Querido Diário escrita por Jupratees


Capítulo 2
Locked Out Of Heaven




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7:58 29 de novembro de 2020 - Melissa Angel:


Ah! olá diário, desculpe-me, acabei me perdendo em devaneios... Bom, Acho que posso confiar em você para contar. Certo. Eu tinha 17 anos. Sempre fui uma adolescente muito rebelde... Na real, eu não gostava de seguir os padrões da minha época. Sim, minha época. Sempre achei aqueles vestidos bizarros uma idiotice imensa, mas era obrigada a usá-los. Bem, eu tinha meu grupo de amigos - como qualquer garota comum. Eramos em 8. O Lucas é meu irmão, mas não de sangue. Ele esteve comigo em todos os momentos e apesar de ser um tremendo babaca, eu devo muito a ele. (Espero que ele não leia isso jamais). Enfim... Você deve estar estranhando o modo como escrevo, mas tenho certeza que tudo irá se encaixar. Fui "adotada" ano passado pela doce e meiga tia Célia. Ela é uma fofura. Faz cada comida... que nossa! É uma pena que não me satisfaça, porém, tenho um pouco de receio. Ela é mãe do Lucas... e do Henrique... esse garoto tem alguma coisa que me é familiar. Ele se parece muito com alguém que eu supostamente conheço, contudo não consigo me recordar. Às vezes sinto que tenho um verdadeiro laço familiar com eles, mas deve ser pela convivência. Eu adoro onde estou, contudo admito que tenho tido que me esforçar muito para acompanhar as novas tecnologias e manias juvenis. Até então eu me virava, sabe como é: uma adolescente de 17 anos não tem mais lugar em orfanatos. Já passei por vários membros da família e provavelmente devo ter conhecido toda minha geração - risos. Eu tinha uma irmã, Catherine. Ela era realmente linda, admirável. Todos os homens eram apaixonados por ela. Os longos cabelos loiros caiam-lhe pelos ombros como belos raios dourados, os olhos azuis claros se camuflavam na mais pura inocência, a pele extremamente clara, o corpo escultural...e seus dentes eram verdadeiras pérolas cintilantes. Cath e eu nunca nos demos muito bem. Ela era bem obediente. Casou-se cedo... Foi mãe de 4 filhos. Mas então, em uma noite, descobriu a traição de seu marido com sua até então melhor amiga, Felícia. O único homem que ela um dia amará jogado em uma cama com a pessoa que sempre confiou... e bem... ela não superou. Cometeu suicídio. Foi bem estranho. Cath tinha a vida perfeita. Eu sempre tive uma certa inveja dela. Casar, ter filhos,não é uma realidade que eu possa ou podia ter - Suspiro. Tudo começou no dia 26 de novembro 1887. Século XIX e você não está entendendo errado. Como eu citei lá em cima, eu tinha 17 anos e a vida perfeita, mas não sabia disso. Nunca fui muito bonita como Cath. Mas por algum motivo estranho, me consideravam atraente. Enfim, acho que isso não importa. O baile havia acabado. Eu era de família nobre. Minha mãe estava no meu pé para que eu me casasse e elaborou uma festa para que os pretendentes se apresentassem. Um lindo show de horrores. Quase vomitei, mas certo. A verdade é que eu estava entediada e aproveitei o momento das danças para tomar um ar. Peguei minha taça de vinho e sentei-me cuidadosamente embaixo de uma refrescante árvore florida. De relance, vi meus queridos amigos se aproximando. Perto do jardim, havia uma cachoeira. Às vezes íamos fazer piquiniques ao pôr-do-Sol mas nenhuma loucura que pudesse ter uma consequência grave. Porém, cometi o erro de aceitar descê-la atrás de meu suposto amor, Maddox. Meu Deus, aquilo era a perdição! Aquele garoto era maravilhoso, eu era loucamente apaixonada por ele e precisava me arriscar.

23:58 26 de novembro de 1887

— Ihhhhhchhhhccihhh Mel, pega mais bebida lá! - Iniciou-se um verdadeiro pega-pega malicioso, do qual eu não fazia parte. As risadas eram descontroladas - o que me deixou perturbada. Eu não era fã de bebida, nunca fora. E às vezes, de algum modo, eu sentia que só andavam comigo porque eu os bancava com comes e bebes. Inútil, não?!

— Não vou pegar mais nada! Vocês estão sem condições, Deus! Acho melhor voltarmos. - Respondi, cruzando meus braços e percorrendo a face fria de meus queridos amigos interesseiros. Mas mais uma vez, fui ignorada. Fui bruscamente ignorada. Revirei os olhos, fitando o chão enquanto apoiava minha mão sob meu rosto. Talvez me casar não fosse uma ideia tão má assim.

— Com licença. - Arrepiei ao sentir o toque gélido em minhas costas, virando-me cuidadosamente para ver quem era. Achei que teria um ataque cardíaco, por que raios ele estava falando comigo? Senti meu rosto corar, mantendo-me em silêncio. Ok, você deve estar pensando que fui uma idiota. E de fato eu fui. No entanto, não é sempre que isso acontece, tá? eu sou humana... ou pelo menos era e nervosismo sempre foi meu ponto fraco.

— Parece-me assustada. Está tudo bem? - Ele riu. E que risada maravilhosa meu Deus. Minha vontade era de me jogar em seus braços naquele instante. "Muito melhor agora", pensei.

— Sim, estou... Nunca estive melhor. - Respondi friamente, esforçando-me para reprimir um sorriso decorrente de minha, evidente, mentira. - O que o leva a falar comigo? - Arqueei a sobrancelha, exagerando, talvez, em minha dose de bancar a difícil. Ele riu em retribuição.

— Estou muitíssimo bem também, obrigado, senhorita Angel. Sabe, com todo respeito, a bela dama me atrai. Não sei dizer exatamente o porquê, mas algo em seu olhar me faz querer tomar posse de seu corpo. - Senti meu rosto corar, mas limitei-me a abaixar a cabeça sem respondê-lo. Ele prosseguiu. - Fiquei sabendo sobre seu casamento. Estou feliz que nenhum candidato tenha lhe agradado. - Engoli em seco, certo, ele devia estar brincando, mas não estava. Fiquei mais uma vez sem reação. — Acompanha-me para uma volta? - Assenti, fazendo-o abrir um sorriso agora perverso.

— Seja breve. - Retribui seu sorriso, levantando-me e puxando o vestido com as mãos um pouco mais para cima para conseguir andar, ignorando sua mão estendida e lançando-lhe um olhar para que fosse na frente, sem tirar a expressão enigmática de meu rosto. Para minha surpresa, eu não era a única boa jogadora. Seu sorriso se fechou e tudo que vi foram sombras. Senti meu coração acelerar. Meu sensor de perigo apitando e me alertando com ferocidade de que alguma coisa ali estava errada.


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