Ele já fazia demais só por me acolher em sua casa, e ainda me bajulava como se eu fosse uma princesa. Não que eu não fosse uma, na verdade eu sou apenas na vida artística. E sim, eu nasci para ser uma princesa, mas sei que toda vez que ele me elogia meu rosto queima, assim como o dele.

Agora eu estou aqui, em seu apartamento, encolhido no sofá com um conjunto de cobertores me cobrindo, enquanto ele saía da cozinha agasalhado em apenas um cobertor. Trazia duas xícaras de chocolate quente, servindo logo uma delas para mim. Agradeci. Aquele inverno estava de matar.

Ah sim, me esqueci de contar o motivo de eu estar no apartamento do meu melhor amigo. Simples, a avenida estava tão coberta de neve que a interditaram sem previsão para liberar. Eu não tinha como ir para casa por aquele caminho que era o mais curto, então essa coisa fofa que está sentado ao meu lado me ofereceu abrigo por hoje.

Eu adorava aquele jeito meigo dele, me perguntando se ainda estava com frio ou se precisava de mais alguma coisa. Realmente ele não via o quanto eu estava agradecido e que tudo estava ótimo pra mim... Portanto que ele não saísse de perto de mim.

Ele ligou a TV, que caiu logo no canal da NHK¹. Eu nem prestava atenção no que passava, apenas percebia satisfeito os olhares que aquele gatinho me lançava. Eu sabia daqueles olhares que beiravam a fascinação, mesmo que ele disfarçasse muito bem eu não deixava de ser muito observador. Ele sempre agiu diferente comigo, ainda mais quando eu precisava de ajuda.

O encarei ao mesmo tempo em que ele me olhava... de novo. Ri mentalmente ao ver seu lindo rosto corar, lhe lancei um sorriso doce que foi logo correspondido. Voltamos a assistir a programação ainda desconhecida da televisão, aliás, eu nem queria mesmo saber, só aquele silêncio gostoso entre nós valia muito a pena. Terminei de beber meu chocolate quente e pouco tempo depois ele também.

- Me dê... - ele se levantou e então eu lhe dei a xícara, agradecendo novamente. Ele foi até a cozinha e voltou, sentou-se do meu lado e o silêncio recomeçou.

- Teru-kun... - sussurrei alguns segundos depois, o encarando. Suas lentes azuis celestes me fitaram ansiosas, parecia que ele esperava aquele momento há tempos. Às vezes eu me perguntava se ele dormia com aquelas lentes de contato, pois raramente eu o via sem elas.

Olhei para seu corpo escondido no edredon e suspirei, “Está com frio por minha causa...”, eu disse.

- Eu não estou com frio, Hi-chan...! - ele rebateu mais corado ainda. Adoro quando ele me chama assim, - Não se importe com isso ne... - era incrível como ele fazia meu coração bater mais rápido apenas falando. Tudo nele era perfeito para mim, e não levei muito tempo para admitir isso.

Eu sabia que ele se privaria do próprio conforto e até felicidade para me ver feliz, e esta noite eu não hesitaria em provar para ele que também sou capaz de fazê-lo feliz.

Sem falar mais nada, comecei a me aproximar dele. Vi Teru paralisar, mas eu via em seus olhos que precisava de mim, do meu corpo, do meu amor. Abri os braços para separar os edredons que me cobriam e o trouxe contra o meu corpo.

Ele fechou os olhos e eu sorri, seu corpo tão delicado quanto o meu parou de tremer do frio aos poucos. Era indescritível a sensação que eu tinha ao vê-lo me aceitando sem rodeios. Acariciei o rostinho daquele príncipe, o meu príncipe. Teru abriu os olhos e me fitou, parecia um bonequinho em meus braços. Ele me abraçou lentamente, como se tivesse medo de ser rejeitado.

Quando estávamos literalmente agarrados no sofá, ele encostou sua bochecha na minha.

- Hizaki... – começou - Porque está assim comigo...? - gaguejou. Virei o rosto para encará-lo, nossas respirações mesclavam. Eu sentia seu coração querer explodir como o meu.

Eu reuni minha razão restante para não agarrá-lo naquele momento, tinha que ser com calma.

- Porque... Eu te amo... - revelei finalmente, queria ver sua reação. Foi o que eu esperava, surpresa. O encarei com ternura, mostrando que eu havia falado a verdade.

- Hi-chan... - Teru sorriu também, me abraçou apertado - Eu não acredito...! Eu também... te amo muito!

Fiz meus dedos passearem pelo cabelo prateado e ele me encarou de novo. Juntei nossos lábios num simples toque, os dedos dele enlaçaram a minha nuca e meus pêlos do local se arrepiaram. O nosso primeiro beijo, simples e mesmo assim intenso. Nos separamos pela maldita falta de ar.

Teru pegou o controle remoto e desligou a TV, se levantou e me puxou junto com ele. Dane-se o frio, nos beijamos de novo e de novo. Quando estávamos na sua cama - sem segundas intenções -, eu me aconcheguei em seu peito enquanto ele me admirava.

- Já somos namorados? - perguntei agitado.

- Claro! Claro que sim! - ele parecia uma criança recebendo seu presente. Eu era seu presente - Você é o melhor presente de natal que eu já recebi. - ele disse. Adivinhou meu pensamento.

- Eu sempre fui seu... E sempre vou ser. - eu disse. Nos beijamos de novo, ele parecia não querer dormir - Dorme, neko²... eu vou ficar aqui. - Teru pareceu mais aliviado, e então fechou os olhos. Caiu logo no sono, e eu continuei acordado.

Ele agora é o meu gatinho, só meu.