Para Lucy, apenas uma semana havia se passado desde que fora com sua guilda para a ilha de Tenroujima. Mas o resto do mundo teve uma longa espera de sete anos até que todos retornassem. Ao longo desse tempo, Magnolia mudou, guildas mudaram, pessoas mudaram. E Lucy não fazia ideia de que descobriria isso muito em breve.

A maga foi caminhando pelas ruas da cidade com pensamentos confusos. Estava muito feliz por seus amigos Alzack e Bisca terem se casado e a linda Asuka ter nascido, entretanto, a guilda estava aos pedaços, sendo humilhada por muitas outras que ou não existiam, ou que não tinham o menor prestígio no passado. O status de sucesso da maga não era mais o mesmo. Ela agora era olhada com desprezo pelos outros, não com admiração. E quando esse último pensamento lhe veio à cabeça, os rostos de Marco e Serpentarius se fixaram em sua mente. Onde eles estariam naquele exato momento ? Será que tinham conseguido entrar em harmonia ? Será que tinham ficado mais fortes ?

A pedrinha que Lucy chutou fez um eco pela rua. Já era tarde da noite quando ela estava voltando para casa, e o local onde ela estava se encontrava totalmente deserto. De repente, pouco antes de chegar à esquina, ela escutou passos atrás de si. Um pouco apreensiva, apertou suas chaves contra sua cintura e olhou para trás. Não havia sinal de uma alma viva.

“Devo estar imaginando coisas...”, ela pensou, um pouco mais aliviada. Mas quando girou nos calcanhares para continuar seu trajeto, deu de cara com um sujeito gigantesco, cheio de cicatrizes e com um sorriso assustador a dois palmos de distância de seu rosto. Antes que ela pudesse tomar qualquer ação, a mão gigante do homem pressionou sua boca impedindo-a de gritar, enquanto a outra agarrou sua cintura com tanta força que ela perdeu o ar e ficou tonta.

Só depois de alguns segundos ela se deu conta que estava sendo carregada rapidamente por entre as ruas escuras por aquele desconhecido. O homem se movia com muita rapidez, e ela podia ver a cidade se afastando cada vez mais conforme era levada. O sujeito só parou depois de subir uma pequena montanha e largá-la em um terreno abandonado, onde apenas árvores a cercavam. Não havia sinal de civilização pelos arreadores.

- O que está acontecendo ?! – Lucy gritou, ainda no chão, arfando por poder respirar normalmente outra vez. 

O sujeito apenas sorriu para ela, mostrando uma arcada dentária totalmente podre, o que o tornava ainda mais repugnante. Alarmada, Lucy engatinhou de costas para ficar o mais longe possível daquele homem, mas parou ao perceber que os dois não eram os únicos naquele local :

- Olá, Lucy.

O coração da maga quase parou. Ela soltou um grito abafado, mas antes que pudesse correr, foi levantada de costas pelo homem das cicatrizes. Aquela voz era familiar. Mudara pouco considerando que sete anos haviam se passado. Com os olhos arregalados e o rosto totalmente branco, ela deu de cara com um conhecido. Lá estava ele, com o traje inteiramente negro, feições mais velhas, cabelo agora bem mais curto, os olhos castanhos carregados de rancor, e um sorriso perigoso.

- M-Marco... ? – ela disse, com dificuldade, já que seus braços estavam quase sendo quebrados.

- Se lembra de mim ? – ele fingiu surpresa – Me sinto lisonjeado.

O queixo de Lucy tremia. Só de olhar para ele por vinte segundos já percebeu que aquele não era o mesmo rapaz alegre e sonhador que conhecera antes. As trevas tinham tomado conta de seu coração.

- Foi v-você quem... Mandou me sequestrar ...?

- Sim, fui eu. – ele assentiu com a cabeça. – Surpresa ?

Ela não respondeu. A expressão de terror em sua face já deixava bem claro qual seria sua resposta.

- Pois é... – ele foi se aproximando e tirando lentamente a luvas negras da mão esquerda – Muita coisa mudou nesses... Quanto tempo se passou, mesmo ? – ele pensou um pouco – Sete anos ! Puxa, faz muito tempo, não é ? Há sete anos eu era apenas um moleque estúpido que não sabia nada sobre o mundo. – e parou a poucos centímetros da maga olhando profundamente em seus olhos castanhos – Mas não sou mais esse moleque.

- O que... aconteceu com você...?

- Ora.. eu encontrei meu caminho ! – ele deu um riso de escárnio – E um caminho muito mais rápido para conseguir o poder que eu queria, eu garanto.

- Uma guilda das trevas...? – ela franziu o cenho

- Você diz isso como se fosse algo ruim. – ele disse, cínico. – Mas pensa que eu esqueci de você quando entrei ? É claro que não !

E dito isso, Marco arrancou a luva da mão direita. Lá estava, exatamente onde a marca de Lucy ficava, uma marca amarronzada de guilda das trevas.

- Quer saber por que eu fiz isso, Lucy...? Para me lembrar todos os dias que se um dia a encontrasse, para matá-la. – ele acariciou com suavidade a bochecha da maga.

- Por quê...?!

- Porque assim terei seus espíritos e me tornarei o mago celestial mais poderoso do mundo.

- Socorro !! - Lucy tentou se mexer, mas seus braços foram ainda mais apertados, e ela soltou um gemido de dor.

Marco se afastou e levou a mão ao bolso.

- Tem alguém que também sentiu saudades suas enquanto você esteve fora.

Ele puxou a chave dourada com a pequena serpente esverdeada gravada, e uma luz dourada saiu dela. Em um segundo Lucy ficou de cara-a-cara com o espírito. Sua aparência era exatamente a mesma do passado. Os mesmos cabelos verdes presos em uma longa trança, a mesma túnica branca, as escamas nos braços e os pés descalços. O único aspecto diferente na moça era o fato de que seus olhos dourados agora pareciam não ter vida.

- Solte-a. – Marco ordenou, e o homem cicatrizado obedeceu. – Agora desça a montanha e vigie-a junto com os outros.

- Sim, senhor. – e ele desapareceu. Agora os únicos naquele local eram Lucy, Marco e Serpentarius. Esta última se encontrava totalmente inexpressiva.

Lucy levou as mãos à cintura, mas arregalou os olhos ao ver que suas chaves não estavam lá.

Marco apontou para a maga com o dedo indicador e disse, com a voz fria :

- Já sabe o que fazer, Serpentarius.

O espírito fixou os olhos sem vida na maga e assentiu com a cabeça.