observando o mar e o jogo. O tempo passou tão rápido que quando dei por mim já eram 17 horas. E meu celular estava tocando freneticamente na bolsa.

– alô?

– Babi, cadê você? Não se lembra de que temos aquela festa de início de ano na empresa do seu pai?

– sério? Não acredito.

– Bárbara...

– ta, mãe, to indo pra casa. Beijo.

Festa de início de ano... Nunca tivemos isso. E por que logo agora? Minha mãe estava muito agitada para que fosse uma simples festinha. Me despedi de Gabriel e dos seus novos amigos e me vesti de novo pra ir embora.

Minha casa estava uma bagunça, meus pais corriam pra todo lugar e Lurdinha, nossa empregada, estava tonta de tanto subir e descer as escadas para pegar coisas pra minha mãe. Subi para meu quarto sem ao menos ser notada. Quanta loucura. Tomei outro banho para tirar a areia e livrar meus cabelos da maresia. Se haveria um jantar tão importante eu tinha que estar bonita. Minha filosofia é a seguinte: meu príncipe encantado pode estar na padaria esperando eu ir lá. Mas não sou eu quem vai comprar o pão, por isso gosto mais do conto da Cinderela aonde ela vai até o baile pra encontrar o príncipe.

Não sou o tipo de menina que fica horas experimentando roupas, peguei um vestido qualquer e o vesti depois do banho, realcei os olhos na maquiagem e eu estava pronta. Fiquei olhando para meu mural de fotos, lembrando do meu último ano e em como havia sido divertido. Geralmente o segundo ano é divertido mesmo.

Sentei no sofá e esperei. 


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