Dia Vinte e Quatro de Dezembro de 2012

De: Eduardo

Para: Leitor 

Sem palavras, meu natal foi incrivelmente fantástico, não tem outra palavra que descreva melhor, se meu dia foi maravilhoso minha noite está sendo mais maravilhosa ainda, é exatamente meia noite, e aqui te escrevo, na esperança de que quando queira me lembrar de datas passadas, possa reler essa carta, e talvez possa reviver esse momento, por isso te escrevo desde o começo, sempre dizem que é bom, assim, de inicio de conversa foi meu psicólogo que me indicou a te escrever, eu sempre fui ao psicólogo por causa da minha timidez, e ele me indicou escrever cartas, pra qualquer um, pra um amigo imaginário talvez, para ter alguém pra conversar, me indicou um diário, já tentei mas não deu certo, odeio cadernos, e um dia pegaram e leram, então nunca mais pensei em escrever um, cartas são mais pessoais penso eu, e foi isso que eu fiz e faço até hoje e pretenderei continuar a fazer.

Voltando ao resto do meu dia hoje, não saberei como descrever totalmente e cada detalhe, mas todo natal pra mim é especial, então tentarei te explicar desde o principio depois da minha outra carta, me desculpo se repetir algumas coisas, então depois do almoço todos foram pra piscina de volta, inclusive eu, mas não entrei, fiquei na parte coberta, e teve a foto de família que eu disse que era tradição, então depois da foto todos falaram coisas ao mesmo tempo que não deu pra entender, e meus avós e meus tios inclusive minha mãe e meu pai entraram e ficaram no terraço, observando todos se divertirem na piscina, eu tinha levado meu livro, sempre levo, mas nunca leio, quando estou na casa da minha avó, sempre aparece algo pra mim, algo que eu tenha que participar, então meu primo mais velho saiu da piscina e me chamou pra ir pegar limões no jardim da minha avó, então eu fui, e o jardim da minha avó parecia mais uma floresta, tinha pomares de vários tipos de frutas, limão, manga, maçã, e por ai vai, não sei quem plantou aquilo, mas aposto que foi meu avô, ele adora fazer isso, então eu fui com meu primo, descemos uma “ladeira”, não sei como chamar aquilo, mas estava cheia de lama, e quase caí lá, meu primo já estava acostumado, então nem desequilibrou, fomos andando, e encontramos o pomar de laranja, pegamos algumas e colocamos em cestas, que minha avó tinha, enchemos uma cesta de laranjas, e então ele pediu pra eu levar enquanto enchia outras cestas, então levei, na volta, dessa vez caí, mas não na lama, ainda bem, mas cai na terra, e sujei minha calça, então fui ao encontro dele, ele nem tinha visto ainda bem, e então ele me deu outra cesta pra levar, depois de muitas idas e vindas, ele resolveu ir pegar os limões, mas dessa vez encheu as quatro cestas, eu levei duas e ele duas, confesso que eu derrubei alguns limões na subida, mas parei e apanhei, depois de subirmos minha avó comentou algo sobre “Vai ser limonada a semana toda” e depois fui lavar minhas mãos sujas de terra, e percebi que tinha me cortado nos espinhos dos limões meus braços estavam todos riscados de sangue, lavei com sabonete, e ardeu um pouco, mas nem tanto, e depois já estavam cicatrizando, então nem me preocupei, e voltei a assistir TV, pois por mim já estava cansado, até meu avô subir e me falar que ia dormir, então fui pro quarto da minha avó, mas a TV tinha quebrado, então desisti, avisei a minha mãe que ia andar por ai, então saí da casa e fui andar pela rua, até que passou uma moto e decidi andar pela calçada, então fui andando por lugares que eu costumava andar com meus primos maiores quando era menor, então conhecia tudo, e todos me conheciam, mas não conhecia ninguém, peguei meus fones de ouvido, e liguei a playlist automática, a primeira música foi até legal, Kiss You Inside Out, de Hedley, então fui andando e ouvindo música, se alguém me chamava eu não ouvia, pois tinha colocado volume no máximo, coisa que eu faço quando não quero falar com ninguém, mas tinha parado de fazer isso a muito tempo, acho que fazia isso antes de conhecer o Rolf, Oliver e Helena, depois que conheci eles muita coisa mudou na minha vida, descobri como era uma festa de verdade, e por causa do Oliver, conheci até a Lana, se eu não tivesse ido na festa dele, não conheceria minha futura namorada, então a música acabou, e automaticamente começou outra, era Mistletoe do Justin, não gosto do Justin, mas essa música era legalzinha, me deixava com clima de natal, e era natal, então quanto mais eu andava mais frio fazia, depois que cheguei numa esquina estava completamente frio, estava nevando, e na minha playlist tocava Just One Last Time, estava eu numa colina, completamente nevada, estava com várias pessoas por perto, todas usando roupa de frio, acho que eu era a única exceção, até porque aconteceu do nada, então no meio daquele branco, só se via pontos pretos, que eram as pessoas agasalhadas, podiam se ver pontos coloridos e minúsculos, que eram as crianças, alguns com sobretudo azul, algumas meninas com sobretudo e toucas rosa, e algumas usavam preto mesmo, então continuei andando por ali, até que cheguei a beira de um lago, era de tarde, ainda dava pra se ver o sol, e em um piscar de olhos já era noite, o céu estava num tom roxo, então se via duas colinas entre o horizonte, uma árvore no meio de ambas, e do nada uma rajada de luz verde veio ao meu encontro, me abaixei assustado, então quando olhei novamente pra cima, eu encontrava aquele arco multicor mais uma vez, lilás, verde e laranja se destacavam no céu, acho que era a coisa mais bonita que eu tinha visto, acho que dessa vez foi mais intenso que da última, dessa vez eu realmente estava sentindo aquilo, então fechei meus olhos e os abri depois de alguns segundos e estava sentado no chão, na mesma esquina que tinha “desaparecido”, encostado em um muro gélido e que perfurava, então quando caí na real, desencostei pois estava me incomodando, algumas pessoas que passavam me olhavam curiosas, e quando eu reparei o céu, era realmente noite, e então me levantei e fui pra casa, minha mãe disse que já ia me procurar, pois era pra eu me arrumar pra ceia, então subi, tomei banho, troquei a roupa, e desci novamente, estavam todos na sala, e tinha mais algumas visitas, deviam ser amigos dos meus avós, mas eles só estavam de passagem, não deu muito tempo e foram embora, minha avó os convidou pra ceia, mas eles falaram que não podiam pois os filhos estavam esperando em casa, então eu os fiquei observando sair, e fecharam o portão, e voltei a atenção pra sala, e estavam a maioria trajando roupas claras, e eu estava usando azul, então me senti meio deslocado, mas isso foi por pouco tempo, eram sete horas da noite, e então minha avó chamou todos pra sala de jantar, e uma mesa linda estava posta, com aquelas comidas típicas de natal, chester, pernil, e etc..., acho que você conhece, então todos se sentaram, as crianças já estavam mais calmas, acho eu que estavam cansadas pelo dia que tiveram, então pelo menos isso foi bom, a piscina os cansou, e minha avó começou a servir a todos, começou por mim não sei por que, então não depois de muito tempo todos estavam com os pratos postos, e todos estavam comendo, dessa vez eu não comi pouco, confesso isso a você, pois eu repeti três vezes, não sei o que tinha dado em mim, depois da janta, minha avó trouxe a sobremesa pra mesa, tinha panetones trufados, normais, tinha pudim, tinha pavê, e tinha bolo, então não tinha do quê reclamar, depois da janta, todos foram pra piscina pra ver os fogos, sim na cidade da minha avó eles soltam fogos no natal também, depois dos fogos as oito da noite, todos desejaram feliz natal um ao outro, todos apertaram as mãos e todos se abraçaram, as crianças, não todas, choravam com medo dos fogos, e era um choro irritante, mas logo pararam, depois que cada mãe as abraçou, então os meus primos resolveram pular na piscina com roupa mesmo, e o mesmo primo que foi pegar limões comigo, pulou e me puxou, quando reparei já estava na piscina sem sapato, a água estava quente, mas depois foi ficando meio fria, e então as nove, saí da piscina me sequei, e troquei de roupa, as mulheres foram ver novela, e os homens foram terminar o churrasco da tarde, e começaram a beber mais uma vez, eu fiquei na varanda, olhando a rua, vendo todas as casas com luzes acesas, todos comemorando o natal, todos felizes, então peguei meus fones, de ouvido, e a playlist ainda estava tocando, tinha esquecido de desligar, e estava tocando Miss Your Love de Silverchair, então me sentei, peguei um papel uma caneta, e comecei a desenhar, depois olhei a TV, e agora escrevo a você, com esperança de que leia, entenda, e tente descobrir, como eu faço, o que é isso que eu tenho, eu tenho algum problema eu sei, isso não é normal, isso que eu tenho, de uma hora pra outra apareço num local frio, e todas as vezes vejo a Aurora Boreal, não sei o que isso significa, mas quem sabe eu descubra, quem sabe queira representar algo pra mim, ou quem sabe seja só coisa da minha cabeça.