PDV Bethanny

Alguém estava me acotovelando pra levantar.

– Você devia aprender a sair do caminho de uma princesa, sua fedelha – disse uma voz feminina irritada.

Quando finalmente consegui levantar olhei bem na cara dela e disse:

– Ficou louca? Foi você que me derrubou. Quem você pensa que é?

Ela revirou os olhos e disse:

– Alem de tudo é surda. Eu disse que sou uma princesa sua camponesa insolente.

Ela se virou para Ícaro e disse tentando soar sedutora:

– Olá, eu sou Jade, princesa de Pakane. Agora você vai servir a mim.

– Sim, minha princesa – ele disse seus olhos muito abertos e sua boca em um sorriso bobo.

– Como é que é? – Eu tive aquela sensação de novo, aquela que só vinha quando eu estava com raiva. Mas dessa vez foi mais forte ele, o poder do lobo, queria se espalhar pelos meus membros, destruir todo o controle que havia criado esses últimos anos. Não podia libertar isso, respirei fundo e tentei me acalmar.

Jade riu, parecia mais um cacarejo, jogou seus longos cabelos loiros para trás e disse:

– Ele esta sob o meu encanto agora, ele fará tudo o que eu mandar – ela riu de novo – Ele era seu namoradinho? – ela perguntou para mim, como se eu fosse uma criança – Não se preocupe, ele logo ia terminar com você mesmo, ele é bonito demais pra você.

Não pensei, só levantei o braço e dei um soco na cara dela. Ela caiu no chão fazendo um som assustado e disse:

– Pegue-a.

Mãos fortes me seguraram e me levantaram do chão.

– Você não devia ter feito isso – Ícaro disse, em uma voz sem expressão.

E então eu estava sendo jogada no ar.

O baque foi tão forte que quando acordei já eram sete e trinta. Me sentei esfregando o galo que se formava na parte de trás da cabeça. Independente do que havia acontecido eu precisava achar Tune. Eu não podia pensar agora no que aquela louca estava fazendo com meu namorado. Eu pensaria em como quebrar o encanto e em que partes de Jade eu ia estragar permanentemente depois.

“Ok, vamos avaliar a situação” pensei comigo mesma.

Olhando em volta conclui que estava com sérios problemas. Eu estava em um buraco, fundo, largo e com bichos rastejando por todo lado. Ótimo, simplesmente perfeito.

Sem pedras para escalar, nada que eu pudesse usar para me puxar para cima.

Eu teria que fazer aquilo então, soltar o lobo que vivia dentro de mim. Era o único modo de salvar Tune. Não seria fácil, muito menos indolor. Nas três vezes que fiz doeu mais do que qualquer outra coisa que já senti na vida. Mas era necessário, por Tune.

Relaxei os músculos e deixei acontecer. O calor e a magia do lobo me preencheram. Aconteceu rápido, rápido demais. Uma dor excruciante percorreu todo o meu corpo e por baixo dos meus gritos eu escutava os meus ossos estalarem enquanto se encaixavam para sustentar o meu novo corpo.

Depois que me recuperei pulei facilmente do buraco com meu corpo de lobo. Ao invés de mudar para a forma humana decidi usar o meu olfato aguçado para achar Tune. Logo que captei um indicio comecei a correr. Eu sou muito mais rápida agora. O prazer de me libertar e correr mais e mais rápido é extasiante, principalmente depois de tanto tempo. Me alegrei quando senti o cheiro de Tune, mas havia mais alguém com ela...e mais alguma coisa. Algo com o cheiro tão fétido que hesitei ao chegar mais perto.

- Você acha que pode me pegar seu monstrengo?

Eu ouvi uma voz feminina dizer com zombaria, quando me aproximei fiquei horrorizada com a cena diante de mim. A garota segura uma espada na direção da besta, seus cabelos são pretos como piche, olhos verdes brilhando em desafio, pele branca encoberta por uma calça preta, um top azul marinho e uma jaqueta de couro preto.

A sua frente um bicho que anda de um lado pro outro como uma aranha, gordo como um porco, pele branca meio esverdeada, olhos cor de ferrugem, unhas compridas como adagas. Três membros que poderiam ter sido pernas são peludas e outro membro que parecia um braço é como seu tronco, só pele e gordura. É como se tudo tivesse crescido do jeito errado, duas das pernas estão uma de cada lado do tronco.

E o pior de tudo é que atrás da garota está Tune, segurando um braço com uma marca de arranhão sangrando.