Palavras Ao Vento escrita por Shiramoto


Capítulo 2
Capítulo 2




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De volta ao castelo, aprontei rapidamente as minhas coisas. Dobrei bem e guardei minha jaqueta preta em minha mochila, vestindo apenas uma camisa de gola vermelha, as calças e botas de justiceira. Prendi meus sabres na cintura e deixei meu quarto.

Saí a passos apressados, mas minha tentativa de sair sem ser notada foi quebrada pois Lire e Arme estavam passando no corredor. Se pudesse, as evitaria, mas como vinhamos de frente, me notaram:


- Elesis, bom dia! - disse a elfa

- Oii! Ué? Aonde você vai? - perguntou a maga.

- Ah... eu vou só treinar um pouco.

- Com sua roupa preferida e uma mochila nas costas? Du-vi-do! - disse Arme, se divertindo.

- Ah, não enche. É que vou a um lugar especial.

- Huuummm, como suspeitei! A festa ontem teve resultado! Hehehe!

- Xii... Alguém fisgou esse seu coraçãozinho de pedra?

- Para com isso, Arme! Eu estou indo com o Sieghart, se quer saber. E não tenho uma previsão de retorno tão cedo. Tchau! Tchau Lire!


Elas ficaram estranhadas. Teria feito uma despedida melhor, mas não me deixariam ir tão facilmente. No entanto, a verdade é que...


Eu odeio despedidas.


Eu criei muita afinidade com as garotas. Falar pra elas que eu iria começar uma missão tão complicada despertaria nelas uma vontade de me ajudar... Bom, pelo menos isso é o normal entre pessoas que se gostam... E por saber deste perigo que não quero que elas venham.


Mas será que era boa idéia do Sieghart me chamar? É certo que se meu pai estiver envolvido, eu ficarei realmente satisfeita em ter a oportunidade de resgatá-lo. Mas era sábio uma mortal fazer uma missão de imortais?


Espero que Sieghart tenha um bom plano.


Depois de percorrer o caminho e sair do castelo de Serdin, encontrei-me com ele no porto.


- Aí está você. Aonde vamos?

- Nós vamos aos confins de vermécia, ao extinto Reino da Luz. Lá encontraremos a continuação da jornada, e no caminho vou poder treinar você.

- Me treinar?


Ele ignorou minha pergunta, aproveitando que conversava com um dos capitães dos navios. Conseguimos um barco voador pequeno, e depois de subir nele, Sieghart botou o navio na direção e partimos a sós.

Depois de já estarmos em movimento e sem obstáculos à nossa frente, deixou o timão e alongou os braços para cima.


- Me explique direito... Vai me treinar porque acha que não sou capaz?

- Não é uma questão de capacidade, ruivinha. Você é uma pessoa incrivelmente competente, e é por isso que te trouxe. Mas você não acha que ainda lhe falta alguma coisa?

- O que é que me falt-


De relance, o vi sacar sua Highlander. Ainda estava com meus sabres embainhados e o pequeno tempo que tive para reagir me forçou a sacar apenas uma delas. Com a força que ele investiu contra mim, o louco quase me derrubou do barco. Permaneci na mesma posição de defesa, com o sabre na mão direita e a outra mão a apoiar a arma, enquanto ele pressionava a lâmina contra mim.


- Você não pega leve em... gostei.

- ... Melhor do que eu esperava, muito bom.

- Esperava o quê? que seu ataquezinho meia-boca me pegasse em cheio?


Ele investiu em um ataque pela minha direita, após um giro de corpo veloz, bem defendido, continuando com um chute na altura da minha barriga, o qual me atingiu de raspão quando desviava para a direita. Girei meu corpo e saquei o outro sabre, assumindo minha pose ofensiva.


Em golpes diagonais, investia contra ele, que apenas desviava para os lados, dando passos pra trás. Logo cruzamos a ponte do barco e ele esquivou um pouco mais para a esquerda. Prossegui com mais ataques sem pausa, girando o corpo com espadadas horizontais, variando a altura dos golpes. Ele continuava seguindo para trás, até que ele conduziu minhas espadas para cima com apenas um posicionar da sua lâmina, e em um soco poderoso, me jogou para trás, fazendo-me rolar as escadas da ponte, caindo no convés.



- Que menina tola você é. Achou que poderia bater de frente com uma lenda?

- Ha! Na verdade só não queria te deixar enferrujado.

- Hehehe. E então? Disposta a aprender algumas lições, criança?

- Até que não será uma perda de tempo. - reconheci, com um sorriso confiante.


Isso pode ter sido um baque grande em meu ego (e um leve aumento no do Sieghart), mas medíocre é o pior insulto que podem me fazer. Sempre irei escalar, até atingir o topo!


---


Em uma batalha que combinamos não usar nossos poderes mágicos, para obviamente não explodir ou atear fogo à embarcação, passamos o final de tarde, enquanto viajamos ao extremo oeste do continente. Já viamos as ruinas da Gaon, antigo lar de Lin. Perguntava-me se ela não nos seria útil nesa região, já que viemos para cá... Mas preferi deixar que o Sieghart guiasse pelo caminho.


O treino foi bom, mas não sei se aprendi muito, exceto como me defender do Sieghart...


Aterrissamos na fronteira do reino, pois lá ainda haviam muitos traços de destruição e o cheiro lá não seria muito agradável visto que houve um massacre poucos meses atrás. Descemos do barco e montamos acampamento.


- Bom, Sieghart, então viemos buscar o deus verdadeiro aqui?

- ... Não exatamente. Viemos encontrar um... como dizer... Um protótipo. Ele está... desaparecido. O problema é que se não for derrotado em seu momento de fraquesa, poderá causar um grande estrago... muito em breve.

- Um protótipo de deus? Como assim?

- Um ser construído a partir de várias Pedras da Alma.

- Mais de uma??


Nós sabíamos o poder de uma Pedra da Alma. Prova disso foi Bardinard, também chamado de Astaroth, que buscou ganhar a força do deus criador ao fabricar uma delas. Foi uma batalha dura, mas em grupo conseguimos vencê-lo. Lembrávamos disso enquanto o jantar era preparado.


- Ainda falta uma coisa que você precisa me dizer.

- Hm? – respondeu, desentendido.

- Por que você só me chamou ao invés de convocar toda a equipe? Tem certeza que não é algo que eu preciso saber?

- ...


Ele continuou calado e olhando para a fogueira. Estava pensando nas melhores palavras para dizer... acredito eu.


- Você teme a morte, Elesis?


Assustei-me. Por que ele me fazia essa pergunta assim, do nada?


- Uh... Isso é... relevante?

- Eu temo a morte.

- ... ahem... – pigarreei, mas na verdade, escondi uma risada - ... mas você não pode morrer, certo?

- ... é...


O jeito que ele falou me deixou em dúvidas se ele estaria falando sim ou não... e depois de uma pausa respondi a pergunta.


- Não, eu não temo a morte.

- ... por quê?

- Porque sempre faço minha vida valer a pena, e uma morte com uma luta verdadeira nunca será em vão.

- Mesmo sem seu pai?


Ele olhava pra mim, curioso. Eu continuei séria, mas respondi que sim, em um aceno de cabeça com os olhos pra baixo.


- Você terá feito tudo o que pode para salvá-lo, mas e se você não conseguir? Ainda terá alegria? Sua vida terá valido a pena?


Virei meu rosto para longe. Não queria pensar naquilo, mas ele estava certo. Eu dediquei toda a minha vida para me tornar mais forte para protegê-lo! O que eu faria se tudo o que fiz foi em vão?


- ... é...

- É? – ele olhava para mim com as sombrancelhas erguidas, se fazendo de desentendido.

- É. Não estou pronta para morrer, está feliz agora?

- Hehehe...

- Do que está rindo?

- Ué? Estou feliz agora!


Se eu tivesse algo na mão já teria tacado nele.


- Não fique com raiva. Afinal, nem eu estou pronto para morrer. Ainda tenho muito a fazer... – ele movimentou a cabeça, pensando – é... hmm... algumas coisas a fazer... Mas o importante é ter a alegria de viver.


Depois de abrir um sorriso, olhou para o céu com a lua minguante.


- Veja só... acampamento... fogueira... ensopado... luz da lua... ruivinha... – olhou pra mim, me contando também como...


Uma das coisas positivas da noite?


Virei o rosto e sorri. Puxei e abracei as pernas, apoiando meu rosto sobre os joelhos. Quando me dei por mim, Sieghart tinha jogado seu casaco preto sobre minhas costas.


- Ei, não estou com tanto frio assim!

- Não é pelo frio não, não quero que ele pegue fuligem. – disse, verificando o ensopado na fogueira.


Emburrei-me. Estava me fazendo de apoio pro seu casaco? Peguei-o, embolei e taquei em cima dele.


Ele desviou do casaco com o reflexo, mas a roupa acabou derrubando a panela e caindo no fogo...


---


- Bahh! Que perda de tempo isso aqui, Sieg! O ideal era que uma equipe de busca viesse pra cá! E você ainda nem me disse o que estamos procurando!

- Ah... é verdade, esqueci.


Já vagamos pela cidade, olhando os traços de destruição, e Sieghart continuava emburrado por causa de seu casaco.


- Cara, eu sá pedi desculpas! Não queria que acontecesse isso!

- Esquece isso, ruivinha, daqui a pouco eu melhoro. Só preciso descobrir as pistas da pedra.


Após essa conversa, caminhamos pela cidade em silêncio, até que passamos pelo seu centro novamente, onde havia um chafariz seco. Sieghart parou para olhar.


- ... aqui?

- Parece. Foi aqui um dos locais pelo qual passei em meu sonho. Olhando daqui...


Agora estava explicado. Sieghart teve uma visão. E preferia não me contar o que tinha sonhado.

Se vamos enfrentar um inimigo tão poderoso, ele deveria me passar todos os detalhes possíveis...


Pelo menos era o sábio a se fazer...


Ele olhou para a direita e observou uma construção em ruínas. Seguiu em direção a ela, e eu naturalmente o segui, observando que se tratava de um templo. Parecia muito maior por dentro - muitos bancos, um altar, vitrais em veneração às deusas criadoras de Ernas...


E eu me via novamente ali no vitral.


Já o observei várias vezes, e parece que eu, Lire e Arme temos realmente algo em relação à elas... Mas não me acho uma divindade. Aliás, me considero muito abaixo de uma, porque não sou nada perfeita. Reparei que ele também olhava para o vitral. Ele virou-se pra mim, me olhando nos olhos, e por algum motivo me senti constrangida com aquilo, voltando a olhar pra frente e olhar outros detalhes do templo.


- O que você faria se fosse uma deusa?

- Como é? P... por que você está me perguntando assim!?

- Você com sua mania de querer uma explicação pra tudo...

- E você é o quê? Um psicólogo?

- Não sou... mas com o tempo que tenho de vida bem que poderia ser...

- ... ok... você venceu, velhote.

- Olha lá... velhote não!

- Hehe... Ah... sei lá. Não faria nada. Já teria tudo que precisaria!

- ... nossa, que egoísta que você é...

- Olha quem fala!

- Eu sou uma lenda e sou tudo que digo ser! Mas não sou um egoísta! Enfim, agora eu não vou mais venerar Ernasis. Do jeito que você é não deve ligar pra ninguém daqui haha.

- Engraçadinho. Não sou Ernasis.

- Você fala isso como se soubesse de tudo...

- E você parece saber de tudo e não me conta nada! Vamos, me diga, o que nós precisamos ver aqui?


Ele respirou fundo, abaixou a cabeça e coçou a nuca.


- Precisamos encontrar um fragmento de portal. As tribos demoníacas que invadiram esse local estavam em busca das Pedras da Alma que estavam aqui... Mas elas desapareceram, e isso indica que foi utilizado um portal dimensional.

- ...

- Entendeu ou quer que eu repita?

- ... ah... entendi. Mas o que tem o meu pai na história?

- ... Não sei.

- Não sabe?

- Eu apenas o vi de relance em meu sonho... Mas ...


Ele fez uma pausa, que mais soou como um silêncio de velório.


- Mas...?

- Ele fazia um rosto de sofrimento, e junto dele eu via... outros dos nossos... Ronan, Lire, Arme, você...

- ... e você?... - perguntei

- ... eu... eu... – ele travou


E preferi não fazer mais perguntas...

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