Noah Parker E O Refúgio Dos Deuses escrita por Duda


Capítulo 8
Príncipe das Sombras


Notas iniciais do capítulo

Novo capítulo, espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/299739/chapter/8

Todos no lago olhavam para nós – menos as garotas do chalé de Ares, que estavam ocupadas demais tentando alcançar a outra margem.

 -- Eu... – foi a única coisa que Sam disse.

Nadei até o barco e subi. Sam fez o mesmo, mas quando ele saiu da água, suas roupas estavam secas. Digo, sequinhas mesmo.

 -- Sam... suas roupas...

 Ele olhou para baixo, surpreso. Nessa hora lancei um olhar para Trisha, que me respondeu com um olhar alarmado. Teríamos uma conversa mais tarde, pelo jeito.

 Thomas veio correndo para a margem mais próxima e chamou Sam.

 -- É melhor você ir, cara – falei.

 A canoa estava afundando por causa do buraco e eu tive que ir para a canoa de Anne e Trisha.

 Sam, ainda espantado, pulou na água e foi nadando até a margem. Já que era filho de Poseidon, ele nadava mais rápido do que a maioria.

 Thomas levou-o para longe, conversando com ele, mas antes nos dispensou.

 Eu ainda estava encharcado. Trisha e Anne remaram até a margem e descemos da canoa.

 -- Vocês já pararam pra pensar que agora temos um semideus para cada um dos Três Grandes? Digo, temos uma filha de Zeus, um de Hades e um de Poseidon – falei. – Será que isso significa alguma coisa?

 -- Não sei Noah... mas que é estranho é... – disse Trisha.

 Sam não apareceu pelo resto do dia e isso me preocupava. Freqüentamos as outras aulas e depois fomos jantar. Sentei-me na mesa de Hades, que era grande demais para apenas uma pessoa.  Queimei meu jantar, e mandei uma mensagem – mentalmente – para Hades.

“Obrigado por me reclamar. Agora provei que sou seu filho?”

 Sentei-me de volta na mesa e comecei a comer. Sam entrou no meio do jantar e sentou-se sozinho em sua mesa. Queimou seu jantar e comeu quieto, sem levantar a cabeça. Muitos campistas olhavam para ele e para mim, percebendo que havíamos sido reclamados.

 -- Campistas, um minuto de atenção por favor! – pediu Thomas, na frente das mesas. – Vamos para a fogueira agora e lá anunciarei uma coisa de seu interesse. Por favor, quero todos lá o mais rápido possível.

 Lancei um olhar intrigado para o Sr. Brown, mas ele não o viu. Levantei da mesa e segui os outros campistas para a fogueira. Trisha logo veio correndo ao meu lado.

 -- O que acha que vai ser? – perguntou ela.

 -- Não faço a mínima ideia.

  Chegamos ao anfiteatro e nos sentamos em volta da fogueira. Thomas vinha logo atrás, andando rápido. Parecia nervoso com alguma coisa.

 -- Campistas, temos um problema.

 Um murmúrio percorreu pelo anfiteatro e demorou um pouco para parar.

 -- Um semideus foi roubado. Nós não sabemos quem o pegou e, por isso, é que precisamos de uma missão.

 Olhei para Trisha e vi que os olhos dela brilhavam.

 -- Um semideus? – perguntou um filho de Hefesto. – Filho de quem?

 -- Filho de Ares.

 Lembrei-me da briga que o chalé de Ares estava tendo ontem e pensei se não tinha algo a ver com aquilo. Talvez eles já sabiam disso. Só depois foi que me lembrei do primeiro sonho esquisito que havia tido. Zeus e Ares brigando.

 -- E quem irá na missão? – perguntou uma garota de Atena.

 -- É isso o que quero saber – respondeu Thomas, apontando para uma garota na última fileira de assentos do anfiteatro. Ela tinha cabelos ruivos e suas roupas eram rabiscadas de caneta hidrocor.

 Ela desceu as escadinhas até chegar ao lado de Thomas.

 -- Esta é Rachel Dare, para os novatos. É o nosso oráculo. – apresentou o Sr. Brown.

 -- Oráculo? – perguntei para Trisha, que estava do meu lado.

 -- Ela faz as profecias. Quer dizer... não faz literalmente. É como se ela tivesse uma visão da profecia. Cada missão tem uma profecia.

 -- Ah... claro.

 Voltei a olhar a garota e vi que a maioria dos campistas nunca havia ouvido falar dela. Fazia muito tempo que eles não tinham uma missão.

 -- Bom Rachel, você pode nos falar a profecia?

 A garota, de repente, parecia que estava hipnotizada. Dava medo olhá-la. Seus olhos pareciam um buraco negro. Mas o que mais me assustou foi sua voz gélida e arrepiante:

--“ O filho do deus da morte guiará seus amigos;

   O refúgio dos deuses, no oeste eles encontrarão.

   Traídos por algum familiar, eles serão.

  O raio, a água e a coruja o ajudarão.

  As trevas vão lhes alcançar,  

  E a escuridão dominará.”

 Rachel saiu de seu transe e seus olhos voltaram à cor normal. Thomas olhou para ela, mas a garota já havia saído andando. Aquela profecia ficara grudada que nem cola na minha cabeça.

 -- Bom, já sabemos que vai liderar. O filho do deus da morte – disse Thomas, olhando fixamente para mim. – Noah, venha aqui.

 Levantei-me, sem olhar para nenhum dos campistas, e andei até a fogueira. Engoli a saliva e olhei para Thomas.

 -- Se eu não me engano, o outro verso da poesia dizia “O raio, a água e a coruja o ajudarão”. O raio representa Zeus. A água representa Poseidon e a coruja é Atena. Você pode escolher seus companheiros agora. – disse-me ele.

 -- Mas Thomas, - falou uma garota de Afrodite – quatro semideuses? Não é arriscado?

 -- É o que diz a profecia, minha querida. É arriscado sim. Ainda mais quando os filhos dos Três Grandes estiverem juntos. – respondeu, olhando para a garota. Depois voltou a olhar para mim. – Pode escolher Noah.

 Olhei para Trisha e ela me olhou de volta. É claro que eu a escolheria. Além de ela ser a única filha de Zeus, eu não sabia o que faria sem ela. Depois olhei para Sam e ele assentiu para mim, concordando. Procurei por Anne e, quando a achei, seus olhos me encararam, querendo dizer alguma coisa que eu não entendia.

 -- Hm... Trisha Miller, Sam Flamme e Anne Campbell – falei, apontando para eles. Alguns campistas do chalé de Atena ficaram um pouco arrependidos por não terem sido escolhidos, mas eu não os conhecia.

 Trisha se levantou e caminhou com suas botas confiantemente em minha direção. Sam e Anne fizeram o mesmo.

 -- Ótimo. Agora todos vocês podem ir para os chalés. – dispensou o Sr. Brown. – E vocês, - falou, apontando para nós quatro – venham comigo.

 Enquanto todos os campistas se dirigiam para seus chalés, Thomas nos levava para a Casa Grande. Sentamos no sofá azul e ele acomodou-se na poltrona.

 -- Vocês partirão amanhã de manhã, para o Oeste. Terão que encontrar o refúgio dos deuses, seja lá o que for isso.

 -- Algum lugar onde os deuses se sentem seguros. – falei, sem pensar.

 -- Como...

 -- Não sei. Isso simplesmente me veio à cabeça. – respondi, antes que Thomas pudesse perguntar.

 -- Certo... Enfim, boa sorte para vocês. E não será nada fácil. Três filhos dos Três Grandes... atrairão mais monstros do que 5 campistas... “normais”. – Ele saiu do aposento, deixando-nos sozinhos.

 -- Alguém tem alguma ideia do que possa ser esse refúgio? – perguntei.

 -- Para onde vocês iriam se se sentissem em perigo? – perguntou Trisha.

 -- Não sei... para algum lugar protegido de todo o mal – disse Sam.

 -- Certo. Agora temos que achar esse lugar.

 -- Pode ser também um esconderijo – disse Anne, concentrada em alguma coisa.

 -- Que tipo de esconderijo? – perguntei à ela.

 -- Algum esconderijo protegido, escondido de todos.

 Pensei por um momento em algo escondido de todos. Teria de ser algum lugar que quase ninguém ia. Ou, se fossem, não voltassem. Um lugar em protegido do mal. E que lugar melhor protegido do que aquele debaixo da terra? Grande parte do mal fica sobre a terra, percorrendo cidades. Algum lugar onde os deuses pudessem ir sem ter que se preocupar com nada. Algum lugar afastado dos outros. Algum lugar longe do mundo vivo.

 Apenas um lugar me vinha à mente.

 -- O Mundo Inferior – falei baixinho, para ninguém.

 -- O que disse? – perguntou Trisha, assustando-se de repente.

 -- O Mundo Inferior. Olhe, um refúgio é aquele lugar em que você fica afastado do mal certo? Um esconderijo. E grande parte do mal fica acima da terra – falei. – Se eu fosse um deus e quisesse descansar ou me proteger, eu me esconderia numa caverna ou num buraco, para que ninguém me incomodasse. Então... por que não o Mundo Inferior? – perguntei – Digo, nenhum morto poderá me incomodar, pois já estará morto, certo? Então... Acho que o Mundo Inferior seria um bom lugar para um refúgio – concluí.

 -- Assustador – comentou Anne. – Assustador, mas faz sentido... de certo modo.

 -- Agora só precisamos saber como chegar ao Mundo Inferior – falou Sam, levantando-se do sofá.

 -- Bom... isso é com o Noah. – Trisha também se levantou e Anne também o fez. Eles começaram a descer as escadas da Casa Grande quando eu levantei do sofá.

 Anne e Sam foram para seu chalé, deixando eu e Trisha sozinhos.

 -- Noah, tente achar em um dos seus livros algo que nos ajude, ok? Preciso dormir. Teremos um longo dia amanhã.

 -- Ok. Eu irei procurar sobre o Mundo Inferior. Boa noite Cara de Raio.  

 Ela ficou parada por um tempo, me encarando, e eu podia jurar que ela queria me matar.

 -- Boa noite, Príncipe das Sombras – respondeu ela, afastando-se em direção ao seu chalé.

 Príncipe das sombras? Desde quando ela inventara aquilo? Garotas...

 Subi as escadas para o meu chalé e abri a porta. Procurei por um interruptor e acendi as luzes do ambiente, que ficou muito claro.

 -- Livros... Aqui vamos nós.

 Passei quase a noite toda lendo livros sobre o Mundo Inferior. Não era muito agradável ter que ler sobre os tipos de punições do Campo de Punições, mas eu consegui reunir bastante informação.

 A entrada para o Mundo Inferior ficava em Los Angeles. Agora o problema era que eu não havia descoberto exatamente aonde era essa entrada. Provavelmente estava escrita em algum dos livros, mas eu estava tão cansado que não deveria ter notado. Fiz uma nota mental de que iria levar alguns deles comigo amanhã.

 Assim que deitei na cama comecei a dormir. E, por sorte, não tive nenhum pesadelo naquela noite.

***

Acordei quando o sol estava aparecendo lá fora. Não tão cedo, mas também não tão tarde. Levantei-me e comecei a arrumar minha mochila. Coloquei umas roupas extras, escova de dente, alguns pacotes de comida, – que o chalé de Hermes havia contrabandeado para mim – uma garrafa de néctar e um saquinho com ambrósia.

 Thomas me disse para comê-las só quando estivéssemos a beira da morte. Coloquei também um livro bem grande sobre o Mundo Inferior na mochila e – claro – a minha espada. Quer dizer, não a coloquei na mochila. Mas do lado de fora, nas costas.

 Encontrei-me com meus amigos perto da Casa Grande, onde Thomas nos deu cerca de quinhentos dólares e umas moedas de ouro.

 -- Pra que diabos é isso? – perguntei a ele.

 -- Isso, Noah, são dracmas. Moedas gregas. Servem para mensagens de Íris e para algumas trocas com servos dos deuses. – respondeu ele.

 -- Mensagem do quê?

 -- Mensagem de Íris. Creio que Trisha sabe como fazer uma, não?

 Ela assentiu, sem dizer mais nada. Estava um pouco nervosa ou ansiosa.

 -- Certo. Bem... tchau, Sr. Brown.

 -- Ah, garotos esperem! Vocês sabem para onde ir?

 Anne, Sam e Trisha lançaram olhares para mim e eu respondi:

 -- Sim. Já sei onde é esse refúgio. Resgataremos o semideus perdido, não se preocupe. Ah... só uma coisinha... como faço para entrar no Submundo? – perguntei.

 -- Hm... Pelo o que eu sei há uma espécie de estúdio de gravação em Los Angeles que os levará para lá... mas, Noah, por que você quer saber?

 -- Porque acho que o refúgio dos deuses fica lá embaixo – respondi. – Estúdios de gravação? Ótimo... deve existir apenas um em Los Angeles, muito obrigado.

 -- Já estive lá uma vez, só que usei outra entrada, mais longe. Porém alguns amigos meus me disseram sobre o estúdio. Estúdios M.A.C, ou algo do tipo.

 -- Ah... Obrigado.

 -- Não há de quê. Ah, a propósito, não se deixem levar pela profecia ok? Só façam o que tiver que ser feito – alertou-nos ele.

 Agradeci outra vez e subimos a colina, passando por um pinheiro bem grande e pelo arco da entrada. Achei que, assim que colocássemos os pés para fora do acampamento, milhões de monstros começariam a surgir de todos os lugares, mas felizmente isso não aconteceu.  

 -- Ah... Trisha... eu ia te perguntar uma coisa. O que o Thomas é? Digo... há sátiros e ninfas e...

 Fiquei um pouco mal ao me lembrar de sátiros. A verdade era que eu havia me esquecido de Jean. Andara tão ocupado com essa coisa nova de acampamento que acabei esquecendo do meu amigo. O que diabos havia acontecido comigo?

 -- Ele é um semideus – respondeu ela, enquanto descíamos a colina em direção à estrada.  

 -- Um... um semideus?

 -- Alguns semideuses sobrevivem até a idade adulta, Noah. Não há só adolescentes.

 -- Ah... claro. Eu sabia disso.

 -- De quem ele é filho? – perguntou Sam, brincando com a sua espada.

 -- Ele é filho de Hefesto, se não estou enganada... É, é sim. Hefesto.

 -- O cara do machado – falei.

 O assunto acabou ali e ninguém de nós recomeçou a falar. Conseguimos chegar à estrada em pouco menos de 10 minutos. Não havia nenhum automóvel à vista, então achei melhor continuarmos andando pela estrada até que encontrássemos um.

 Todos vestiam calças jeans e camisetas laranjas – o que chamaria atenção de qualquer um. Anne carregava sua lança, Sam brincava com sua espada e Trisha estava levando a sua espada na mão – provavelmente para matar algum monstro caso fôssemos atacados. Apenas eu carregava a arma nas costas.

 Não estávamos com calçados apropriados para viajar pelo país. Exceto talvez Trisha, que vestia suas botas de sobrevivência. Sam, Anne e eu usávamos tênis comum, como All Star.

 Estávamos andando por mais de meia hora na estrada norte de Long Island, em direção à NY, e até naquele momento nenhum carro havia aparecido.

 Andamos durante mais dez minutos, conversando um pouco e trocando piadas. Até que o primeiro monstro apareceu. E que monstro. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Noah Parker E O Refúgio Dos Deuses" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.