Não aguento mais essa situação, não conseguir falar com a Carla é horrível. Ela é minha amiga, digo, era ! Não dá ! Tenho que dar um basta nisso, mas como ? Tenho que falar com ela, mas não sei o que dizer. Respira Roberta, respira...

Dei um longo suspiro com os olhos fechados, e bati na porta do banheiro, sabia que ela estava lá pela radio-corredor Vitória.

Roberta: Carla ?

Silêncio.

Carla, eu sei que você está aí, estou vendo seus pés, e ... SANGUE ?!!!

Abri a porta rapidamente, e me deparei com uma cena que nunca pensei ver: Carla estava se cortando, cortava o próprio pulso.

Um sentimento de culpa invadiu minha mente, remorço, talvez. Foi como um choque, minha cabeça doía só de pensar que a culpa dela precisar disso pra se sentir bem .

Roberta: Carlinha ? – lancei um olhar de como quem perguntava ‘’por quê ?’’

Carla: SAI DAQUI ROBERTA, ME DEIXA EM PAZ ! – me lançou um olhar de pena, pena de si mesma. Com um pouco de ódio. Conheço esse olhar, pensei. –

Roberta: Já tive uma amiga que se cortava, eu posso te ajudar a parar.

Carla: E quem disse que eu quero parar ? É a única coisa que me dá prazer, que faz a dor que eu sinto aqui dentro vir pra fora. E essa dor do corte é muito menor comparada a dor de uma traição. – pude ver as lágrimas descendo dos olhos dela, mas ela parecia não se incomodar com essa situação, me lançava um olhar frio. Não consegui enxergar o brilho no olhar que ela tinha antes. –

Roberta: E a dança ? Você tem a dança. Sei que se sente bem dançando. Não é melhor dançar pra dor ir embora do que se cortar ?

Carla: A dança não adianta mais.

Carla foi embora como se nada tivesse acontecido, como se o que ela está fazendo com o próprio corpo fosse normal.

Mandei uma mensagem pra Alice falar com ela, explicando tudo que acabou de acontecer, e fui pra casa com o Tomás. Droga ! O Tomás ! Quando ele descobrir vai se sentir muito culpado.

P.O.V Alice.

Como é que eu não percebi ? Como ela conseguiu esconder isso de mim ? Como eu não vi os cortes ? E o comportamento dela mudou, que tipo de amiga eu sou ? Essas e outras perguntas ecoavam pela minha mente enquanto eu procurava pela Carla. Mandei uma mensagem que queria conversar com ela na cantina, geralmente não é um lugar muito tranquilo, mas agora todos foram pra casa.

Carla: Estou aqui, pode falar. – disse revirando os olhos, como se não se importasse com o que eu ia dizer, seja lá o que fosse. –

Alice: Ah, Carlinha... A Roberta me contou.

Carla: Argh ! Aquela fofoqueira !

Alice: Ela estava certa em me contar. Na verdade, eu estou errada em não ter percebido, Desculpa por ter te deixado só esses dias, você se afastou, e eu não fiz nada pra você voltar.

Carla: A culpa não é sua, você sabe muito bem de quem é a culpa.

Alice: Culpa de quê ? De se amar ?

Carla: Então você acha certo eles me traírem e ao Diego desse jeito ? Vai mesmo defender os dois depois do que eles fizeram ? Como se sentiria se o Pedro te traísse ?

Alice: Não foi isso que quis dizer.

Carla se virou e foi embora sem ouvir direito o que eu tinha pra dizer.

Eles não tem culpa de se amar, o que eles fizeram não foi certo, mas a banda não pode acabar por isso. – pensei. –