Prólogo

            As nuvens escuras avançavam com velocidade pelo céu, tingindo a floresta com a cor da noite. Após dois dias de incessante caminhada, o quarteto feminino decidira parar para descansar um pouco antes de prosseguirem na busca pelas cinzas do armário, as quais estavam na posse de Cora.

            Snow, Mulan e Aurora dormiam, enquanto Emma, acordada, fazia a vigia. Mulan havia insistido para ficar de guarda, todavia, Emma sabia o quanto a guerreira estava cansada, e por este motivo persistira na ideia de ficar acordada por primeiro. Mulan não questionou muito, uma vez que estava mesmo esgotada dos dois dias de viagem. Assim, Emma ficara com o primeiro turno da vigia.

            Sim, ela estava cansada também. Sim, ela queria dormir também.

            Porém...

            Os pensamentos que circundavam sua mente impediam que o sono lhe dominasse por inteira.

            Preocupava-se com Henry. Quando conseguiria voltar a vê-lo? Quando poderia abraçá-lo novamente? Quando olharia nos olhos de seu filho e diria “eu voltei para você. Eu não vou te abandonar. Nunca mais”.

            Para voltar para seu filho, ela seria capaz de fazer qualquer coisa.

            Qualquer coisa mesmo.

            A princesa Swan fechou os olhos, escutando o farfalhar das folhas das florestas.

            Dois dias...

Há dois dias ela, Snow, Mulan e Aurora viajam sem descanso. Havia se passado dois dias desde que Emma conseguira pegar a bússola no pé-de-feijão. Havia se passado dois dias desde que Emma abandonara Hook no pé-de-feijão.

Hook...

No fim das contas, ela acabara o deixando para trás. Por medo. Por medo de confiar demais e ser enganada novamente. Ela havia simpatizado com o pirata, embora não demonstrasse isso externamente. E era por esse motivo que ela descera do pé-de-feijão sem ele. Ela não poderia se arriscar e descobrir que estava errada em relação a ele. Era melhor fugir e deixar aquilo esquecido em um canto da memória.

Os olhos de Emma se abriram quando seus ouvidos capturaram sons de passos de alguém que se aproximava do acampamento.

Agilmente, lançando um olhar para as três mulheres que dormiam, Emma se colocou em pé e começou a buscar pelo lugar de onde o som se originava. Com cautela, avançou, retirando do bolso uma faca de prata que Mulan lhe dera para que ela pudesse se defender.

Seus pensamentos volitaram em Hook.

Será que aqueles passos eram do pirata? Ele havia rastreado por ela, e agora vinha buscar vingança? Ele tentaria tomar sua bússola?

Instintivamente, a mão livre de Emma desceu para o bolso de sua surrada jaqueta vermelha, seus dedos comprimindo a bússola em um ato possessivo e protetor. Ninguém a tiraria de si. Ninguém a impediria de voltar para Storybrooke e para Henry. Ninguém.

Emma avançou mais, decidida a atacar o invasor que se movia por entre as sombras das árvores.

- Eu sei que você está aí, Hook! Desista! – ela ordenou em voz baixa para a sombra, a mão empunhando a faca de prata – Eu lamento ter te abandonado, mas eu tive meus motivos. Eu não vou te entregar a bússola. Eu preciso voltar para o meu filho.

Um vento arisco fez os cabelos de Emma oscilarem, e ela sentiu um calafrio escalar por sua espinha.

- Lamento desapontá-la, mas não seu charmoso pirata – uma voz feminina exprimiu em um tom sarcástico atrás de si.

Emma virou-se com agilidade. Os olhos se expandiram ao denotar Cora parada à sua frente. Por um instante, sua mão tremeu e ela hesitou. Olhou na direção da mãe e das duas companheiras de viagem que dormiam. Era melhor gritar por socorro. Cora era uma inimiga poderosa e perigosa.

- Eu não faria isso se fosse você – Cora acompanhou o olhar de Emma, esboçando um meio sorriso – Acordá-las apenas atrapalharia a conversa que eu quero ter com você.

- Vá embora, Cora – Emma ordenou, apontando a faca na direção da Rainha de Copas – Eu não vou te entregar a bússola.

- Você quer mesmo lutar comigo? – a feiticeira arqueou uma sobrancelha – Você sabe que vai acabar morrendo. E se você morrer... Nunca mais voltará para seu precioso Henry. Coitadinho... – ela suspirou – Ele vai passar a vida inteira perguntando o que aconteceu com sua querida mãe... Tão solitário...

Engolindo em seco, Emma abaixou a faca.

- O que você quer, Cora?

- Conversar com você.

- Eu não vou entregar a bússola para você – Emma avisou em um fio de voz – Não importa o que você me diga.

Cora sorriu sarcasticamente. Avançou com lentidão, circundando Emma.

- Talvez sim. Talvez não. Quem sabe? – a mão da feiticeira tocou o ombro de Emma – Talvez você mude de ideia depois de me escutar. Quero propor um... Acordo.

Os olhos de Emma se estreitaram duvidosos.

- Um acordo...? Quem é você agora? Rumplestilskin?

- Ora, criança, o Senhor das Trevas não é o único que pode propor acordos – Cora riu – E eu garanto que você vai se interessar muito na minha proposta.

Os batimentos de Emma se aceleravam. Olhou novamente na direção de Snow, tentada a chamar por ela.

- E por que eu deveria fazer acordos com você?

Cora juntou as mãos, alargando um sorriso predador.

- Porque este acordo pode te levar de volta para o seu filho.

Silêncio.

Emma estudou a mãe de Regina, oscilando entre o ímpeto de escutá-la e a vontade de esfaqueá-la.

- Por que eu deveria confiar em você?

- Porque um acordo é um acordo. Principalmente aqueles selados com magia. Eles não podem ser desfeitos.

Uma nuvem encobriu a lua cheia no céu, fazendo a floresta mergulhar totalmente na escuridão.

- E qual seria o seu acordo, Cora?

- Um desafio.

Emma arqueou uma sobrancelha. Não queria prosseguir com aquela conversa, todavia, Cora havia lhe dito que aquilo podia levá-la de volta para Henry. E Emma sabia identificar quando uma pessoa estava mentindo. E Cora não estava mentindo.

- Desafio? Que tipo de desafio?

- Hum... – Cora olhou para o alto, como se fizesse uma espécie de jogo psicológico – Um desafio para ser cumprido até o décimo pôr-do-sol, começando a partir de amanhã.

- E o que você quer que eu faça? – ela questionou com a respiração pesada.

Cora riu, e Emma temeu qualquer ideia que passou pela mente da bruxa.

- Este será o acordo: você tem que fazer alguém se apaixonar por você. Você deve conseguir um beijo de amor verdadeiro até o pôr-do-sol do décimo dia. Se conseguir, eu lhe entrego as cinzas e desistirei de voltar para Storybrooke.

Emma engoliu em seco, as batidas de seu coração se tornando mais audíveis.

- E se eu falhar?

- Se você falhar, você me entrega a bússola. E... – Cora suspirou, um brilho macabro atravessando o seu olhar – Seu coração pertencerá a mim.

O silêncio reinou.

Emma levou a mão ao peito, sentindo seu coração pulsar.

Dez dias.

Dez dias para conseguir um beijo de amor verdadeiro, a magia mais poderosa de todas.

Se conseguisse, teria seu filho em seus braços. David e Mary Margaret poderiam ficar juntos de novo. Cora não tentaria chegar em Storybrooke.

- Você vai aceitar?

Dez dias.

Em dez dias, sua vida poderia voltar ao normal.

- Eu... Eu não sei... – Emma balbuciou – Como posso ter certeza de que você não está me enganando?

- Acho que você consegue saber se eu estou mentindo ou não. E então, vai aceitar o meu acordo? Vai abraçar a única chance de voltar para seu amado Henry? Vai livrá-lo do fantasma do abandono?

Henry.

Henry solitário.

Henry abandonado.

A sensação de quando Neal a abandonou regressou. A eterna sensação de ter sido abandonada pelos pais a preencheu. Era amargo demais.

Emma apertou os olhos, uma agonia crescendo dentro de si.

Mary Margaret... Mulan... Aurora... Sinto muito... Mas eu preciso fazer o que estiver ao meu alcance para voltar para meu filho. Não posso abandoná-lo de novo.

Os olhos se abriram.

Não cogitou. Não hesitou.

Por Henry.

- Eu aceito.