Noah Parker E O Refúgio Dos Deuses escrita por Duda


Capítulo 9
Nunca pegue carona com uma velha maníaca


Notas iniciais do capítulo

Desculpe o atraso gente. Estava ocupada com umas coisinhas aí.



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 -- O que diabos é aquilo? – perguntei, olhando para a criatura que estava a uns 5 metros à nossa frente.

 Tinha uma cabeça de leão, uma juba suja de um líquido vermelho, – que eu tinha quase certeza de que era sangue – corpo e cascos como os de um bode gigante. A cauda do bichano era uma serpente. Literalmente uma serpente.

 -- Uma Quimera – respondeu Anne.

 -- Uma o quê?

 -- Quimera, Noah.

 O monstro gigante rosnou como se estivesse confirmando. Saquei a espada nas minhas costas e partimos para cima da Quimera. Quatro pessoas contra um monstro parecia fácil, mas aquele bicho era muito rápido e ágil.

 Ela desviava de grande parte dos nossos golpes, atirando fogo depois.

 Anne e Sam lutavam contra a parte de trás, que tinha vida própria. As serpentes eram rápidas e assassinas, mas eles pareciam estar dando conta de tudo.

 Trisha e eu cuidávamos da cabeça de leão. Golpeávamos ali e aqui, mas a criatura parecia não sentir nada.

 -- Trisha distraia ela! – gritei, indo para o outro lado da criatura. Eu só esperava que Sam e Anne mantivessem a cobra ocupada.

 Trisha rolou para o lado, desviando de uma labareda de fogo, mas estava suando e parecendo cansada. Não íamos durar muito tempo. Eu tinha que fazer alguma coisa.

 Corri para ajudar Sam e Anne, quando escutei um grito. Trisha estava caída no chão e a criatura estava prestes a lançar fogo sobre ela.

 -- Sam! – foi a única coisa que consegui gritar.

 Ele saiu correndo, esquecendo-se da cobra, e foi em direção à cabeça da Quimera, lançando água – que eu não sabia da onde tinha vindo – sobre ela.

 O animal simplesmente jogou a cabeça para o lado, acertando Sam em cheio. O garoto foi parar à uns 5 metros de distância, inconsciente. Trisha se levantou e saiu do campo de ataque do monstro.

 Anne ainda estava tendo trabalho em acabar com a cobra, por isso fui ajudá-la. Corri para o lado dela, mas assim que o fiz, a cobra lhe deu uma rasteira. Não parecia nada demais, porém quanto vi o rosto de Anne eu soube que algo havia machucado-a. 

 -- Seu leão idiota!

 A raiva cresceu dentro de mim, apoderando-se sobre meus movimentos. Levantei a espada acima da minha cabeça e a abaixei, em um golpe fatal. Quando abri os olhos, o rabo da criatura estava separado do corpo. Uma enorme serpente – que inacreditavelmente ainda estava viva.

 Peguei a espada e, sem pensar duas vezes, cravei-a direto na cabeça do réptil. A cobra se transformou em areia e logo sumiu.

 -- Anne!

 Corri para o lado dela, que estava segurando a perna direita.

 -- Noah cuide da Quimera! Eu ficarei bem – disse ela.

 -- Não. O que houve? A cobra te mordeu?

 -- Não sei... mas está doendo.

 Olhei para Trisha, que aparentava sinais de cansaço. Ela não conseguiria cuidar da Quimera sozinha. Tirei a mochila das minhas costas e dei-a para Anne, que estava sentada segurando o tornozelo.

 -- Tem um pouco de ambrósia aí dentro, num saquinho. Pegue-a. Coma um ou dois gominhos ok? Não mais do que isso.

 Ela assentiu, abrindo o zíper da mochila. Corri para ajudar Trisha, que já tinha uns arranhões bem feios nos braços e no rosto.

 Avancei contra a Quimera, levantando a lâmina no último instante. Acabei acertando seu pescoço, mas nada aconteceu.

 -- Não era para ela estar morta já? – perguntei para Trisha, enquanto abaixávamos no chão para desviar-nos de uma labareda.

 -- Os monstros estão mais fortes... não sei o que está acontecendo... Já era pra ela estar morta sim. Acho que temos que dar um golpe fatal e acabar com ela de vez.

 Levantei, suando por causa do calor das chamas e dei a volta na Quimera. Trisha teria que segurar a barra sozinha por enquanto.

 A Quimera pulava e se mexia rapidamente, tornando impossível o meu plano.

 -- Faça ela ficar quieta! – gritei para Trisha, um pouco desesperado.

  A garota assentiu e começou a atacar o monstro, não dando chance para que ele se mexesse. Era a minha hora. Corri para perto da Quimera e pulei o mais alto que pude, subindo nas costas da criatura. Trisha me olhou como se eu tivesse assinado minha sentença de morte.

 O monstro começou a se sacudir, tentando se livrar de mim, mas eu já havia ganhado um campeonato de touro mecânico, então era fácil me segurar. Bem... não tão fácil assim. A Quimera ainda podia cuspir fogo.

 Então, duas coisas aconteceram ao mesmo tempo. Eu levantei a espada e cravei-a nas costas do monstro, perfurando o seu coração. Mas, antes disso, a Quimera soltou uma labareda de fogo em torno de si mesma e aquilo virou um verdadeiro inferno.

 Assim que cravei a espada no monstro, pulei rapidamente para o mais longe. Minhas roupas estavam quentes, mas não literalmente pegando fogo.

 Vi a Quimera se contorcer até virar pó e, enquanto isso, ela rugia mais feroz do que nunca. Por fim, só sobrou a minha espada no chão. Levantei-me e peguei-a, colocando-a nas costas.

 -- Trisha veja se Sam está bem. Cuidarei de Anne.

 Andei em direção à filha de Atena, que parecia melhor.

 -- Está melhor? – perguntei, oferecendo-lhe minha mão para que ela ficasse de pé.

 -- Sim. A ambrósia me curou completamente. Obrigada, Noah – disse ela, devolvendo a minha mochila.

 Andamos até Sam, que estava acordado mas ainda fraco.

 -- Você já deu ambrósia pra ele? – perguntei à Trisha.

 -- Sim... acho que daqui a pouco fará efeito – respondeu ela, sentando-se ao lado de Sam.

 Anne e eu também nos sentamos e todos nós comemos frutas. Não era meu lanche preferido, mas, na situação em que estávamos, acho que eu não tinha escolha.

 -- Certo, - falei quando havíamos acabado de comer. Sam já aparentava estar um pouco melhor. O roxo em sua cabeça estava esverdeado agora. – O que faremos agora?

 -- Temos que ir para Los Angeles. Só não sei como iremos conseguir... – respondeu Anne.

 Ninguém sugeriu nada. Não sabíamos como atravessar o país sem algum adulto.

 -- Por ora teremos que ir a pé. Acho que podemos pegar uns ônibus por aí, para adiantar a viagem – falei. – Isto é, se eles não explodirem.

 Rimos durante algum tempo e conversamos sobre coisas sem importância. Logo Sam já estava de pé. Sua energia havia voltado com força total.

 -- Vamos matar alguns monstros – disse ele.

 Continuamos a caminhar pela estrada de Long Island, mas não havia nenhum carro à vista.

 -- Como eu desejaria ter uma carona... – comentou Trisha.

 Então, de repente, um táxi apareceu ao longe, vindo em nossa direção. Olhei para Trisha, incrédulo.

 -- Eu juro pelo Estige que não fiz nada. Só comentei!

 O táxi se aproximava cada vez mais, mas alguma coisa me dizia que havia algo errado. Como diabos um táxi apareceu do nada, quando Trisha chamou?

 Paramos de andar e esperamos que o veículo se aproximasse. Ele parou ao nosso lado e a porta de trás abriu como se estivesse nos convidando a entrar.

 Olhei para o motorista e quase tive um ataque do coração. Havia uma velhinha de uns 60 anos dirigindo o veículo. Ou eu estava muito enganado ou haviam mudado as leis. Pelo que eu saiba, nenhuma velha de 60 anos podia dirigir um táxi. Muito menos por Nova York.

 Nós nos entreolhamos antes de entrarmos no carro. Sam era o único que não parecia desconfiado. Mas, como não tínhamos como provar que a velhota era um monstro, entramos no veículo.

 -- Olá queridos – disse a velha, virando o pescoço para trás. Naquele momento lembrei-me da menina do filme “O Exorcista”. Havia algo de errado com aquela velha, mas eu não sabia o quê. – Qual é o destino?

 -- Hm... Quinta Avenida, Prédio Starlook, 1456 – respondi. A velha assentiu e deu partida no carro, não ligando o contador – o que achei estranho.

 -- O que tem no prédio Starlook? – perguntou Anne.

 -- É o apartamento do meu tio – respondi, com uma cara fechada. Não me agradava ir lá, mas o cara tinha um carro. – Podemos pegar o carro dele e dirigir até Los Angeles. Ou pelo menos até onde conseguirmos.

 Trisha me olhou com um olhar malicioso e divertido, como se ela fosse expert em roubar carros.  

 A velha não parecia notar que estávamos carregando espadas e uma lança no banco de trás. Na verdade, ela não parecia notar nada; nem mesmo a nossa conversa. Se ela fosse uma velha normal, teria discutido conosco sobre roubar carros.

 Os campos de morango e árvores foram aos poucos se transformando em casas, sobrados e prédios. A velha xingava por causa do engarrafamento - o que eu achava muito engraçado. Ela brandia a mão para os motoristas que cruzavam entre os carros, como se fosse lhes dar um tabefe.

 Por fim conseguimos nos livrar do congestionamento e ela começou a vagar por ruas desertas. Eu conhecia Nova York tão bem que logo percebi que ela não estava nos levando para a Quinta Avenida.

 -- Ahn... para onde você está nos levando senhora? – perguntei, tentando ser educado. Meu coração estava acelerado. Definitivamente havia alguma coisa errada.

 -- Ah querido... estou pegando um atalho.

 Olhei para meus amigos e mexi os lábios, formando as seguintes palavras:

“Não existe nenhum atalho por essas ruas que dê para a Quinta Avenida.”

Eles rapidamente entenderam o recado.

 -- Então... esse passeio vem com a opção “guia turístico”? – perguntou Trisha, sacando a espada.

 -- Claro querida – respondeu a velha, com uma voz que arrepiou os pelos da minha nuca. – Estão vendo aquele prédio? Ouve uma batalha muito grande ali entre Titãs e semideuses. Cronos liderava um grande exército de monstros e Percy Jackson liderava um grupo de semideuses.

 Espere. Ela havia falado semideuses? Percy Jackson? Cronos? Quem diabos era aquela velha?

 -- Ah, seria bom se você guardasse sua espada, Trisha Miller.

 Trisha nos encarou e disse:

 -- Pulem do carro. Agora.

 Virei-me para a porta, mas as “maçanetas” haviam sumido. A porta havia se fundido e não abria. Tentei dar uma cotovelada no vidro, mas este não quebrou.

 -- Sua velha maníaca! Abra essa porta agora!

 -- Infelizmente não posso querido. Tenho ordens para capturá-los e mantê-los vivos.

 -- Ordens? Ordens de quem? – gritei para ela, ainda socando a porta.

 -- Não posso lhe falar querido. Ainda não é a hora.

 -- Quem é você? – perguntou Anne. – Ou melhor, o quê é você?

 -- Sou uma fúria, ora.

 -- O quê? Mas eu matei você na entrada do acampamento!

 -- Você matou minha irmã. Bem... não matou na verdade. Ela ainda está viva, perseguindo um outro semideus. – A voz dela soava como talheres se raspando uns nos outros. Era arrepiante.

 -- Noah, você matou mesmo a fúria? – perguntou-me Trisha.

 -- Sim! Eu tenho certeza disso! Espere, cadê sua espada?

 Ela olhou para si, tentando procurar por sua arma, mas ela havia sumido.

 -- O que você fez sua velha?

 -- Eu lhe mandei guardar a espada e você não me obedeceu.

 A velhota estava nos levando para um galpão gigante, que eu tinha certeza que não estava ali antes.

 Olhei para Trisha e novamente tivemos uma conversa por olhares. Eu ainda tinha minha espada e ela havia pegado a de Sam.

 Assentimos e demos início ao nosso plano. Tudo ocorreu em menos de cinco segundos. Trisha atingiu a janela com a espada de Sam e, em uns cinco socos com o cabo da arma, o vidro fora destruído. A velha gritava que nem uma doida, xingando e se transformando em uma fúria. Eu não sabia como não havíamos batido o carro ainda. Então entrei em ação. Saquei a minha espada e, perfurando o banco do motorista, atingi o coração – ou pelo menos o que deveria ser um coração – da fúria.

 A fúria gritou, falando tantos palavrões que até o Papa morreria. Mas o monstro não se transformava em areia – o que eu achava muito estranho. Trisha pulou para fora do carro e logo Sam e Anne a seguiram. Quebrei a janela do meu lado e pulei, caindo no asfalto. A velha deu um giro com o carro, mas não foi rápido o suficiente.

 Trisha ergueu os braços para o céu e logo uma saraivada de raios caiu no carro, torrando-o. Fechei os olhos e concentrei-me no chão, como havia feito antes lá na clareira. Senti um tremor percorrer a terra e o carro fora engolido pela fenda enorme que havia sido aberta. Uma passagem só de ida para o Mundo Inferior.

 A espada de Trisha apareceu magicamente em sua mão e a minha também o fez, aparecendo na bainha às minhas costas.

 Abrir a fenda no chão me cansara tanto que eu me sentei ali mesmo, no meio da rua. Apenas rezei para que nenhum outro táxi de velhas maníacas aparecesse.

 Trisha, Sam e Anne vieram ao meu encontro. A filha de Zeus também estava ofegando.

 -- Parabéns Cara de Raio.

 -- Obrigada, Príncipe das Sombras.

 Ficamos ali por mais uns dez minutos, recuperando as forças. Foi então que eu me toquei.

 -- Espera... a velhota disse que os monstros não estavam morrendo? O que há de errado?

 -- Não sei Noah. Mas é muito estranho. Os monstros sempre têm que morrer. Quer dizer, eles morrem, mas não morrem pra sempre.

 -- Ah, claro.

 -- Eles ressurgem algum tempo depois.

 -- E quem é que mandou aquela velha nos capturar? – perguntou Sam.

 -- É o que eu queria saber...

 Levantamos e andamos mais um pouco, em direção à Quinta Avenida.

 -- Só espero que nada nos ataque. Pelo menos não até chegarmos ao apartamento. Estou realmente cansado – comentei.

 E, cara... Como eu queria ter calado a boca. 


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