Leah 2 escrita por Jane Viesseli


Capítulo 22
Bom ou Mau Dia?




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Desde a noite em que descobrira o segredo de Harry, Elena não dormia direito. Naquele fatídico ocaso, ela voltara para casa e ficara chocada com a destruição dos cômodos do andar de baixo, passando toda a madrugada em claro, primeiramente conversando com os pais e, mais tarde, enrolada até a cabeça por seu grosso cobertor, sentada em sua cama, com sua besta em mãos e encarando a porta da sacada a todo instante, com medo de que a lua cheia trouxesse o lobisomem de volta.

E depois que conversara com Harry, ela passou a perder o apetite e a ter estranhos sonhos com o garoto. No início sonhava com uma fera assassina desconhecida, da qual não conseguia ver a cor dos pelos, mas, depois, passou a sonhar que a fera desconhecida se transformava em Harry e que ele caminhava em sua direção, acariciava o seu rosto e sussurrava em seu ouvido o quando sentia sua falta...

Elena sentia um calafrio percorrer sua espinha. Podia sentir seu corpo quente e seu hálito refrescante como se tudo aquilo fosse real, porém, logo se lembrava de que aquilo estava errado, que era errado, afinal, ele era seu inimigo, não era? Fora isso que seus pais lhe ensinaram, ele era uma besta assassina... Não era?

Desde que descobrira sobre Harry ser um lobisomem, ela perdera peso, estava sempre cansada e tinha olheiras enormes em volta dos olhos, pelas muitas noites mal dormidas. Contudo, ela não era a única, pois em outro canto, na reserva de La Push, os dias também não foram fáceis para a família Clearwater, que sempre vigiava o sono de Harry, para que a imagem de Elena não viesse a assombrá-lo em sonhos, contando também com a ajuda de Charlie e de alguns membros do bando quileute, que o ajudavam a se distrair e o vigiavam durante o dia.

Muitos jovens achariam ruim serem vigiados a todo instante, mas Harry não ligava. Ele tinha medo do que poderia lhe acontecer, pois era o único a conhecer a aflição de ser sufocado e de assistir ao desespero daqueles que ama, quando nada podiam fazer para salvá-lo. Entretanto, mesmo com tanta vigilância e cuidado, o mestiço não pôde evitar pensar nela, e, por quatro vezes durante aquela semana, o imprinting tentou assassiná-lo...

― Harry, temos algo a lhe contar – começa Leah certa tarde.

― O quê? – pergunta sem muito interesse.

― Você vai ter um irmãozinho... – conta Lucian, abraçando a esposa pelas costas e alisando sua barriga ainda sem volume. – Ou irmãzinha, é claro – completa.

Harry levanta-se do sofá num salto, achando que aquilo fosse algum tipo de pegadinha, mas, a julgar pelos enormes sorrisos nos rostos de seus pais, ele logo percebe que era verdade. E, soltando um grito eufórico, ele ergue os braços e atira-se para cima de Leah e Lucian, os abraçando.

― Não acredito! Mãe você está grávida! – conclui abobalhado. – Como? – pergunta em sua inocência, ele realmente nunca esperou ganhar um irmão(ã).

― Como assim, como? Da única maneira possível, deixamos de usar preservativos – responde Lucian de maneira natural. – Já estamos tentando faz alguns dias, se é que me entende. – Dá uma piscada.

― Ah, pai! – Faz uma careta. – Por Deus, pare de falar essas coisas.

― Por quê? – pergunta Leah confusa.

― Vocês são... São... São puros! – Ergue as mãos como se aquilo fosse óbvio. – É estranho pra mim saber que meus pais têm uma vida sexual ativa! – Faz outra careta.

― E como você acha que nasceu, moleque? – diz Lucian, achando graça. – Do alface?

― Eu sei como eu nasci, mas isso tudo é muito estranho. Vamos mudar de assunto! E vocês, estão proibidos de falar de sexo comigo, ok? – Aponta o dedo como se desse ordens a duas crianças.

― Está bem! – Ri Leah. – Vamos falar do bebê, o que quer que seja: menino ou menina?

― Menina! – Sorri animado. – Não quero perder meu cargo de garotinho preferido da mamãe!

A família ri, espalhando a notícia o mais rápido que conseguiam, e ligando para Carlisle, convocando-o a retornar à cidade para cuidar de mais uma gestação. Finalmente as coisas estavam melhorando para a família Clearwater, mas Lucian tinha medo de saber até quando.

― Acertei tudo com a diretora da escola – diz Lucian na manhã seguinte à revelação. – Pegarei sua transferência amanhã.

Harry nada diz, apenas cutuca as panquecas com o garfo e assenti com a cabeça. Ele não queria mudar de escola, mas sabia que não tinha alternativa, pois, além do imprinting, os Cullens em breve estariam de volta e o contato deveria ser evitado. No mais, não era exatamente a transferência de escola que o impedia de comer naquela manhã, visto que o mestiço já não se alimentava direito a dias. Sua fome de lobo simplesmente desaparecera, o fazendo perder peso visivelmente.

― Coma, Harry, você precisa se alimentar – pede Leah.

― Estou sem fome.

― Faça um esforço.

― Come logo essas panquecas, garoto! – ordena Lucian, pegando o pote cheio feijões e enchendo a mão de grãos. – Ou eu mesmo as comerei! – ameaça, jogando um amontoado de grãos em cima do filho.

― Eca! Tem feijão cru na minha panqueca, como vou comer agora? – Ri, juntando os feijões que estavam sobre a mesa e atirando de volta no pai.

Uma pequena guerra de feijões se inicia na cozinha, não cessando sequer com os protestos de Leah. Até mesmo Doritos fora acertado pelos grãos furiosos, fugindo apressado para o quarto de Harry, onde julgava ser seguro. No fim, Leah acabou por enxotá-los da cozinha à base de tapas, antes que estragassem mais comida e colocassem o cômodo abaixo.

― Muito bem – suspira o cherokee do lado de fora da casa. – O livrei das panquecas, mas agora você terá que me escutar! – propõe, caminhando em direção à floresta e sendo seguido de perto pelo filho. – Você precisa comer.

― Eu sei, mas não tenho fome, é como se já tivesse comido o suficiente.

― Quero que se alimente daqui para frente, mesmo que não sinta fome. Coloque ao menos um pouco de comida no estômago, forçadamente, entendido? – Franzi a testa, tentando parecer mais sério.

― Sim, senhor – diz Harry batendo continência.

Ambos se encontram com Sam, Seth e Nicolas, já no interior da floresta, cumprimentando-se com cordialidade. O trio quileute estava apenas a conversar banalidades, convidando os dois lobisomens para perto a fim de ampliarem o círculo de conversa.

― Está tão feliz – comenta Nicolas sem pensar, apenas por impulso –, e a Elen... – para repentinamente, quando Sam lhe tapa a boca.

O sorriso de Harry murcha subitamente. Ele sabia muito bem a quem Nicolas se referia, mas tinha medo de se lembrar dela e toda a dor recomeçar. Seth agarra o braço do mestiço e o arrasta ainda mais para o centro da floresta, enquanto Sam repreendia o filho severamente e o mandava de volta para casa.

― Vamos lá, bonitão – brinca Seth tentando impedir que lembranças de Elena voltassem a tona. – Te desafio a uma corrida, que forma pretende usar para perder para mim?

― Tio Seth. – Dá um sorriso irônico. – Perder para você? Francamente, eu o farei comer poeira.

― Pode não perder para o Seth, mas, com certeza, perderá para mim! – diz Sam se unindo ao grupo.

― Veremos! – desafio Harry.

O mestiço se concentra nas magias em seu interior e escolhe a forma lobisomem para aquele desafio. Ele nunca fora de competir muito, mas, se eles queriam aquilo, por que não participar da brincadeira? Lucian segue na frente, pois seria o "ponto final" do jogo e, o primeiro que o encontrasse, venceria.

Preparado?— pergunta Sam já transformado.

Sim!— pensa Harry, surpreendendo-se. – Por que estou falando com você? Não somos de matilhas diferentes?

Você tem sangue de alfa, Harry, pode facilmente conversar com outros alfas... Somente Seth permanecerá no silêncio para você.

Preparados? Um, dois, três, vai— grita Seth para si mesmo, arrancando em sua corrida antes dos outros.

Harry e Sam se entreolham perplexos, Seth estava trapaceando e eles não poderiam deixar aquilo passar impune. Ambos disparam em suas corridas simultaneamente, mas, como o esperado, o mestiço alcança o tio rapidamente, o ultrapassando e abrindo grande vantagem entre eles. Ele já era rápido na forma humana, por que não seria superior na forma lupina?

Ganhei!— grita empolgado ao encontrar o pai, olhando para trás e não vendo os seus rivais. – Acho que exagerei.

― Talvez um pouquinho – completa Lucian. – Vamos sentar ali, daqui a pouco eles aparecem.

Lucian caminha para um tronco caído, enquanto o lobisomem cinzento se desmanchava em forma de poeira e voltava a ser um humano, com roupas estraçalhadas. Porém, foi nesse momento que todo o cenário da floresta mudou, em apenas um segundo:

― Harry! – chama uma voz feminina, muito conhecida para Harry.

O mestiço sente o coração bater mais rápido, será que ela havia voltado para ele? Ele vira-se em direção a voz instantaneamente e uma flecha voa no ar, passando ao lado de sua cabeça e acertando a árvore atrás de si, explodindo.

― Como pôde errar, Elena? – pergunta Lyssa sem entender.

Harry estava no chão devido ao susto da explosão. Ele ergue a cabeça, sentindo seus sentimentos guerrearem dentro de si, será que ela havia voltado? Será que suas preces foram ouvidas? Ou não?

Elena arma novamente a sua besta e se prepara para mais um ataque, assustando-se grandemente ao ver dois lobos do tamanho de cavalos se aproximarem, dando proteção ao seu alvo.

― Céus! – sussurra Lyssa assustada. – O que é isso?

― São metamorfos!

A voz grave do cherokee ressoa atrás das caçadoras, assustando-as e fazendo-as se virar para encará-lo. Lyssa se coloca à frente de Elena protetoramente, contudo, Lucian parecia não se intimidar com nenhuma de suas armas.

― Eles são os quileutes, o bando tatuado. Os metamorfos que, pelo visto... – Olha de mãe para filha. – Vocês confundiram com lobisomens! – conclui, ao ler o pensamento de ambas.

― Quem é você? – pergunta Lyssa desconfiada.

― Eu? Sou a sua presa! – Trinca os dentes, sentindo a raiva fluir através de suas palavras. – Vocês não sabem a vontade que sinto de acabar com as duas!!! Como ousam atacar o meu filhote? Para a sorte de ambas, Elena errou... – Encara a menina intensamente, infiltrando-se no mais profundo de seus pensamentos e descobrindo algo interessante. – E você sabe porque errou!

Lyssa olha para a filha de maneira questionadora, mas Elena não ousava tirar seus olhos de Lucian, pois sentia-se instável naquele momento, correndo o risco de chorar diante de seu inimigo. Ela sabia muito bem porque tinha errado, quando o alvo estava tão perto e fácil... Elena o esperara na floresta por horas naquele dia – sem contar os dias anteriores –, e, quando Harry finalmente apareceu, não hesitou em sair de seu esconderijo, ajoelhar-se em posição de ataque e gritar o nome de sua presa. Mas, no momento de apertar o gatilho, algo se agitou dentro dela, fazendo-a fechar os olhos e mover sua besta centímetros suficientes para que errasse o alvo.

― Se querem uma presa... – diz Lucian, se aproximando e segurando as mãos de Elena, fazendo-a levantar sua arma para ele. – Cacem a mim, mas deixem a minha criança em paz!

Lucian esquecera-se completamente da outra caçadora, porque aquele recado fora diretamente para Elena, o recado suplicante de um pai pela vida de seu filho.

― Nunca! – diz Lyssa.

O cherokee estreita os olhos, fazendo a garota à sua frente estremecer. Ele arranca a besta de suas mãos com força e a joga no chão, e, numa atitude enfurecida, se transforma diante dos olhos de ambas, massacrando a arma da menina com uma única pata.

― É por isso que os caçamos! – grita Lyssa, se colocando à frente da filha novamente. – Vocês são monstros!

Lucian rugi furiosamente, mas logo Sam se faz ouvir em seus pensamentos e a fera negra começa a se desmanchar diante das caçadoras, sem lhes causar mal algum. Seu rosto, antes furioso, agora carregava a angústia, fazendo-o correr em direção ao filho, que estava novamente ao chão, sofrendo com seu imprinting.

As caçadoras fogem, mas, em meio à fuga, Elena sente a necessidade de olhá-lo uma última vez, vendo a cena que perturbaria seus sonhos daquele dia em diante: Harry sofrendo.


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Notas finais do capítulo

Feliz Ano Novo 1/2
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A autora do comentário número 200 e vencedora da promoção é a Melanya Desousa e ela me perguntou o seguinte: "O que a Elena vai fazer ainda com o Harry e com a matilha?"
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É uma excelente pergunta, rs, eis a resposta: Elena vai tentar caçá-los com a ajuda dos pais, mas se arrependerá e desistirá - preocupe-se mais com Carlos (o pai), ele sim é perigoso [*-*]
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Próximo capítulo: Sonhos que Desmoronam