Sweet Cherry escrita por Kamiille


Capítulo 28
Capítulo 28 - Priminha distante.


Notas iniciais do capítulo

Oi, aqui ainda é a Rebeca, tem alguma leitora isso aqui ainda?



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A vida é horrível.

Já tinha obtido essa conclusão outras vezes. Nunca deixou de ser verdade. Agora só estou dando sentido a frase na realidade.  

O teto branco pra encarar é a única coisa que resta. Já faz uma semana. Não tenho nada pra fazer.

Aliás, até teria. Poderia entrar como VIP em qualquer festa chique ou em qualquer outra. Poderia ir em qualquer parque, show, evento. Compra o que eu quiser, na quantidade que eu quiser. Sim, posso fazer tudo o que eu quiser enfim.

Errado.

Não posso. Porque não vejo sentido em fazer nada disso. Minha mente não responde, meu corpo não reage. O teto branco encara o corpo afundado na cama.  

Minha situação é bem nostálgica. Trancado no quarto de um hotel. Cada semana, um hotel diferente, cada dia, uma cidade diferente, cada hora, um país diferente. Voltei a ser um cachorrinho dos meus pais.

Não, Bugs tem mais sentimento da parte deles. Voltei a ser uma bagagem pra eles.

Aos quatro anos era até emocionante quebrar quarto por quarto de cada hotel em busca de atenção. Eu só queria que eles largassem um pouco aquele computador, tirassem aquela porcaria de terno e olhassem pro filho deles. Nem que isso significasse que eu tinha que fazer chover pena com aqueles enormes travesseiros de ganso. No fim era em vão, eles passavam o cartão de crédito em uma máquina, meu estrago estava pago, sem problemas, sem preocupação. Nem um sermão eu recebia. Aquela criança solitária sentia falta nem que fosse de um sermão.

Hoje minha mente percorre túneis da minha vida. Quando Leny me tirou do inferno e me levou pra morar com ele, como Lysandre...!

As penas de outro travesseiro de ganso socado pairam no ar. Lembrar dele é uma das poucas coisas que traz reações ao meu corpo. Reação de ódio.

Então ela chega iluminando o túnel. E desaparece antes que eu a alcance. É frustrante. E dói. Ao mesmo tempo que me faz sorrir ao mergulhar nas lembranças, o coração disparara quando pensa sobre. É o inexplicável. É, aquilo lá.

Batem na porta, já é meio-dia? Recebo refeições de 3 em 3 horas. Ou será que já vamos para outro continente em um imprevisto de negócios?

Murmuro um “entre” e assim que a porta abre sinto um perfume familiar. Não a fragrância que eu queria, algo mais especial. Deve ser coisa da minha cabeça. Ouço rodinhas no piso de mármore do hotel e me convenço que é mais uma camareira.

Não é como se as coisas fossem melhores agora. Tudo que eu faço é comer e suspirar. Relembrar, esmagar alguns travesseiros ou dar um sorriso vacilante, mas verdadeiro.

Há passos na beira da cama. Não me levanto. Um corpo eriçado debruça sobre o meu quase morto. Mãos empolgadas passam pela minha cocha, subindo pela barriga e parando no ombro. Meus olhos estão abertos, porém tão distantes que não enxergo quem me beija, mas faz com gosto, vontade e sede.

-Credo Castiel! Parece que eu tô beijando um defunto! Eu sei por que acredite, eu já fiz isso. Não é uma experiência agradável. –O corpo quente e cheio de vida se deita ao meu lado.

Viro o rosto e vejo-a sorrindo pra mim. Becca. Rebecca. O cabelo loiro preso em coque no topo da cabeça, os olhos que me lembravam pedras raras, azuis esmeralda, sempre com aquele brilho intenso. Pequenos e quase imperceptíveis pontinhos que fazem lembrar sardas na pele branca e enevoada. Essa é Becca.

Minha prima de segundo grau. É prima de consideração, meu tio (adotado) cafajeste faz tanto filho por aí que poderia mover uma montanha se juntasse todos meus primos. A ex-esposa dele, mãe de Becca, Leninha guarda grande rancor dele e inclusive a própria Becca o odeia.

-Como anda meu priminho lindo? –Ela tira um Iphone do bolso, ignora a notificação de 17 ligações perdidas e 350 mensagens, e volta o rosto pra mim.

-Oi Becca. –Respondo.

-Ah! Castiel! O que é isso? Vamos, pode se levantar, eu não vim até aqui pra você ficar mofando aí não. Vai, vamos nos divertir, tem uma balada ali na esquina que eu quase desisti de vir te ver pra ficar por lá. –Ela começou a puxar meu braço.

-Boa sorte. Divirta-se por mim.

Ela largou meu braço.

-O que você tem hein?

-Sono. –Como se eu tivesse dormido em algum momento.

-É, sua olheiras dizem isso. Ok, é simples!

Becca saiu do quarto em direção ao banheiro, deixei meus olhos se perderem novamente no teto branco, me desligando do mundo...

-AAAARGH! O QUE VOCÊ ESTÁ PENSANDO?! –Gritei.

-Está acordado agora? –Becca balançou o balde, agora vazio, ao lado da cabeça e passou os olhos sobre a minha roupa e a cama ensopadas.

Ela conseguiu o que queria. Me levantei da cama friamente, fui até o banheiro e tirei a blusa. Becca que estava me observando da porta, chamava a camareira para limpar a bagunça. Não hesitei. Peguei o balde, enchendo-o discretamente de água e joguei, molhando minha inteiramente minha prima.

Seus olhos azuis se dirigiram a mim. Porém, em vez de estarem me fuzilando como eu esperava, estavam me provocando. Foi aí que percebi que a blusa branca dela é exatamente transparente na água.

Como qualquer garoto, achei aquilo sexy. Becca era linda, muito linda. E sabia disso. Ela soltou o cabelo loiro e vi mechas azuis na ponta dele que se escondiam quando ela usava coque.

Fechei a porta com força. Como qualquer menino, eu estaria louco pra pular em cima de Becca. Como qualquer coração partido, isso era difícil.

Não me entenda mal. Por que eu mesmo não entendo; nem mal, nem bem. A confusão da mente.

Tirei o resto de roupas molhadas e entrei no chuveiro, me dando aquele tempo para refletir.

Será que foi certo o que fiz? Deixar Kamile sozinha... Não foi isso que fiz. Eu a deixei com a escolha dela. O que mais poderia fazer? Fugir é mais fácil. Sussurrou minha mente. Eu não estava fugindo. Do que eu estava fugindo? Por que eu fugiria dela? Não. A pergunta é: pra que ela ainda precisaria de mim lá? A resposta: ela não precisa. O que me restava era ir embora.  

Desliguei o chuveiro uns 5 minutos depois. Vesti de novo a calça jeans que estava usando já que era a única coisa que não havia molhado.

Quando sai do banheiro Becca estava com um vestido de balada, cabelos já secos e soltos, salto alto, passando maquiagem em frente o espelho. Ela virou pra na minha direção e sorriu.

-...

Ela deu uma piscada.

-...

E mesmo assim não me vieram palavras. “Desculpa” não parecia apropriado... Ah, deixa quieto, ela nem está ligando mesmo.

Estava esparramada pela cama a mala dela, o que eu percebi ser o que fazia o som de rodinha no piso, não o carrinho de alguma camareira. Coloquei a primeira camisa que minha mão pegou na minha mochila, sequei desleixadamente o cabelo na toalha, mas antes que eu sentasse na cama Becca veio até mim.

-Nem pense em entra em modo morto gatinho, a gente vai pra balada!

Olhei pra ela em um “nem pensar”, mas ela não me conhecia o suficiente para entender meu olhar.

Sem saída, acabei indo na balada. Bebi todas junto com ela. Aquela menina era louca, mas estava me tirando da fossa. Dançamos juntos até a noite acabar.

Não sei como chegamos em casa estando tão bêbados, mas fizemos. Logo que fechei a porta Becca me encostou contra a parede e me beijou de novo. Do mesmo jeito, com vontade. Dessa vez correspondi.

O que passou na minha mente? Se aquilo estava certo? Se estava errado? Percebi ali, estando bêbado, que o que eu mais precisava era mandar todas as minhas perguntas se foderem. Meus sentimentos despedaçados, o mesmo destino. O que adiantava ficar remoendo tudo aquilo? NADA!  

Puxei Rebecca contra mim. Ela se animou, e acabamos indo pra cama. 


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Notas finais do capítulo

Bom, não me confundam com essa "Rebecca" da história, o meu Rebeca tem um "c" só. Enfim, a vaga especial era fazer a priminha de Cast e quem mandou a Rebecca com c² foi a Aya Ume Chery (http://fanfiction.com.br/u/304140/) aqui está a descrição que ela mandou:
"Sugestões para nova personagem.
—> Nome : Rebecca Aizenberg
—> Aparencia : Loira com as pontas azuis, Pele branquinha, Olhos Azuis Esmeralda.
—> Personalidade : Ela gosta de Teatro e Moda. Ela gosta de ir em festas se divertir, Não gosta de compromissos , Gosta de brincar com os corações dos meninos, por seu pai ter traido e abandonado sua mãe Helena(Leninha) quando era mais nova."
Fica um grande obrigada pra ela e para todas as outras que tiveram o trabalho de mandar uma personagem. -Palavras da Kamila ;)