Meu sono já havia ido embora mas minha irritação não. Eu estava sentada ali sozinha e apenas observando as pessoas andando de um lado para o outro,mesmo que fosse muito cedo aeroportos conseguiam ser sempre uma loucura.

 -Rose - Meu pai disse enquanto se sentava ao meu lado. - Trouxe pra você comer - Ele estendeu um copo com chocolate quente e uma rosquinha de chocolate. Peguei de suas mãos ligeiramente e ataquei a rosquinha,toda essa correria e irritação me deu fome - Coma mais devagar Rose.

-Não enche velhote - Eu disse enquanto tomava meu chocolate quente.Ele rolou os olhos

-Você vai continuar me tratando assim?Você esta prestes a ir para o outro lado do país,vai querer viajar estando de mal comigo?

-Foi você que tomou essa escolha caso não lembre - Eu falei tentando soar calma e pacifica,coisa que jamais fui.

-Mas parece que você não entende,já te expliquei milhares de vezes,você é teimosa igual a sua mãe - Pronto,ele tinha que falar o nome da minha mãe para piorar as coisas e todo meu alto controle explodir pelos ares.

 -Não me compare com ela,eu não tenho absolutamente nada a ver com aquela mulher - Meu pai ficou rígido ao meu lado e apenas suspirou.

    O caso era o seguinte,meu querido pai deciciu que eu moraria com a minha mãe em Montana. Eu teria que deixar New York,que na minha visão era a melhor cidade,para ir a um lugar remoto,ok talvez não tão remoto mas pense bem.Eu teria que deixar todo o conforto do meu apartamento,teria que deixar minha vida calma com meu pai,tudo para trás.Sem falar nos meus amigos,as festas,tudo.

    Mas o pior de tudo era que eu não gostava da minha mãe pelo simples fato de que quando ela se separou do meu pai se mudou para lá e me esqueceu.Se tornou uma mãe extremamente ausente.Sem falar que ela também havia construído uma nova familia,havia se casado e tinha até uma enteada,que eu tinha certeza que era mais filha dela do que eu era.

-Rose -  Meu pai disse em um tom mais ameno e eu o olhei -  Espero que um dia você entenda meus motivos,filha - Eu suspirei,era difícil ficar brava com meu pai,eu me dava muito bem com ele,por mais que as vezes ele fosse bravo e irritante eu o amava.

- Eu não entendo pai,mas dane-se,eu to fazendo isso por você ok? - Eu dei um meio sorriso e o abracei.Sentiria muita falta dele.Meu vôo foi anunciado,joguei o copo no lixo e fui com meu pai. Ele havia acertado todas as coisas,até que chegou o momento pior,a hora da despedida. Eu não gostava de despedidas,sempre eu me lembrava do dia que minha mãe cruzou a porta de casa e apenas disse para eu me cuidar. É claro que dias depois ela mandou uma carta explicando aonde ela estava,mas não adiantou nada para mim.

- Prometa que vai se comportar?Não apronte e tente não implicar muito com a sua mãe viu Rose - Eu revirei os olhos

- Isso é meio dificil para eu cumprir velhote - Eu falei tentando soar descontraída enquanto olhava para minhas unhas.

-Rose,por favor. - Meu pai usou aquele tom que dizia "sem brincadeiras".

-Ok pai,eu prometo que vou tentar fazer essas coisas que você disse - Eu dei ênfase no tentar,ele não disse mais nada porque sabia que eram coisas difíceis para eu cumprir,meu pai sabia da filha que tinha.

-Vou sentir sua falta,se cuide,te amo filha - Ele me puxou para um abraço.

- Pai você ta me sufocando - Ele nem ligou,continou me abraçando.Meu vôo foi anunciado mais uma vez e eu entendi que estava na hora realmente de ir - Ta na hora de eu ir pai. - Eu disse soltando do abraço - Te amo,por favor não fique levando aquelas vadias lá pra casa ok? - Ele me olhou feio mas depois sorriu.Achei melhor ir antes que eu mandasse tudo para o inferno e desistisse de tudo isso.

   Eu estava na pequena fila para entrar no avião, mas antes me permiti olhar para trás,ele ainda estava lá.Quando entrei no avião procurei  meu acento a fim de sentar e dormir imediatamente.  Achei ele e dei graças que não tinha ninguém,fui me sentando animadamente do lado da janela e acabei rindo sozinha com a minha infantilidade.

   Puxei meu Ipod do bolso e coloquei os fones de ouvido,deixando a musica no volume máximo.Logo todos os assentos pareciam estar ocupados e o avião começou a decolar.Olhei pela janela e vi New York ficando para trás.Encostei minha cabeça no banco e embalada pela musica fui deixando o sono chegar.

  Tive alguns daqueles sonhos estranhos e acabei acordando alarmada.Olhei em volta e a maioria das pessoas estavam dormindo.Pela janela vi que era noite,ou seja,eu realmente dormi bastante e agora estava sem sono,que ótimo.Peguei a bolsa que eu havia trazido comigo e peguei um livro.Nunca fui de ler mas o tédio era algo que eu detestava então para passar o tempo valia tudo.Não sei como mas a leitura me fez ficar com sono e logo agradeci mentalmente porque iria dormir mais.

   Acordei com varios falatórios.As pessoas estavam se levantando e aí que a ficha caiu,eu estava em Montana.Sai do avião e logo eu estava no aeroporto.Não era tão grande quanto a de New York mas mesmo assim havia bastantes pessoas andando de um lado para o outro.Meu pai havia dito que conversou com minha mãe e ela estaria lá para me pegar.Fazia uns dois anos que eu não via ela mas ela nunca foi do tipo que muda de aparência  sempre,eu iria reconhece-la e eu espero que ela também me reconhecesse.Fiquei olhando tentando procura-la mas era meio dificil,decidi por fim esperar.

     X

   Eu estava fervendo de raiva. Eu acho que nunca tinha ficado tão irritada,nem quando meu pai disse que eu me mudaria para cá. Eu estava esperando a mais de uma hora . Tentei procura-la pelo aeroporto,esperei e nada. Eu não tinha o telefone dela mas ela tinha o meu,e nem se deu o trabalho de ligar.

  Eu apostavacom todas as minhas fichas que minha mãe havia esquecido que eu viria hoje e cara,esse pensamento me deixava muito apreensiva. Eu cansei de esperar e sai do aeroporto,eu tinha o endereço da casa e iria para lá sozinha. Eu estava ali com uma mala gigante e mais outra bolsa grande,não tinha taxis por perto e eu não conhecia a cidade,as coisas poderiam piorar?

  Totalmente frustada eu comecei a procurar novamente algum taxi quando alguém trombou forte comigo.Perdi o equilíbrio e cambaleei para trás mas a pessoa segurou meu braço.

 - Mas que merda por que não olha por onde anda? - Eu gritei descontando toda a minha raiva no desconhecido. Ajeitei meu cabelo e pela primeira vez reparei na pessoa que havia trombado comigo. Era um cara absurdamente alto,ele vestia uma camisa preta e eu reparei nos seus músculos.Tinha cabelos castanhos presos em um pequeno rabo mas algumas mechas escapavam caindo sobre seus olhos castanhos chocolate que me fitavam e sua testa estava franzida.

 - Me desculpe mas você também estava distraída - Reparei que ele tinha uma voz grave,com um sotaque diferente.

 - Eu estava perfeitamente normal,foi você quem estava andando feito louco - Ele exasperou e soltou meu braço.

 - Você esta em perfeita condição então agora me de licença que eu tenha que achar uma pessoa- Ele mexeu em uma papel e eu notei algo familiar.Peguei de suas mãos não me importando se eu estava sendo educada ou não.

 -Quem você pensa que é para fazer isso?- Ele perguntou totalmente frustado e eu apenas sorri.

 -Sou ela - Apontei para o papel -Rosemarie Hathaway. -O cara arregalou os olhos e ficou meio constrangido.

 -Então você é a Srta Hathaway?- Eu sorri diante do senhorita.

 -Sou mas me chame só de Rose.

 -Esta bem- De repente seus olhos foram para as minhas coisas -Deixa que eu pego isso-Ele pegou as malas e eu fiquei ali o encarando.

 -De acordo com as formalidades você devia dizer seu nome sabe- Ele deu um sorriso mostrando seus dentes brancos e alinhados,parecia um pouco tímido,era engraçado já que ele era todo alto e forte.

-Sou Dimitri.Dimitri Belikov.- Eu tentei dar meu melhor sorriso.

-Nome legal.Então Dimitri,uma perguntinha bem básica,quem é você?

-Vamos indo para o carro que eu falo senhori... Rose.- Eu quase ri da sua mania de dizer senhorita mas assenti. Dimitri pegou minhas coisas que estavam bem pesadas,mas que não parecia ser grande coisa pra ele.

  Fomos para o estacionamento indo até seu carro que era um modelo bem novo.Dimitri colocou minhas malas no porta malas e eu fui para o banco do lado do motorista. Ele entrou e ligou o carro,tudo o que eu mais queria era sair dali,mas ao mesmo tempo eu estava apreensiva pelo simples fato que veria minha mãe,e aquela raiva que eu estava voltou. 

 -Então Dimitri acho que voce podia ir explicando os fatos,não é?-Eu cortei o silencio e soltando a pergunta que mais rondava a minha cabeça no momento.

 -Eu trabalho para a sua mãe e para o Sr.Dragomir.

 -Quem é Sr.Dragomir?

 -O marido de sua mãe - Ele disse de um forma que parecia a coisa mais obvia do mundo.

 -Caramba... - Eu sabia que minha mãe havia casado mas ela nunca mencionava o marido nem a enteada,e sinceramente eu nunca fiz questão de saber.

 -Como eu ia dizendo,eu trabalho para eles e sua mãe pediu que eu viesse buscar você.

 -Por que? - Ele arqueeou suas sombrancelhas de uma forma muito engraçada,mas não olhando diretamente para mim e sim prestando atenção no transito.

 -Por que,o que?

 -Por que ela mandou você?Por que ela não veio pessoalmente? - Ele ficou mudo por alguns segundos e notei que ele estava pensativo - Como eu pensei.

 -Hum?

 -Não tem motivos,ela simplesmente achou melhor mandar o empregado,é a cara dela- A forma que eu falei pegou Dimitri de surpresa,ele ficou com uma expressão séria.

 -Não é assim.Sua mãe é uma mulher ocupada,eu tenho certeza que ela queria vir pessoalmente mas ela não pode.

 -Ela te disse isso?Qual é Dimitri eu sei da mãe que tenho - Ele ficou em silencio e eu esperei que ele dissesse alguma coisa mas não.Aquele silencio estava me matando então achei melhor arranjar algum outro assunto mais leve.

 -Mas e ai,o que você faz para a minha mãe?

 -Sou meio que um faz tudo.Trabalho tanto quanto no escritório com eles quanto na própria  casa.Conheço o Sr.Dragomir á anos,ele tem total confiança em mim e sua mãe também. -Pude reconhecer orgulho na sua voz.

 -Legal.E o que esse cara aí e minha mãe fazem? - Ele se virou para mim surpreso

 -Você não sabe?

 -Não mesmo camarada,minha mãe não é muito de conversar comigo.

 -O Sr.Dragomir é o dono de uma das principais empresas financeiras daqui,sua mãe casou com ele e se interessou  pelos negócios,acabou que também trabalha lá,ajudando-o e tudo mais.- Fiquei meio em choque com toda as informações.

 -Então quer dizer que minha mãe casou com um cara fodão e ficou podre de rica,uau.-Dimitri balançou a cabeça e pude notar que era de desaprovação.

 -Você deveria manerar mais nos comentários Rose.-Era normal eu provocar reações assim nas pessoas mais velhas,não que Dimitri fosse velho,mas certamente ele deveria me ver como uma garota mimada ou rebelde,ou os dois.

 -Quantos anos você tem?

 -23.

 -Você não é daqui né?

 -Não,como sabe?-Eu sorri

 -Pelo seu sotaque - Pude ver que ele deu um meio sorriso também.

 -Sou da Russia - Arregalei os olhos

 -E como veio parar em Montana?

 -O Sr.Dragomir estava na Russia e me viu em um emprego que eu estava lá na época,ele viu potencial em mim e acabei vindo trabalhar para ele aqui.

 -Que legal - Eu disse e virei para olhar pela janela- Vai demorar muito?

 -Na verdade,já chegamos- Dimitri apontou e eu olhei. Era uma casa absurdamente enorme de 2 andares e luxuosa. Ela era de um tom claro e na entrada principal,havia uma janela enorme de vidro.Paramos em um portão  que tinha dois seguranças,eles olharam para Dimitri e assim para mim e abriram o portão. Fiquei impressionada porque tinha uma entrada magnifica.Era uma escadaria de marmore com luzes ao lado e em volta um jardim imenso e florido.E em frente acasa havia nada mais nada menos que uma piscina.Dimitri estacionou e eu desci do carro.Fui ajuda-lo com as malas mas ele negou.

 -Eu cuido disso,vá la- Ele mostrou para a casa e assenti.Fui subindo a escadaria em passos apressados e me sentindo totalmente apreensiva. Eu não sabia como as coisas seriam daqui pra frente e isso me assustava.Teria altas chances de eu e minha mãe não nos darmos bem,teria altas chances de eu não me encaixar nesse lugar e tudo poderia virar uma merda,mas eu ainda tinha um pouco de otimismo dentro de mim,eu tinha que começar a ver pelos lados bons.

   Dimitri era um ótimocomeço.E também tinha um detalhe muito legal. Eu era no momento filha de uma milionária,provavelmente meu quarto fosse maior que meu apartamento todo de New York.Cheguei e fiquei parada na porta,apertei a campainha e aguardei.Boa sorte pra mim,pensei.