Invitation escrita por Leh-chan


Capítulo 1
Admirador Nada-Secreto


Notas iniciais do capítulo

Fic atrasada de Dia dos Namorados. Aliás, é impressão minha ou eu estou sempre atrasada?

Enfim, essa fic foi inspirada em alguns fatos que vi numa entrevista com o Hiroto e o Uruha. No fim eu explico melhor sobre as partes principais da entrevista que me inspiraram.

Até lá, boa leitura.



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{Hiroto’s POV}


            – Por hoje já esta bom, meninos. – Naoyuki falava distraidamente enquanto jogava suas baquetas em um canto sem importância, olhando para mim e para Tora. – Fizeram um bom trabalho hoje. Gostei do solo, Shinji... Ficou bem melhor desse jeito.

            – Ah... Obrigado. – Respondeu, sem ligar muito.

           Estávamos só nós três no estúdio, pois há alguns minutos Sakamoto e Kohara haviam saído. Perdemos as esperanças de vê-los depois dos quinze primeiros minutos.

            – Aliás, – Proferiu Nao, interrompendo meus devaneios. – amanhã a gente não ensaia, tudo bem?

            – FÉRIAS? – Exclamou Amano, e eu apenas sorri pela sua felicidade momentânea.

            – Amanhã, erm... Bem...

            – É dia dos namorados, Tora-san. – Conclui, em voz alta. – Ele e o Uke-san devem sair pra fazer aquela coisa nojenta que eles ficam fazendo no cantinho ali, óh... – Apontei pra um armário no canto da sala, pequeno, mas onde caberiam duas pessoas confortavelmente. É claro que o Uke-san não iria querer entrar num armário, mas a piada valeu a pena só pela cara que nosso líder fez. Tora logo notou o mesmo e resolveu continuar a perturbá-lo.

           – Ah, sim.. – Vi Shinji se levantar e vir em minha direção. Veio por trás, colocando as mãos em minha cintura e abraçando-me. – Não-chan... Eu...

            Resolvi entrar na brincadeira, vestindo minha melhor cara de novela mexicana:

            – Aaah, Kai! OHH...! – E em uníssono, desatamos a rir descontroladamente da careta de Murai, que ficava cada vez mais distorcida.

            Não demorou muito e ele saiu bufando da sala. Tora me soltou e nós não conseguíamos parar de rir, minha barriga já doía. Sentamo-nos no sofá e lá continuamos, as lágrimas invadindo nossos olhos.

            Foi neste contexto que Saga adentrou o estúdio. E por céus, as risadas só se multiplicaram, fiquei sem ar.

            O estado do cidadão era deplorável. Estava descabelado, sutilmente avermelhado e, certamente, nada pronto para trabalhar. Parecia que tinha rolado um morro.

           – Etto... O ensaio já acabou? Então eu... Eu v-vou embora... – E ainda, ao fundo, Shou gritava por Sakamoto e dizia para que se apressasse. E isso terminou a conversa, Saga fechou a porta e eu e Amano continuamos gargalhando incontrolavelmente.

            Com o tempo, fomos nos normalizando, e meu cérebro começou a processar tudo que vimos.

            Doze de Junho, dia dos namorados. Era amanhã. E eu, pra variar, não tinha com quem passar o dia. Não tinha ninguém que dissesse que me amava, acho que nem meus pais queriam me ver. Esqueça os pais e os namorados, acho que desde que começamos a formular o novo single, eu não tive uma conversa decente sequer, com ninguém.

            Não queria passar o dia de amanhã sozinho. Na verdade, eu sei com quem eu gostaria de passar, mas estava meio fora de cogitação. Ele estava bem mais ocupado que eu, considerando que estão gravando um álbum pra daqui um mês. Além disso, é impossível alguém como ele olhar para mim e notar que eu sou mais que um elemento do cenário. Então, que tal o Tora? Melhor passear com um amigo solteiro do que ficar em casa comendo pipoca.

            – Hm, Shinji-san... – Chamei-o, enquanto ele ajeitava uns papéis em sua mochila.

            – Sim?

            – Você... Vai fazer alguma coisa amanhã?

            – Vou, sim... – Dizendo isso, abaixou a cabeça, levemente corado. Quer dizer que até ele ‘tava de rolinhos por aí, huh? Safadinho...

            – Hum... Quem é a felizarda?

            – Hiroto, devia arrumar alguém pra sair com você. Sabe... Acho que Takashima-senpai ia apreciar sua companhia... E eu seeeeeeei que você aprecia em demasia a dele. – E sorriu, malicioso. C-como ele...?

            – E-et-tto... Eu não tenho motivos para apreciar a comp-...

            – Vai, bobão, ‘tá aí bem na sua testa que você tem uma quedinha pelo das coxas grossas... – Interrompeu-me subitamente, antes que pudesse concluir meu raciocínio. – Mas se não quer chamá-lo pra sair, tudo bem. Tem vergonha, é?

            –... – Não queria admitir, mas acho que meu silêncio fez isso por mim.

            – Como queira. Entretanto, se fosse você, não perderia uma oportunidade. – Pegou suas coisas e andou até a porta. Antes de sair, ainda me desejou uma boa noite, que eu respondi em um sussurro.

            Eram poucas as chances de eu me encontrar com Kouyou-senpai no percurso até meu carro, que dirá enfiá-lo dentro do mesmo.

            Pelo jeito, as pipocas me esperam.

-

{Uruha’s POV}


            E mais um longo dia chegava ao fim. Estava cansado de ouvir Kai falando que “Já é onze de junho e nosso álbum vai atrasar se não trabalharmos duro!”. Poxa vida, eu sou um ser humano, e como tal, preciso de tempo para descansar e fazer coisas essenciais, como por exemplo, beber. Entretanto, será que eu conseguia? Claaaro que não...

            Era o quarto dia consecutivo que passávamos mais de doze horas na gravadora, trabalhando em cima das mesmas coisas, com as mesmas perspectivas e com os mesmos resultados, ou seja: NADA. Não comemorei meu aniversário, e pra falar a verdade, tudo que eu queria ter feito naquele dia era dormir. O cansaço ganha da boa vontade.

            Agora Reita e Ruki saiam do estúdio de mãos dadas, Yutaka seguia-os sorridente e Aoi guardava sua última guitarra no estojo para poder sair também, enquanto eu permanecia no sofá com meu violão no colo.

            – Quer carona, Takashima? – Me perguntou, cordialmente. Yuu era sempre educado, mas passava sensação de frieza de vez em quando.

            – Não... Obrigado. Vou ficar mais um pouco pra terminar isto – E ao dizê-lo, indiquei uma partitura inacabada. Prossegui – antes que o Takanori tenha um troço.

            – Haha... Boa sorte, então. Vê se não fica até muito tarde... – Colocou a alça do estojo sobre o ombro.

            – Pod’eixar... Vou logo, também. Obrigado, Shiroyama.

            – Até amanhã... – Então o moreno virou-se e saiu pela porta. E, mais uma vez, o grande Takashima Kouyou tinha que compor algo. Ou re-compor, como queira. Porque simplesmente parece que a banda resolveu tirar a semana pra me criticar. Enfim, melhor nem falar sobre isso.

            Dedilha daqui, bate dali, e alguns minutos passados, meu estomago já começava a emitir aquele som característico, acentuando a sensação de vazio dentro de mim. Não comi nada durante a tarde. Nossa empresária sempre frisa muito a importância de permanecer magro e esbelto, pois as fãs não iam querer um Uruha gordinho. Mas isso é um exagero. Um lanchinho não fará mal algum, e talvez uma pausa clareie um pouco minha mente. As fãs também não iam gostar de um Uruha que não trabalha. Porém, eu ia adorar esse Uruha. E como...

            Atravessei a porta e rapidamente ganhei o longo corredor, chegando finalmente à porta do elevador e apertando o botão que o chamaria. E dentro de uns segundos o som característico inundou o ar, as portas de metal se abriram e eu notei uma pessoa ali dentro. Sorri de imediato, pra não parecer antipático. Odeio pessoas antipáticas.

            – Boa tarde, Ogata-san!

           – Boa noite. – Corrigiu-me, o usual sorriso maroto adornando os lábios. Parecia tão frustrado quanto eu, mas procurava não demonstrar.

            – Ensaiando até tarde?

            – Neeeeeem me fala... – Suspirou enquanto vi as portas se fecharem. Agora dezoito andares até a cantina. – ‘Tô só ao pó, viu... O Nao tem pegado meio pesado. Meus dedos estão todos calejados.

            Ao ouvir tal sentença, meu único ímpeto foi tirar as mãos dos bolsos (que por ventura eu nem notei tê-las colocado ali) e mostrá-las para Hiroto. Imediatamente ele começou a rir, uma risada controlada e baixa. Era difícil saber qual de nós dois tinha mais calos. Instrumentos de cordas podem ser muito ingratos.

            – Uke-san também não parece estar sendo muito bonzinho com você...

            – Ele e Naoyuki passam muito tempo juntos, devem planejar como vão nos torturar...

            – Você acha? Acho que eles fazem uma coisa beeeeeeeeem diferente nesse tempo... – E ele lançou-me um olhar significativamente malicioso, levantando e abaixando as sobrancelhas bem-feitas. Não pude deixar de rir atinadamente, mais de sua tentativa de careta-insinuativa do que a piada em si.

            Fazia tempo que eu não conversava com alguém. Já ‘tava achando que eu era um animalzinho em cativeiro, e que seria capaz de morder o próximo ser humano que passasse perto de mim. Mas Ogata é um garoto simpático, e não tinha nada a ver com o fato de eu ter feito ou não minhas obrigações, logo, não me cobraria e, portanto, poderíamos conversar sem desavenças.

            – Tem razão, tem razão... – Os risos diminuíram até tornarem-se sorrisos cordiais. E logo, ambos fitávamos o mostrador que indicava que faltavam cinco andares para o lugar onde eu queria ir.

            – Já ‘tá indo embora, Takashima-san? – Ouvi sua voz cortando o silêncio subitamente. Graças aos céus, aboliram aquelas músicas inúteis de elevador dos elevadores da PSC. Irritavam.

            – Já? Haha... Ah, quem me dera... Só estou fazendo uma pausa para um lanchinho mesmo... – Ele, ao contrário de mim, carregava um estojo para instrumento consigo, o que me faz pensar que tinha a sorte de poder ir dormir em sua cama quentinha agora.

            – Ôh, ‘tadinho... O Uke-san é muito malvado mesmo. Então eu posso te fazer companhia, se quiser. Estou com fome, na verdade.

            – Tudo bem, seria ótimo. – Sorri. Seria realmente bom conversar. Talvez eu roube uma das ideias dele pro single novo... Ah, brincadeirinha. Todavia, proteína ajuda a pensar. Se bem que o single deles era só pra agosto, hein... Ele poderia pensar em algo novo.

            Dentro de mais alguns instantes, estávamos saindo da caixa metalina e caminhando lado a lado.

            – Como vão indo os preparos para o novo single, Ogata-san? – Ah, eu não ia roubar as ideias dele, mas não resisti. Além disso, o estilo musical deles é sutilmente diferente do nosso, o pessoal neeeeeem ia notar que não fui eu quem compôs e o Takanori neeeeeem ia dar um chilique, tendo em vista a desavença e competitividade dele com os rapazes do alice nine. Tolice, em minha opinião. Mas enfia algo na cabeça daquela maquete de gente...

            – Ih... Lentamente, vão indo.

            – Conseguiram um nome?

            – Nenhum, ainda. Mas e o álbum de vocês, vai sair na data? Mal espero...

            – Se as coisas continuarem do jeito que vão, provavelmente não. – Suspirei. – Preciso compor ainda um monte de coisas, mas simplesmente não sai...

            – Bloqueios acontecem. Deve passar logo.

            – Assim espero...

            E fomos falando o caminho todo até o refeitório sobre bloqueios e como poderíamos nos livrar deles.

            Finalmente lá chegando, pedimos o que gostaríamos para comer e sentamos em uma mesa para esperar. Ele tirou seu instrumento e o colocou de lado.

            – Sua guitarra? – Indiquei com a cabeça o que supostamente seria seu instrumento de trabalho.

            – Sim... Ainda pretendia ajeitar umas “coisinhas musicais” em casa... Mas acho que vou deixar um pouco mais de trabalho pro Tora dessa vez.

           – ‘Tô quase aderindo a ideia de empurrar tudo pro Aoi, viu... – Sorri.

            – Shiroyama-san? Ele ficaria meio bravo, não?

           – Bem, o Yuu.... Não ia gostar, definitivamente não. Mas ele não morde.

            – Eu não duvido nadinha... – Quando ele terminou essa frase, lembrei do dia em que nos conhecemos. Não pude deixar de dar risada, esta já não tão controlada.

            – Você devia tentar conversar com o Yuu um dia desses...

            – Mas nem pensar! E se ele me der um “chega pra lá” de novo?

            – Ainda se lembra daquele dia?

            – Claro que sim! Em 2004. Foi no Yaon¹, nosso primeiro show grande. Foi assim que fomos aceitos na PSC. Estava morrendo de medo, mas muito feliz em ter conseguido, depois de muito insistir, permissão pra conversar com vocês... Sempre fui fã...

            – Sim, eu me lembro... E você não parava de falar, gostei de você. É difícil achar gente simpática num live tão importante...

            – Todos ficam nervosos. Eu também estava, mas sou inquieto mesmo, ne... E então o Aoi-san apareceu e me disse que “Não tinha nada mais pra ver ali”, com uma cara assustadora, que agravou ainda mais meu medo de estar numa gravadora grande, num show grande...

            – Ele é assim.

            – Pois deveria tentar não assustar os kouhais. Vou procurar os garotos do ViViD antes que eles achem vocês... – Agora ele sorria, justificando claramente que fora uma brincadeira. Mas não deveria ser. O pessoal do GazettE, em geral, tendia a tratar mal os kouhais, não era mentira. Como disse, há certa competitividade infundada. Um dia também fomos novos, e me lembro que Shin e todo o Kagrra nos acolheram como se sempre fôssemos da família, bem como a maioria das outras bandas. Imagino se esse é um passado tão distante que ninguém lá se lembre. A fama às vezes cega um pouco.

            As risadas não demoraram a cessar, e logo o silêncio constrangedor se estabeleceu. Provavelmente ele deveria estar pensando que não deveria ter dito isso, mas eu realmente não ligo. É a verdade, não?

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{Hiroto’s POV}


            Ai caramba, eu falei bobagem. Droga. Isso que dá ser afobado... Acho que tendo a falar muito quando fico nervoso. Droga, droga, droga; de todos os tipos: cheirável, injetável, mastigável. Fitei minhas mãos e me retive a esta tarefa, muito concentrado.

            Minha opinião sobre tudo isso? Simples: eu morro de vontade de sequestrar Takashima-san e levá-lo pro alice nine. comigo. Não aproveitam devidamente seus talentos lá, e todos eles parecem estranhos. Takashima, ao contrário, é simpático, dócil e não se importa de ajudar os outros. Ele deve se sentir bastante isolado, por ter que passar o dia com pessoas esquisitas. Eu não sei o que eu próprio faria se não tivesse a adorável companhia de meus colegas todos os dias, acho que não agüentaria a pressão.

           Entretanto, naquele momento, eu tinha um outro problema: o silêncio. Poxa vida, como eu vou consertar mais essa agora?

           Para minha felicidade, a comida não tardou a vir. Veio trazida por uma bela moça cujo crachá indicava o nome “Hikari”.

            – Obrigado. – Sibilei.

           – Obrigado, Hikari-san. – Disse Uruha-senpai, também a agradecendo. – A propósito... A senhorita poderia nos trazer uma garrafa de vinho, por gentileza?

            – Sim, senhores. – Falou baixo e saiu correndo para pegar após uma reverência.

           Era tudo que faltava... Adoro vinho (quem não adora?)... Mas eu tenho que dirigir de volta pra casa, não posso beber...

            – Nãaao, Takashima-san! Eu tenho que dirigir pra casa, não posso ficar bêbado...

            – A gente dá um jeito nisso depois... Mas por favoooooooor... Bebe comigo, Ogata-saaan... – Fez-se de manhoso, e notei seus olhos castanhos me fitarem com certo interesse. Há algum jeito de resistir a isso?

            – Tudo bem, Uruha-senpai. Mas só um pouco... – Sorri-lhe um sorriso sincero enquanto a mesma moça voltava e deixava a garrafa imersa em um balde de gelo e duas taças sobre a mesa.

            – Obrigado! Sabe, beber sozinho nem é muito legal, ne...

            – Isso é verdade... Sem falar que não dá pra beber uma garrafa sozinho...

           – ‘Cê acha que não? – Me olhou seriamente por uns momentos, mas depois, ambos desatamos a rir. Se bem que eu tenho minhas dúvidas sobre a capacidade do senpai para bebidas, suponho que ele não estivesse brincando.

            Então daí pra frente, a refeição correu tranquila. Sei que bebi mais de uma taça. E que, à medida que íamos bebendo, o tempo ia passando, as cores ficavam mais vivas, os assuntos mais soltos e menos preocupados com a formalidade que as gerações nos ensinaram a ter. Eu adorava isso. A bebida é algo meio mágico. Conseguia chamá-lo pelo primeiro nome sem ficar vermelho agora. Ainda assim, tenho noção de que não estávamos bêbados (pelo menos não completamente), e de que Kouyou, apesar de ter bebido bem mais que eu, estava bem mais sóbrio.

            – A bebida ajudou a reformular alguma música, Kouyou?

            – Geralmente ajuda, mas não agora... – Desviou sutilmente o olhar, parecendo preocupado. E como era fofo preocupado...

            – E se eu te ajudasse então?

            – Não ‘tava indo pra casa? – Perguntou-me, curioso.

            – Nah... Não tinha nada pra fazer lá mesmo. Não queria ficar sozinho. Podemos trabalhar juntos, você na sua composição e eu na minha. Só a sua companhia já me inspira. – Só notei a bobagem que falei quando o vi, novamente, desviando o rosto. Se controle, Hiroto... Não é hora de deixar os efeitos da bebida falarem mais alto.

            – Hm, tudo bem, por mim. Já que você já ‘tá com a sua guitarra, a gente sobe lá pro meu estúdio, pode ser? – Só acenei positivamente em resposta. Peguei minha guitarra enquanto ele pegava a garrafa, que ainda continha um pouco de líquido, para levar conosco.

            Assim fomos até a porta do elevador e ficamos esperando ele. Não demorou muito para que chegasse, afinal, havia pouca gente na gravadora a esta hora da noite. E, novamente dentro da caixinha de metal, o silêncio predominou. Nem musiquinha irritante pra consolo a gente tinha.

           Isto é... Exatamente o que eu estou fazendo aqui com Takashima-senpai, huh? Será que esta é uma das chances que Shinji me disse que não perderia?

            Com o tempo se arrastando, finalmente chegamos ao nosso destino. Kouyou segurou a porta para que eu saísse e lentamente caminhamos até a porta da sala, onde havia uma placa com o logotipo de sua banda.

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{Uruha’s POV}


            A bebida não ajudou muito. Nem um pouco, na verdade, só deixou o Hiroto mais... À vontade. O que, por fim, não era ruim. Essa formalidade característica japonesa só serve pra fazer com que pareçamos superficiais, quando não é bem isso.

            De volta ao estúdio, tudo do mesmo jeito que eu deixei: bagunçado.

             – Sinta-se à vontade. – Caminhei até o sofá sem me preocupar muito com Ogata. Dei-lhe permissão para sentir-se em casa: fizesse o que fizesse, eu realmente não ligaria.

           Não demorou muito para que ele sentasse ao meu lado. Coloquei a garrafa que ainda continha bebida numa mesa ao ali perto e voltei a pegar meu violão. Ajeitei-me no assento para dar mais espaço à Ogata. Estranhamente, ele me observava agora, com olhos de quem vê lindas borboletas voando à sua volta... Então, uma idéia me ocorreu.

            Que tal largar esse violão, Kouyou? Assim o fiz: larguei-o para pegar minha guitarra negra. Sim, sim... Bem melhor assim.

            Antes de me posicionar apropriadamente, ainda vi Hiroto retirando sua guitarra prateada da capa. Era bonita, mas contrastava fatalmente com a minha. Muitas coisas em nós eram diferentes. Diria que tudo, exceto o tipo sanguíneo² e o fato de respirarmos oxigênio.

            E logo meus dedos praticamente se moviam sozinhos, uma melodia inicialmente lenta e acanhada tomava conta do local. E eu tinha plena consciência de que era observado por aqueles olhos bonitos.

            Mais alguns segundos e eu havia feito uma nova base quase completa para uma música, o que era o avanço que precisávamos para continuar os ensaios. Isso é ótimo! Shiroyama provavelmente ficará muito satisfeito.

            Larguei minha guitarra para pegar um papel, e foi quando inesperadamente, ouvi palmas. Hiroto batia palmas pra mim; seus olhos brilhavam como quando uma criança vê o mar pela primeira vez.

            – Ótimo, Takashima-senpai! Ótimo; bravo! – Sorri, meio acanhado.

            – O que aconteceu com o “Kouyou”?

            – Como guitarrista, você definitivamente é meu senpai. Adorei aquilo que você fez, assim. – Pegou a própria guitarra agora para tentar imitar um movimento que eu fizera sem muita atenção, mas que para ele parecia complicado. Ao ver que não conseguia mover os dedos tão rapidamente, limitou-se a imitar o barulho com a boca. Se ele não tivesse bebido tanto, acho que conseguiria fazer com mais facilidade, de qualquer forma. – Você é muito bom no que faz... – Agora um brilho de tristeza atravessava seus olhos. E não era agradável vê-lo assim. Se bem que parte disso deve ser, novamente, culpa da bebida.

            – Ei, Ogata... Você é um ótimo guitarrista também, não faz assim. Ainda é tão jovem, tem muito tempo pra crescer ainda.

            – Ah, quem eu quero enganar? Eu nunca serei tão bom quanto você ou o Shiroyama-senpai... Eu não merecia estar aqui...

            – Ou, ou, ou! Não diz isso, você é muito talentoso sim! Ainda tem muito que aprender, mas todos têm... Na verdade, sempre que eu me comparo com o Shiroyama-san, bate aquela tristezinha, como se eu nunca pudesse superá-lo em nada. – Eu não estava ajudando. – E... Quer saber de uma coisa? Eu vou te ajudar com isso!

            Vi a curiosidade lampejar em seus olhos. Sem pensar duas vezes, e praticamente desesperado para corrigir a idiotice que eu fiz, transpassei uma de minhas pernas para o outro lado do corpo do moreno, deixando-o assim entre minhas coxas, sentado à minha frente. Apoiei minha cabeça em seu ombro e lhe segurei as duas mãos, que ainda ostentavam a guitarra.

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{Hiroto’s POV}


            Tudo que senti foi um arrepio, e depois a característica tremedeira ao notar onde eu estava. Sim: eu estava prensado pelas duas pernas mais lindas que já vi circulando por aqui, sendo segurado por aqueles braços fortes e com a cabeça de Takashima-senpai apoiada no meu ombro, seus cabelos caindo sobre mim, o adorável cheiro de seu condicionador inundando meu ar. E meu ar, já faltando, era captado em arfadas descompassadas, baixas. O quê...?

            – Olha, Hiroto... Não é difícil, só se concentra. – Falou baixo, para não agredir meus ouvidos, já que estava muito próximo dos mesmos. E suavemente posicionou minhas mãos em seus devidos lugares no instrumento. E será que eu ia conseguir prestar atenção em como tocar algo naquela posição? Vou me esforçar.

            – A-a-assim? – Coloquei as mãos de qualquer jeito ali mesmo, e ele, que ainda as segurava, apenas ajeitou um pouco mais apropriadamente, sacudindo sutilmente a cabeça em sinal de afirmação.

            – Bem... Agora, você vai fazer bem rapidinho, com esses dedos aqui... – Pegou três de meus dedos e mudou de lugar algumas vezes. Primeiro bem lentamente, o que fez a sequência parecer bem mais simples. Depois refez, aumentando gradativamente a velocidade.

           As coisas pareceram bem mais fáceis depois de explicadas, e logo ele movimentava minhas mãos rapidamente, eu já conseguindo acompanhar o que fazíamos.

            – Agora você faz sozinho, ‘tá? – Fiz suavemente que sim com a cabeça, mas quando ele soltou minhas mãos, uma vontade imensa de segurá-las outra vez me acometeu. Eram tão quentes e acolhedoras...

            Entretanto, continuei com os movimentos recentemente aprendidos. Naquele momento, senti como se qualquer coisa fosse possível com a instrução certa. E Kouyou é um ótimo instrutor.

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{Uruha’s POV}


            Ele é um garoto talentoso, isso é mais que óbvio. E espero que ele tenha aprendido a nunca mais desmentir tal fato.

            Agora que o havia acabado de ensinar, era gratificante vê-lo tocando; os sorrisos praticamente inevitáveis. E, somente então foi que notei a proximidade que mantínhamos. E pior que isso: como era bom estar ali. Como era bom estar em contato com alguém, e como fazia tempo que isso não acontecia. Essas gravações deixavam a gente louco, e completamente sem tempo para amenidades. Se tem um tempo livre, a escolha do que fazer  com ele é óbvia: descansar.

            E foi ouvindo os acordes que acabei de inventar que, meio inconsciente, minhas mãos foram o circundando e minha cabeça pendeu levemente para frente até eu ficar com os lábios colados em sua bochecha. Apertei-o um pouco contra mim e então, repentinamente, a melodia parou. Senti-o estremecer. Não obstante, beijei-lhe sucintamente o rosto, acariciando seu abdômen simultaneamente, sendo o mais sutil possível, depositando ali todo o carinho que há tempos eu não oferecia a ninguém. Eu nem sabia que eu poderia ser assim tão “doce”. Devo culpar a bebida de novo? Ou será que eu só estava sozinho demais nos últimos dias e queria “descontar” tudo no pobre garoto que por acaso teve o azar de se encontrar comigo no elevador? De repente, isso me pareceu meio aleatório.

           De todas essas conclusões, só consegui tirar uma coisa boa: eu não deveria assustá-lo com esses meus pensamentos esquisitos. Por isso, adotei um ritmo lento para tudo que fazia. Era o máximo de autocontrole que eu conseguia me permitir. E com os segundos ele foi ficando menos tenso, suas mãos foram afrouxando lentamente a guitarra que mantinha segura, até que fosse possível livrar-se dela para que eu conseguisse virá-lo de frente para mim.

           Após algum tempo, certos dedos tímidos deslizavam superficialmente sobre minha coxa, ao passo que o corpo de seu dono aproximava-se cada vez mais de mim. Acho que fazia isso simplesmente por impulso.

            Estava disposto a terminar com aquela ínfima distância entre nós quando notei que os dedos em minha perna começaram uma carícia mais substancial, já não tão automática.

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{Hiroto’s POV}


            Era simplesmente inacreditável, mas estava acontecendo. Kouyou estava claramente disposto a fazer algo comigo. Demorei um pouco para me acostumar com a ideia, mas não iria perder a oportunidade. Se eu contasse isso pro Tora e dissesse que sai correndo, ele decididamente ia me botar no cantinho da disciplina.

            Devagar, comecei a acariciar suas coxas, tão desejadas por tanta gente. E que agora estavam ao meu alcance. Talvez eu realmente devesse parar de me subestimar.

           Acordei dos devaneios ao sentir uma leve testada na minha cabeça. Por puro ímpeto, apertei sua perna com vigor, e ouvi um sutil ronronar, algo que eu suponho ser uma sutil reclamação. O motivo de ele ter me dado uma cabeçada era claro para mim: o barulho da porta provavelmente o assustara, e caso não o tenha feito, assustou a mim. Senti meu coração acelerar subitamente. Ali, na porta, a silhueta de Shiroyama-senpai contrastava com a luz vinda de fora.

            –Etto... E-Eu só passei para pegar meu celular que eu esqueci, e... – Estava aparentemente sem graça, mas mesmo assim, a cena não pareceu o agradar. E seja lá o que eu estivesse fazendo, acabou: meu rosto esquentou, meu corpo parou de responder aos comandos e tudo que eu fiz foi sair do lugar privilegiado onde me encontrava e me esconder ao lado de Takashima, segurando o pano de suas vestes e desejando intimamente poder me enfiar num bolso dali e ali ficar até tudo acabar.

            – Acho que não está aqui, Yuu. – Respondeu Uruha calmamente, aparentemente me ignorando para lançar um olhar pouco confortante para o moreno.

            – É... Eu devo ter deixado lá na sala de efeitos, então. Obrigado pela ajuda. – Seu tom agora era mais firme. Definitivamente não gostou nada do que viu. Provavelmente arrumei problemas pra Uruha... Estraguei tudo.

            Ouvi a porta bater novamente, mas não conseguia fazer nada senão apertar com vigor aquele braço que outrora me apertava.

            – Tudo bem, Hiroto? – Sua voz soava preocupada.

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{Uruha’s POV}


            Ótima hora, Yuu. Sempre pontual. Pra que diacho esse macho precisava do celular de madrugada? E o que o faria vir buscá-lo aqui agora se dentro de algumas horas estaríamos de novo nesse mesmo lugar pra ensaiar outra vez?

            Fiquei com raiva, mas logo ela passou. Senti Ogata agarrando a barra de minha roupa, como uma criança faz. Se Aoi já o assustava antes, agora ele deveria estar simplesmente apavorado. Estranhamente, a já conhecida vontade de cuidar dele me acometeu. E tudo que consegui fazer foi perguntar se estava bem.

            – E-eu... Ah, Kouyou... Eu só faço tudo errado mesmo!

            – Ei, ei... O que é isso, Hiroto? Não... Não foi nada, não há problemas nisso. – Abracei-o, tentando transmitir calma. Não sei se funcionou, mas não demorou para aninhar-se em meus braços.

            – Agora o Shiroyama está bravo com você, não ‘tá?

            – Hiro... Ele não teria motivos pra estar, fica tranquilo, ok? – Não obtive resposta, mas seu corpo pareceu ir amolecendo. Novamente, uma criança que precisava de colo até ninar.

            E ficamos um bom tempo assim. Não havia mais clima pra nada além do que estávamos fazendo naquele momento, mas se quer saber, não achei nada ruim. Era uma boa oportunidade, mas não iria machucar Hiroto por causa dessa coisa boba. Fica pra próxima.

            – Kou... – Ganhei um apelido, é?

            – Diz... – Não evitei o sorriso bobo.

            – Amanhã... Você quer sair comigo? – Amanhã era sexta, iria ensaiar. Mais uma oportunidade perdida. – A gente pode ir num karaokê, e jantar, e então...

            – Hiroto. – O interrompi. – Amanhã eu tenho que trabalhar, tenho certeza de que Kai me estrangularia se eu faltasse.

            – Amanhã Uke-san não vai vir pro trabalho, Kou...

            – Hã? – Virei-me levemente para vê-lo e encontrei um Ogata completamente corado. Parecia as meninas no colegial quando vinham me convidar pra sair.

            – Amanhã é... É dia dos namorados, Kouyou. Uke-san e Naoyuki vão sair... Pra fazer “coisinhas”.  – E deu uma risada infantil. O jeito como ele falou sobre as atividades de nossos líderes só me fez confirmar ainda mais meu ponto de vista anterior. Ele havia se transformado numa colegial de um minuto para o outro, mas acho que em certos momentos, a gente não consegue controlar a colegial dentro de nós.

            – Então... Certo. A gente pode sair, sim. Você pode escolher o lugar, acho que nós dois precisamos nos divertir um pouco. – Ele apenas se apertou mais contra meu corpo.

            – Combinado, então... – E sorriu. Como era difícil fazer aparecer um sorriso ali... E isso só me fez pensar o quanto o dia de amanhã poderia ser divertido com aquela pequena criatura.

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Notas finais do capítulo

N/A: Bem, primeiro, os detalhes prometidos, depois a falação.

O álbum novo do Gazette (DIM) sairá, sim, em breve. Em 15/07.
O single novo do alice nine. também será lançado em breve, mas ainda não tem nome.
Dia 9/6 foi aniversário do Uruha.
O fato de o Hiroto e o Aoi não se darem bem parece ser bem verdade. O Pon tem medo do Yuu q
O motivo pro Pon não gostar do Yuu mais ou menos o que foi descrito na fic.
A maioria das opiniões deles um sobre o outro, sobre guitarras e tudo mais são reais. A maioria tirada, assim como a capa desta fic, da revista "ShockWAVE 16 - PSC All Guitarists Special". Lá tem entrevistas muito boas com os guitarristas (Adorei a do Miyavi com o Tora também, vale mesmo a pena xD). O Aoi, aliás, fez a entrevista com o Shin (Kagrra,) e foi muito chato e mal-educado, por isso eu não dei o Uruha pra ele nessa fic, un.
ViViD são os novos meninos da Indie PSC.
Quando os Gazeboys entraram na PSC, Shin, de fato, os ajudou muito a se adaptar.
Não sei se é realmente por aí, mas a impressão que dá é que o sentimento do Pon quanto ao Uruha é exatamente este (calma fangirls que estão tendo hemorragias nasais, isso sobre a profissão deles... Ele admira o Kou como guitarrista e se pergunta se um dia será assim).



Casal diferente, né? Eu vou morrer de tiro de leitor, mas tudo bem. Danem-se.
Foi minha vingança suprema contra AxU
Sabe por quê?
O KOUYOU NÃO ME CONVIDOU PARA O ANIVERSÁRIO DELE Ò.Ó

Enfim... Eu não ligo de passar o dia dos namorados sozinha e em casa sem fazer nada, o que eu não suporto é ter que fazer lição de filosofia (em qualquer dia do ano). Por isso eu fiz essa fic tão mal-humorada. E se vocês quiserem me deixar comentários, bem, isso é algo que me deixaria feliz :3