Folhas De Outono escrita por Débora Rempel


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi gente! Já esta aqui o primeiro cáp da história! (sem contar com o prólogo) espero que gostem!



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Certa vez, quando minha irma ia sair do vale, a segui, apenas para descobrir onde era a passagem por onde eles saiam sem ser vistos. Precisava de um plano, e rápido, queriam me casar logo, por isso preciso sair daqui o mais rápido possível. Sei que posso ser pega e passar o resto da vida dentro de uma cozinha do Clarê, mas tenho que tentar.

Peguei o arco que pertencia a papai no exercito, arrumei alguns poucos pertences e coloquei-os junto com algumas mudas de roupa que estavam dentro de uma bolsa de pano, feita por mamãe. Senti um aperto no peito quando olhei para trás, para o meu quarto, para a minha família. E sabendo que tenho que deixa-los se quiser deixar de ser uma prisioneira para o resto da vida. Quando criança, meu pai me ensinara a usar o arco e flecha, mas nunca fui muito boa nisso, até ele morrer e eu prometer que seria a melhor arqueira do mar escandinavo. Desde então, venho treinado escondida, no silencio da noite, afastada das cabanas de nosso povo. O barulho das flechas disparadas se misturavam facilmente aos barulhos externos, fazendo com que não atraísse a mínima atenção.

Para meu povo, sou aquela que esta destinada a passar o resto da vida limpando a casa de meu marido.

Acontece que nao vou ter um marido. Nao vou continuar aqui.

Peguei minhas coisas e sai pela porta dos fundos, ficando de frente com plantações de diversos alimentos. Peguei a trilha já formada por minha irma e seus amigos e fui direto para uma passagem fechada com uma rocha grande, mas não muito pesada. Puxei a pedra,acendi a tocha que ficava na parede da passagem,entrei e fechei a passagem com a rocha.Alguns minutos,que pareciam não ter fim, de caminhada, e eu estava frente a frente com uma parede: outra rocha, que, certamente, estava fechando a passagem para os karteir,para o outro lado, para uma nova vida.

Fechei a passagem com a rocha, mais pesada que a anterior, e me deparei no fim de uma plantação de arroz. Durante toda a minha vida eu imaginei como seria o lado de fora. Confesso que estou um pouco decepcionada com o que vejo, também, pudera. Passei minha vida inteira, 17 anos, dentro de um circulo ridículo de cinco morros. A vida agora não parece tao melhor que antes, mas ainda não conheci nada do que esta a me esperar por aí. Agora eu sei que as aparências engam. Posso dizer isso com todas as letras. Atravessei a plantação e me deparai com o jardim de trás de uma casa grande, mas simples: a grama bem aparada, as flores em sincronia, os pássaros voando baixo, dando ao lugar uma estranha sensação de ilusão. Nunca tinha visto pássaros como aqueles antes, a não ser nos livros que os defensores de meu povo conseguiram em reuniões com os reinos e feudos da região, para que pudéssemos ter um aprendizado razoável, para que possamos descobrir sozinhos nossas habilidades, e contribuir com nosso povo quando tivermos a idade certa, segundo cada um.

Pelo que me lembro dos estudos, esses devem ser algum tipo de pelicano, ou garças, não costumam habitar lugares baixos, como nossa vila, mas os vimos de vez em quando nos topos dos montes, rondando e rondando os picos mais altos. Lembro-me agora da subida que tive dentro da caverna de minha irmã, e de como me cansei varias vezes a ponto de ter que parar para descansar, devido à ingrime subida.Penso, então, em como meu povo esta excluído da sociedade de fora, dos karteir, de tudo o que eu me importo em conhecer e que, acho eu, todos querem.

Sempre que tinha oportunidade, ficava desenhando, como eu imaginava que fosse o mundo la fora, claro que ninguém nuca via esses desenhos, se não eu já estaria casada, pois desenho bem, modéstia a parte. Caminhei um pouco ate chegar do outro lado da casa, que tinha uma varanda imensa, proporcional ao tamanho da casa. Olhei em volta: na frente da casa havia um estrada, que levava a duas direções opostas. Fui ate o meio da estreita estrada, e tentei decidir qual caminho tomar. Até que o bando de pássaros levantou voo para o leste, e os segui, desesperada para que houvesse uma oportunidade a me esperar por la.

–--@---

Acordei com o barulho da água jorrando, tinha adormecido perto de uma cachoeira, onde não estava tao escuro, por causa da clareira. Andei o dia anterior inteiro, estava exausta. Minhas costas, em cima da grama umedecida pelo sereno, estava molhada. me levantei e me perguntei que horas poderiam ser. Olhei para cima, não dava para ver o sol, mas a claridade vinha de leste, para onde me dirigia. Peguei minha mochila e comecei a me direcionar para o lado do sol: me importava, sim, em seguir meus instintos, mas não os obedeci quando me deixei levar pelos pássaros. Sei que deveria ir para o outro lado, para oeste, mas era o medo falando mais alto do que eu. Não segui meus instinto e deu no que deu: eu estou no meio de uma estrada deserta, por causa de um bando de pássaros, e fico me perguntando se estaria em algum lugar se tivesse pegado o caminho oposto. Agora não vou voltar, estou muito longe daquela casa para voltar e reiniciar toda a minha trajetória para um lugar que nem sei qual é.

Será que encontrarei o que procuro? Será que sei o que procuro? Acho que somente o tempo é capaz de responder a uma pergunta dessas e acho que só ele vai me dar a resposta certa dessa vez, depois de tantos terem me dado a resposta errada. Todos acham que sou um fracasso, um desgosto para minha mãe, mas vou mostrar a eles que estão errados. Outro bando de pássaros voa na minha direção oposta, para oeste, para aquela casa grande, para de onde eu parti, para mais perto de minha família. O mesmo bando de pássaros que me incentivou a vir por aqui, que me fez pensar que, por ser o lugar onde eles se abrigam, seria um bom lugar para mim também. Mas agora não tem como voltar atrás. Ainda não vejo o despontar do sol a minha frente, apenas a claridade que emite, com certeza, dele. Ando a manha e a tarde inteira, à procura de algo que ainda nem sei o que é.

O astro rei atras de mim emite uma luz vacilante avermelhada, que me faz pensar em minha família, em como eu, meu pai, minha mãe e minha irmãzinha costumávamos ficar sentados nos campos olhando para a luz vermelha-alaranjada que vinha dos montes à oeste, como se fosse algum tipo de mistério a ser resolvido. Sei que todos temos nossas fantasias e devaneios, mas nunca á tarde para tentar por o pé no chão. É o que venho tentando fazer. Ser o mais centrada possível pois, ao contrário, eu enlouqueceria. Olho para frente novamente, tentando conter as lágrimas que querem escorrer pelo meu rosto já cansado. Com a visão já embaçada, olho para o lado e avisto uma arvore bem familiar: era uma árvore frutífera, não sei ao certo de qual fruta, mas era deliciosa, não comia nada desde manha, na mata. Minha sede era insaciável, tinha pego água no rio mais cedo e enchido a garrafa que trouxe comigo, mas a essa hora, a água já tinha acabado, e minha fome estava me matando, tinha pego algumas frutas por la, mas também tinham acabado a um bom tempo.

Deixei minha mochila aos pés da arvore e comecei a escalar, meu vestido comprido dificultou um pouco a escalada, mas eu ja estou acostumada a subir e descer árvores e os montes que cercam meu povo, atrás de caça. Puxei uma fruta com tal força, que quase desabei de la de cima. Joguei umas quatro frutas perto de minha mochila e colhi mais uma, que comecei a comer ali mesmo. Já estava escurecendo e tinha de arranjar um abrigo para passar a noite. Desci da árvore e recomecei minha caminhada, em busca de um bom lugar para passar a noite. Logo avistei uma luzinha distante, o que me animou bastante: era uma casa! Estou quase lá! Comecei a correr desesperadamente, para ver se conseguia, de alguma forma, me aproximar da casa em um piscar de olhos. Estava frente a frente com a varanda da casa, que era bem menor que a casa anterior , em todos os aspectos, até a porta era mais estreita.

Bati na porta algumas vezes, até que alguém veio até a janela: uma senhora de robe branco, que aparentava uns cinquenta anos. Logo saiu da janela e veio atender à porta.

– Quem é você? - a senhora disse rispidamente - O que quer?

Confesso que pensei um pouco na resposta, o que fez com que a mulher ficasse mais brava ainda.

– Sou Alisha, senhora, eu estou procurando abrigo para passar a noite.

A senhora olhou para dentro novamente, como se se perguntasse se devesse me deixar entrar. E, com um asseno rápido de cabeça, se dirigiu à mim:

– Entre, mas em silêncio. Meu marido esta dormindo.

– Muito obrigada, senhora. Não sei nem como te agradecer.- Tomando um banho, por enquanto, já esta ótimo.

Agradecida, me dirigi ao local indicado pela senhora, onde ficava um chuveiro e um box pequenino, mas que já era grande coisa para quem tinha tomado um banho de rio, ainda por cima super gelado, de "quase" madrugada.

Acordei com um pouco de dor no corpo, também, pudera. Depois de dois dias inteiros de caminhada e uma noite fria e mal dormida, meu corpo precisava de um desconto. Levantei e fui para o banheiro que tinha tomado meu banho na noite anterior. Me perguntei se o marido da senhora Firskart estaria de pé a essa hora. Costumo acordar cedo, principalmente de uns tempos pra cá, que venho treinando de noite e antes de ir para as aulas de instrução, que é um tipo de escola que ensina de tudo um pouco, mas nunca me sai muito bem nessas aulas, já que não estou afim de ser uma menina casada.

Estou de baixo da ducha fria novamente. A água escorre pelo meu rosto e por meu corpo, fazendo com que eu ficasse toda arrepiada, por conta da baixa temperatura em que estou. O vento lá fora bate forte no topos das árvores e os pássaros começam a cantar alto. Um barulho me faz despertar. Desligo o chuveiro e me visto, com o corpo um pouco úmido ainda. Vou me esquivando de tudo para não fazer o mínimo barulho. Chego na porta e olho em volto: não vejo nada além da mobília, mas podia jurar que ouvi algo sendo derrubado, e os barulhos vinham para minha direção. Olhei em todos os esconderijos possíveis em que se posse esconder um pessoa ou qualquer outra coisa que seja.

Me viro e entro de novo no quarto, quando dou de cara com um homem alto e uma faca em mãos. Esse deve ser o senhor Firskart, pensei comigo. Pela primeira vez em minha vida alguém conseguiu me assustar. Dei um pulo para trás e reprimi um grito de pavor. O rosto do homem estava duro e transmitia confiança. Até que dirigiu a palavra:

– Quem é você? - perguntou duro, sem vacilar nem um pouco a voz - O que quer? - será que ninguém aqui pergunta outra coisa quando vê os outros pela primeira vez?

– Sou Alisha, estava procurando abrigo e sua mulher me acolheu, mas era apenas por essa noite, eu já estava de saída, o senhor estava dormindo quando cheguei. - me esforcei para fazer uma cara que convencesse. E acho que deu certo, pois ele começou a abaixar a faca pontiaguda que segurava erguida na altura de meu pescoço.

– Bem, sendo assim, bem vinda. - disse, um pouco desconfiado - Desculpe-me pelos modos, mas é que minha esposa tinha me informado de sua presença a noite, quando estava no sétimo sono, então não me apeguei muito ao que ela dizia. - seu rosto mostrava uma expressão de iluminação, como se estivesse se lembrando da senhora Firskart o avisando que tinham companhia e, pude perceber, um pouco de vergonha, também.

– Não, não. eu é quem tenho que me desculpar. Eu estou perturbando suas rotinas e me infiltrando em sua casa. - comecei a me desculpar novamente, mas fui interrompida.

– Não por isso, costumamos abrigar viajantes, somos conhecidos por isso. Mas vejo que você não sabia disso, venha. Vamos tomar um bom café.

Eu o segui até a cozinha. ele começou a mexer em um armário, mas fui mais rápida e adiantei que eu faria o café nesta manha. Preparei uma massa de folhados, que minha mãe havia me ensinado, pelo menos para aprender alguma coisa eu sirvo, que não é muito demorada como as comuns e que fica muito mais leve. Em meia hora uma fornada de folhados de queijo, queijo e goiabada e presunto com e sem orégano e queijo suíço. O cafe ficou pronto em menos de dez minutos. E o senhor Firskart já estava me elogiando muito em quesito de cozinha.

Me despedi do senhor e da senhora Firskart, que não me cobraram nada pela estadia, e sim me deram um bom dinheiro, pelo trabalho que fiz de doméstica na casa deles. Confesso que me deram até mais do que o que acho que se pagam pelo serviço de uma domestica, mas não contestei, apenas agradeci, me despedi e virei as costas para a pequena e aconchegante casa no meio da estrada e recomecei minha jornada. Pensei se seria assim pelo resto da minha vida. Mas sei que não será. Isso é pura utopia, pura imaginação, pura ilusão. E digo a mim mesma para colocar isso na minha cabeça, no meu consciente e no meu subconsciente também. Tento não me ilusionar assim tao facilmente, mas acabo me flagrando em meus devaneios sempre que paro um pouco de me concentrar, então retorno ao mundo real.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! bjs e até o proximo cáp.!



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