__ Ta pronta? __ Uma batida do outro lado da porta me fez pular.

Era Jackson.

__ To, pode entrar. __ Disse.

Ele abriu a porta lentamente e entrou. Olhou pra mim e ficou parado na porta do quarto me encarando com seus olhos misteriosos, me estudando. Dava-me nos nervos quando Jackson se escondia de baixo de uma mascara onde eu não podia ver nenhuma de suas emoções.

__ O que foi? __ Perguntei.

Ele piscou e balançou a cabeça, depois veio em minha direção.

__ Nada. __ Respondeu.

Revirei os olhos.

Ele estava lindo com sua calça jeans escuras, sua blusa preta e uma jaqueta de couro preta. Pendurado em seu pescoço estava uma correntinha fina que lhe dei de aniversário, anos atrás. Seu perfume, que era o meu favorito, era doce e delicioso. Seus cabelos loiros rebeldes estavam embaraçados do jeitinho que ele gosta, ele ficava muito lindo com o cabelo embaraçado, no pulso ele levava um relógio que Rikki deu pra ele ano passado. Usava botas com os cadarços desamarrados jogados para os lados, mas não se encostando ao chão. Sua calça estava um pouco caída de modo que eu podia ver um pedaço da cueca azul escura que ele estava usando.

Desviei meus olhos de seu corpo corando.

Ele sorriu, mas não disse nada.

Sentei na cama para caçar os sapatos. Eu estava usando um vestidinho preto pouco rodado de alça fina que ia até um pouco acima dos joelhos. Meu cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo bem puxado, e coloquei uma sapatilha preta com um laço na frente.

Jackson se sentou ao meu lado depois que coloquei as sapatilhas. Ele mexeu no bolso de sua jaqueta até tirar uma caixinha pequena e redonda de lá. A caixinha era de cor roxa escura com um laço pra presente branco em cima.

Ele me estendeu a caixinha e eu a encarei em sua mão.

__ Tome. __ Estiquei a mão e a abri. __ Vi em uma loja quando estava saindo da Oficina, andando pro estacionamento pra pegar o carro, e pensei em você.

Dentro da caixinha havia um cordão de prata de corrente fina com um pingente de uma sereia de costas. O pingente era grosso, fora desenhado com perfeição seguindo perfeitamente os traços delicados da sereia. Ela estava meio deitada, só estava levantado seu tronco, ela apoiava-se com uma das mãos no “chão” para não cair, e a outra mão estava pousada sobre sua cauda longa. Suas barbatanas eram grandes e bem separadas, e transparentes de modo que se eu colocasse o cordão em minha pele, iria aparecer um pouco da minha cor na barbatana. Assim como a correntinha, a sereia era de prata, sem cor nenhuma. Ela estava de costas, olhando, ao que parecia, para um além que não existia, e seus cabelos voavam apenas para um lado.

Jackson pegou a corrente das minhas mãos delicadamente.

__ Posso? __ Ele estendeu o colar.

Virei-me de costas para que ele colocasse o colar em meu pescoço.

__ É lindo. __ Assim que ele fechou o fecho, me levantei e fui para o espelho ver o colar em minha pele. Era realmente lindo.

Jackson apareceu atrás de mim me olhando pelo espelho sem expressão nenhuma no rosto. Como de costume.

Virei-me de frente pra ele.

__ Eu sei o quanto você ama nadar, e desde pequeno sempre te chamava de sereia porque você vivia na praia ou na piscina nos fundos de casa. __ Ele deu um meio sorriso fraco. __ Então, quando vi... Lembrei de você.

Cheguei mais para perto dele. Seu perfume diário sempre me deixava louca, mas quando ele usava esse (que era especialmente para sair) me deixava alucinada.

Sorri pra ele.

__ Obrigada Jackson. Eu amei muito. __ Disse. Então o abracei.

Ficamos nos abraçando por um tempo até que Rikki apareceu na porta com cara de poucos amigos. Ela estava com um vestido também, justo, curto e preto com mangas até o cotovelo. Usava salto alto de camurça preta e seus cabelos loiros estavam presos em um coque perfeito, e seu rosto estava levemente maquiado.

Sua cara se fechou mais ainda quando viu Jackson e eu abraçados.

__ Será que dá pra ser? Estamos prontos há meia hora, só falta a Cinderela. __ Disse ela se referindo a mim. Seu tom era rude e parecia que ela estava com nojo, e eu sabia bem do que, ou melhor, de quem ela estava com nojo. __ Achei que tivesse subido para ver se ela estava pronta. Você vai acabar nos atrasando também. __ Disse ela para Jackson.

Revirei os olhos ignorando ela completamente. Peguei minha bolsa pequena preta de alça fina e sai do quarto com Jackson logo atrás.

__ O que foi isso? __ Ouvi Rikki sussurrar para Jackson.

__ Ãn... Um abraço? __ Respondeu Jackson em tom de deboche.

__ Sei... __ Disse Rikki. __ Não pareceu um abraço.

__ E o que pareceu Rikki? __ Sussurrou Jackson em seu tom grosso e firme. Raiva.

__ Deixa pra lá. __ Sussurrou Rikki entre dentes.

Descemos as escadas e encontramos o resto do pessoal na sala.

Havia uma massa de pessoas vestidas de preto. Minha família.

Estávamos todos prontos para o funeral.

Eu olhava fixamente para o caixão enquanto ele descia para o fundo do buraco que foi cavado especialmente para ele. Não abriram o caixão, nem mesmo na cerimônia. Fredd estava com uma aparência horrível por causa dos vários pontos em sua cara. Mas ninguém reclamou ou pediu que abrisse o caixão, ninguém queria ver a coisa horrível que se encontra dentro do caixão.

Minha família toda estava ali, menos Bridgit que minha mãe deixou em casa com uma babá que ela contratou. Emma e Nina também estavam lá, eu pedi que viessem. Boo e Edward também estavam lá.

Lisa (mãe da Charllote e dona do rancho Galaxy) também estava lá, mas eu não sabia o porquê. Tudo bem que ela e Jake, meu avô, são amigos... Só que nem tanto. Ela é sempre muito sarcástica com ele assim como ele é com ela, os dois vivem brigando de uma maneira que não precisa aumentar o tom da voz, cai em tapas ou dizer palavreados impróprios um para o outro. Eles brigam de uma maneira sarcástica e engraçada. Vovô não é de brigar, ele é sempre da paz e sempre nos da conselhos enigmáticos que só ele entende, então somos obrigados a quebrar a cabeça para entender as entrelinhas.

A mãe de Emma também está aqui, ela e Jeniffer são amigas desde o colegial. Alguns médicos cirurgiões que conheciam Fredd do trabalho, também estavam lá. Alguns deles choravam, mas eu não conhecia nenhum. Jeniffer parecia conhecer todos.

Jackson estava do lado de Rikki do outro lado do buraco onde o caixão descia. Rikki estava abraçada em Jackson chorando em silêncio na sua blusa que estava ficando cada vez mais manchada com as lágrimas. Os olhos de Jackson estavam fixos no caixão. As mãos de Rikki estavam apertadas e firmes em volta da cintura dele.

Ele abraçava ela também acariciando levemente seus ombros. Rikki tirou os olhos do caixão que já estava lá no fundo do buraco, e escondeu seu rosto na jaqueta de Jackson.

Lex estava ao meu lado segurando a minha mão bem forte. Eu retribuo o aperto acariciando um pouco sua mãozinha.

Justin e Shofy estavam muito próximos ao buraco, como se quisessem pular ali dentro. Vovô estava no meio deles segurando firmemente seus ombros. Loh estava nos braços de Jeniffer com os olhos fechados chorando sem conseguir olhar para o caixão e o buraco. Jeniffer apenas observava o caixão descer.

Emma e Nina estavam do meu outro lado, um pouco afastadas do buraco assim como eu e Lex. As duas estavam de mãos dadas olhando para baixo.

Lisa estava bem afastada do pessoal em volta do buraco, estava a alguns passos atrás de óculos escuros (e o sol nem estava forte) olhando, ao que parecia, fixamente para todos dali. Observava cada um. As amigas de Shofy, as amigas de Rikki e os amigos de Justin também vieram, e estavam próximos aos cirurgiões de cabeça baixa.

Assim que o caixão desceu completamente, aos poucos as pessoas estavam se afastando. Algumas pessoas, antes de ir embora vieram me cumprimentar e dar suas condolências, depois cumprimentava o resto da família. Emma e Nina vieram logo depois.

__ Porque não marcamos de dormimos na minha casa hoje? __ Nina perguntou com a voz serena. Eu sabia que ela estava tentando me afastar de todo o drama depois do enterro.

__ Seria ótimo. __ Sorri pra ela. __ Vou ver com Jeniffer.

__ Você também vai, certo Emma? __ Perguntou Nina virando-se para Emma.

__ Claro preciso ver com minha mãe. Já volto. __ E correu para onde sua mãe estava.

__ Posso ir depois? __ Perguntei. __ Só quero pegar umas coisas em casa e depois eu peço ao Jackson pra me levar.

__ Ta, claro. Se ele não puder te levar, me liga que eu te busco. __ Disse ela.

Nina se afastou me dando um último abraço e se afastou. Nina veio de carona com Emma e a mãe, então iriam embora juntas.

Esperamos jogarem a areia que manteria para sempre Fredd em baixo da terra, e logo depois o cemitério estava esvaziando, as pessoas já estavam indo para as suas casas.

Shofy, Loh, e Lex vieram no carro da Rikki e já estavam saindo em direção ao estacionamento, lançando seus últimos olhares para o tumulo do pai. Justin, Jake e Jeniffer vieram na caminhonete do vovô, e também já estavam se dirigindo para o estacionamento.

E eu vim de moto com Jackson. Nem ele e nem eu queríamos entrar no carro junto com Jeniffer, a outra opção era o carro de Rikki, mas eu também não queria ir com ela, não queria ficar no mesmo lugar mais de um minuto com ela. Jackson sabia que eu não entraria no carro com Rikki e com Jeniffer, então decidiu vir de moto comigo.

Encaminhei-me para uma arvore próxima enquanto via alguns amigos dos meus irmãos, que andavam lentamente para o estacionamento, se despedirem.

Me sentei no chão de areia.

__ Quer ir pra algum lugar e tomar alguma coisa. __ Perguntou Jackson vindo em minha direção. Ele tinha acabado de se despedir de Boo e do Edward.

Ele se abaixou na minha frente e se sentou nos calcanhares. As lágrimas já desciam pelo meu rosto. Fechei os olhos e respirei fundo tentando controlar minhas emoções. Cansei de chorar, passei as duas ultimas semanas chorando sem parar, todas as noites. E sabia que mais lágrimas estavam por vir.

Sorri pra ele enxugando as lágrimas.

__ É uma ótima ideia. __ Ele se levantou e estendeu a mão para me ajudar a levantar. Sua blusa ainda estava manchada com as lágrimas recentes da Rikki.

Um forte e gélido vento atravessou o cemitério. Abracei meus ombros acariciando meus braços e me encolhendo um pouco.

__ Nossa. __ Disse tremendo. __ De onde veio esse vento repentino?

O vento começava a ficar mais forte e mais gelado.

__ Minha nossa, acabamos de entrar no outono. __ O vento estava tão gelado que eu podia jurar que poderia nevar a qualquer momento. Tudo bem que o outono faz um pouco de frio, mas isso aqui tava parecendo àqueles invernos rigorosos que costuma cair aqui na região, e não um outono.

De repente me lembrei da mudança de clima na clareira. Era como se eu estivesse nela de novo.

Senti olhos em mim. E não eram os de Jackson, porque ele estava olhando em volta na direção do vento com a mão sob os olhos protegendo.

Olhei em volta. Tinha um homem alto de cabelo loiro encaracolado, encostado em uma árvore bem distante de onde estávamos. Tive que apertar bem os olhos para enxergá-lo melhor. Ele usava um Sobretudo longo e preto, estava de óculos escuros e suas mãos se escondiam nos bolsos do Sobretudo. Ele levantou a cabeça um pouco. Sua postura lhe dava um ar de superioridade.

Me encolhi. Esse meu ato pareceu deixá-lo contente, pois quando me encolhi ele deu um sorriso sem mostrar os dentes.

Ele se virou de costas e começou a andar para longe. Estava indo embora deixando pra trás o cheiro forte de sangue no ar gélido.

Meu estomago se revirou e meus olhos se encheram de lágrimas novamente.

__ Ta tudo bem? __ Perguntou Jackson atrás de mim colocando uma mão em meu ombro. __ O que ta olhando?

Era obvio que ele não poderia ver o homem. Ele nunca pode ver o homem.

Balancei a cabeça e tentei conter as lagrimas novamente. Tive que me controlar para não vomitar por causa do forte cheiro de sangue que parecia ficar a cada segundo mais forte e insuportável.

__ Nada. __ Me virei pra ele e tentei da o meu melhor sorriso, disfarçando meu medo e o enjôo. __ Só estou com frio.

Ele começou a tirar a jaqueta e a colocá-la em volta de meus ombros.

__ Não. __ Disse recusando a jaqueta. __ Você vai ficar com frio também... __ olhei para trás de mim, para a árvore onde antes estava o homem. __ Só, vamos sair logo daqui.

Jackson desceu a pequena colina do cemitério comigo. Antes que eu pudesse protestar novamente, ele colocou sua jaqueta em mim e não a aceitou de volta quando tentei lhe devolver.

Antes de subir em sua moto, ajeitei sua jaqueta enfiando meus braços dentro dela. Era quente e confortável, e também tinha seu cheiro gostoso.

Subi na moto e nos afastamos do cemitério e do clima gélido... E do terrível cheiro de sangue. A cada centímetro que íamos ficando longe do cemitério, eu conseguia respirar novamente.