Durante toda a viagem não consegui pensar em outra coisa senão encontrar a minha nova família, mas não foi bem assim.

Eu e Rodrigo demoramos um século para achá-los, ainda bem que eu finalmente reparei num garoto bronzeado de cabelo loiro meio bagunçado segurando uma lata verde em uma das mãos e um guardanapo com meu nome na outra. Estranhei o fato de só ter ele lá, mas tinha uma grande chance dele ser meu primo então nós fomos ao seu encontro.

- Oi, eu sou Ethan – Falei, mas logo reparei que tinham fones nos seus ouvidos, bem que ele parecia estar meio desligado, eu o cutuquei, ele olhou para trás e só quando voltou a olhar para frente que percebeu minha presença então eu repeti – Oi, eu sou Ethan.

- Ah oi – o menino falou em outra língua, com certeza português – Ah é, desculpa, eu esqueci que tinha que falar em inglês com você – acho que ele reparou que eu arqueei minhas sobrancelhas, por isso se corrigiu agora falando em inglês.

- Claro, e você é?

- Leonardo, obviamente, mas pode me chamar de Leo – ele colocou o guardanapo no bolso e me cumprimentou – e ele? Quem é? – Leo perguntou apontando para Rodrigo.

- Eu sou Rodrigo, vim com Ethan – Rodrigo respondeu por mim na mesma língua que Leonardo tinha falado no começo, fiquei surpreso.

- Você fala português?

- Sim, tenho família aqui, sempre venho para o Brasil nas férias, tanto que preciso me apressar, meu irmão já deve estar me esperando lá fora – Ele disse se virando para Leo – cadê o resto da família?

- Bom, minha mãe trabalha até tarde, só chega 1 hora da manhã em casa em dias difíceis e meu pai está viajando à trabalho então ou a gente espera minha mãe vir nos buscar ou eu ligo para o meu tio agora e ele vem.

- Liga para seu tio – eu e Rodrigo respondemos em uníssono.

- É, foi o que eu pensei, mas ainda assim vai demorar uns 40 minutos ou mais, dependendo do trânsito.

- Tudo bem, vocês podem ficar conversando naquele café ali, assim você já apresenta o pão de queijo e o guaraná para o Ethan – Rodrigo sugeriu.

- Só tem um probleminha, eu já gastei o dinheiro que minha mãe me deu nesse guaraná e em outras comidas enquanto eu esperava por ele – Leo falou apontando para mim.

- Então eu empresto 50 reais – Rodrigo disse já me dando a nota e se despedindo.

Dessa forma só sobrou eu e Leo que ligou para seu tio e nós fomos para o café onde ele fez todos os pedidos.

- Então... Por quê só agora você decidiu passar uns meses de férias aqui?

- Uns meses de férias? – fiquei confuso.

- É, por que? Você só vai ficar alguns dias?

Eu ri.

- Se você não vai ficar nem dias nem meses, vai ficar por quanto tempo? – Agora Leo eram quem estava confuso.

- Acho que o plano é viver aqui meio que...hm... para sempre – eu disse ainda rindo um pouco.

- Para sempre? Mas e os seus pais, eles estão de acordo? Eles deixaram?

Parei de rir e percebi o que eu tinha feito, me deram a oportunidade de começar outra vida aqui eu já estava quase acabando com ela.

- Sim, eles deixaram – Decidi mentir.

- Nossa cara, o que aconteceu? Vocês tiveram uma briga ou coisa assim? Que pais aceitariam abandonar o filho, tipo, para sempre?! – Leonardo não conseguia acreditar,  estava impressionado.

Tive que inventar uma história falando mal dos meus pais, e é obvio que não gostei de fazer isso, mas era necessário.

- Nossa ou os seus pais devem ser mesmo muito chatos ou você aprontou muito porque não é possível! Meus pais nunca me abandonariam e olha que eu já fiz muita merda – Leo começou a contar histórias das coisas que ele já tinha feito, assim pude perceber que Leo e seus amigos eram iguais a Logan e seus amigos.

- Caramba!  Você é bem popular né? Sempre liderando essas coisas ai? – Eu sabia que Logan gostava de receber créditos pelo que fazia então decidi tratar Leo dessa maneira.

- Que? Não cara! Agente trata todos da mesma forma, não é como se eu tivesse seguidores ou coisa do tipo e alias, a gente só faz essas coisas com as pessoas para sacanear, todos são amigos, saca? Agora quando é necessário a gente se junta e ajuda um dos nossos a brigar com o cara que está implicando com ele, é quando a gente faz isso que eu acabo levando bronca dos meus pais ou sendo pego por uns guardas ai.

- Entendi, então vocês não são muito iguais aos meus antigos amigos, isso é bom.

Leonardo não entendeu muito bem, mas afirmou com a cabeça.

A comida chegou e nós dois comemos em silêncio muito esfomeados.

Depois conversamos mais um pouco, ele parecia ser legal , até me mostrou umas músicas as dividindo em grupos, as “de velho” e as “legais, nós rimos muito e ele me mostrou uns truques com a bola de futebol dele.

Até que o tio dele retornou a ligação falando que chegaria dentro de 20 minutos então nos fomos esperar fora do aeroporto.

-  Nossa! Que abafado – falei logo que saímos pela porta.

- É, essa é a melhor época do ano! Eu amo esse tempo! – Leo disse pulando de alegria e correndo de um lado para o outro.

Tudo que eu consegui pensar foi: ainda bem que não tem quase ninguém aqui porque senão eu ficaria muito envergonhado.

Quando Leo parou de correr pegou uma bicicleta e me falou para andar  nela.

- Você quer que eu ande nisso? Acho que não cara, faz muito tempo que eu aprendi provavelmente nem sei mais.

- Não se preocupe, eu ando com ela todo dia, foi assim que eu vim para cá sem meus pais, é fácil e eu vou estar acompanhando correndo então se você cair eu to aqui do lado para te ajudar.

Decidi tentar e deu certo, eu nem cai, só tremi um pouco no começo indo de um lado para o outro, mas depois consegui controlar a bicicleta.

- Viu? Você está indo bem! – Leo falou ofegante.

- Aham e para onde a gente está indo?

- Para o primeiro portão, assim meu tio consegue nos identificar mais fácil.

- Ok entendi.

Passamos um tempo só gritando UHUL, mas Leo parou de correr do nada.

- Isso está muito estranho, para um pouco ai Ethan.

- Qual é o problema? – eu perguntei freando.

- Aqui está muito desértico.

- Sim, isso é bom.

- Não é isso, é que você não entende, é normalmente nesses lugares e nessa hora que marcamos de brigar, mas hoje não era para ter nenhuma briga.

- E não está tendo nenhuma mesmo.

- Talvez, mas é melhor você sair da bike agora e andar a pé devagar, o negócio está meio estranho aqui.

Eu fiz o que ele falou e no fim descobrimos que ele estava certo, uma briga estava acontecendo lá num lugar mais escondido e o mais estranho era que uma garota da sala de Leo estava envolvida.