Ainda estou tonta, por causa do meu desmaio. Realmente, a batida que eu levei na cabeça ainda dói, e muito. Estou me segurando para não desmaiar novamente, mas a o que eu estou vendo me ajuda a não fazer isso. O que eu e Luce estamos olhando, não é uma coisa que se vê todo o dia.

Descendo a Colina, há um tipo de acampamento ali, mas não um acampamento de verão comum. Crianças de todas as idades (provavelmente pareciam de nossa idade) estavam fazendo atividades diferentes, algumas estavam aprendendo Arco e Flecha,e outras estavam... Lutando. Isso mesmo, crianças lutando com espadas e tudo o mais. Em outro canto, ha homens com a parte inferior de um... Bode? Burro? Vai saber. Em outro, há homens com a metade inferior de um cavalo. E ainda por cima, um dragão está enrolado naquele pinheiro.

A criança que tinha nos visto volta, com um dos caras metade cavalo do seu lado. Centauro, se não me falha a memória. Ela faz um sinal para descermos da colina. Obedeço. Luce vem atrás de mim, e percebo um certo receio quanto a criança nela.
Chegamos perto da criança, e o centauro pergunta:

- Bem-vindas ao Acampamento Meio-Sangue, quem são vocês? – diz ele.

- Ahn... Eu sou Emma Lee, e essa é minha irmã gêmea... Luce. – digo.

- Eu sou Quíron, diretor de atividades do Acampamento. – diz ele, indicando o acampamento. – Vocês tem alguma ideia de como chegaram aqui?

- Bom, fomos as escolhidas para ser torturadas aqui na Rússia como todo ano... e... então apareceram uns cavalos carnívoros, e uma, hum, mulher chamada Megera nos salvou e disse-nos pra vir aqui. – Diz Luce, tensa.

A garota e Quíron se entreolham, e por fim, ele diz:

- Hum... Vocês sabem das histórias dos deuses, mitologia grega? – Ele pergunta.

- Ahn... Sim, sabemos algumas coisas. – disse a Quíron.

- Então... Eles são reais, as histórias de Hades, Poseidon, Zeus, são verdade. – diz Quíron, e espera por nossa reação.

- Meu Deus... Então quer dizer que lá em cima... O Olimpo está lá com... – Luce faz um esforço para lembrar - Zeus não é? Ele está comandando tudo?

A garota, que ainda acompanha Quíron, dá uma olhada para ele e com um gesto, ele pede para ela ir embora.

- Bem crianças... Não é mais assim, vou lhes explicar, vamos até a Casa Grande. – Ele indica uma casa azul clara, e montamos nas costas de Quiron – e admito, é legal fazer isso em um centauro – E vamos em silencio.

Chegamos na Casa Grande, e descemos dele. De alguma forma mágica, Quiron encolhe seu traseiro de cavalo em uma espécie cadeira de rodas. Ele nos pede para sentar na varanda, e começa a falar:

- Vejamos... Como vocês pensam que é lá no Olimpo?

 - Ahn... Imagino que seja um lindo palácio, com Zeus comandando-o. Hades tem seu próprio palácio no Mundo Inferior, e Poseidon tem o seu no mar o mar. – Diz Luce, olhando para o horizonte, como ela sempre faz quando está tentando organizar os pensamentos.

- Muito bem, a maioria que chega aqui mal sabe do que se trata, porém as coisas não são mais assim. Se vocês vieram dos Estados Unidos e foram as escolhidas para o Dia da Colheita, com certeza sabem da guerra, certo? – Quíron falou

- Sim... Nossa mãe nos contou que os Estados Unidos roubava dos outros países, e que houve uma guerra entre eles e o resto do mundo. E... A Rússia meio que ficou de fora, só ajudando os outros países e foi crescendo enquanto os outros guerreavam. Enquanto isso, os Estados Unidos mergulharam em uma miséria, pois por mais que eles fossem muito fortes, acabou que o resto do mundo ganhou a guerra. Daí criaram o dia da colheita. – Falo, resumindo o que mamãe tinha nos contado alguns anos atrás.

- Bem, cada país tem um deus que o domina. Por exemplo, Afrodite é da França, Hera tem a Índia, e assim vai. Os Estados Unidos eram o domínio de Zeus, e quando este entrou na miséria, ele perdeu o trono do Olimpo. Mais especificamente, Hades, que é o senhor da Rússia, o conquistou quando venceu a guerra. – explica Quíron, calmamente para ver se entendemos.

- Então... Agora Hades é o rei dos deuses e do mundo inferior? – Luce pergunta.

- Sim, ele comanda, e como o centro do poder está aqui, a entrada para o Olimpo também. E, as vezes, os deuses vem aqui na terra e tem filhos com mortais, os semideuses. Já ouviram falar certo?

- Hércules era um filho de Zeus. – Luce, que já está bem mais empolgada com essa conversa, deve ter lembrado de um daqueles livros que ela leu.

- Sim, e vocês duas são semideusas, o que explica a mulher que lhes salvou e pediu para que viessem aqui. – Quíron afirma.

- Espera... Eu e Luce somos filhas de um ser divino? – Pergunto, assustada. Não podemos ser... Semideusas, a gente mal fala com as pessoas, e praticamente só lemos o dia todo. Até onde eu sei, semideuses são heroicos e com muitas pessoas a sua volta. O máximo que fazemos, é atacar uma loira mimada.

- Sim, e vocês sabem o nome da mulher que lhes salvou? – pergunta Quíron, sério.

- Ela disse ser Megera. – Luce diz. Eu não me lembro de ela ter dito o nome, deveria estar desmaiada quando ela falou.

De repente, Quíron fica sério. Acho que ele já tinha alguma idéia de quem pode ser o nosso pai divino, mas pelo visto, não quer nos contar. Ele se levanta da cadeira e diz:

- Venham meninas, vou lhes mostrar o Acampamento Meio-Sangue.

No momento em que eu me levanto, sinto uma tontura e quase caio no chão, mas Luce me segura. Quíron pergunta:

- Emma, você está bem? – diz ele, preocupado.

- Sim, é que quando subimos ao palco, o cara me jogou no chão e eu bati a cabeça com força. – mostro a ele a vermelhidão no meu braço e o enorme galo na cabeça.

- Bom, depois vamos passar na enfermaria, e os filhos de Apolo cuidarão de você.

Faço que sim com a cabeça e o sigo. Tem muitas coisas no Acampamento, quadra, bosque, enfermaria, campo de batalha, um campo de morangos, e coisas que eu não consegui identificar. O que mais me impressionou, na verdade, foram os chalés. Cada um mais lindo que o outro, e todos com uma decoração completamente diferente a anterior, mais não paro para observar todos eles. Estou meio que vidrada no chalé ao centro. As paredes altas de mármore negro, o telhado cuidadosamente encrustado com algumas pedras encontradas no subterrâneo, com tochas azuis nas laterais e detalhes de caveira nas colunas. Quíron nos falou que aquele antigamente era o chalé de Zeus, mas agora é o de Hades, já que ele agora é o olimpiano n° 1.
Já esta de noite, e Quíron nos guia até o pavilhão do refeitório. O jantar é realizado em mesas, cada uma para um chalé diferente, com os filhos de cada deus em sua respectiva mesa.

Como eu e Luce não sabemos quem é o nosso pai, sentamos na mesa de Hermes, que abriga os indeterminados. A fogueira é enorme, e Quíron havia nos dito que ela varia de acordo com o humor do pessoal. A chama está enorme, então os campistas estão bem empolgados esta noite.

Depois de algum tempo esperando até que todos cheguem, ninfas do bosque avançam com bandejas de comida: Mangas, uvas, maçãs, morangos, pêssegos, queijos, pães, churrasco e peru. Nossos copos estão vazios, mais uma menina que está sentada perto de Luce, nos fala que podemos pedir qualquer coisa, que o copo irá se encher.

-Jura? – pergunto, desconfiada de ser uma pegadinha, Sei que Hermes é o deus dos ladrões, então não confio totalmente nos seus filhos.

- Alcoólico não, claro. – Ela garante.

- Hum... Suco de amoras – diz Luce, e seu copo se enche de um liquido rosa avermelhado. – Suco de amoras verde. – Ela diz empolgada, e o suco fica num tom de verde-claro. Ela toma um gole – Nossa, isso tá ótimo.

- Suco de Maçã... Laranja. – Digo, e o copo se enche com um liquido laranja berrante. Luce e aquela garota de Hermes caem na gargalhada, e me permito rir um pouco também.

Percebo que estão todos se levantando, e caminhando até a fogueira.

- O que eles estão fazendo Thiana? – Pergunta Luce para a menina.

- Ah, eu quase me esqueci. Temos que caminhar até a fogueira, e jogar uma porção da nossa comida em homenagem aos deuses. – Ela responde.

Nós três caminhamos até fogueira, e eu jogo um pedaço da lasanha 4 queijos como oferenda. “Por favor, que eu descubra quem é meu pai logo”, penso. Luce joga um pedaço de churrasco com molho BBQ e voltamos a mesa.

Depois de um jantar bem animado – não sei por que, mais parece que hoje todos os campistas estão de bom humor -, os filhos de Apolo cantam canções em torno da fogueira com o resto dos campistas os acompanhando. Como eu e Luce não conhecemos nenhuma daquelas musicas, apenas aplaudimos e tentamos acompanhar o refrão.

Ao fim da jantar, Quíron nos apresenta brevemente para o restante dos campistas, e eu reparo que Luce está observando um ponto especifico entre os campistas, mais não consigo localizar o que pode ter chamado-lhe a atenção. Somos instruídos a ficar no Chalé de Hermes até que descobrirmos quem é nosso pai, e Thiana se oferece para ficar responsável por nós nos primeiros dias, mas Quiron nega. Segundo ele, Thiana tem “coisas” para fazer depois do jantar.

Vamos em silencio até o número 11 e batemos na porta. Um menino loiro abre a porta para nós e diz:

- Ah, vocês devem ser as gêmeas que chegaram hoje, entrem, por favor. Sintam-se a vontade. – ele faz um gesto para entrarmos.

- Obrigada. – Luce diz, tímida. Entramos no Chalé e esperamos ordens do menino loiro. Ele se pronuncia depois que fecha a porta:

- Eu sou Oliver Parker, conselheira do chalé. Vocês podem ficar ali naquele beliche ok ? – ele aponta para um beliche no canto – Se não se incomodam, preciso fazer umas coisas. Já volto meninas. – ele sorri para nós, e se dirige para fora do Chalé.

Eu e Luce vamos até o beliche, e decidimos que minha irmã vai ficar em cima, e eu em baixo. Luce sobe na cama, e encontra um pacote lá em cima.

- Hey Emma, o que é isso? – ela me mostra o pacote.

- Não sei, também tem um aqui em cima dessa cama. – olho para o embrulho.

Uma menina de cabelos castanhos abre a porta e diz:

- Ah, esses embrulhos são seus, meninas. – ela fala secando seu cabelo. – Sou Tifani Haltom, filha de Hermes. – ela sorri.

- Oi, sou Luce Lee, e essa é minha irmã, Emma. Não sabemos de quem somos filhas. – Luce diz, sorrindo sarcasticamente.

- Ah, por enquanto vocês ficarão aqui até saberem de quem são. Abram seus pacotes, por favor. – Ela aponta para meu pacote e dá um sorriso.

Abro meu pacote, e tem 2 camisetas laranjas do Acampamento Meio-Sangue e 1 jeans, além de escova, pasta e outras coisas. Tifani diz:

- Vistam isso amanhã, ok? É o “uniforme” do Acampamento Meio-Sangue.

- Ah, claro. – abro um sorriso.

Vou até o banheiro e tomo um banho lento. A água me acalma, adoro sentir as gotas caírem em mim. Saio do banheiro, e a maior parte do pessoal, incluindo Tifani, está dormindo. Luce espera sentada em minha cama, e diz baixinho:

- Eles disseram que o Acampamento tem regras de apagar as luzes 11 horas, mas como somos novatas, podíamos dormir um pouco depois. – ela entra no banheiro – Vou tomar um banho para dormir, boa noite Emma.

- Boa noite Luce. – deito em minha cama e durmo na mesma hora.

Dessa vez, meu sonho me levou até nossa antiga casa, em Los Angeles. Quíron nos disse que isso é normal, pois somos semideusas. Mamãe esta tomando café, e depois vai a lavoura alimentar os animais e colher as verduras. Ela colhe ovos e alface para o almoço, e os joga em cima da mesa depois da colheita. O que eu não esperava é que ela fosse até nosso quarto e pegasse uma foto nossa, e ficou olhando. Vi lágrimas caírem de seus olhos e sua boca mexer, dizendo baixo:

- Luce, Emma, estejam bem, minhas filhas. – ela limpa suas lágrimas e continua a olhar para a foto, onde eu e Luce estamos abraçadas.

Acordo assustada, me lembrando do sonho. Lembro-me de mamãe sentada na cama de Luce, chorando. Então ponho minha cabeça entre as pernas e começo a chorar, o mais baixo que posso. Sinto falta de minha mãe. Eu achava que não estava fazendo muito barulho, mais percebo que acordei algumas pessoas, e logo, o chalé todo estava de pé. Acho que eles tinham dormido um pouco de mais, e estavam se vestindo rapidamente fazendo muito tumulto, procurando suas coisas, e correndo uns atrás dos outros, tentando recuperar um sapato, uma presilha ou o que quer que tenha sido pego por algum de seus irmãos. Luce diz:

- Você... Teve o mesmo sonho que eu mana? – ela pergunta, e vejo que seus olhos também estão vermelhos.

- Se você se refere a mamãe chorando com uma foto nossa na mão, sim. – esfrego meus olhos e vou ao banheiro trocar de roupa. A camiseta e o jeans ficaram perfeitos no meu corpo, e vi que Luce também estava assim. Ela fala:

- Agora sim parecemos totalmente gêmeas. – ela solta uma risada.

Só ela mesmo para me acalmar e me fazer rir. Seguimos o pessoal de Hermes até fora do chalé, e em uma fila organizada ali. Tifani era a terceira, estava atrás de Thiana e Oliver. Entramos atrás e os seguimos até as mesas. Sentamo-nos e somos servidos com panquecas, ovos, bacon e algumas frutas e nozes.

Peço um suco de maracujá. O café está bom, e ofereço umas castanhas que provavelmente eram a melhor coisa do café para os deuses, e novamente, peço a eles que eu descubra meu pai. Sento-me de novo e a cantoria do chalé começa. Consigo acompanhar o refrão de duas musicas que eu tinha ouvido ontem e Luce havia decorado algumas também. Ao fim do café, Quíron nos cham para frente e grita:

- Estão dispensados! – diz com um mega-fone.

Em um momento, todos gritaram de empolgação, mais subitamente eles ficam em silencio, e olham para mim e Luce. Quíron também parou para ver. Eu realmente não gosto de atenção demais, então pergunto:

- O que foi? O que estão olhando? – Falo, assustada.

Luce também olha para mim, e eu para ela. Assustada, ela pergunta:

- Hã... O que é isso em cima da sua cabeça? Parece um elmo. – ela diz.

- Eu pergunto o mesmo para você. – Aponto para a cabeça dela.

Depois de alguns segundos, assim que a imagem some de nossas cabeças, Quiron nos estuda, e fala em voz alta:

- Salve Emma e Luce Lee, filhas do deus da morte, senhor dos deuses e do mundo inferior, Hades!

Todos olham surpresos para nós, e se ajoelham na hora, como se tivessem lembrado do nada, que eramos princesas, e deveríamos ser amadas. Até as naiádes e dríades se ajoelharam.

Eu e Luce somos as filhas do senhor dos deuses, rei do mundo inferior e do Olimpo, Hades.