Minha Aurora Boreal escrita por Trevor Boots


Capítulo 16
Capítulo 16




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Dia vinte e nove de dezembro de 2012

De: Eduardo

Para: Leitor 

Me lembro que eu segui o conselho da Lucy, fui finalmente num psiquiatra pra tentar entender o que tinha de errado comigo, não sei se posso falar assim “o que tinha de errado comigo”, pois é estranho, me sinto um monstro falando assim de mim mesmo, aquilo que ela me disse, me tocou mesmo, meio que me alertou, não para o perigo, mas para eu ter um amigo pra conversar e contar tudo que eu não conto pros outros, algo como o fato de ter uma família ótima e mesmo assim ter me cortado na sexta série, e continuei me cortando até a sétima,não me cortava por causa de garotas, problemas familiares e etc..., me cortava por prazer, isso eu contei ao meu psiquiatra, e ele me falou que muitas pessoas o procuravam pelo mesmo motivo, e naquele dia, naqueles quarenta e cinco minutos, achei o melhor dos melhores ouvintes do mundo, sabe quando você encontra aquela pessoa que te compreende, que te ajuda, pois é, prazer meu psiquiatra, então naquele dia não tive coragem de falar das minhas visões, das minhas alucinações, tive medo de ser diagnosticado como louco, ou coisa parecida, então quando os quarenta e cinco minutos acabaram ele me perguntou “Amanhã nos vemos outra vez?”, e eu concordei com a cabeça, então ele me avisou que no outro dia ia aumentar mais cinco minutos no tempo, e assim por diante, e eu achei maravilhoso, pois o tempo passou rápido na minha primeira conversa com ele, meu antigo psicólogo não era legal assim, não sei o por quê, ele não me ouvia, me questionava coisas sem sentido, por isso pedi pra minha mãe pra me tirar de lá, não estava agüentando mais, no outro dia cheguei decidido ao consultório, eu ia falar o verdadeiro motivo por estar ali com ele, então na sala de espera comecei a jogar no meu celular, e então o tempo passou rápido, e a porta de madeira se abriu e ele me chamou, então subimos as escadas já conversando, ele me fez perguntas se eu ia viajar, me fez perguntas se eu ia sair pra algum lugar, me indicou filmes, perguntou se eu gostava de ler e me indicou livros, e entramos na sala, quando sentamos ele perguntou se eu queria jogar alguma coisa, e eu disse que não, então ele me perguntou se eu tinha algo pra compartilhar, acho que os psiquiatras são super bem treinados, porque eles percebem que você quer contar algo mesmo sem você expressar nada, então concordei com a cabeça e o contei tudo, desde a primeira vez, até a vez da piscina, contei detalhadamente o que eu sentia, como ficava, e como tinha sido real umas duas ou três vezes, e ele não demonstrou expressão de surpresa, nem de desprezo, então foi bom pra mim, acho que eles também são treinados pra isso, então ele fez perguntas:

- Quando isso começou, você se sentia bem, vejamos, não bem de saúde, mas bem com sua vida, assim, com auto-estima alta?

- Não me lembro bem da primeira vez, mas nessas últimas eu estava sim – respondi

- Então, nessa da piscina que você me contou, não chegou a haver desmaio?

- Não, ela apenas apareceu na minha frente como uma holografia, mas eu senti tudo como antes, tudo ficou frio, mas eu não saí da piscina, tudo ficou barulhento mas eu ainda estava no mesmo lugar, então aquilo apareceu na minha frente e levou todas as dores embora, parecia que em mim só tinha ficado o lado feliz da vida.

- Você via pessoas nessas suas visões?

- Vi só uma vez, a que foi mais real, tinha adultos e crianças, eu estava em uma montanha, e foi tudo igual... – contei ao mesmo, e depois de pensar mais um pouco continuei – Essa primeira vez aconteceu no auge do meu dia, num momento perfeito, me sentia perfeito nesse momento, tudo era perfeito, era como se fosse o último dia de minha vida, era como se nunca mais fosse viver pra sentir aquilo de novo ....

- Você gosta dessas visões? – ele me perguntou observando minhas expressões

- As vezes – falei

- Por que as vezes ? – ele me perguntou

- Porque tem vezes que eu estou na pior mesmo, e ela leva embora tudo, sabe a aurora boreal, e tem vezes que já esta tudo no seu devido lugar, e eu nem sinto diferença, e as vezes melhora um pouco.

- O.K Eduardo, mas infelizmente nosso tempo acabou – e ao falar isso se levantou foi até a porta e deu uns tapinhas nas minhas costas e continuou – amanhã não teremos nossa conversa ok ?, infelizmente amanhã vou ter que fazer uma cirurgia no olho vou ficar uma semana ausente, então próxima semana nós conversamos pode ser ? – me perguntou

- Poxa, então ok – falei um pouco incrédulo

- Então até próxima semana. 

Confesso que senti um vazio durante toda semana, pois era tão legal nossas conversas, eu adorava, e passar uma semana sem falar com ele não era muito legal, mas até que foi uma semaninha boa, era terça feira quando eu tive minha última consulta da semana, e na quarta saí com a Lana, fomos num shopping novo que tinha lançado na zona sul, perto da casa dela, fomos ao cinema, e depois lanchamos na praça de alimentação, e depois fomos a um parque próximo ao parque andamos abraçados pelo centro do parque próximo a praia também, então sentimos aquela brisa ótima que te faz sentir mil coisas ao mesmo tempo, então andamos pela grama e eu parei do nada, então a Lana me perguntou algo como:

- Tas se sentindo bem Edu ?

- Hum-Hum – menti

- Eu sei quando você mente Eduardo – me falou com um certo tom de irritação na voz

- Ta ok, eu senti uma dor de cabeça repentina mas não foi nada

- Se você quiser ir eu entendo

- Não, vamos ficar, não vou embora por causa de uma dor de cabeça qualquer

Depois fomos até o centro onde estava cheia de pessoas vendo os skatistas na pista principal, tinha cinco meninos de skate e um de patins, fazendo manobras, enquanto todos aplaudiam, era incrível como eles não tinham medo de se arriscar, qualquer coisa errada que eles fizessem poderia dependendo da manobra ser um risco enorme, mas eles não ligavam pra isso, e os que estavam aplaudindo- os também, me sentei num banco que dava pra visualizar toda a pista, e a Lana sentou do meu lado, então ficamos olhando-os fazer aquelas  coisas e ouvindo todos aplaudindo, mas os aplausos pareciam ecoar em minha cabeça, não sei se era por causa da dor, sempre tive esse problema de cor de cabeça desde pequeno, então nunca liguei muito, o cara do patins tinha saído pensei que ele tivesse cansado, mas não ele voltou correndo de deu um pulo no centro e fez uma manobra pra cair do outro lado da pista, caiu em pé todos aplaudiram, mas ele desequilibrou e caiu, ouvíamos o som dos skates batendo ao chão, não era um som insuportável, era até que um som legalzinho, sei lá, então deu dez e dez da noite, e as luzes apagaram, só ouvimos os skatistas falando “Cabou” e “Amanhã vocês vem né?”, então fomos andando pela praia até a casa dela, onde me despedi, a beijei e voltei pra casa, depois da semana ter acabado o psiquiatra ligou pra avisar que já estava pronto pra outras conversas, então fiquei feliz e ele disse apenas “Quarta feira você pode vim?” eu respondi sim e ele falou “ok” se despediu e desligou.

Confesso que até a quarta feira fiquei apreensivo, não conseguia fazer nada, não conseguia me concentrar em livro nenhum, nem em nada, então chegou finalmente a quarta feira, e quando cheguei lá não tinha ninguém exceto a atendente, me sentei e não demorou muito ele apareceu pra me chamar, pelo trajeto como sempre, ele me fazia perguntas, e quando entramos na sala, ele me disse que ia ser diferente a consulta naquele dia, ele me pediu pra sentar numa cadeira, perto de uma mesa, e então me entregou três folhas de papel oficio, então ele disse :

- Na primeira eu quero que você escreva um texto, não precisa ser muito grande, sobre como você se sente, quando tem essas visões, e quero que escreva mas alguma coisa que fez esse seu ano especial – sorri pra ele, pois tinha a resposta certa – nessa segunda, eu quero que desenhe essa visão que você tem, não precisa ser perfeita, nessa primeira gaveta tem os lápis de cor, tinta e etc..., e nessa terceira eu quero que você faça um questionário sobre esse ano, sua vida e etc..., e depois o responda – e finalizou, então comecei a executar, comecei a fazer meu texto.

Quando tenho essas visões, não sei bem como descrever as sensações, o certo é que tudo fica frio, começo a andar até um rio ou um lugar parecido, e no céu aparece uma aurora boreal, que eu sempre admirei pela beleza e pelas cores, sempre achei um espetáculo ao ar livre, então se estou triste fico feliz, e se estou bem fico melhor ainda, como se essa aurora boreal lavasse minhas dores, só deixasse as felicidades que restam em mim, comecei a vê-la depois de uma festa, e com uma certa música na cabeça, que me demonstrou uma ótima mensagem, então não sei se essas ilusões que eu tenho começaram por causa dessa música, porque eu gostei, porque eu admirei, não sei ao certo, mas ia adorar descobrir.

Esse ano foi muito especial pra mim, conheci pessoas novas, senti coisas novas, foi um ano realmente novo pra mim, adorei, foi perfeitamente mágico, esse ano foi muito difícil em minha vida, mas tudo mudou, assim como todo mundo eu me apaixonei, não sei te dizer se fui incompreendido, pois ela hoje está ao meu lado, é minha namorada, mas no inicio posso te dizer que foi sim, incompreendido, ou eu pelo menos acho que foi, não sei se 2013 será um ano melhor pra mim, mas talvez pode ser, não sei quem decide essas coisas, acho que sou eu mesmo, então eu quero que 2013 seja o melhor, o dobro que esse ano foi.

Tenho uma certa mania de assinar todos os meus textos, então logo que terminei esse assinei em baixo.

Eduardo A. Oliveira

Então resolvi partir pro desenho, coloquei a caneta de lado, e peguei o lápis, desenhei uma montanha, fiz os detalhes da neve, então fiz o sol que depois pintei com um amarelo claríssimo, pois era como eu sempre o via, então tentei desenhar um rio, cercado por madeira, o rio congelado foi difícil de fazer, então o pintei com um azul esverdeado, e passei lápis branco por cima, muitas pessoas não sabem pra quê um lápis branco, mas deu o efeito que eu realmente quis, então não me desenhei pois não sabia desenhar pessoas, só de palitos, então descartei essa opção, desenhei a aurora boreal, como ondas no céu, e eu me senti como se estivesse lá, então peguei os lápis verde, roxo, laranja e azul e comecei a pintar, modéstia parte te garanto que ficou lindo, depois que terminei tinha esquecido da outra opção mas ele me lembrou, o questionário, estava meio sem idéia então meu questionário teve 5 questões.

1- Qual sua impressão sobre você mesmo?

R- Me vejo como uma pessoa normal, complicada, aborrecente, um garoto que está no momento certo de sua vida, com as pessoas certas e no local certo, então me descreveria como um garoto especial, por ter pessoas especiais ao meu lado, por ter uma família perfeita ao meu lado, por ter todo esse amor.

2- Como descrevia seus amigos?

R- Helena a louca, mas a louca que eu amo, se depender de mim, sempre seremos amigos, Oliver, aquele menino chato mas que é legal, ele será chato com você se você for chato com ele, e se for legal ele será chato do mesmo jeito, mas uma pessoa sociável, amigo, Rolf, quem sabe complicado, mas também um ótimo amigo, nunca sairia do seu lado por nada, Lucy, descreveria como Boba, apaixonada, e etc..., mas uma pessoa ótima, que sabe ser legal nos momentos certos, dramática, Nicolas, sincero, ele fala tudo que acha de você, se você perguntar ou não, é o jeito dele, Vivian aquela sua ex que mesmo sendo ex continua sendo sua amiga, fofa, Gabriela eu não conheci muito bem, nem o André, mas acho que pra Helena ter se apaixonado por ele deve ser um cara legal, e por fim a Lana, a pessoa que nasceu pra ficar do seu lado, especial, a que eu me apaixonei só por olhar e ela retribuir, gostei dela justamente por ela ser o que ela é, esses loucos, são meus amigos, dizem que cada um tem o amigo que merece, então o que será que eu fiz pra ter esses insuportáveis do meu lado?

3- Sua família

R- Minha família também é muito especial, meu pai me entende, minha mãe as vezes fica irritada, mas sempre me apoiou, adoro ter eles como pais, desde pequeno me apoiaram nas minhas decisões, mesmo que eu não soubesse o que estava fazendo, as vezes me falaram a realidade mesmo sendo dura, mesmo sendo ruim, mas eles queriam que eu caísse no mundo real, e do fundo do meu coração agradeço a eles por ter me trazido pra essa realidade, me prepararam pra esse mundo. 

4- Sua escola

R- Só gosto da escola, porque esses insuportáveis estão lá toda manhã, gosto de alguns professores, mas não de todos, não gosto das pessoas, nunca gostei, só gosto de quem eu quero, por isso não me socializo muito, algumas meninas são realmente frescas, isso me dá raiva, alguns meninos são muito bestas, tiram piadas com tudo, mas meus amigos me compreendem e juntos fazemos tudo que eu gosto, sendo na escola ou não, com exceção da vez que a Helena jogou pó de giz na cadeira da professora, no primeiro dia que nos conhecemos, mas aquela foi a única vez.

5- Sociedade

R- A sociedade é um lixo, estão todos perdidos nessa onda de funk, onde só fala de coisas indecentes, que muitas pessoas gostam, está perdida na igreja evangélica dominando e “escravizando” pessoas, onde não se pode fazer mais nada, não se pode comer uma certa carne, não pode ir a um certo lugar, não se pode vestir uma certa roupa, onde criticam o rock, o definem como música do diabo, sem nunca antes pegar a tradução de uma música e ver o quão melhor que o funk o mesmo é, antes mesmo de tentar entender o que o rock significa, segundo eles, nosso dinheiro precisa ser entregue a igreja, isso é uma tolice, Brasil não vai pra frente justamente por essa e por outras coisas, como a violência, assaltos, seqüestros, tráfico de pessoas, e etc... se um dia, mesmo que seja num futuro distante o Brasil estiver livre de tudo isso, pode ter certeza que vai ser quando esse “Jesus cristo” descer dos céus, se é que ele existe.

Então, quando terminei, minha mania não me impediu assinei novamente no final da folha

Eduardo A. Oliveira

E entreguei as três folhas para ele, e depois de um tempo ele leu, eu senti que ele se emocionou, observou o desenho, e leu o questionário, então não disse mais nada exceto “Você já pensou em ser escritor?” 



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