- Vamos embora daqui. - Fernanda disse em um tom desesperado.
- Espera - Disse Elyssa - Qual foi o resultado? Não vai me contar?
- Você já sabe demais sobre minha vida. Esse é só mais um detalhe que você não precisa saber. - Fernanda parecia irritada.
- Desculpe, mas não estou te entendendo. - Falou Elyssa, confusa com o comportamento repentino da amiga.
- Você não precisa entender. Vá para o cinema com seus amigos. Eu vou para casa. - Fernanda saiu rapidamente do banheiro sem olhar para trás.
- Espera - Gritou Elyssa, correndo para tentar alcançar a garota.
- Elyssa me deixa.
- Qual o seu problema Fernanda? - Agora era Elyssa quem estava irritada.
- Não tenho problemas. Eu só quero ficar sozinha. Vá com seus amigos e me deixe.
- O resultado foi positivo? Foi isso o que aconteceu? Porque se foi, você não precisa ficar assim. Haverá uma solução. Você tem que contar a Willian e juntos decidirão o que fazer.
- Não é da sua conta qual foi o resultado. Já disse que você sabe demais da minha vida. Não quero te contar mais nada.
- Tudo bem então - disse Elyssa desistindo.
Fernanda foi embora deixando Elyssa completamente confusa. Realmente Willian tinha razão. O caso de Fernanda era grave. Ela precisava de um tratamento um pouco mais avançado, porque se ela estava passando por algum tipo de tratamento, ainda não estava sendo suficiente. Elyssa pensou em ligar para Willian, mas notou que estava sem bateria no celular. Percebeu então que deveria voltar ao cinema. Encontrou Flávia e os meninos saindo porque o filme já havia terminado.
- Elyssa onde você estava? Perguntou Flávia. - Fui atrás de vocês na loja que Fernanda mencionou mas não as encontrei. Então resolvemos assistir sem esperar.
- Desculpa - respondeu Elyssa, tentando pensar no que dizer. - Fernanda passou mal e ficamos no banheiro para ver se passava o enjôo que ela estava sentindo, como não passou ela foi para casa. Deve ter sido algo que ela comeu.
- Coitada - disse Rodrigo. - Espero que ela melhore.
- Eu também - mentiu Elyssa. Ela não tinha certeza se tinha sido convincente com aquela história, mas sua maior preocupação agora era saber o resultado do teste que Fernanda fizera. Estaria ela realmente grávida?
- Bom, vamos para casa. - Convidou Flávia, demonstrando estar chateada com Elyssa.
- Eu não vou com vocês meninas. Eu tenho algumas coisas para fazer agora. - Disse Rodrigo, se aproximando para beijar o rosto de cada uma das amigas. - Vejo vocês mais tarde.
- Tudo bem então - disse Elyssa.
Assim que Rodrigo saiu Flávia questionou Elyssa sobre o que havia acontecido.
- Vai ou não me contar o que aconteceu? Essa história de que Fernanda passou mal não me convenceu. Fala logo o que houve realmente. Já sei, vocês brigaram. - O tom de voz de Flávia na última frase mostrou uma certa esperança de que a resposta de Elyssa fosse positiva.
- Não, não brigamos. Eu acho que não. - Disse Elyssa demonstrando estar triste.
- Me conta o que aconteceu. - Pediu Flávia, um pouco mais calma agora percebendo que a amiga precisava desabafar e não ser cobrada.
- Acho que está na hora de você saber de tudo Flávia.
- Tudo o que?
- Tudo o que tem acontecido ultimamente. O motivo pelo qual terminei com Matheus. O motivo porque eu não conseguia deixar de ser amiga da Fernanda e muitas outras coisas.
- Não estou entendendo.
- Você vai entender quando eu te contar.
- Então pode começar.
- Não aqui. Vamos para minha casa. Te conto tudo lá.
- Então está bem. Vamos.
As duas garotas se dirigiram para a casa de Elyssa, onde ela abriu o jogo e contou tudo para Flávia.
- Não acredito nisso. - Disse Flávia, espantanda com tudo o que acabara de ouvir. - Por que você nunca me disse nada?
- Porque começou quando a gente estava "estranha" uma com a outra. E eu achei que não daria em nada no início. Willian e eu decidimos ser discretos. Ninguém sabia até agora. Você está sendo a primeira.
- Acho bom.  - Disse Flávia, que odiava ser a última a saber de notícias como essas.
- Mas o fato é que agora eu não tenho ideia do que devo fazer.
- Você acha que Fernanda está mesmo grávida?
- Eu não sei. Eu estou muito confusa. A reação dela no shopping foi muito estranha.
- Eu acho que ela não está. - Disse Flávia. - Sabe, talvez seja por isso que ela saiu correndo do shopping.
- Será? Não sei não. 
- Por que você não liga para o Willian e pergunta?
- Sim e eu vou falar o que? "Oi Willian, eu liguei para saber se a Fernanda está grávida". Isso? Ele vai achar que eu é que sou louca. Provavelmente ele ainda nem sabe dessa história toda.
- Você tem razão. - Flávia estava pensativa agora. - Então espera até o dia em que vocês se encontrarem outra vez e você tenta descobrir alguma coisa. É possível que ele te conte se souber de algo.
- Talvez sim. Mas e se ela estiver mesmo grávida e ele resolver não me procurar mais. E se ele decidir se livrar de mim?
- Pelo que você me contou sobre ele, não acho que ele seja o tipo de cara que faz isso. Mesmo se ele quiser terminar com você ele vai te procurar para fazer isso.
- Talvez você esteja certa. Mas o que eu faço? Espero?
- Sim. Não há nada mais a fazer agora.
Algumas semanas passaram e Elyssa não teve notícias de Fernanda e Willian. Esperou ansiosamente que o telefone tocasse a qualquer momento mas isso não aconteceu. Pensou em ligar para o rapaz mas não sabia exatamente o que dizer a ele. Cogitou o fato de que talvez fosse melhor esquecê-lo e não procurá-lo mais. Era difícil tomar essa decisão mas era preciso.
Matheus não dera notícias desde que se mudara com a família. Elyssa pensou nele algumas vezes, mas não ligou mesmo sentindo vontade de fazer isso. Não queria confundir a cabeça do garoto e muito menos a sua própria. Começou a se isolar de seus amigos, o que deixou Flávia, Leo e Rodrigo preocupados. Eles sempre a convidavam para sair, mas ela recusava. Seu trajeto passou a ser apenas escola e casa. Flávia era a única que sabia o real motivo daquela fase depressiva. Cortava o seu coração ver a amiga naquela situação.
Foi algumas vezes em frente a faculdade de Willian e Fernanda, mas nunca via nem sinal deles. Reconheceu alguns amigos do casal, mas não tinha jamais a coragem de se aproximar de alguém e perguntar por eles. Sentia, na verdade, medo da resposta.
Mais algum tempo passou e ela começou a se acostumar com o fato de que Willian não iria reaparecer. Tentou ligar para ele algumas vezes e não havia retorno da parte dele até começar a cair na caixa de mensagens. Percebeu então que ele trocara de número. O mesmo aconteceu com o celular de Fernanda. Resolveu então se adaptar a ideia de que aquilo acabara. Agora tudo parecia um sonho. Era como se Willian nunca tivesse existido. E então ela pensou em Leandro. A história havia se repetido. Seria esse seu destino? Afastar, sem um motivo aparente, todas as pessoas que amava?
Estava cada vez mais difícil suportar aquilo e ninguém nunca a compreendia.
Meses passaram e Elyssa finalmente pareceu sair da fase depressiva. O que animou Flávia que agora tinha novamente uma amiga para sair.
Voltaram a frequentar shoppings e parques frequentemente. Saiam a noite para comer pizza ou cachorro-quente. Estavam sempre fazendo alguma coisa. Elyssa estava novamente se sentindo bem. Era o que ela queria que seus amigos pensassem. Não queria mais ter a imagem da garotinha frágil e depressiva.
Foi em uma dessas tardes no parque que o destino resolveu brincar novamente com Elyssa.
- Eu preferia ter ido ao cinema. - Reclamou Flávia enquanto caminhava pelo parque ao lado de Leo, Rodrigo e Elyssa.
- Fomos ao cinema ontem - disse Rodrigo. - Não conheço ninguém mais viciada em filmes do que você Flávia. E olha que eu achava que Elyssa era quem assistia filmes demais.
- Rodrigo tem razão. - Concordou Leo. - E afinal, existe algum filme em cartaz que você ainda não viu?
- Boa pergunta.- Falou Elyssa, rindo e olhando para Flávia, esperando uma resposta.
- Ah pessoal, vocês estão sempre contra mim. - Resmungou Flávia, percebendo que os amigos estavam certos e que ela já havia visto todos os filmes novos em cartaz.
- Flávia, deixa de ser chata e se divirta com a gente aqui. Olha só como a natureza é linda. - Leo começou a saltitar em frente aos amigos, inventando um certo tipo de dança, que fez todos rirem.
- Vejam só, temos uma gazela saltitante no parque - disse uma voz sarcástica que se aproximara do grupo de amigos.
Todos viraram-se para olhar quem unira-se a reunião e Leo parou de dançar e ficou em sua postura normal.
- Matheus? - A voz de Elyssa era de espanto.
- E aí pessoal - disse o menino num tom amigável - por que essas caras? Não gostaram de me ver?
- Fala Matheus - Rodrigo se aproximou do garoto com um sorriso no rosto e os braços abertos para abraça-lo. - Não acredito que você voltou cara. O que está fazendo aqui?
- Então, minha família resolveu voltar. Não nos acostumamos a nova cidade. Então aqui estou eu.
- Que bom ter você de volta. - Disse Leo.
- Realmente muito bom - Concordou Flávia.
- E você Elyssa? - Perguntou Matheus. - Não está feliz em me ver?
- Claro que sim. Vem cá. - Elyssa abraçou Matheus ainda confusa com a surpresa.
- Senti sua falta - Matheus sussurrou enquanto estava abraçado a Elyssa.
Elyssa se afastou e sorriu ainda sem graça.
- Chega dessa melação - disse Rodrigo se colocando entre o casal - vamos nos divertir, já que agora nosso grupo está completo novamente.
- Isso aí - comemorou Flávia se aproximando de Rodrigo e pegando seu boné, saindo correndo logo em seguida. - Perdeu, seu boné agora é meu.
- Hey volta aqui. - Gritou Rodrigo correndo atrás da amiga para recuperar o boné.
- Esses dois parecem que não crescem nunca. - Disse Leo, demostrando uma certa vergonha alheia.
- Ah qual é Leo? - Disse Elyssa. - Quem é que estava dançando feito uma bailarina agora há pouco?
Matheus riu do rosto vermelho do amigo.
- Tá vendo Matheus, essas crianças continuam as mesmas. Sempre pegando no meu pé. - Reclamou Leo.
- Você deveria estar acostumado a ser nosso brinquedinho. - Elyssa riu.
- Acho que já me acostumei.
- Então Leo, você poderia ir comprar um refrigerante para nós ali naquela banca. Faria esse favor? - Pediu Matheus.
- Por que não vão vocês? - Respondeu Leo.
Matheus olhou repreensivamente para o garoto, fazendo-o perceber que sua intenção era ficar sozinho com Elyssa.
- Tudo bem, eu vou. Eu já volto.
- Coitado do menino - disse Elyssa - você mal chegou e já está abusando dele. - os dois riram.
- Mas você sabe porque eu fiz isso.
- Sim eu sei.
- Então. Podemos conversar?
- Claro. Pode falar.
- Como você está?
- Como assim? Estou bem, acho que você está vendo.
- Elyssa, eu sei o que aconteceu com você há alguns meses atrás. Sua mãe me contou. Eu passei na sua casa antes de vir aqui. Foi assim que soube onde vocês estavam.
- Nossa, eu jurava que tinha sido coinscidência.
- Não foi.
- Mas então, minha mãe como sempre expondo minha vida por aí.
- Ela não expôs sua vida. Ela só achou que eu deveria saber.
- Mas não era preciso. Não aconteceu nada demais. Eu estou bem.
- Está mesmo?
- Sim.
- Que bom. Mas algo me diz que você está mentindo.
- Foi para isso que você veio aqui? Para me chamar de mentirosa? Ótima maneira de voltar para a vida de alguém.
- Não. Não foi por isso que eu voltei. Eu preciso te contar uma coisa.
- Pode contar.
- É sobre o Leandro.
- Não quero falar sobre isso Matheus. Já faz tanto tempo. Não importa mais nada que venha daquele garoto idiota.
- Mas eu preciso te contar. Ou não ficarei tranquilo.
- Tudo bem, o que aconteceu?
- Lembra do dia em que eu te falei que o Leandro tinha ido até a locadora te procurar e depois disso ele sumiu e te trocou por outra?
- Lembro.
- Então. Ele só saiu da sua vida naquele dia por culpa minha.
- Como assim?
- Quando ele apareceu lá, eu disse a ele que você não queria mais vê-lo e que estávamos namorando.
- Você não fez isso. Não, me diz que você está brincando.
- Não estou. Eu fiz isso, mas porque eu gostava de você. Sinto muito.
- Sente muito? Você tem ideia de como eu sofri por isso? Você sabia o quanto eu gostava dele. Você não tinha esse direito Matheus.
- Eu sei. Mas Elyssa, agora já faz tanto tempo.
- Foi só por isso que resolveu me contar? Só porque passou tanto tempo você achou que eu não iria mais ficar triste por isso?
- Não é isso. Eu só te contei porque me senti mal. Achei que você precisava saber. Agora que você já sabe, eu vou embora. Continue se divertindo com seus amigos.
- Matheus você é um idiota. Eu odeio você. - Elyssa gritou enquanto Matheus se afastava. Aquilo era demais. Ele realmente passou dos limites.
Elyssa não sabia mais o que pensar. Foi atrás de Flávia e contou o que tinha acontecido. Flávia também achou um absurdo. Bastou alguns minutos para Rodrigo e Leo perceberem o que tinha acontecido e convencerem Elyssa a contar a eles.
- Está pensando em procurar o Leandro? - Perguntou Leo.
- Para quê? Já faz tanto tempo. Não tem sentido agora. E ele deve estar namorando.
- Não está. - Disse Rodrigo.
- Verdade, ele não está - Confirmou Flávia.
- Como vocês sabem?
- Você esqueceu que esses dois adoram uma fofoca? - Brincou Leo.
- Muito engraçado Leo - Irritou-se Flávia. - Eu conversei com ele um dia desses Elyssa.
- Com o Leandro? E por que não me contou?
- Por que não achei necessário. Você estava com o Matheus e eu não queria atrapalhar. E eu não sabia dessa história. Então eu só comentei com o Rodrigo e decidimos não te contar nada. Você parecia não sentir mais nada por ele.
- E o que ele disse a você?
- Que ainda gostava de você e que estava muito magoado com o que você fez. Eu o chamei de idiota, porque a culpa tinha sido dele e ele disse que não estava entendendo. Nossa, eu o culpei sem saber.
- Todos nós fizemos isso.
- Acho que você deveria procurá-lo. - Aconselhou Rodrigo.
- Será? E se ele não quiser falar comigo?
- Com certeza ele vai te ouvir. - Disse Leo. - Vocês precisam resolver esse mal entendido.
- Tem razão. Eu farei isso.