Acordei cansada. Enxerguei Finn e minhas pequenas crianças ali. Ele chorava e eles estavam quietinhos nos braços do pai. Meus filhos.

No início foi um choque. O teste ali na minha frente marcava positivo e tudo que eu queria era que me dissessem que era tudo uma grande pegadinha. Mas não era. Encaramos, eu e Finn, nove duros meses sozinhos. Eu só tinha a ele e ele a mim. Kate me colocou para fora de casa no mesmo dia que soube da gravidez. Minha mãe morreu quando eu nasci e meu pai foi assassinado dois dias depois. Todos consideram suas mortes um grande mistério, mas pra mim é só a lei da vida. Kate, irmã do meu pai, me adotou e sempre foi muito boa, mas era extremamente religiosa e me colocou para rua chorando desesperadamente, já que era sua única opção, por pior que isso fosse.

Finn morava com seu avô de 90 anos, então saiu de casa e nos viramos sozinhos. Todos “desapareceram” quando descobriram da nossa situação. A única pessoa que continuou ao nosso lado foi Santana. Filha do professor de espanhol, a latina era a mais popular do colégio. Ela nunca sequer gravou meu nome, mas quando eu anunciei a gravidez , foi a única que disse “Estou de portas abertas, Hobbit”. Ela nos apoiou durante todo o tempo. Finn trabalhava e ganhava um pouco de dinheiro para nós dois e para ajudar na casa, tudo ia bem, mas eu estava perdida. Eu tinha Finn, Santana e tinha um novo ser dentro de mim, mas estava assustada. Quem não ficaria? Eu tenho 16 anos!

Mas com o tempo, fui percebendo que aquilo tinha tudo pra ser um sonho e não um pesadelo. Estávamos economizando dinheiro e talvez desse para alugar um quarto na casa dos fundos de Santana. Nós teríamos uma família e poderíamos seguir estudando e perseguindo nossos sonhos. Imagina uma pequena Barbra na plateia da Broadway me aplaudindo! Seria perfeito. Tudo se encaminhava para o rumo certo. Nossas vidas seguiriam juntas trilhando esse caminho. Eu, Finn e o pequeno ser que crescia dentro de mim.

Perdida em meus pensamentos, nem percebi quando Finn se aproximou devagar da minha cama. Ele trazia dois pequenos anjinhos nos braços. Sophie e Cory.

–Ei, pequena... olha pra eles! São nossos. Nossos filhos.

Finn chorava e eu instintivamente levei minha mão para secar suas lágrimas, mas ele não parecia perceber que eu tinha acordado.

–Rachel, por favor, acorda!

–Eu to aqui Finn!

Ele continuou chorando desesperadamente. Peguei sua mão e nada.

–Finn?

Ele beijou minha testa e se levantou, colocando nossos filhos nos berços.

Fechei meus olhos e levantei devagar. Caminhei até o berço e toquei no rosto de Sophie e depois de Cory. Ambos resmungaram sentindo meu toque e choraram quando me afastei. Finn se aproximou e eu parei na sua frente, chamando seu nome inúmeras vezes. Ele parecia não me ver e seguiu reto na direção das crianças. Foi como se... me atravessasse.

Um arrepio subiu pelo meu corpo no momento que pensei em algo. Minhas pernas tremiam. Sentia lágrimas involuntárias no canto dos olhos e eu finalmente olhei para a cama.

Vi meu próprio corpo lá, imóvel, cheio de tubos e aparelhos complexos. A confirmação do meu pensamento caiu como uma boba e eu vi o mundo girar a minha volta.

A minha vida estava ali, por um fio e eu não podia fazer nada. A vida iria continuar e eu seguiria presa aqui, invisível, irrelevante, insignificante. Eu seria a telespectadora da minha própria vida, sem mim.