Percy P.O.V

Teríamos que ir ao estúdio M.A.C (Morto ao Chegar), o único problema é que não tínhamos como ir. Nico corria perigo e não tínhamos tempo de ter o luxo de escolher um meio de transporte confortável.

Annabeth batia com o pé no chão, visivelmente nervosa e com seus neurônios funcionando a busca de uma resposta. Gastamos nossos últimos centavos em mantimentos para a viagem e não sobrou nada para comprar uma única passagem se quer. Não podíamos simplesmente esperar pela boa vontade de um deus para nos dar uma carona.

–Roubar um carro? – indagou Paloma – Tem certeza que isso é necessário?

–É a única opção que temos – falou Annabeth ainda com ar pensativo – temos pouco tempo, finalmente sabemos onde está o caduceu e Nico não está em boas condições de continuar lutando ou seja lá o que for que fez ele ficar acabado daquele jeito.

–Mas vocês já roubaram um carro antes? – questiona Paloma.

Annabeth e eu nos entreolhamos. Nunca roubamos um carro antes, simplesmente por que não foi necessário. Sempre íamos de carona em algum caminhão ou qualquer coisa que achávamos pelo caminho. Mas sempre há uma primeira vez para tudo.

Era aproximadamente 10 horas da manhã quando chegamos a um estacionamento de um shopping local. Em umas das colunas de cimento havia uma placa, que depois de muito esforço consegui ler: “os carros aqui estacionados não são de responsabilidade do shopping”, beleza pelo menos assim ninguém abriria um processo contra eles pelo carro roubado.

Paloma queria um carro no modelo Megane bem polido por sinal, Annabeth, porém, achou melhor um modelo mais discreto para não dar muito na vista e escolheu um Escort. Previ uma breve discussão entre as duas.

Paloma: Vamos pegar o Megane, é confortável e vai ter espaço pra todo mundo!

Annabeth: Não. Vamos pegar o Escort que é mais simples e discreto.

Paloma: Pra que? Não temos que ir rápido para Hollywood? O Megane é melhor.

Annabeth: Não, não é! Escutem o que eu estou falando.

Paloma: Por quê? Sempre temos de escutar você e fazer o que você quer só por que é filha de Athena?

Annabeth: Exatamente. Athena é a deusa da sabedoria e da estratégia caso ainda não saiba tortuguita.

Paloma: E daí? Eu sou filha de Poseidon e digo que o Megane é confortável, rápido, e se nos pegarem na estrada não fará diferença alguma! Já estamos sendo caçados mesmo!

Annabeth: E é por isso que devemos pegar o Escort! Você quer ser presa pelos mortais, perder o caduceu para uma divindade tão antiga quanto o chão que pisamos, fazer os deuses perderem suas forças e deixar Nico morrer junto com o resto do mundo?

Nesse momento Paloma parou no inicio de seu próximo argumento, pois sem perceber, Annabeth disse algo que eu ainda não sabia, e pelo visto, Paloma também não.

–Espera aí – falei cerrando os olhos – de que divindade antiga estamos falando mesmo?

–Oras de qual Percy? – ela falou aparentemente desconfortável – da que roubou o caduceu. Deve ser alguma divindade antiga, certo?

–Não sei – falei inclinando a cabeça para a direita. Me aproximei dela e falei mais baixo – mas você sabe não é? Está mentindo, eu sei quando você mente.

–Na verdade você sabe quando o Grover mente – ela moveu os lábios sem emitir som, falando “depois”.

–Então está decidido – Paloma entrelaçou os dedos em frente ao corpo – Vamos pegar o Megane.

–Eu já falei que é para pegarmos o Escort!

–Vamos pegar o SUV preto – falei interrompendo as duas e recebendo dois pares de olhos irritados em minha direção.

Os olhos cinzentos de Annabeth, quando irritada, costumam ser tenebrosos e isso não mudará tão cedo, mas os de Paloma... Eles são confusos. O olho verde parece calmo e paciente enquanto o azul parece agitado e nervoso. Deve ser coisa de minha cabeça, afinal, há um bom tempo não reparava nos os olhos bicolores de Paloma, inclusive até cheguei a me acostumar com eles me observando em todo canto. Eles ficavam mais claros em lugares mais escuros.

Sem esperar resposta das duas, marchei em direção do carro. Annabeth retirou um grampo da sua mochila e começou a mexer na fechadura do automóvel. Depois de um tempo pequenas gotículas de suor escorriam pelo seu rosto, e o alarme do carro soou, enquanto ela entrava rapidamente no carro e trabalhava com os fios em baixo do volante que em poucos segundos fez o alarme parar de disparar.

–Alguém sabe dirigir? – perguntou Paloma – por que se for pra meter o pé na tábua, que seja logo. Tem mais gente querendo dar uma voltinha no carro.

Quatro guardas de uniformes marrons vinham correndo gritando ordens para pararmos. Annabeth pisou fundo e disparou pelo estacionamento cantando pneu. Descemos por uma rampa até o térreo, passamos direto pela cancela partindo-a em pedaços, mas quando o SUV tocou no asfalto, uma viatura da polícia que nos aguardava do lado de fora do shopping no interceptou.

As luzes azuis e vermelhas me cegaram os olhos e não consegui ver direito o que aconteceu, Meu corpo foi jogado bruscamente de lado enquanto Annabeth virava completamente o volante para a esquerda num belo cavalo de pau. Tente imaginar como é maravilhoso estar seguindo para o oeste onde tem chances de sua morte estar te esperando, com viaturas da polícia mortal no seu calcanhar e uma namorada pé de chumbo. Essa vai ser uma viagem e tanto.

Depois de New Jersey conseguimos despistar os policiais e conseguimos seguir alguns bons quilômetros em paz. Era duas da tarde e minha barriga já roncava de fome, e aposto que os das garotas também, pois Annabeth de vez em quando torcia a cara. Fizemos uma parada em Columbia, num restaurante chamado Bob Evans para forrar o estômago.

Columbia, uma cidade pequena, com vários canteiros de flores e árvores, casas de dois andares de tijolo pintadas em tons terrosos, sem cerca, sem muretas, sem grades e estacionamentos ao ar livre o que me lembrava dum campus de faculdade.

Bob Evans era uma construção alta de paredes brancas e telhado verde. O nome do lugar estava na fachada em letras verdes com contorno em amarelo. Era bonito e simpático, o lugar perfeito para relaxar depois de uma perseguição policial. O lugar parecia deserto, afinal quem almoça as duas da tarde? Fizemos nossos pedidos.

Annabeth abriu um mapa em cima da mesa e começou a estudar algumas rotas para seguirmos.

–Podemos passar por Ohio, dar uma parada em Athens, depois em Memphis no Tennessee, Duncan em Oklahoma e seguimos para Los Angeles.

–Não podemos fazer uma parada entre Oklahoma e LA? – pediu Paloma – por exemplo, em Phoenix no Arizona, ou até mesmo Las Vegas no Novo México – ela juntou as mão em forma de pedido e fez beicinho.

–Eu não vou colocar meus pés em Las Vegas outra vez – Annabeth olhou pra mim e eu concordei. Não tivemos experiências muito boas por lá – Podemos parar em Roswell...

–Em Phoenix – ela fez beicinho de novo – podemos visitar o estádio Chase Field e...

–Paloma – repreendeu Annabeth – isso aqui é uma missão e não um passeio escolar. Nico está correndo perigo, o caduceu de Hermes foi encontrado e temos de ir logo para Hollywood, não temos tempo para excursões.

Paloma baixou a cabeça e cruzou os braços. Annabeth bufou.

–Tudo bem - Ela revirou os olhos- então faremos uma parada em Scottsdale, e passaremos por Phoenix. Sem paradas, sem visitações, sem fotos, e sem excursões, é direto – ela deixou bem claro, o que já animou Paloma – iremos cruzar o país.

Nossos pedidos chegaram, e estávamos com tanta fome que não falamos nada por longos minutos. Observei o mapa que Annabeth colocou num canto da mesa.

–Vocês já foram a San Diego? – perguntei, cortando o silêncio – dizem que lá é uma cidade bem legal.

–Eu sempre quis ir a San Francisco – falou Paloma entre um gole e outro de refrigerante – Ei! Podemos ir lá depois de terminar a missão!

Olhei para Annie que comia seu arroz com bife e fritas silenciosamente. Lembrei-me do pai dela, que a convidou para passar o verão em casa. Mas pela cara que ela fez quando Paloma mencionou Frisco, as coisas não daíram muito bem, como sempre.

–Vamos ver Paloma – falei – se tivermos sorte na missão. Quem sabe.

Annabeth de repente parou o garfo no meio do caminho até a boca e semicerrou os olhos em direção ao atendente do balcão. Ele estava falando ao telefone, muito nervoso por sinal, e olhava para a gente por cima do ombro. A sua frente o jornal estava aberto expondo nossas fotos de fugitivos.

Levantamos da mesa com calma, e quando o balconista viu que estávamos fugindo, gritou para que parássemos. Então nós realmente começamos a fugir.

Dessa vez eu dirigi o carro. Annabeth estava com o mapa aberto em seu colo, e Paloma com uma sacola de plástico com um prato cheio de comida e uma garrafa de 600ml de refrigerante. Não acredito que ela pegou a comida na hora da fuga, mas pelo menos teríamos alimentos para quando precisássemos.

–Próxima parada: Athens, Ohio.