Merlin acordou perto de uma lareira quentinha, sentado em uma cadeira velha e acabada e enrolado em mantas secas e quentinhas, poderia ter achado que estava em Camelot, se não houvesse notado a enorme bola branca próxima ao fogo e a sua cadeira.

O animal se moveu e levantou a cabeça em uma saudação silenciosa depois voltou a deitar, apesar disso, tudo parecia tranquilo, nem mesmo Morgana havia dado sinal, se lembrava vagamente de ver seu rosto angelical coberto pelo espesso manto de lá negro, mas depois adormeceu e não chegou a ter certeza.

O animal levantou a cabeça novamente quando uma sombra negra passou por ali, afagou a cabeça e aumentou as chamas.

- Já está cordado? – ela perguntou ainda avivando, Merlin não respondeu então ela se virou, seu rosto tão duro e frio como qualquer coisa naquele lugar – Ainda consigo sentir seus olhos na minha nuca.

- O que quer? Por que me salvou? – Perguntou alarmado.

- O jantar ainda está de pé se você resolver esperar a nevasca passar – respondeu indiferente a sua pergunta.

- Me responda Morgana – agora um sorriso cruzou os lábios pálidos quando ele a agarrou pelo punho a forçando a ficar próxima.

- Não pense que quis, Aithusa estava me enlouquecendo. – ela respondeu com um sorriso frio em seus lábios e olhos. – Eu venho chamar quando o jantar estiver na mesa.

Ela saiu da sala e Merlin passou o tempo todo encarando o fogo, Aithusa continuava calada deitada ao seu lado, sem falar nada, o quarto em si era puro silencioso, Merlin tinha plana consciência do crepitar do fogo na lareira, tão alto que, naquele silencio, era quase ensurdecedor e da neve que caia lá fora, passaram-se horas antes que Morgana voltasse, então Aithusa foi até ela, deixando Merlin sozinho, imerso em seus pensamentos.

As palpitações em seu coração estavam a mil quando deixou a sala, o que havia dado em sua cabeça para ir atrás dele, tinha medo que Aithusa lhe respondesse, mas precisava arriscar, sabia que era demais, mas gostava de correr riscos, e se ele soubesse que ela havia ido até ele, enfrentado toda aquela neve por ele, se ele soubesse talvez fosse mais fácil dele passar para seu lado, ele ficaria vulnerável, sabia que ele iria ficar, não seria difícil.

- Não coloque a mesa aqui – falou o jovem dragão – Leve para lá, ele está debilitado ainda por causa do frio.

- O que você está realmente planejando? – perguntou Morgana

- Apenas quero ver você e ele felizes – respondeu o dragão – E ele é a passagem mais segura para a tomada de Camelot, a senhora sabe disso não?

- Sei, - respondeu olhando para seus dedos – Você quer que o faça rei não?.

- Sim – respondeu Aithusa.

A mesa foi posta no quarto como Aithusa havia sugerido,o dragão acendeu a lareira e se pôs em direção do local mais quente do castelo, assim Merlin e Morgana ficaram a sós no quarto. O silencio predominava no quarto sendo quebrado apenas por pequenas perguntas como “mais vinho?” ou relativos.

- Mais vinho? – perguntou Morgana novamente depois de algum tempo.

- Não – respondeu Merlin – Já entende o que quer. – falou com um meio sorriso, balançando a taça entre na mão, esse pequeno gesto prendeu Morgana de uma forma completamente inexplicável.

- E o que eu quero Merlin? – ela perguntou realmente não entendia o que ele queria dizer com aquilo, mas não ligava, manteve a voz firme e sedutora.

- Quer que lhe conte quem é Emrys. – ele respondeu.

- Pensei que já havíamos resolvido essa história, - ela falou bebendo um longo gole de sua taça – Mas se quiser me contar depois de tanto tempo, fale. – Merlin estava ao seu lado, ele ergueu-se e tirou a taça da mão dela e a levantou.

- Quem pensa que é? – Le viu o sorriso escondido em seus olhos era claro que ela estava se divertindo com aquilo, o que só fez sua raiva crescer.

- Conte-me – disse com a voz sedutoramente acariciando seus ouvidos, naquele momento Merlin já não sabia nem mais o que queria, a diversão já havia chegado a ele.

- Vamos, sabe muito bem que apenas um dragonlord tem poder suficiente para ser o mais poderoso bruxo de todos – enquanto isso, seus dedos brincavam de desatar as amarras do vestido de Morgana – Vamos um chute. – os olhos de Morgana estavam esbugalhados, tão grandes quanto maças de guerra.

- Não pode ser – ela balbuciou tentando se afastar – Você não... -  não podia, ela jamais admitiria que fosse assim, aquele maldito e mentiroso servo, ela batia nele e tentava chuta-lo, mas ainda sim continuava presa, não conseguia desviar o olhar de seus olhos e nem seu corpo daqueles braços fortes – ME SOLTE

Merlin a continuava pressionando contra seu próprio corpo, tinha um grande medo que ela se soltasse, já a havia visto com raiva uma vez então fez a única coisa que estava em sua cabeça, e a beijou.

Para Morgana foi como perder o chão e no segundo seguinte se descobrir pronta para voar, como quando andou sobre Aithusa pela primeira vez, em um segundo ainda se debatia como um peixe e o seguinte só queria se segurar forte o suficiente para que aquele momento não fosse embora, era como se aquilo fosse simplesmente a coisa mais certa do mundo, era ela e Merlin como deveria ter sido desde o inicio.

Ela sentiu o vento frio do inverno do norte quando o vestido escorregou pelo seu corpo, também não fazia questão de evitar que isso acontecesse.

- Merlin – ela sussurrou enquanto ele a sentava na cama.

- O que foi? – ele perguntou, ambos haviam parado, a lua cheia brilhava pela janela, Morgana não tinha certeza de quando havia o deixado nu, mas sabia que ambos estavam da forma como vieram ao mundo, sob a luz clara da lua cheia e do céu repleto de estrelas, sentados um de frente pro outro.

- Eu te adoro – ela falou sem pensar muito, o homem pegou suas mãos e as beijou e depois fez o mesmo com sua testa e seus lábios.

- Eu também te adoro Morgana – “mas vai embora” pensou ela, mas não falou, aquele momento era muito perfeito para ser quebrado dessa forma, Merlin então se afundou nela, da mesma forma que ela havia ouvido tantas vezes antes, da mesma forma que seu povo, o povo dele e dela, fazia, todos os anos no começo da primavera pedindo por uma boa colheita, da mesma forma que muitos amantes faziam, a dor a fazia chorar, mas ele estava ali para capturar todas as lágrimas e transforma-las em um sorriso doce.

Merlin a abraçou forte quando chegaram ao ápice, sabia que aquele era um momento especial para ambos, e não simplesmente pela troca de fluidos humanos, mas também pela forma como as magias se misturaram, pela forma que um aceitou a magia do outro, Morgana caiu exausta sobre ele.

- Cansada? – ela não respondeu, mas aninhou-se da forma mais confortável em seu peito, não havia muito mais que uma manta de lã para cobri-los, mas nenhum dos dois sentiu falta, a troca de calor entre eles os manteria aquecidos à noite toda.-  Durma.

- Prometa que não vá embora - pediu ela, que foi retribuída com um beijo no topo da cabeça.

- Apenas durma – aquilo não era o que esperava, mas foi apenas o necessário para que ela adormecesse.