Prelúdio Das Sombras escrita por Julia Valentine


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Perdão por qualquer erro. Não revisei.



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A melancolia do piano era ouvida a quilômetros de distância. Parecia querer ser escutado. O vento em harmonia fazia as árvores rangerem e balançarem. As copas grandes ameaçavam cair. Era triste de se ver.

Uma garota se aproximou da floresta. Será que nunca ouvira falar do quanto aquele lugar era perigoso para garotas como ela? Cabelos escuros como o céu sem estrelas. Pele alva que chamava atenção para um pequeno detalhe: o sangue em suas mãos e vestido. Ela ouviu o prelúdio daquelas notas mais altas e se aproximou ainda mais do som.

Uma casa coberta por verde das matas remanescentes se estendia à sua frente. O som vinha dali. Estranho era nunca ter ouvido falar que alguém habitava aquela região - o bosque das Sombras.

Olhou para dentro da casa. Havia luz em um dos cômodos. Andou até a porta de madeira e a encarou. Levou as mãos manchadas de vermelho à entrada e bateu suavemente como o som que se ouvia.

O piano havia parado, para sua infelicidade. A garota afastou-se da porta esperando que alguém a abrisse. Nada aconteceu no minuto seguinte. Tocou na maçaneta e a empurrou. A casa não era muito iluminada. Algumas velas estavam postas sob olhos estratégicos não permitindo a visão total do ambiente - quase nem parcial.

O prelúdio recomeçou.

A garota seguiu o piano, sujando o chão branco de vermelho por onde passava. As notas ficavam mais ágeis, aumentando o ritmo de seu coração. Parou seus passos. Por que batia tão rápido?, perguntou-se. Voltou a andar, seguindo as notas hipnóticas aos seus ouvidos.

Um pano vermelho a separava do quarto que julgou ser a fonte do som. Afastou-o lentamente por receio de que o tocador parasse com sua melodia. Todavia, isso ocorreu quando ela colocou seus olhos no piano. Vazio. Não havia sinal de que alguma alma viva estivera ali.

Seus ouvidos doíam pela falta da música. Sentia uma abstinência profunda lhe atacar. Queria ouvir mais. Aproximou seu corpo do assento e se sentou automaticamente, colocando as mãos na cabeça. Procurou por alguma partitura mas nada encontrou. Bateu fortemente  seus dedos nas teclas, manchando-as de sangue.

Naquele momento, a melodia voltara a tocar. O prelúdio acalmou seu corpo novamente, porém agora o som não parecia vir daquele piano ou de nenhum lugar. Estava em seus ouvidos, dando-lhe prazer a cada nota.

Fechou os olhos. Sentiu a melancolia em suas entranhas; cada tecla dentro de si. Queria dormir, porém não se permitia. Poderia respirar a música. As notas estavam em sua cabeça, trancando-a de qualquer outro sentimento ou som.

Sentiu seu coração mais quente. Uma dor profunda o atingiu enquanto a música se agitava. Abriu os olhos e viu o líquido vermelho escorrer para suas mãos. Sangue dela. Seu peito estava perfurado. Seu coração, aos poucos, desacelerava. O prelúdio parecia chegar ao seu fim.

O sangue em suas mãos era dela. Sempre fora. Não sabia como tinha acontecido. Respirar se tornou algo difícil e doloroso de realizar. Como? O que havia ocorrido ali?

A melodia anunciava seu fim, assim como o sopro de vida que se esvaía dela. A morte chegava para a garota, em seu manto negro, olhos famintos e garras apontadas para o corpo ensanguentado dela. O piano parou e o corpo sumiu.

Ela abriu os olhos. Parecia desacordada há uma eternidade. Olhou a sua volta; não havia outra cor se não vermelho. Seria um cômodo com chão e paredes pintadas? Apenas vermelho - sem profundidade ou linha do horizonte -, apenas vermelho. Apoiou-se em seus cotovelos.  Olhou sua pele: não era vermelha. Usava um vestido, porém branco. Onde estava? Tentou falar, todavia sua voz não era mais que um fio de ar. Apenas uma coisa era ouvida: o piano em sua melancolia.

Ouvia perfeitamente. Estava presa ali. Presa pelas notas. Presa, para sempre, naquele refúgio. Presa, na maldição do Prelúdio das Sombras.


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Notas finais do capítulo

E então...?