Todos estavam em volta da fogueira ardente, agora em uma cor preta- acinzentada, refletindo o humor de todos no exato momento. Talvez medo, era o que todos sentiam. Os campistas processavam todas as ideias da carta, analisando o que a antepenúltima frase significava. A maioria dos semideuses já havia decifrado toda a carta, fazendo com que o medo e terror tomassem conta de vários rostos.

‘’Os dois últimos a sobreviverem ganham’’

De 24 campistas, apenas dois sairiam vivos daquele lugar. Era esse o preço da justiça. Essa solução era realmente necessária? Quiron observava triste todos os campistas, receando quem seria os sorteados. Ele já sofria por perder vários semideuses que conhecia e considerava filhos, esse jogo só aceleraria o processo.

No meio de tanta gente com medo, apenas uma pessoa não havia entendido o motivo de medo. Ele. A pessoa mais lerda do mundo. Percy Jackson.
Era o único que olhava para todos com uma sobrancelha arqueada, estranhando aquela reação. Annabeth tinha a mesma expressão de todos, mas tentava se passar de forte. Mantinha a cabeça alta e o corpo reto. Olhou para o namorado ao seu lado, pois pensava que se ele estivesse abatido, ela poderia reconforta-lo. Mais o único que ela encontrou foi um garoto confuso ao seu lado, procurando alguma coisa na multidão.

- Annabeth... –disse o moreno, puxando a manga da camiseta de Annabeth- O que está acontecendo?

Annabeth achou impressionante o quanto Percy pode parecer infantil quando quer. Ela se virou e respondeu.

- Você ouviu o que Quiron disse sobre o jogo né? –ela perguntou e ele somente afirmou com a cabeça- Pois, de 24 campistas, apenas dois vão voltar vivos.

O único rastro de sorriso que tinha no rosto de Percy sumiu rapidamente quando Annabeth lhe respondeu. Ele abaixou a cabeça igual a que muitos faziam ali. Annabeth apoiou sua cabeça no ombro do namorado, acariciando seus cabelos negros. Percy sabia que as chances de sair seu nome nos jogos, eram muito grandes, mesmo tendo vários campistas. Todos sabiam que ao menos 22 semideuses, não sairiam de lá.

O Senhor D apareceu por trás de Quiron e começou a mexer em seu rabo. Quiron se virou para encarar Senhor D e bufou irritado.

- Podem retirar-se. – ele disse ao fim.

Todos saíram em seguida para seus chalés, pois, depois de uma notícia tão chocante, o que todos queriam era dormir e tentar esquecer tudo. Menos Percy. Ele era o que parecia mais atormentado pelo castigo. Ele correu em direção ao mar, seu esconderijo preferido. Foi escalando umas rocas para chegar a seu esconderijo, uma rocha alta chamada ‘’A onda de Poseidon’’, pelo seu formato, que aparente uma onda. Ele não notou que Annabeth o seguia desesperadamente. Ele escalou e quando chegou ao topo da rocha, desatou-se a chorar.  Lágrimas de dor, tristeza e medo. Annabeth escalava as mesmas rochas com dificuldade, mas silenciosamente. Quando chegou ao topo, andou calmamente até onde Percy chorava. Abraçou-lhe por detrás e sentou-se a seu lado.

- O que aconteceu, Cabeça-de-Alga? –Annabeth perguntou-lhe delicadamente.

- Eu não sei se posso falar... –ele disse com a cabeça já erguida.

- Diga, quem sabe, podemos fazer algo. –ela retrucou.

- Um dia, eu acordei com uma MI a cobrar na fonte do meu quarto. –ele começou, recuperando-se do choro- Eu aceitei já que o Nico ficou de me mandar uma. Mas não era o Nico, eram Zeus e Poseidon discutindo. Eles discutiam sobre uns jogos... Zeus disse pro meu pai que eu teria que ir, para mostrar que os filhos dos Três grandes são gente normal. Meu pai disse que não e Zeus ameaçou ele com algo que eu não ouvi... –Annabeth continuava com cara de quem não estava entendendo. –Você não entendeu Annabeth? Eu vou de qualquer jeito pros Jogos.

Isso foi um choque para Annabeth. Além de ter sido mais lerda do que o normal, ia perder a Percy. Uma das poucas pessoas que amava. Não que ela duvidasse de seu namorado, mas os campistas do Acampamento Júpiter eram treinados mais duramente e arduamente que o Acampamento Meio-Sangue. Isso arrasou o pouco de alegria que lhe restava. Ela não ia perder Percy de novo. Não mesmo.          

- Percy, hey. – ela disse levantando o rosto do namorado com as duas mãos – Nada vai te acontecer, ok? Não vou deixar você na mão.

Percy olhou Annabeth com os olhos verdes tristes. Annabeth somente lhe deu um sorriso confiante, aquele que você recebe dos seus amigos quando você tem um problema e eles vão te ajudar. Então Percy a abraçou fortemente, como se nunca o tivesse feito.

- Eu já te disse que te amo? –Percy disse ainda abraçado.

- Já. –ela respondeu - Mas é sempre bom ouvir.

- Eu te amo. –ele disse – Nunca se esqueça disso.

Annabeth apertou mais o abraço e disse:

- Eu também te amo. –ela disse- Muito.

Então eles fizeram algo que os dois não faziam há muito tempo. Ainda mais por parte dela. Ela afrouxou o aperto do abraço e por um segundo observou o moreno. Então, ela o beijou. Algo suave e hipnotizante, não urgente. Quando os dois se separaram, ela o olhou uma última vez naqueles olhos verdes que tanto a hipnotizava. Quando ela o viu de novo, já estava com a cabeça triste de novo.

- Hey. –ele a olhou- Eu te vejo amanhã.

E então ela se levantou e depositou um beijo no topo da cabeça de seu namorado, e saiu do lugar que estava Percy, escalando de novo as mesmas rochas com as quais havia subido.

Percy ficou no mesmo lugar, olhando o oceano com certo rancor. Pegou uma pedra qualquer e a atirou no mar.

- Por que, pai?! –disse gritando alto o suficiente para acordar metade do acampamento.

-Auch. –disse um homem que se materializou do lado de Percy.

-Por que... –continuou.

- Percy, eu fui obrigado... –disse tentando falar com Percy.

- Tivesse dito não! –ele gritou.

- Zeus ia fazer algo pior para mim e para você... –ele começou.

- O que pai, o que? O que foi suficiente para me sacrificar? –Percy disse choroso.

- Ele ia matar a Sally e a Annabeth! –Poseidon disse e Percy paralisou.

- O que? – ele estava chocado.

- Isso mesmo! – Poseidon estava irritado- Por isso pensei que você seria capaz de vencer essa joça!

Percy afirmou e baixou a cabeça.

- Hey, na arena, eu te ajudarei, se você pedir. – Poseidon disse antes de desaparecer em uma neblina com cheiro de maresia.

Percy saiu de seu esconderijo e foi para seu chalé, se escondendo das Harpias e, quando chegando, deitando na cama e dormindo profundamente sem sonhar.