He Saw It escrita por V01D


Capítulo 1
But he didnt believed.


Notas iniciais do capítulo

Primeira vez por aqui nesse fandom... E apesar de ser uma fic triste, espero que gostem!
Não betada, então todos os erros me pertencem. (:



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John viu, mas não acreditou. Ele não entendeu quando Sherlock falou, há tanto tempo em Baskerville, que vira, mas não acreditara nos próprios olhos. Agora ele entendia. Ele viu. Ele não acreditou. Ele rezou para cada maldito deus de cada maldita religião para que não fosse verdade. Ele rezou que Sherlock tivesse apenas drogado-o novamente, e que o que ele vira fosse apenas isso, um produto da droga. Que fosse apenas o que ele esperava ver quando Sherlock disse que aquela ligação era seu bilhete, e John entendeu que ele se referia aos suicidas. Ele rezou, mas não adiantou. Ele viu, uma vez, e infinitas vezes depois em sua mente, mas não acreditou. Ele não podia acreditar.
Ele se lembrava de cada milésimo de segundo da queda de Sherlock. Ele se lembrava do corpo alto e magro estirado na calçada. Ele se lembrava de ter olhado o corpo, e quando viu a posição em que Sherlock estava não pode evitar o pensamento que cruzou sua mente, que Sherlock estava sendo apenas infantil novamente, deitado naquela calçada, adormecido, estirado exatamente como estaria se estivesse em sua cama. Mas John também se lembrava do peito imóvel do detetive. Dos olhos azuis, frios e cortantes como gelo, abertos. No entanto, ele não se lembrava do sangue. Ele vira, ele vira o sangue saindo da boca e do nariz do moreno. Ele vira o sangue vermelho e mórbido tomar os fios negros e manchar a pele alva. Ele vira, mas não podia acreditar. Era como se sua mente processasse aquilo como uma ilusão de ótica, algo que ele vira, mas estava tão errado que não entendera. Igual àqueles textos em que as palavras são escritas erradas, ou tem letras fora de ordem ou trocadas por números. Era errado, e no entanto era possível ler o texto, quando sua mente deixava de ver a bagunça totalmente errada de letras e números e via palavras. Não eram palavras, era uma ilusão, criada para criar uma ordem. John vira o sangue, vira as feridas. Apenas não as processara, mantendo em sua mente os traços originalmente fortes do amigo.
O loiro jamais soube dizer quanto tempo se passou até que a polícia e a ambulância chegassem, mas ele sabia que havia estado do lado de Sherlock. Sabia que o tempo todo havia tentado achar seu pulso, por mais fraco que fosse. Sabia também que não achara, mas isso não o impedira de continuar tentando. Sabia que quando os paramédicos chegaram viraram o corpo de Sherlock antes de colocá-lo na maca, sua mente falhara por um segundo, permitindo-lhe ver todo o estrago que a queda havia feito. Sabia que os curiosos que estavam ao redor tiveram que segurá-lo. Sabia também que foi essa a hora em que ele quebrou. Foi nessa hora que ele se desesperou e ele chorou ainda de joelhos ao lado da maca ainda abaixada. E depois ele apagou.
Nunca soube dizer como chegou ao quarto do hospital. Não soube se tinha desmaiado, não soube se tinha gritado, se tinha chorado, corrido, nada. Sabia apenas que estava sendo mantido no hospital há pelo menos dois dias, 'pelo choque' como lhe foi dito. E ele não podia se importar, porque sua mente ainda não havia organizado nada. Ele ainda não entendia porque o cheiro de sangue estava tão misturado ao perfume de Sherlock. Ele não entendia porque os cabelos sempre soltos, organizados em sua própria desordem estiveram grudados no rosto ridiculamente pálido. Ele não entendia porque diabos era Molly, Lolly, qualquer que fosse o nome da garota, que estava em seu quarto no hospital, e não Sherlock. Era Sherlock quem deveria estar ali, parado, irritantemente parado e quieto, olhando para uma parede vazia, com as mãos espalmadas juntas na frente do rosto, como se fosse rezar, só para depois de horas e horas de silêncio se virar para encarar John e despejar uma linha de raciocínio que faria o loiro ter dores de cabeça só por tentar acompanhar. Não era Molly, Mrs. Hudson ou Lestrade que deveriam estar ali.

Quando finalmente foi liberado do hospital, Sherlock estava em todos os malditos lugares. Todos. Ele estava andando apressadamente nas ruas, entrando num táxi. Ele estava correndo por alguma viela. Ele estava no restaurante, e depois no café. Ele estava falando ao celular em frente à uma fonte. Ele estava principalmente nas bancas de jornais. O 'falso' detetive estava morto, todas as manchetes diziam. Sherlock estava em todos os lugares, e no entanto não estava em nenhum.
Eram quase cinco horas quando John percebeu que não podia simplesmente voltar ao apartamento dos dois, embora a ideia fosse tentadora. Mas ele não podia. Sherlock estava morto, mas ele precisava manter a esperança de que, quando entrasse pela porta do 221B Sherlock estaria lá, e diria que havia pedido uma caneta há três horas atrás, sem notar que John não estava. Watson precisava dessa esperança, porque Sherlock estava morto. E morto era uma palavra que parecia ressoar ridiculamente alto na cabeça do médico. Ele andava, ele observava, mas tudo que via era Sherlock, lembrava de algo que Sherlock tinha dito sobre tal lugar ou pessoa ou carro ou fonte ou qualquer coisa, porque ele sabia de tudo sobre tudo. Ainda assim, tudo na cabeça de John era pontuado com uma única palavra. Morto.

Mycroft soube quando John H. Watson foi liberado do hospital, às 14:37 da tarde. Ele soube, porque ele sempre sabia de tudo. Ele tinha esse poder. Então ele dispensou os seguranças, e continuou seu dia normalmente. Ele não podia dizer que estava surpreso quando, às 19:22 da mesma noite ele encontrou Watson calmamente encostado em seu carro, o rosto pacifico de sempre. Isso se você desconsiderasse a fúria assassina dos olhos verdes.




-Imagino que esteja feliz.-Foi o que Watson atirou primeiro. Em sua voz não havia nada da aparente calma em seu rosto. Era baixa, grave, e assustadoramente cheia de ódio.-Quer dizer, você se livrou da maior mente criminosa da atualidade e de seu irmão. Tudo ao mesmo tempo. - E Watson o aplaudiu. Mycroft não empalideceu como a maioria das pessoas faria, apenas abriu o carro e colocou sua pasta dentro do mesmo, correndo uma mão pelos cabelos sempre alinhados antes de olhar novamente para John.

-Eu nunca quis que ele morresse. Não era pra ser assim, eu não sabia.

-Você entregou a vida inteira do seu irmão nas mãos daquele maníaco e não sabia. O que você esperava, Mycroft? Que ele escrevesse uma biografia de Sherlock e publicasse um livro? Você sabia que ele o odiava!-John gritava, mas o Holmes mais velho mantinha os olhos claros fixos no chão.

-Eu não sabia. Eu não queria que fosse assim...-Era tudo que o homem naturalmente arrogante conseguia repetir. E foi então que veio. O primeiro soco, rápido, forte, do lado direito. O mais velho nem ao menos tentou reagir, nem mesmo quando o segundo soco veio, do lado esquerdo dessa vez. Mycroft caiu no chão no terceiro soco, sentindo as pernas do ex-soldado se fecharem ao redor de seu tronco, enquanto Watson continuava a descer os punhos repetidamente sobre qualquer pedaço que pudesse alcançar do homem. E ele não batia apenas em Mycroft.

Ele batia no chefe da polícia por fazer Lestrade prender Holmes. Ele batia em Mycroft, porque era culpa dele. Ele batia em Jim Moriarty por se matar e levar Sherlock pelo mesmo caminho. Ele batia em Irene Adler por roubar o coração do seu detetive. Ele batia em seu amigo que o havia apresentado à Holmes. Ele batia em si mesmo, por escrever o maldito blog e chamar tanta atenção para ele e Sherlock. E ele batia em Sherlock por ser um egoísta filho da mãe que o deixara sozinho. De novo.

Eventualmente, os socos pararam, foram perdendo a força, sendo substituídos por lágrimas, soluços. A raiva se esvaíra e dera novamente lugar à dor que impedia John de respirar. O médico se levantou, deixando-se chorar, encostando a cabeça no metal frio do carro, dando as costas não só para Mycroft, mas para o mundo.

O mais velho no entanto não se apressou em se levantar. John tinha razão, era culpa dele que Sherlock estivesse morto. Era culpa dele que seu irmão, que ele jurara cuidar e proteger quando ambos ainda não eram muito mais que crianças, estivesse morto. Era culpa dele. Ele havia quebrado o juramento que fizera ao pai quando o mesmo morrera.

Mycroft não percebeu quando Watson foi embora. Estava perdido demais nos próprios pensamentos. Ele sabia que podia se afastar do trabalho, alegando a morte do irmão como motivo, para que ninguém visse os machucados feitos pelos punhos de Watson. Ele sabia que deveria ir ao hospital, para ter certeza de que não havia nada quebrado. Mas nada disso tinha importância, porque Mycroft finalmente começara a perceber que ele jamais poderia voltar a abraçar Sherlock, jamais poderia voltar a dizer ao irmão que o amava. Jamais poderia dizer que, acima de tudo, não o culpava pela morte do pai. Ele queria ter dito isso.

Era injusto. Totalmente injusto e errado o fato de que, quando John entrou no apartamento Sherlock não estivesse lá. Era totalmente injusto e errado saber que ele jamais voltaria àquele lugar, irritante, arrogante e inteligente como sempre. Acima de tudo, era totalmente errado e injusto o fato de que, quando John se deitou na cama que pertencera ao detetive, a mesma ainda cheirasse como Sherlock, fosse quente como Sherlock. John odiou tudo isso.

John odiou ainda mais o velório de Sherlock. Todas as pessoas erradas estavam lá. Sargento Donovan estava lá, chorando, como se ela não tivesse culpa também. Mycroft estava lá, o rosto ainda muito machucado por John. Ele teve a decência de não chorar, pelo menos. Pessoas que tiveram crimes solucionados por Sherlock e mantinham sua crença nele estavam lá. Jornalistas estavam lá, mas John conseguiu com que Mycroft os expulsasse. Talvez por isso as matérias na manhã seguinte foram sobre o enterro de Jim Moriarty, e não de Sherlock Holmes. John trocou um forte e rápido abraço com Lestrade, e segurou Mrs.Hudson contra seu peito durante todo o enterro. Isso foi a única coisa que o impediu de chorar como uma criança. Acima de todos, John odiou que Irene Adler estivesse lá, mesmo que de longe. Ele sabia que era ela, mas não fez nada depois que seus olhos se encontraram por um breve instante. Talvez, só talvez, Adler sentisse algo próximo ao que ele sentia com a morte de Holmes.

John ficou até o final. Ironicamente, era um belo dia em Londres, atípico. Ele e Mrs. Hudson ficaram até todos terem ido embora. E quando Mrs.Hudson também se foi, finalmente ele se permitiu chegar mais perto da cova. Ele falou com a lápide, sobre como Sherlock foi o melhor humano que já conheceu, e chorou quando lembrou como estava sozinho antes de conhecer o moreno. Porque agora ele estava sozinho de novo, só que dessa vez assombrado por um fantasma muito pior que o da guerra. Pareceu errado tocar a lápide de Sherlock. Era fria demais, dura demais, óbvia demais, e não havia absolutamente nada de Sherlock nela. De certa forma, isso foi reconfortante pois John pedira tanto por um milagre, para Sherlock não estar realmente ali...

O loiro deixou as lágrimas caírem, sem fazer questão de limpá-las. Ele aprendera que não adiantava de nada limpá-las enquanto elas continuavam fluindo, então apenas as ignorou. E quando elas pararam, ele finalmente colocou uma solitária flor sobre a cova de Sherlock, e se virou para ir embora, prometendo a si mesmo não voltar ao 221B. Ele só voltaria lá quando Sherlock também estivesse de volta, não importava quanto isso demorasse. Ele se lembrava da queda de Sherlock. Ele vira. Mas ele não acreditava que Sherlock fosse deixa-lo sozinho novamente. Ele ouvira.

Ele vira, mas não acreditara.


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Notas finais do capítulo

Vou adorar ouvir a opinião de vocês!! So, Rewiews?



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