Futuro Negro escrita por GDalcin
Eu e o Príncipe Knox aguardávamos em silêncio, no berçário. Não ouvíamos nada do lado de fora, e pela janela, não víamos ninguém. Então sua voz cortou o silêncio.
--Neófito, o que está fazendo junto ao criminoso Eric de Leon?
--Cri-criminoso, senhor?
--Ele não lhe contou, não é mesmo? Nada sobre seu passado? Sobre ele ser um assassino?
--Não sei nada sobre Sir Eric, senhor Príncipe. Mas ele me protege, e me ensinou muito.
--É claro. E assim ele garante que você fique do lado dele. Eric é um assassino de nossa raça. Um diablerista. Não vale mais para mim do que um rato do sabá.
--Senhor... o que é sabá?
O Príncipe estacou.
--Ele ainda não te ensinou isso? Os sabá são o lixo de nossa raça. Uma corja de assassinos desorganizados e brutais. São vampiros que ignoram a Máscara e suas leis. Isso, pelo menos, imagino que ele tenha ensinado?
Concordei com a cabeça. O Príncipe continuou.
--E o maior crime, que torna os sabá tão vis... A Diablerie. Matar outro vampiro, sugando seu sangue... e sua alma. Este é o crime de seu querido protetor.
E então, um homem alto, com a cabeça raspada e um pé-de-cabra nas mãos surgiu pela porta. Ele começou a correr em nossa direção, quando o Príncipe ordenou:
--Enfie sua arma em sua garganta.
E o homem, obedientemente, abriu a boca e rasgou o interior de seu pescoço com a ponta afiada do pé-de-cabra. Sem conseguir dizer uma palavra, o homem morreu.
--Está vendo? Aquela Nosferatu usa humanos como servos. Muito provavelmente, tenha carniçais também. Vamos sair daqui, antes que mais deles surjam.
--O quê? Não, não podemos... temos de esperar Sir Eric e Linus.
--Silêncio, neófito. Estou com sede... Não pude beber esta noite, e não quero me demorar muito.
Dito isto, ele saiu pela porta que dava no saguão. Eu o segui, relutante. Não ouvíamos nenhum som nos corredores.
--Não acho que tenha sido uma boa idéia, senhor... – Sussurrei.
--Silêncio! Acho que eles vieram por aqui... – Ele respondeu, e entrou em um corredor.
Continuei caminhando atrás dele. O hospital estava todo imundo de sangue. Ele continuou caminhando, olhando dentro de salas, até que ouvimos um som abafado.
--Tem alguém aqui – disse o Príncipe. Entre, e veja o que é.
--Quê? Nem pensar!
--Ande logo, antes que alguém venha! – Ele me encarou com um ar sombrio. – Entre na sala.
Senti minha mente ficar nublada. Sem pensar, abri a porta da sala e entrei.
Diante de mim, havia um filme de terror trash. Uma cena escatológica, que demorei a compreender completamente.
A bela motociclista estava acorrentada a uma cama fixa no chão. Suas roupas de couro estavam rasgadas, e também sua pele; ela estava bastante branca e coberta de sangue. Suas pernas foram quebradas em mais de três lugares cada uma, e ela tinha cortes por todo o corpo. Sua cabeça quase não tinha pele, quase se podia ver o crânio.
--Vo-você está bem? – Gaguejei.
Ela não tinha forças para responder. Sua voz era apenas um chiado rouco.
--Você precisa de sangue para se regenerar... droga. Beba o meu.
Eu estendi meu braço, e coloquei-o em frente à sua boca. Ela mordeu meu braço com violência, e achei que ia arrancá-lo.
Quando ela terminou, pude ouvir o som de seus ossos estalando.
--Desgraçado, você. O que está tentando?
--Salvar você. Você está bem?
--Bem o suficiente pra matar alguém.
--Pois então canalize suas energias fora desta sala, escória. Acho que aqui vêm eles. – Disse o Príncipe.
--Quem está chamando de escória, seu... – Disse ela, quebrando as correntes e se levantando. Seus ferimentos já estavam fechados e a pele lentamente cobria o rosto.
Dois homens surgiram, atirando com submetralhadoras. O Príncipe recebeu vários tiros no peito e na cabeça, e caiu ao chão. Eles entraram na sala, e a motociclista os recebeu saltando sobre eles e golpeando-os com as correntes. Com dois golpes, ela partiu seus crânios, e eles caíram mortos.
--Nada mal – Disse o Príncipe, deitado no chão. Não derramara uma única gota de sangue. Ele se levantou. – Mude um pouco sua atitude, e posso ter um emprego pra você, caso meu xerife morra.
--Xerife? É você, o tal do novo Príncipe?
--Novo? Nem tanto. Já estou no cargo a alguns meses.
--Que patético. Não trabalharia pra você, nem em um milhão de anos, almofadinha. Vamos embora, garoto.
A motociclista saiu do quarto e começou a andar pelos corredores. Fui atrás dela, e Sr. Knox vinha logo atrás, quando ouvimos uma estranha voz. Era feminina e bastante esganiçada.
--Não vão conseguir fugir...
Ela parecia vir de muito longe... Continuamos caminhando
--Aonde estão indo? Este é o caminho errado...
A voz parecia estar muito próxima. Entramos em outro corredor.
--Cuidado onde pisam...
Eu me virei, para procurar de onde vinha a voz. Não via nada.
--Estão perdidos, meus ratinhos? Voltem para sua cela, não é seguro...
Passamos por uma sala que tinha a porta aberta. Podia jurar ter visto uma mulher horrenda sorrindo para mim, com um machado de lenhador nas mãos. Mas estava olhando fixamente para lá, e não havia nada. Devia ser apenas meu medo falando mais alto.
--Cuidado com seus medos – Disse a voz.
Naquele instante, o Príncipe foi arremessado para o lado. Um imenso machado, sujo e amassado, o acertou em seu flanco. Carregando o machado estava a vampira que sequestrou a motociclista.
A mulher era terrível. Coberta de feridas, calombos e pelos. Sua aura negra era assustadora. Seus braços eram finos, e mesmo assim, levantavam o enorme machado.
A motociclista me jogou para trás, e ergueu os punhos para enfrentar a vampira.
Antes mesmo que eu caísse ao chão, Linus surgiu atrás da vampira, e atravessou seu peito com um soco. O coração da vampira foi arrancado, e ela se desfez em uma nuvem de cinzas.
--Você está bem, meu senhor? – Disse Linus.
--Você demorou, seu imprestável. – Respondeu o Príncipe. Ele sangrava um pouco, mas parecia bem.
--Onde está Sir Eric? – Perguntei.
--Encontramos outra vampira. Eric me pediu para voltar para vocês, enquanto ele cuidava dela...
--E já resolvi este problema, também. –Era Sir Eric, surgindo de um corredor. Ele carregava em seus braços uma vampira muito semelhante à que Linus matara. Ele atravessara o seu peito com uma perna de cadeira. – Achei que seria uma boa ideia interroga-la, ver o que ela sabe do Sabá local.
--Já podemos sair deste albergue, então? Linus, vamos embora. – Disse o Príncipe, rumo a saída do hospital.
Linus saiu atrás de Sr. Knox. Sir Eric ia um pouco atrás, e eu ia começar a seguí-lo quando senti algo puxar meu braço para trás.
Era a motociclista.
--Eu... preciso agradecer? – Ela perguntou.
--O quê?
--Por você ter me salvado.
--Eu... não fiz nada.
--É verdade. – Ela riu. – Você não fez merda alguma.
Eu ri, sem saber o que fazer.
--Eu gostei de você, garoto. Como se chama?
--Eu... Sou Matthew.
--Meu nome é Heather.
Ela me soltou, e saímos do hospital.
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