Não me leve a mal, a Itália é belíssima! Mas as coisas são difíceis quando você não tem um apoio financeiro... Estou numa pensão em que cobram 40 euros por dia e noite, e já devem imaginar que ela é uma coisinha de meia tigela, afinal o euro é muito caro! Conseguir algo assim foi quase um milagre, mesmo aqui na Sicília.

Eu fui até o bar do seu Francesco, ele é quase um pai para mim aqui, quando cheguei, ele me indicou a pensão e conseguiu que fizessem esse preço bom pra mim, e até me ajuda a me achar na cidade! Eu estou há um dia e meio sem comer, disse para a dona da pensão que era cansaço e sono de procurar trabalho, mas a verdade é que o dinheiro que ainda me resta apenas da para pagar minha estadia ali, e é cobrada a comida.

- Buongiorno signore Francesco! – falei entrando e me sentando no banco em frente ao balcão.

- Buongiorno cara mia! Estava sumida! – falou se aproximando por trás do balcão com todo seu tamanho.

Francesco era homem robusto, tinha cabelo ralo castanho escuro, um bigode enorme bem do tipo italiano e um sorriso do mesmo tamanho, estava sempre com uma camiseta branca sob seu avental preto.

- Ah, as coisas não andam fáceis para mim... Por mais que o seu povo seja acolhedor, não dão trabalho para estrangeiros, acho que pensam que não somos competentes ou sei lá o que.

- Que coisa... Esta apertada financeiramente? Posso te ajudar se quiser...

- Não, de forma alguma. Eu não vim aqui para ganhar dinheiro de mão beijada, quero conquistar com meu esforço. Mas queria com trabalho!

- Quer trabalhar aqui? Não posso pagar grande coisa, mas é uma ajuda e será com seu trabalho.

- Está falando sério?! – meus olhos se encherem de lágrimas – Oh Dio Santo! Mille grazie signore!

Francesco riu e logo fez uma cara que eu já conhecia, íamos começar aquele tipo de conversa “pai e filha” mesmo ele não sendo meu pai de verdade.

- Cara, você não acha que isso tudo é um capricho?! Sei que você lutou muito para chegar aqui, mas tudo por um trio de cantores? Você tem uma vida estável no Brasil que eu sei, e aqui... Você chega a estar pálida.

- Bem, isso é porque estou há um dia e meio sem comer... – falei com vergonha.

- Um dia e meio?! Bambina, como faz isso consigo mesma?! – vou pegar alguma coisa para você comer, espere!

- Não, eu estou bem, é sério! – falei, mas ele já estava na cozinha.

Dez minutos depois Francesco apareceu com uma pizza enorme de frango que me fez salivar...

- Isso não é exagero? Não consigo comer sozinha... E como fez tão rápido? – perguntei.

- Já estava pronta, só esquentei. E você bambina, trate de comer, e quando estiver cheia, guarde para mais tarde. – falou em tom autoritário.

Enquanto comi lentamente para poder degustar o sabor maravilhoso de uma pizza digna da Itália, vi seu Francesco direcionar seu olhar para trás de mim com freqüência, fosse quem fosse que estivesse ali, não poderia me fazer parar de comer e olhar para trás, estava com muita fome! Comi mais dois pedaços gigantes e seu Francesco veio conversar comigo, continuar a conversa, deduzi por seu olhar.

- Como eu dizia você não que seria melhor para você voltar para o Brasil bambina?

- Não seu Francesco, eu quero conquistar os meus sonhos aqui, eu quero conhecer o Il Volo, assim como eu quero me tornar uma cidadã italiana. Eu amo seu país. Eu sei que eu vim aqui, que me interessei por tudo aqui após conhecer o trio, mas além de me apaixonar por eles, me apaixonei pela Itália, preciso dela.

- Isso é lindo, bambina... O que você fará quando encontrar esse trio?! – perguntou com um sorriso na voz, o que não entendi muito bem.

- Sei lá... Acho que eu tentaria agir normal, mas não do tipo “gosto da sua música”, tentaria ser do tipo “sou uma garota normal, mas AMO vocês!” – falei rindo, e seu Francesco começou a rir... E ouvi risadas atrás de mim.

Olhei para trás para ver quem ouvia nossa conversa, e eram três garotos. Sim, eu tenho a leve impressão de que seus nomes são Piero, Gianluca e Ignazio. Bom, se você nunca me viu corar, então não sabe o que é uma pessoa realmente vermelha, pode ter certeza, não sabe.

- Ciao. – falaram sorrindo e levantando da cadeira, vindo ao meu lado.

- Hum... Ciao. – eu sei, tenho que falar algo mais inteligente!

- Eu acho que não comentei com você, mas conheço Piero desde Piccolo.

- É o senhor não me disse isso, eu lembraria.

Certo, eles riram de novo.

- Se não for pretensão demais, poderia nos explicar como assim veio morar na Itália por nossa causa? – falou Ignazio.

Contei que eu havia conhecido-os pelo Programa da Eliana quando lá se apresentaram, e que depois que ouvi O sole mio, só queria ouvir mais e mais. Contei por tudo que passei para chegar até ali, os meus amigos me incomodando por antes eu ouvir Heavy Metal e mudar para a música clássica, e é claro, falei das minhas sorelle.

- Como assim gêmeas?! – perguntou Gianluca fazendo a expressão mais linda do mundo de confusão.

- Eu escrevi uma história sobre trigêmeas que gostavam do Il Volo... – corada nível extremo – e elas meio que moravam no mesmo lugar que eu descrevi na história e temos semelhanças inegáveis, não fisicamente, mas no resto.

- Isso é muito legal! Elas também vieram morar na Itália?! – perguntou Piero.

- Na verdade eu estou há algum tempo sem noticias delas, a ultima que tive elas falaram que me dariam um presente, mas não sei como se mor...

- SURPRESA! – ouvi a voz de Raquel e Arianne Laura na entrada do bar.

Certamente era apenas para eu ficar surpresa, mas quando as meninas viram quem estava ao meu lado seus olhares de felicidade passaram para “pasmas e sem reação” muito mais do que eu.

- So-sorella... – falou Raquel boquiaberta.

- Eu sei. Isso não é tenso?! – falei rindo – Venham aqui!

Eu fui ao encontro delas depois de perceber que não haviam movido um músculo se quer, as abracei e acho que saíram do transe, porque me abraçaram também e senti lágrimas quentes escaparem dos meus olhos e senti algumas nos meus cabelos também.

- Morri de saudades. – falamos juntas e rimos aquilo já não era algo estranho, apenas coisa de sorelle.

- Nossa, e não é que elas pensam juntas?! – falou Ignazio com uma cara de “agora sim acredito no sobrenatural”.

Seu Francesco disse para sentarmos-nos à mesa que ele traria um refrigerante para bebermos e Piero mais sem vergonha impossível pegou a pizza de cima do balcão e pos na mesa.

- Agora coma. – falou seriamente.

- Si signore! – falei rindo, pois ainda estava com fome.

Olhei para Raquel e ela estava com aquela expressão de “que intimidade é essa?” sendo que ela é apaixonada por ele. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para ela:

Não é nada de mais, eu juro!

Na verdade, esperava que Gianluca tomasse uma atitude.

Ela fez uma careta, mas sorriu para mim levemente, e eu sabia que ela tinha entendido. Continuamos comendo e conversamos sobre assuntos aleatórios, inclusive sobre minha história, o que causou um grave erro, sendo que deixamos escapar algumas coisas...

- Okay, vamos por partes. Cada uma mora em um lugar diferente, e é apaixonada por um de nós?! – perguntou Gianluca com olhar malicioso.

Ah que droga... E agora?! Não vou mentir para ele...

- Hum, pois é, isso mesmo. Então, quando será a próxima turnê? – perguntei rapidamente mudando de assunto.

Não deu muito certo, todos riram e Gianluca seguiu no assunto.

- Quem é, digo, na história, apaixonada por quem?! – perguntou.

Respirando fundo... Maldita hora que fui por meu nome na personagem que é apaixonada por ele!

- A Desirrê pelo Piero, a Anna Julia pelo Ignazio e a... Hum... A Morgana pelo Gianluca.

Gente, cadê o ar? Porque eu to sentindo que meus pulmões não funcionam? E porque diabos todo o meu corpo ta formigando como se todo o sangue dele tivesse ido para o meu rosto?! Ah, quem sabe seja porque eu estou uma pimenta malagueta de tão vermelha e olhando para os meus pés como se ali passasse algo muito interessante.

- Érr... Quem quer mais pizza?! – Arianne perguntou, olhei para ela para rir e percebi que as meninas estavam no mesmo estado de vermelhidão.

- Boa idéia, vamos pegar! – falou Raquel já levantando.

- Eu vou com vocês! – falei levantando também.

Fomos para o balcão e seu Francesco ria feito bode velho com a situação!

- Mais uma pizza meninas? Sabor pimenta? – ria-se ele.

- Ai céus, o que a gente faz agora?! – falei olhando para as meninas.

- Não faço a mínima idéia! – falaram as duas.

- Bem... Quem sabe em vez de outra pizza um gelato? – perguntou Gianluca atrás de mim.

Estremeci ao ouvir sua voz tão perto, senti o calor do seu corpo atrás de mim e minha cabeça começou a rodar, porque ele tem que ser tão sexy?!

- É uma boa idéia. – falei quase sem respirar.

Gianluca enlaçou minha cintura e gesticulou para a porta, vi Piero sorrir para Raquel e por a mão nas suas costas, e Ignazio se curvar como um cavaleiro para Arianne passar. Que coisa mais cavalheiresca uh?

Seu Francesco sorriu largo e piscou para mim e fomos com os meninos tomar o tal gelato, acho que seria uma boa para nos refrescar, e eu não tinha duvida que foi nisso que eles pensaram.

- Qual sabor vocês querem? – perguntou o sorveteiro.

- Creme para as duas e chocolate para mim. – falei já sabendo o que elas gostavam.

E foi o que pegamos, e advinha?! Gianluca pegou chocolate também! E Piero e Ignazio pegaram creme só por causa das meninas, oh que duvida. Mas eu sei que Gianluca fez por mim. (risos eternos, sambando na cara da inveja).

Tomamos o sorvete meio que em casal, cada um em um canto meio afastado, até que eu olhei para o lado de Piero e Raquel e vi-a terminando seu sorvete e colocando o papel no lixo, até aí tudo bem, mas ela simplesmente enlaçou o pescoço do menino e lascou um beijo nele! O que diabos deram na sorella?!

Arianne começou a passar sorvete no nariz de Ignazio que atirou o sorvete para longe, abraçou-a e beijou-a! O mundo todo resolveu brincar de propaganda da colgate?! Quando olho para frente Gianluca me puxa e...

- Morgana, acorda bambina, você está bem?! – perguntava seu Francesco.

- Ham... O que houve?! – perguntei desnorteada.

- Eu te trouxe a pizza e você desmaiou. – explicou ele.

Legal, eu continuo sem as sorelle e sem o Gianluca.

- Tudo bem, eu estou bem... – falei meio decepcionada.

Comi o pedaço da pizza com desanimo, quando sinto uma mão no meu ombro.

- Hey, quando você estava vindo aqui deixou cair isso. Eu não sabia seu nome, mas fiquei muito curioso para saber.

- Mo-Morgana... – gaguejei.

Afinal, era Gianluca Ginoble.