O céu... está azul...

O céu realmente estáva azul. Pela primeira vez desde a sua criação, o céu do Mar Negro perdeu o tom cinza que a tudo cobria e foi banhado com uma aconchegante luz, que aquecia aquilo que tocava.

Takaishi Takeru, também conhecido por seus amigos como TK, não via a luz do Sol à pelo menos uma semana. Ela agora esquentava ligeiramente o seu corpo, que jazia na areia molhada da praia.

Tentando se erguer lentamente, Takeru pode perceber duas coisas. A primeira era que seu corpo estava nas piores condições que ele jamais estivera, e segundo, sua perna direita parecia estar inutilizada, em um estado além do que métodos normais da medicina poderiam recuperar.

Se utilizando de sua espada, que jazia a seu lado, Takeru levantou lentamente seu corpo multilado, até finalmente se erguer de forma aceitável. Olhando para os lados ele viu os destroços da maior batalha que já ocorrerá em qualquer dimensão. A área parecia um campo de guerra, o que não estava nem um pouco longe da verdade. Com destroços de estruturas e crateras do tamanho de casas para todos os lados. Mas o que ele realmente estáva procurando, ele encontrou a cem metros de distância, o corpo de seu amigo, que estáva utilizando de um barranco como encosto.

Lentamente Takeru foi se arrastando até seu amigo, apoiando-se em sua espada. Ao chegar perto, pode perceber um movimento nele, que levantou vagarosamente a cabeça e lhe abriu um sorriso cansado.

- Você já esteve em dias melhores, não general? – disse o rapaz, dando uma leve risada, seca e sem muito humor.

- Posso dizer o mesmo de você, capitão Ryo. – respondeu Takeru, usando o mesmo tom. Mas apesar de não demonstrar em sua face, Takeru estáva incrivelmente aliviado que seu companheiro de batalha, Akiyama Ryo, estava vivo.

- Finalmente derrotamos o desgraçado, não? Foi bom ver ele ser deletado...– disse Ryo, olhando ao redor. – Finalmente conseguimos vingar nossos amigos...

- Sim... Conseguímos. Mas os custos para derrotar Daemon e suas tropas foram muito altos...

E deveras foram, muitos Digiescolhidos morreram em batalha contra a Legião das Trevas, comandada pelo incrivelmente poderoso Daemon, Lorde Máximo do Submundo. Durante uma década ele causou terror em mundos e dimensões diferentes. Sua legião era formada por digimons extremamente poderosos, e apenas o esforço conjunto de vários grupos de digiescolhidos que eles finalmente conseguiram derrotar o demônio. Mas apenas três realmente sobreviveram.

Ao menos Ryo e Takato ainda estão vivos... Pensou Takeru, finalmente achando o corpo inconsciente de Matsuki Takato. Apesar de também estar com profundos ferimentos, seu peito levantava e abaixava levemente com sua suave respiração. Isso apenas já bastava para Takeru saber que seu amigo iria ficar bem. Olhando então em direção ao mar, ele pode ver seu parceiro Digimon, levitando sobre as águas. Sua armadura já não estava presente, apenas um manto cobria o digimon angelical. Ela havia sido utilizada como fonte de energia para o último ataque contra Daemon, assim como sua arma. ArchAngemon então se virou para Takeru, e sorriu de leve.

- Até mais companheiro, nos veremos em breve. – E assim, um dos mais poderosos digimons que já existiu começou a se desmaterializar em dados. Uma única lágrima escorreu no rosto de Takeru.

- Vá em paz meu amigo, lutou muito bem, merece um bom descanço. – ArchAngemon apenas sorriu, e logo foi envolto em uma energia brilhante, que separou seu DigiEspirito, materializando dois DigiOvos, que cairam levemente sobre a areia da praia. Um era de uma cor azul royal, o outro era vermelho-sangue.

Com dificuldades Takeru pegou os dois ovos e os colocou ao lado de Ryo e Takato, que agora encostava em um barranco para ele poder respirar melhor, cortesia de Ryo. Após respirar fundo, e olhar seus amigos, finalmente a ficha caiu.

A guerra havia acabado.

Com suas forças o deixando, suas pernas começaram a estremecer com a força que ele estava fazendo simplismente para ficar de pé. Mas antes de sucumbir à exaustão ele ainda tinha uma ultima coisa a fazer, se despedir de um velho amigo. Se arrastando até a praia por alguns metros, ele finalmente achou quem queria, o corpo de um guerreiro que já foi considerado um de seus mais formidáveis inimigos, e que agora não passava de um digimon à beira da morte.

- Enfim acabou? – perguntou BlackWarGreymon. Sua voz seca e cansada. Takeru, não suportando mais o esforço caiu de joelhos no chão, ao lado do combatente.

- Sim... – disse o digiescolhido da esperança – Daemon e suas tropas foram derrotados.

- Bom... – E o digimon deu uma risada grave e rouca, abafada pelo seu elmo. Durante muitas vezes ele a ouviu, em diferentes ocasiões e circunstâncias, mas mesmo agora ela ainda lhe dava arrepios. - E quanto ao roedor e o glutão?

- Voltaram a ser digiovos... Mas ainda estão vivos. – respondeu Takeru, mas então abaixou sua cabeça e lágrimas começaram a escorrer de seu rosto. – Mas... Mas não posso dizer o mesmo para voce...

- Não se preocupe. – E com um imenso esforço, ele levantou seu braço e colocou sua gigantesca mão em cima da cabeça de Takeru, bagunçando ainda mais seu cabelo. – Era esse o meu destino, fiquei feliz que consegui fazer o que eu queria... – disse o digimon. – Eu os agradeço por terem me dado uma segunda chance... Conte a todos sobre minha história, tanto meus atos de benevolência quanto aos meus atos crueis. Não deixe nada de fora.

O digiescolhido da esperança apenas afirmou com a cabeça.

– Diga adeus ao hamster.

Takeru o olhou por alguns momentos, e abriu um leve sorriso.

- Direi... E em nome dele, adeus, lagartixa.

E foi assim que BlackWarGreymon começou a ser deletado, dando uma grande risada, aliviado de ter finalmente redimido seus erros.

Takeru logo perdeu a consciencia. Exausto demais para conseguir aguentar a dor que sentia.