Brought Up That Way escrita por Bells


Capítulo 1
Capítulo 1 Brought Up That Way


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, sou apaixonada por essa música ;)



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Brought Up That Way

Após mais uma manhã terrível Emily se agarrou aos seus cadernos e livros, desejando mais que nunca poder voar para casa, mas teve de se conter com os passos lentos de seus pés cansados. As lágrimas teimavam em escorrer, como sempre, e ela as limpava o mais rápido que podia.

Alguns olhares escapavam para trás para ter certeza de que ele não a seguia.

Ele era um bom garoto, o garoto pelo qual ela se apaixonara em segredo e fantasiara várias vezes os dois juntos. E quando seu sonho se tornou realidade ela descobriu que ele era um terrível pesadelo.

O garoto estava cheio de problemas, metido com drogas e álcool, metido com prostitutas e acreditava que ela era uma também. Era tarde demais para ela escapar, ele já a tinha em uma coleira, que a estrangulava cada vez mais.

Agora ela fugia, corria para casa, para o ‘’colo’’ do pai. Ela não podia contar nada a ele sobre o namorado ou sobre como os amigos dele a faziam sentir inútil, a chamando de todos os nomes possíveis e inimagináveis, a jogando contra paredes e derrubando seus livros por prazer, deixando-a sozinha no meio de movimentados corredores para juntar.

A garota estava presa nesse monte de problemas e não podia arrastar mais ninguém para eles.

Seus amigos se afastaram pelo próprio bem, e ela não os culpava por isso. No inicio até havia sentido raiva, mas ela era altruísta demais para não os perdoar.

Agora a uma quadra de sua casa ela apressou o passo ao ouvir que alguém a seguia, os soluços irromperam pela garganta pensando no pior, mas quando chegou a sua casa e arriscou um olhar para trás achou apenas uma mulher de terceira idade. O medo que ela sentia por ele se intensificava e a fazia sentir por todos os outros. Até sua sombra a assustava.

Ela respirou fundo e limpou o rosto com a manga da camiseta azul, entrou em casa e encontrou seu pai sentado na poltrona lendo o jornal, olhou para poltrona ao lado onde antigamente sentava-se sua mãe, há 11 anos aquela cadeira permanecia vazia.

Emily comes home from school,
Grabs onto her daddy's hand,
He says "Baby girl what's wrong with you?"
She says "Please don't make me go back there again"

Ela largou suas coisas no balcão de entrada e não aguentou ver o pai ali sem o abraçar. Ela correu até ele e o apertou o máximo que seus braços fracos permitiam, depois segurou a mão dele, as lágrimas molhando ambas as mãos.

O pai amavelmente levantou o rosto dela e limpou algumas lágrimas, depois olhou para seus olhos herdados da falecida mãe, azuis.

-Menina, o que há de errado com você?

Vendo que não podia continuar com essa mentira, pois ela se tornou um fardo insuportável, liberou um pouco dela:

-Por favor, não me faça voltar.

-O que eles fizeram com você?

-Eu só queria que houvesse uma maneira de fazê-los parar. – Falou sem responder a pergunta do pai, afastando algumas lágrimas dos olhos.

She said "I wish there was some way
To make them stop it"
So he drives down to
That principles office and says

Ele se levantou imediatamente e ela o fitou assustada, ele a ergueu com delicadeza e a levou junto para o carro, depois dirigiu até o inferno pessoal de sua filha, o colégio.

Emily se encolheu no casaco que cobria os diversos hematomas que se espalhavam pela pele ávida e branca.

O pai saiu do carro decidido, fechando a porta com força, as mãos cerradas em punho. Ela achou melhor o seguir, se sentia tão protegida perto do pai, tão a parte sobre a situação. Tão ingênuo sem saber o que se passava com a filha. Emily não queria que ele soubesse, imaginava o quão magoado ele ficaria, e ela não suportaria o ver assim novamente.

Sempre dois passos atrás do pai, caminhando encolhida e com delicadeza, como se os pés não encostassem ao chão, sem fazer barulho algum, já o pai com passos decididos e pesados adentrou a sala do diretor.

"I didn't bring her up
So they could cut her down
I didn't bring her here
So they could shut her out
I live my whole damn life
To see that little girl smile
So why are tears pouring down
That sweet face?
She wasn't brought up that way"

-Eu não sei o que se passa na escola do Sr. Diretor, mas acho que o senhor deveria saber! Eu não criei Emily para que pudessem deixá-la calada. Eu vivo a minha maldita vida inteira, para ver o sorriso dessa menininha –Ele apontou para Emily que se escondeu atrás da porta- Então por que tem lágrimas escorrendo por
esse doce rosto? Ela não foi criada desse jeito!

Sem nada mais a dizer ele saiu, irritado, Emily encarou o diretor, tão assustado quanto ela.

-Desculpe, Sr. Diretor – A voz saiu engasgada, a auto confiança em um fio – Não vai se repetir. Não se incomode.

Ela fechou a parte do escritório e seguiu o pai, apressando o passo. Ela voltou a entrar no carro ao lado dele. Os olhos cheios de pergunta que evitou fazer a filha que já estava ferida e magoada demais. Sem nenhuma palavra a ser trocada ela fechou os olhos e encostou o rosto quente na janela fria.

Quando chegou em casa correu para o quarto. Queria tanto agradecer o pai por ter tentado ajudá-la. Ela sabia que isso não adiantaria em nada, mas não mudava o fato dele ter tentado. A vontade de agradecê-lo era tão grande quanto à ausência das palavras. Ela não foi criada para ficar calada, mas era assim que aprendera a sobreviver na selva que muitos chamavam de colégio.

Toda vez que sua cabeça encontrava o travesseiro durante a noite ele ficava molhado pelas suas lágrimas salgadas que ardiam na pele e pingavam no tecido de algodão. Ela mal conseguia dormir sem ter terríveis pesadelos, então escolhera ficar acordada por todas as noites encarando a janela, pensando o porquê que esse pesadelo acontecia com ela, tendo tantas pessoas para acontecer. E com tantas acontece.

A luz mal entrava nas tiras abertas da janela, durante a noite havia apenas os lampiões iluminando a rua, e esses eram fracos demais para clarear o quarto escuro no qual ela jazia. Durante a manhã a luz parecia se intensificar, já que vinha com o sol. O sol que parecia vir para esfregar na cara dela que tudo aconteceria de novo.

E aconteceu.

Ela achou que se livraria disso pelo menos hoje. Parecia estar invisível para todos. Mas ela não se livraria disso por tanto tempo, apenas se iludiu achando que o breve discurso de seu pai para o diretor havia funcionado.

Quando ela estava saindo da escola aquele braço forte e familiarmente medonho segurou o seu, fazendo-a chocar-se contra o corpo musculoso dele.

Ela se encolheu e forçou os olhos antes de abri-los para encarar os dele. Um sorriso brincalhão se fazia presente em seus lábios que sussurram em seu ouvido:

-Nem te vi hoje. Ia ir embora sem se despedir, minha princesa? –Aquele sussurro rouco a fez estremecer, a fez temer. Ele causava repulsa a ela.

-Eu já estava indo para casa...

-Não, não, menina má! Não pode ir sem se despedir – Falou afastando os cabelos dela que tapavam seus lábios que foi onde os lábios nojentos dele se encostaram.

Ela manteve os olhos abertos, e os lábios imóveis. Ele se afastou e sorriu, passou o braço ao redor de seu ombro e a arrastou até seu carro.

-Vem, hoje você vai se atrasar um pouco para o almoço com o papai.

Ela apenas assentiu e entrou no carro com ele, quem sabe se ela o obedecesse seria melhor.

Ele ligou o rádio em um rap que fazia os ouvidos dela doerem, e doíam ainda mais quando a voz desafinada do rapaz acompanhava a descompassada melodia.

Por favor, que acabe logo, por favor. Suplicava mentalmente.

Ele estacionou em uma rua sem saída e a olhou cheio de malicia, ela estremeceu e temeu mais que nunca, desejou com todas as forças que alguém aparecesse e a salvasse. Um anjo da guarda, ou até O Demônio, mas como ele a salvaria se estava no carro com ela?

Ele se aproximou dela, ela se encolheu segurando a maçaneta da porta do carro, ele sorriu diante do medo dela, ela sentiu uma lágrima escorrer. Ele abaixou o casaco de tecido fino e beijou os hematomas que ele mesmo fizera no pescoço, nos ombros e braços da menina. Ela estremeceu sentindo o choro vir pela garganta. Mas o manteve lá.

-Que é isso Emily... Se solta...

Ele começou a baixar mais o casaco, a rodear a cintura dela com as mãos, a passar a mão por baixo de sua blusa, e sua mão foi subindo... Emily cada vez mais assustada. Quando as mãos dele alcançaram seu sutiã ela o empurrou de volta para seu banco, e ele bateu as costas no volante. Ela achou que ele se enfureceria e sua mão apertou a maçaneta.

Ele riu abafado.

-Ingênua. Ainda não está pronta? Deixe eu te contar algo... Eu não me importo. Porque eu estou pronto há muito tempo. Estou fazendo isso há muito tempo. E você princesa mimada, não vai me negar isso.

Emily sempre aguentou calada, mas mimada ela não era, muito menos princesa. Há algumas coisas que ela não fará, não podia fazer isso com seu pai.

-Não. Me. Interessa. Me leve para casa! – Ela levou o tom de voz e ele a encarou debochado. –AGORA! – Berrou com o rosto vermelho e a raiva subindo por todo seu corpo.

Ele deu de ombro e fez sua vontade, parou em frente a casa dela, mas antes dela sair a puxou e sussurrou:

-Há tempo... Isso não acabou princesa.

Ela se soltou com força e bateu a porta do carro com mais força ainda, desejando que tivesse estragado-a.

Emily's home late again
He sees that boy drive away
Oh, but something is different this time,
She doesn't have too much to say
She said "he tried but
There's just some things I won't do"
And through the tears
She said "I couldn't do that to you"
And he said

As lágrimas que havia segurado enquanto ele a explorara começaram a sair agora e ela adentrou na casa soluçando assustada demais.

O pai a olhou curioso, e espiou pela janela, a tempo de ver o garoto ir embora. Depois se voltou para sua filha desolada no hall de entrada.

Ao ver o olhar curioso de seu pai deu um sorriso fraco e falou:

-Ele tentou, pai. Mas há apenas algumas coisas que eu não faria – Ela soluçou –Eu não poderia fazer isso com o senhor.

Ele acariciou os cabelos dela e a puxou para perto dele, ela se ajoelhou em sua frente. Vendo que não havia muito a falar, já que não conhecia a situação, e sabia que sua filha não lhe contaria nada ele se viu na obrigação de consola-la. Na obrigação e no dever de ver sua filha sorrir.

"I didn't bring you up
So he could wear you down
Take that innocent heart
And turn it inside out
I live my whole damn life
To see my little girl's smile
So don't let nobody take that away,
You werny brought up that way"

- Eu não a criei para que ele pudesse te despir, se aproveitar desse coração inocente. Vira-lo do avesso. Eu vivo a minha maldita vida inteira para ver o sorriso de minha menininha-Ele acariciou o rosto dela- Então não deixe ninguém tirar isso, você não foi criada desse jeito.

Ela sorriu e abraçou o pai, permaneceu assim por algumas horas, no colo dele, onde a sua ingenuidade era intacta e onde os braços dele a protegiam.

Algumas noites depois, Emily foi a uma festa. Fora obrigada a acompanhar o garoto, para que ele exibir seu novo pedaço de carne conquistado. Ele havia bebido e havia tentado abusar dela mais do que uma vez. As diversas mulheres no local acompanhadas pelos amigos dele não fizeram nada para ajudar, apenas deixaram eles as abusarem, e sentiram prazer nisso. Emily lutou e tentou se soltar de todos os jeitos.

-Você não vai fugir princesa – Ele disse rindo espalhando o bafo de cerveja. –Eu falei que não havia acabado.

-Me solta! – Ela acertou a cara dele em um tapa e aproveitou a oportunidade para correr para longe, rezando para não ser seguida.

Ela não sabia onde estava, e nem para onde ia. Sabia para onde queria ir, mas não o caminho. Tudo havia ficado embaçado, não pelos dois copos de cerveja que lhe foram empurrados pela boca, mas pelas lágrimas que vieram em uma cota maior do que das outras vezes. Ele ultrapassou os limites, ele a despiu a força na frente de todos e agora atrapalhada ela abotoava sua camisa.

Sem ter noção para onde ia, com os dedos concentrados nos botões, tentando focaliza-los, ela não teve a chance de ver o carro que vinha em sua direção. Apenas ouviu a borracha do pneu protestando. Mas era tarde... Ele não conseguiu ultrapassar, como se bastasse ela escondeu o rosto com as mãos, até sentir aquele carro bater em suas pernas, fazendo a cair para trás e bater com sua cabeça no asfalto, que imediatamente começara a sangrar, o carro parara em cima de suas pernas agora ensanguentadas e doloridas. Ela foi levada para a inconsciência.

O motorista saiu desesperado do carro, ele verificou o pulso dela e tentou se comunicar, mas a garota estava quase morta. A ambulância e a policia não demorou a chegar... Um oficial reconheceu a filha do pastor, e ficou encarregado da difícil tarefa de alertá-lo sobre o ocorrido.

Ele não pode deixar de derramar algumas lágrimas solidárias pelo amigo que já havia perdido a esposa.

As luzes vermelhas e azuis se misturavam, o barulho irritante de duas ou três sirenes. Os paramédicos tentando achar pulso em Emily e os bombeiros tentando retirar o carro de cima dela sem provocar danos. O motorista atordoado sendo atendido por outro paramédico carrancudo. Os policiais o interrogando.

Pobre Emily, se ouvia algo deveria estar mais confusa do que nunca.

The phone ring on a rainy night
Says "It's Officer Tate"
He said "Sir there's been an accident,
You better come down here right away.
A drunken driver missed an overpass,
And emily, she's fading fast"

O telefone do Pastor tocou no meio daquela noite chuvosa. Ele arrastou-se até a cozinha para atendê-lo acreditando que ouviria a voz de Emily do outro lado da linha...

-Olá Pastor... É o Oficial Tate.

-Olá, Oficial, algum problema? –perguntou sonolento.

Desconfortável com a situação continuou:
-Senhor, houve um acidente, é melhor você vir para cá imediatamente. Um motorista bêbado não conseguiu ultrapassar direito, e... Emily, ela está enfraquecendo rapidamente.

Os olhos do Pastor saltaram das órbitas, ele passou a mão pelos cabelos grisalhos. Estava atordoado, em choque. Não sabia o que falar ou o que fazer.

He says God, I didn't bring her up
To watch them lay her down
Nearly killed me today,
They put her own
Momma in the ground

- Deus! –ele exclama com medo de que sua voz denunciasse as lágrimas que começaram a escorrer- eu não a criei,para vê-los deitá-la! Quase me matou no dia, que eles colocaram a sua mãe no chão!

-Desculpe Pastor... Na estrada para Nashville... Até breve.

O pai de Emily mal terminou de vestir as roupas que já estavam jogadas ao chão e mal pode ver os demais veículos na estrada, quase causando o próprio acidente. Sua mente negando de todas as maneiras o que ouvira. Tentando se preparar para o que veria, agora que chegara ao local do acidente.

Desceu do carro correndo e foi impedido pelo Oficial Tate de se aproximar demais... Seus olhos focalizaram a filha inconsciente deitada em uma maca sendo colocada em uma ambulância. A  cabeça ferida lavando seu rosto em sangue, as pernas cortadas com tanto sangue quanto a cabeça, sua pele adquirindo um tom arroxeado, e seus olhos estavam fechados, seria fácil se deixar enganar imaginando que ela estava dormindo se não houvesse tanto sangue cobrindo seu corpo.

Only thing that ket me alive,
Was that little girl's smile
So please don't take that away,
I won't be easy taking her today,
She wasn't brought up that way

- A única coisa que me mantinha vivo, - Falou desesperado olhando para o Oficial- Era o sorriso daquela menininha. Então por favor, não me tire isso. – Implorou-Não vai ser fácil levar ela hoje... Ela não foi criada dessa maneira

He stands over the hospital bed


Emily foi levada para o hospital... Ele não deixou seu lado, nem quando soube que ela não corria risco de vida. Os garotos que faziam a farra perto daquela região, incluindo o namorado da garota, haviam sido presos. Ela ficaria em paz agora. O Pastor segurou sua mão e a acariciou, ele ficou do seu lado.

Emily opens her eyes

Emily abriu os olhos.


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Notas finais do capítulo

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